quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

UMA «VERDADE» CONDENÁVEL

Faz hoje notícia o que disse na China o Ministro de Economia, Manuel Pinho, para convencer os empresários chineses a investirem em Portugal: «Em Portugal os salários são inferiores à média dos salários europeus».

Conhecido o dislate, toda a oposição, bem como os sindicatos e muitos cidadãos com dois dedos de testa, condenaram o senhor ministro.

Ao que parece o senhor ministro defende-se ― e os seus “defensores” defendem-no ― com o argumento de que «disse uma verdade».

Ora bem, condena-se o senhor ministro não pelo simples facto de ter dito «uma verdade», mas sim pelo facto de ter-se socorrido de uma verdade negativa para promover Portugal. Os baixos salários são uma verdade negativa a que urge pôr cobro; uma verdade negativa que é urgente ser banida da sociedade portuguesa. E é por isso que não se admite que um ministro se socorra dela para promover o País.

O que se diria se alguém com responsabilidades públicas dissesse isto no estrangeiro para promover o turismo, por exemplo: "façam férias em Portugal porque em Portugal temos das mulheres mais boas da Europa".

Primeiro morreria meio mundo de riso; depois morreria outro meio de vergonha. Mas não sem antes condenar-se o desmiolado que tal frase proferisse. Sem que, contudo, deixasse de ter dito «uma verdade». Neste caso, até, uma verdade não negativa: de facto Portugal tem das mulheres mais boas da Europa. E isso não é coisa má. Mas não caberia na cabeça de ninguém que tal verdade pudesse ser usada para promover o turismo em Portugal.

O senhor ministro merece, pois, toda a reprovação pelo que disse na China. Porque envergonhou Portugal e ofendeu os portugueses.

domingo, 28 de janeiro de 2007

OS AMIGOS SÃO PARA AS OCASIÕES

Dir-se-ia que faz todo o sentido um ex-maoísta defender outro ex-maoísta. Mas neste caso não é bem isso que se passa. E concordo com Pacheco Pereira: o declínio do jornal “Público” no panorama da imprensa portuguesa não tem muito a ver com as posições pró-americanas do seu director, José Manuel Fernandes. Deve-se antes ao facto de a Internet e outros meios de comunicação (alguns até gratuitos) cobrirem perfeita e atempadamente a actualidade, tão ou melhor do que a imprensa escrita, sobretudo da imprensa escrita que mais não faz do que servir de caixa-de-ressonância às agencias noticiosas.

Os jornalistas portugueses deviam ler, por exemplo, os jornais e revistas americanos para se certificarem que hoje só é possível vender papel escrito se nele se integrar muito trabalho e muita imaginação dos jornalistas. Já não basta falar do golo marcado ao Porto por David ou da menina cujo pai do coração está sob prisão por sequestro. Isso é do que tratam os jornais gratuitos ― diga-se de passagem ― com muito profissionalismo. O que é preciso é os jornalistas portugueses deixarem-se de ter preguiça e começarem a pôr as meninges a funcionar, investigarem a fundo e escreverem, por exemplo, sobre os novos fenómenos sociais como é a globalização, a perda de paradigmas por parte da juventude, a iliteracia de muitos políticos profissionais, a tomada do poder por grupos económicos sem pátria e sem projecto nacional, a perda de noção de Serviço Público, etc.

Até que algo de semelhante aconteça, vamos continuar a ver definhar os jornais que ora conhecemos como quem assiste ao apodrecimento de uma banana ao sol. É a lei da vida a impor-se inexoravelmente. O negócio da futilidade tem os dias contados pois vai ser cada vez mais gratuito conhecer a futilidade que nos cerca. Ficará de pé o negócio da cultura e da divulgação séria do conhecimento. Aquele que dá trabalho fazer. Aquele que, por isso, tem de ser pago para ser usufruído.

BOM DIA

Hoje a ementa é: Caril de Camarão com Arroz Branco.

Mas não é um vulgar caril tipo: “desfaz-se o pó de caril em água e leite de coco, deita-se os camarões previamente descascados para dentro da panela, mistura-se tudo em lume brando e depois de 15-20 minutos serve-se com arroz branco".

Não, nada disso!

O chef confeccionará a iguaria de hoje com esmerado cuidado. E entre vários rituais fará um refogado com cebola e alho; usará o melhor pó de caril do mercado; adicionará à cozedura leite, creme de coco, e coco ralado; coentros, FOLHA DE CARIL, um pouco de água e pouquíssimo sal. Depois de tudo cozido adicionará o camarão previamente descascado. Ficará tudo ao lume e depois do tempo necessário o prato será servido com arroz branco.

Para engrossar o molho de caril e para dar um toque especialíssimo de superior requinte a essa iguaria, o chef costuma usar mais alguns ingredientes que são segredo profissional. Cujo, contudo, o chef está disposto a divulgar. Mas só em parte. E apenas por email.

(Se não quiserdes dar-vos ao trabalho de enviar um email ao chef, contentai-vos então em experimentar esta receita tal como ela vos é dada a conhecer, contendo já um segredo que é a FOLHA DE CARIL, que com ela já estais muito bem servidos e já ireis fazer um figurão perante os vossos convidados).

Como deveis ter reparado, não há aqui referências a quantidades e tempos precisos de cocção. Isso é feito de propósito. É que quem cozinha deve gostar do que faz; passar bastante tempo na cozinha ― experimentando, investigando e criando; na companhia de boa música, com ou sem pessoas queridas ao lado, bebendo um copo e filosofando um pouco ― e ir descobrindo os segredos da Arte de Cozinhar. (Sendo missão de um chef estimular estes hábitos).

E depois ter o prazer de oferecer aos seus convivas uma obra de arte para degustação.

Hoje, por certo, e tal como das outras vezes, haverá disputas de lugares à mesa (todos quererão ter o privilégio de ficar sentados ao pé do chef ); uma ou outra senhora mais sensível terá um princípio de desmaio para captar as atenções do chef; um telefonema de última hora trará a notícia de que a perda de um avião de Londres ou Madrid impedirá que um executivo (já em lágrimas) chegue a horas ao almoço; um SMS secreto comunicará o desespero de quem, por razões “protocolares”, não pode estar presente.

E no meio de murmúrios, suspiros, huuuum(s) de puro prazer... o verdadeiro e único Caril de Camarão com arroz Branco será degustado até ao último átomo.

Em fundo, a música de Wagner assegurará a harmonia do ambiente divinal em que o almoço decorrerá.

Nota: Consta, à boca pequena e no mais absoluto sigilo dentro do grupo de convivas habituais, que se suspeita de que o suicídio de um dos nossos amigos íntimos terá ocorrido em virtude de, retido num hospital por doença súbita, um dia não ter podido estar presente a um destes almoços.

sábado, 27 de janeiro de 2007

E VIVA O GOVERNO DE PORTUGAL

Permita-me convidá-lo a visitar o Almocreve das Petas para ler esta posta com informação vital, via Engenheiro João Cravinho, para algum entendimento do receio deste deputado de que sombras do passado possam um dia ameaçar o funcionamento do actual Partido Socialista, mas sobretudo do seu secretário geral e Primeiro Ministro, José Sócrates.

Nota: fotografias copiadas e reproduzidas aqui, sem consentimento, do blogue Almocreve das Petas

NOVO AVISO À NAVEGAÇÃO

Siga-me, por favor, nesta descrição breve e simples, e tire daí as devidas ilações:

Instalei o Windows Vista num disco novo e virgem que decidi usar para voltar a testar essa nova coqueluche da Microsoft.

Depois de concluída a instalação e de constatar que tudo estava a correr sobre rodas, desliguei o computador, liguei de novo os restantes três discos que o equipam e arranquei do disco que continha o Vista. O arranque decorreu sem problemas.

Tentei depois instalar um programa que funciona às mil maravilhas no Windows XP.

Não consegui.

Resolvi então esquecer o problema, desligar de novo o computador e voltar a arrancar ― agora a partir dos meus discos montados em RAID1 (dois discos que funcionam como se fossem um só, sendo um a imagem do outro, de forma a prevenir a perda de dados em caso de falha de um deles).

Eis então que se dá o grande acontecimento provocado pela presença (que se suporia pacífica) do Windows Vista no meu computador: embora instalado separada e isoladamente num disco destinado só a ele, o Vista, logo que apanhou os outros discos ligados, escreveu informação no MBR (Master Boot Record) daqueles discos, isto é, alterou a primeiríssima informação que um computador lê antes de usar um disco duro, incluindo nessa operação os dois discos montados em RAID1, provocando com isso a desorganização do sistema não me sendo mais possível reorganizar o array RAID1.

Conclusão: tive que limpar completamente os meus discos, parti-los, montá-los de novo em RAID1, formatá-los e instalar TUDO de novo.

O que vale é que eu tenho sempre guardado (não apenas uma mas) três cópias integrais do sistema e dos dados, tendo recorrido a uma delas para poder voltar a ter de novo o meu computador ao serviço.

Ponha-se a pau com o Windows Vista!

SEM APITO DOURADO ARRUMAM-SE AS BOTAS

Os dragões dourados deslocaram-se a Leiria para defrontar o União. Perderam por uma bola a zero com a equipa do ex-dragão Domingos Paciência.

E não foram de cantigas: após o terminus do jogo pediram, pela boca do seu treinador, «uma investigação rigorosa à arbitragem de Elmano Santos». Pois por certo não admitem que o árbitro não tenha levado um apito dourado para o jogo e os não tenha favorecido.

Pena é que não tenham mostrado a mesma preocupação aquando do jogo em que o Atlético os eliminou da Taça de Portugal em pleno estádio do Dragão e em que um árbitro de apito dourado os beneficiou com duas grandes decisões escandalosas (prolongamento do jogo por mais 5 injustificados minutos e marcação de uma grande penalidade inexistente) que felizmente, para a verdade desportiva, acabaram por não os beneficiar em nada porque sequer empataram aquele jogo.

Para o próximo jogo espera-se que a nova comissão de arbitragem deixe que o Futebol Clube do Porto possa escolher o árbitro e a cor do referido apito.

Dourado, claro.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

PARECE BRINCADEIRA

Esta semana, no Parlamento, questionado sobre o facto de os médicos de primeira linha estarem a abandonar os hospitais públicos escolhendo trabalhar no privado, o Senhor Ministro da Saúde saiu-se com esta: “Isso não é problema nenhum pois os médicos de segunda linha dos hospitais são tão bons como os de primeira linha”.

Só não explicou aos deputados porque é que os médicos de segunda linha são médicos de segunda linha.

Se isto não parece ser brincadeira, então o que é que parece ser uma brincadeira?

Mas o pior é que enquanto vão acontecendo diálogos destes com o Senhor Ministro da Saúde, os hospitais vão-se despovoando de médicos competentes ficando com os menos competentes ou contratando tarefeiros de competência duvidosa ― porque mal preparados para as funções que vão desempenhar.

Isto está a ficar lindo! Ai está, está!

TUDO CADA VEZ MAIS “NORMAL”

Como é já bastamente sabido, a Polícia Judiciária fez buscas nas instalações da Câmara Municipal de Lisboa e constituiu arguida uma vereadora.

Para já!... É que ao que se diz por aí, mais há-de vir.

Isto, no mínimo e no máximo, quer dizer que há fortes indícios de práticas ilícitas, senão mesmo criminosas, por parte de alguém que trabalha na, ou para a Câmara de Lisboa.

Pois bem, ouvido sobre o assunto, o Senhor Presidente da Câmara, Prof. Carmona Rodrigues, disse que isso era normal. Ele achou normal uma busca da Judiciária às instalações da Câmara Municipal.

Mas não é! Não é normal haver indícios de ilicitude ou de condutas criminosas nas câmaras municipais. E é lamentável que um indivíduo com as responsabilidades do Presidente da Câmara de Lisboa faça e publicite este tipo de branqueamento relativamente a factos anómalos merecedores da maior preocupação e reprovação.

Mas adiante. Ouvido sobre o mesmo assunto, o líder do PSD, Marques Mendes, disse que isso (as buscas e a condição de arguida de uma vereadora) era “uma dificuldade” que teria que ser ultrapassada.

“Uma dificuldadae”. Foi o que ele disse.

Não é “dificuldade” nenhuma!

É, mas é uma autêntica vergonha!

E mandava a coerência que Marques Mendes convencesse Carmona Rodrigues a demitir-se, assim como por razões idênticas não apoiara a candidatura de Isaltino Morais à Câmara de Oeiras.

Enquanto isso, não sei se já repararam que há buracos no pavimento de tudo o que é rua ou avenida de Lisboa. Uma situação destas não acontecia vai bem para perto de 20 anos. Mas é compreensível que hoje assim seja: onde é que essa gente iria arranjar tempo para se preocupar com o pavimento das ruas quando há por aí tanto terreno camarário para permutar?!

Isto está a ficar lindo! Ai está, está!

domingo, 21 de janeiro de 2007

MAIS UMA MORTE

No Diário de Notícias de hoje:

«É a segunda vítima mortal no espaço de duas semanas. Fernando Santos, de 56 anos, morreu ontem no centro de saúde de Odemira na sequência de um enfarte de miocárdio agudo. O helicóptero do INEM chegou quatro horas depois de ter sido pedido socorro, quando a vítima já estava em falência cardíaca. Pelo meio, foi encaminhado para um Serviço de Atendimento Permanente (SAP), onde não havia médicos suficientes para o acompanhar no transporte a um hospital, ficou à espera de uma viatura de emergência vinda de Beja e, depois, dos meios aéreos de Lisboa.

A morte de Fernando Santos surge poucos dias depois de António Oliveira falecer no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde chegou seis horas depois de ter sofrido um acidente em Odemira. E é mais um caso cujo desfecho foi condicionado pela falta de recursos de saúde no Alentejo


Valerá a pena acrescentar mais alguma palavra a isto?

sábado, 20 de janeiro de 2007

CUIDADO COM O WINDOWS VISTA

Se pretende instalar o Windows Vista no seu computador, pense várias vezes e siga este conselho:
1)Sirva-se para o efeito de um novo disco duro.
2)Desligue previamente o disco duro que contém o seu actual sistema.
3)Depois disso instale o Vista e explore-o exaustivamente. Para sua decepção.

É um sistema com um interface altamente apelativo e até sedutor. Mas vai depois concluir que é um sistema feito para tomar conta do seu computador e para tomar conta e mandar em si. Você perde toda a liberdade de “mexer” no conteúdo do seu computador. E como se supõe que já deve vir habituado a “mexer” em tudo no Windows XP, por exemplo, sentir-se-á manietado, impotente e frustrado com as restrições que o Vista lhe impõe.

E se tiver a desdita de instalar o Vista sobre o Windows XP (fazendo um upgrade) ― esqueça! Não vai mais poder voltar ao seu sistema original.

Mesmo que instale o Vista num novo disco (mas tendo o disco antigo ligado) ― ele altera o boot sector do seu disco de sistema antigo e de aí em diante você só poderá aceder ao seu sistema antigo através do Vista ― nunca mais poderá arrancar de forma independente o seu sistema antigo; com a agravante de perder todo o sistema e sua configuração caso um dos discos se avariar; porque passam a depender um do outro: nem sequer poderá arrancar o Vista se um dos dois discos duros não estiver a funcionar.

Depois acontece ainda que à mínima alteração que faça à arquitectura do seu computador (mudança da placa gráfica, aumento da memória, etc.) o Vista deixa de funcionar porque considera que você mudou de computador e exige que adquira uma nova licença.

Para além de tudo isso irá constatar que muitos dos seus programas favoritos e com os quais está já habituado a trabalhar, deixam de funcionar no Vista.

Uma tragédia!

E se quiser desinstalar o Vista... não tem como! Quer dizer: tem como mas é arriscado: arrisca-se a perder todos os seus dados e a ficar com um computador vazio onde vai ter que pôr tudo de novo.

Sobre este último aspecto clique nos links abaixo, veja a complicação da coisa e saiba como agir caso já esteja “apanhado” pelo Vista e queira livrar-se dele. Vai ver que não há garantias de sucesso nessa operação.

Ponha-se a pau!

http://www.tech-recipes.com/microsoft_vista_tips1040.html
http://vista-uninstall-bootloader.freeware-alternative.uni.cc/

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

NO MELHOR PANO

Sinceramente, não julgava Pacheco Pereira capaz de um erro destes: nesta posta transformou o grama (medida de massa) numa planta semelhante à relva , isto é, chamou-lhe a grama.

Eu sei que nas mercearias e nos telejornais se diz, por exemplo, “trezentas gramas” em vez de trezentos gramas; mas não julgava o autor do Abrupto capaz de os acompanhar nesse erro de palmatória.

Devo até dizer que sob o ponto de vista científico está convencionado não usar plural para as unidades de medida. Sendo assim, a frase que utilizei acima só estará correcta com esta grafia: “trezentos grama” (sem plural).

Valeu!?

P.S. Não vale chamar-me polícia da Língua ou “recta pronúncia”; vale é reconhecer e corrigir o erro. Porque o Abrupto é muito lido e faz escola.

Editado às 8:16 AM de hoje, 17/01/2007: O erro acima apontado já foi corrigido, para bem de muitos leitores, pelo Abrupto. Aplauda-se por isso a atitude do autor do blogue.

SEM GRANDES COMENTÁRIOS

Esta posta de Masson, no Almocreve das petas, diz tudo sobre o descalabro que já é, e do que nos espera, quanto ao desmantelamento, sem alternativa à altura, do Serviço Nacional de Saúde.
Deus nos valha.

domingo, 7 de janeiro de 2007

APITO SEMPRE DOURADO

Os do Atlético da Tapadinha, de Alcântara e de Lisboa, tomaram o autocarro às sete horas desta manhã e rumaram ao Porto para defrontar o penta, tetra, treta campeão numa eliminatória da Taça de Portugal.

Os estafados alcantarenses marcaram um golo aos estagiados dragões dourados e não havia forma de o Futebol Clube do Porto chegar pelo menos ao empate.

Eis então que o homem do apito (dourado?), sem que nada o justificasse, acrescenta mais 5 (cinco) escandalosos minutos à partida.

Como mesmo assim os dragões dourados não conseguiam chegar ao golo, o homem do apito (agora já mesmo dourado) resolveu marcar uma grande penalidade, de todo inexistente, contra o Atlético.

Aí Deus acordou. E atempadamente soprou a bola que se desviou na trajectória, embateu no poste e não entrou.

É este o futebol que há em Portugal.

Bem pode o Ministério Público e todos os Procuradores especiais escrutinar o mundo sujo da bola, português, que aquele continuará a rolar indiferente às regras, à moral e à ética.

Douradamente.

Editado às 9:09 AM de 08/01/2006: O inquietante de tudo isto é que as primeiras páginas dos três principais diários desportivos portugueses hoje publicados não fazem o mínimo eco do escândalo que o árbitro da partida ia protagonizando ontem no Porto. Isto é sintomático da "normalidade" dourada em que vive o futebol português.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

OH MARAVILHA!

Frescamaciadas de bálsamos suas mãos me tocavam, acariciavam: seus olhos sobre mim não se me refugiam. Arrebatado sobre ela eu jazia, os lábios todos todo abertos, beijava sua boca. Ããm. Suavemente ela passava para a minha boca o torrão quente e masticado. Polpa asquerosa sua boca lhe emprenhara dulçor e agrura de saliva. Alegria: comi: alegria. Vida juvenil, seus lábios me davam num abrocho. Macios, quentes, gomigelatinosos lábios grudentos. Flores eram seus olhos, me toma, olhos querentes. Seixos rolavam. Ela jazia queda. [...] Encoberta entre fetos ela ria braçoenvolta. Selvagemente eu jazia sobre ela, beijava-a; olhos, seus lábios, seu pescoço reteso, pulsando, peitos de fêmea plena em sua blusa de véu de monja, mamilos cheios ponteando. Quente eu a linguei. Ela beijava-me. Eu era beijado. Tudo rendendo ela emaranhava meus cabelos. Beijada, ela beijava-me.

Eu. E eu agora.


[James Joyce – in Ulisses]

Boa noite.

domingo, 31 de dezembro de 2006

BOAS FESTAS

FELIZ ANO DE 2007


Porque hoje é a noite de S. Silvestre, volta a emblemática composição musical de Luís Morais, Boas Festas, ao topo do blogue.
Que a noite seja de arromba; se regresse a casa de manhã e de gatas tresandando a perfume, champanhe e o mais que é bom.

― OH QUE SODAD D'SONCENTE!

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

LIÇÕES

Hoje estou numa de apreciar a simplicidade. Por isso apetece-me homenagear aquele aluno da segunda classe da instrução primária, da Ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, a quem a professora pedira uma breve redacção sobre “o leite”, e o menino escreveu com toda a convicção e clareza:

«O LEITE»
«O leite é o melhor alimento. Basta dizer que é o primeiro pão que nós mamamos.»


Muitos se riram do pequenote por causa daquela de “mamar” o pão. Mas eu não concordo. E bem me esforço por imitar-lhe a clareza e simplicidade da escrita; embora ainda não consiga ser tão claro quanto aquela criança o foi.
É difícil. Eu sei que é difícil.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

DO SIGILO MÉDICO NOS HOSPITAIS

Aí há tempos fui a um hospital público de Lisboa “tirar sangue” para umas análises. Chegado ao local deparei-me com uma pessoa amiga que lá trabalha.

Passadas várias semanas, novo encontro fortuito nos colocou face a face. Ao que o meu amigo me diz: «falei com o médico que viu as tuas análises e ele disse-me que estava tudo bem».

― Vejam só: com que autoridade é que foi falar ao médico?!...

Felizmente estava «tudo bem», pensei eu. Porque se não estivesse «tudo bem» ― se eu tivesse um cancro ou estivesse infectado com o vírus HIV, por exemplo ― Já hoje todo o mundo sabia.

O que moveu o meu amigo na procura (indevida e ilegal) de informação sobre as minhas análises, não foi amizade ou solidariedade; não foi sequer a vontade de ser prestável para me dar uma informação importante em primeira mão (e a prova disso é que não ma deu na altura em que a teve), até porque sabia muito bem que eu teria acesso privilegiado e rápido a essa informação. Mas creio que me contactaria de imediato caso eu tivesse qualquer coisa grave que lhe desse o prazer de me comunicar em primeira mão.

O que moveu o meu amigo foram duas coisas básicas que existem dentro da larga maioria dos seres humanos (dos seres humanos menos “trabalhados”): uma, a curiosidade mórbida de descobrir aquilo que é suposto ser sigiloso; e outra, o desejo inconsciente, mórbido e sádico de que haja doença séria nos outros para que, confrontando essa realidade com o seu estado de plena saúde, possa sentir-se privilegiado e feliz por nada sofrer no momento. Os doentes serão, assim, para essas pessoas, um motivo de felicidade.

E gostam de dizer aos outros: «Já sabes? Fulano tem cancro na próstata, coitado».

Mas o que querem mesmo dizer é:

«Fulano tem cancro na próstata E EU NÃO. Yupiiiiiii...»

P.S. Por acaso hoje até estou doente. Estou com gripe. Mas espero festejar, bebendo e dançando, a passagem do ano.

sábado, 23 de dezembro de 2006

PORMENORES

«Ela estava parada, esperando, enquanto o homem, marido, irmão, parecido a ela, buscava nos bolsos por miúdos. Espécie de casaco estilizado com aquela gola enrolada, quente para um dia como este, parece como se de pano de cobertor. Postura desenvolta a dela com as mãos naqueles bolsos externos. Como aquela criatura arrogante na partida de pólo. Mulheres, todas são pela posição, até que se toque no ponto. É bom e faz bem. Reserva a ponto de virar entrega. A honrada senhora e o Brutus é um honrado homem. Possuí-la uma vez é quebrar-lhe e rigidez.»

[James Joyce- in Ulisses]

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

VISTAS CURTAS

Não gosto de dizer “afinal eu tinha razão”; mas não posso deixar passar em claro o facto de só agora, passados mais de três meses, o Governo vir concluir que afinal o diploma que aprovara em conselho de ministros, alterando a forma de justificação de faltas pelos funcionários públicos, é inexequível nos moldes em que foi feito .

Eu chamara aqui a atenção para esse disparate logo na mesma semana em que os fabulosos crânios do Governo conceberam aquela grossa asneira. Então escrevera:

«A partir de agora o funcionário doente irá engrossar a bicha dos Centros de Saúde e entupir as já saturadas urgências hospitalares à procura de uma “baixa” para justificar a falta ao trabalho.»

Tenho vindo a chamar a atenção para várias outras medidas de puro recorte economicista, tomadas na área da Saúde, que penalizam profundamente os utentes e os doentes e que essencialmente visam extinguir a prazo o Serviço Nacional de Saúde.

Desenha-se no horizonte um autêntico desastre que levará ao cerceamento quase total do direito à saúde por parte dos mais pobres e desfavorecidos e à oneração incomportável das despesas de saúde para a restante população trabalhadora.

Os que hoje pateticamente aplaudem as medidas ditas de «equilíbrio das contas públicas», que consistem tão-só em cortes de despesa e nada mais, medidas ditas «iguais para todos» (o que é refinada mentira), ainda hão-de ficar, como todos nós, de calças na mão.

A propaganda deste Governo é fortíssima e bem montada. Mas ela está hoje bem à vista de quem tem olhos para ver, pelo que é preciso ter-se uma boa dose de estupidez para se continuar enganado por essa propaganda e a apoiar quem nos está depenando e empobrecendo.

Essa propaganda assenta fundamentalmente em truques baratos: a estimulação da ancestral inveja dos portugueses; atirar grupos profissionais uns contra os outros; falar em corte de «privilégios» quando se trata de corte de direitos; dizer que o ataque ao cidadão «toca a todos» quando na verdade não toca nos grupos económicos para quem, aliás, se está a trabalhar, sendo disso exemplo modelar o que se passa na área da Saúde.

Repare-se que hoje já nenhum governante, muito menos o Sr. Ministro da Saúde, fala em listas de espera para consultas ou cirurgias. Esse mal deixou de ser um mal. E sambem porquê? Porque o combate a essas listas aumenta a despesa. Portanto, deixem aumentar as listas porque isso significa que a despesa diminui ou não aumenta. O que prova que o que interessa não é governar para os mais desfavorecidos e carenciados; que o que interessa não é governar para o Bem comum. Que, no fundo, o que interessa é, mas é: governar para reforçar e manter o poder. E isso consegue-se de duas maneiras: primeiro, enganando o povinho com propaganda e truques de feira para que em futuras eleições ele vote de novo em quem o tem enganado; e segundo, protegendo e facilitando a vida aos grupos económicos para que este verdadeiro poder seja aliado do poder político na hora das eleições e da governação.

No fundo, com o voto do povo se vai lixando o povo. Que é burro.

domingo, 17 de dezembro de 2006

CAÍDO DO CÉU

Depois de duas décadas sem ir ver futebol ao vivo, ontem lá aceitei um amável convite de um amigo para um camarote VIP em Alvalade e lá fui ver o Sporting Académica.

Jogo medíocre na primeira parte, e mau na segunda; mais por culpa de um Sporting molengão, sem fibra e sem ideias, do que de uma Académica esforçada e aplicada que mais não fez porque já lá não moram o talento e a visão de jogo de um Rui Rodrigues no meio campo, ou a inteligência e a técnica de um Artur Jorge na frente de ataque.

A observação in loco desta equipa de miúdos ingénuos do Sporting (excepção feita a Moutinho), fez-me recordar e desejar ver ali no relvado Vítor Damas na baliza e, bem lá na frente, Hector Jazalde ou a dupla Jordão Manuel Fernandes. Estes sim ― jogadores capazes de dar uma cabazada memorável a esta Académica.

Mas não é bem disto que eu queria falar-vos. Quero é dizer-vos o quão chocado fiquei quando soube que o lugar que ocupei ― uma vulgar cadeira de napa, almofadada e sem braços, pouco melhor que as cadeiras de plástico das bancadas ― custa, por ano, a módica quantia de €4.700. É isso mesmo: quatro mil e setecentos euros por ano.

Mas a coisa não fica por aqui. É que o camarote tem sete cadeiras dispostas em duas filas em degrau: a primeira fila com três cadeiras, e a segunda, atrás, com quatro; e se destina a um único comprador (particular ou empresa), que tem que pagar a ninharia de €33.000 (trina e três mil euros) para ter direito a uma época de futebol em Alvalade.

Para além da desmedida exorbitância (passe o pleonasmo) do preço a pagar para ver futebol de refugo europeu, o que ainda me chocou mais foi constatar a inexistência de quaisquer condições de conforto e privacidade nos ditos camarotes: que mais não são que pequenos espaços das bancadas delimitados das cadeiras vizinhas por um pequeno muro em “U” de cerca de 50 cm de altura, espaço para onde se acede, vindo do interior do estádio, por uma porta de vidro individual.

É isso que se paga tão caro: a faculdade de ir para a bancada do estádio apanhar frio e ver mau futebol, não em magote andando escadaria abaixo ou escadaria acima à procura do nosso lugar, mas calmamente como quem, de dentro de um edifício, espreita o relvado por uma porta de vidro que lhe permite aceder à bancada para uma zona de sete cadeiras cercadas pelo dito muro de 50cm.

No camarote, a sensação que se tem é a de se estar na bancada normal do estádio (pois as cadeiras do camarote estão, ao ar livre, na continuação das outras que compõem o anfiteatro), tendo connosco a turba toda ali a pedir-nos, ou a exigir-nos ― sei lá ―, solidariedade na hora de chamar f.d.p. ou c..... ao árbitro.

Convenhamos que há muito de absurdo em tudo isto.

E depois de ter ido conhecer um dos novos estádios do Euro 2004 ― coisa que eu tinha curiosidade em fazer ― creio que nunca mais entrarei num estádio de futebol!

Ponto Final.

Ah! Esquecia-me disto: Há um pequeno frigorífico logo à entrada do camarote onde estão bebidas não alcoólicas que o camarodono pode consumir à vontade e “sem pagar”; pode encharcar-se até mais não em coca-cola ou laranjada que “não paga nada” (também se pagasse não seria grande o rombo). E o camarodono até tem uma chave do frigorífico, chave que lhe é entregue quando "compra" o camarote. Suponho que para lhe dar a única sensação de posse que os €33.000 pagos lhe permitem ter: uma chave de um mini frigorífico.

Beleza! Não é?

Paraíso!... Nirvana!...

Bolas! Que há gente para tudo.

Isto sem ofensa para o meu anfitrião. Discordo. É tudo.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

UM OUTRO OLHAR SOBRE O 11 DE SETEMBRO

O DAS COINCIDÊNCIAS

* ― “New York City” tem 11 letras.
* ― “Afeganistão” tem 11 letras.
* ― "The Pentagon" tem 11 letras.
* ― “George W. Bush” tem 11 letras.
* ― Nova Iorque é o estado N° 11 dos EUA.
* ― O primeiro dos voos que embateu contra as Torres Gémeas era o N° 11.
* ― O voo N° 11 levava a bordo 92 passageiros;
a soma dos seus algarismos dá: 9+2 = 11
* ― O outro voo que embateu contra as Torres, levava 65 passageiros;
a soma dos seus algarismos dá: 6+5 = 11.
* ― A tragédia teve lugar a 11 de Setembro, ou seja, 11 do 9;
a soma dos seus algarismos dá: 1+1+9 = 11.
* ― As vítimas totais que faleceram nos aviões eram 254: 2+5+4 = 11.
* ― O Dia 11 de Setembro é o dia número 254 do ano: 2+5+4 = 11.
* ― A partir do 11 de Setembro sobram 111 dias até ao fim de um ano.
* ―“Nostradamus” (que tem 11 letras) profetiza a destruição de Nova Iorque na Centúria número 11 dos seus versos.
* ― As Torres Gémeas tinham a forma de um gigantesco número 11.
E, como se não bastasse, o atentado de Madrid aconteceu no dia 11.03.2004.
Somados estes algarismos temos: 1+1+0+3+2+0+0+4 = 11
O atentado de Madrid aconteceu 911 dias depois do de Nova Iorque.
Somados estes algarismos temos: 9+1+1=11

[Coincidências trabalhosamente encontradas – sem dúvida!]

Isto tudo vem num panfletozinho distribuído há dias na Baixa de Lisboa. A intenção que acompanhou a distribuição apanhou-me totalmente distraído, confesso.

domingo, 10 de dezembro de 2006

GRANDE SENA SANTOS

Um muitíssimo obrigado à Grande Loja que nos permitiu, passados uns dois ou mesmo três anos, recuperar a convivência com Sena Santos, talvez o maior jornalista de rádio que escutámos até hoje.

Sena Santos está na Net, todos os dias, com um programa de cerca de oito minutos, o “Assim Vai o Mundo”, trazendo-nos, como só ele sabe fazer, notícias frescas e rigorosas do que de mais importante vai acontecendo no mundo globalizado em que hoje vivemos.

Habitue-se a ir todos os dias até este sítio e dê por muitíssimo bem empregado o tempo que levar a escutar o que Sena Santos tem para lhe transmitir.

E compare o trabalho de Sena Santos com os noticiários que ouve e lê um pouco por aí para ver o quão diferente é o tratamento que um mesmo assunto pode receber por parte de um jornalista competente como é Sena Santos, e por parte de outros que se limitam a encher-nos a vista e os ouvidos com “recados” políticos e transcrições e leituras de telex das agências internacionais de comunicação.

Se Sena Santos vier a pôr na sua página da Net uma ligação para fazermos donativos para o seu programa, serei dos primeiros a corresponder ao propósito. E creio bem que a maioria dos ouvintes não regateará na hora de também contribuir para manter um tal serviço. Que de serviço se trata.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

OH MARAVILHA!

Engolido o vinho irradiante lhe cruzava o céu-da-boca. Espremido nos lagares de uva da Borgonha. É o calor do sol. Parece um toque secreto contando-me recordações. Tocados seus sentidos humedecidos relembravam. Escondidos sob os fetais silvestres de Wowth. Debaixo de nós a baía dormente céu. Nenhum som. O céu. A baía púrpura perto do cabo Leão. Verde por Drumleck. Verde-amarelo rumo a Sutton. Campos submarinos, linhas de um pardo desmaiado por entre a relva, cidades enterradas. Almofadada no meu paletó tinha ela sua cabeleira, fura-orelhas, em sarças de urze minhas mãos sob sua nuca, tu vais me despentear todinha. Oh maravilha!

[James Joyce – in Ulisses]

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

“INTENDÊNCIA”

Quer dizer-nos Pacheco Pereira se ainda hoje continua a apoiar a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, mesmo depois de ler o relatório Baker?

Fim de “intendência”.


Hoje é nosso dever lembrar a todos os apoiantes da invasão do Iraque que a América está derrotada. Que quem diz isso não é um qualquer irresponsável. Que quem diz isso é uma comissão presidida pelo senhor James Baker, num relatório oficial encomendado pela e para a Administração Americana.

Nada mais claro: a América perdeu a guerra no Iraque.

Por outras palavras: Saddam Hussein acaba de ganhar a guerra a George Bush.

Saddam já pode morrer descansado. Embora o não merecesse, ficará na história como mais um chefe militar e político que derrotou a toda-poderosa América.

Depois da vergonhosa derrota no Vietname, veio agora a não menos vergonhosa derrota no Iraque. E fica-se com a certeza de que sempre que a América guerreou sozinha (neste caso do Iraque até contou com algum apoio do Reino Unido) ― mas, dizia-mos ― sempre que a América guerreou sozinha acabou por levar no focinho e sair do palco com o rabinho entre as pernas.

Depois há-de ganhar a guerra no cinema: hão-de fazer grandes filmes tipo “Rambo”, em que os iraquianos serão derrotados em toda a linha, para levantar o moral do sempre politicamente enganado povo americano.

Justiça se faça a um homem que teve sempre da História uma visão lúcida e previu até hoje como ninguém vários desfechos de acontecimentos históricos relevantes para a humanidade:

Falo de Mário Soares.

Mesmo antes da invasão do Iraque, quando se montava a mentira e se preparava a opinião pública para a guerra, Soares disse na televisão: «vai ser fácil lá entrar, mas depois o grande problema vai ser como sair de lá».

Pois é: agora Bush tem que se aliar ao “Eixo do Mal” para o ajudar a recolher os cacos, regressar a casa e contar as sepulturas dos milhares de jovens militares americanos mortos no Iraque. Para nada!

Antes da guerra, a euforia ------------------------ Depois da derrota, o funeral.

SEJAMOS REALISTAS

Da passagem do Sporting por esta edição da Liga dos Campeões ficou apenas na memória aquele remate certeiro de Caneira que deu o único golo do jogo de Alvalade com o Inter de Milão.

Convenhamos que é pouquíssimo – quase nada, ou mesmo nada -. E traduz inteiramente o quarto e último lugar do Sporting no seu grupo de apuramento, isto é, a sua eliminação de todas as provas europeias desta época.

Acabado de ver ainda há pouco o jogo do Porto com o Arsenal, admite-se, sem dificuldades de maior, que apenas os dragões têm, aqui no rectângulo, equipa que mereça estar na fase seguinte da prova futeboleira maior da Europa.

E ponto final.

domingo, 3 de dezembro de 2006

O OLHO CLÍNICO DO ABRUPTO

Quando o jornal PUBLICO desapareceu pela primeira vez na sua versão online, escrevi dizendo claramente que achava que era uma má decisão porque quem lia online, também comprava o jornal em papel porque sabia que a versão impressa traz sempre mais conteúdo, e porque ler em papel é diferente e apraz bastante.

Mas também disse que jornal que não dispense parte do seu conteúdo online é jornal condenado a não ser comprado por muita gente; porque, frisei de novo, quem lê online também compra papel .

Vem agora o Abrupto tentar mais uma vez caracterizar-nos um pouco taxonomicamente dizendo-nos que nós os blogueadores nos limitamos a ler os jornais online e não ligamos nenhuma aos jornais impressos.

Não é um erro dos blogueadores que está na base desta verdade; é um erro dos editores dos jornais que acham que é escondendo bem escondidinho o seu produto que o tornam mais apetecido.

Mentira! A vastidão da Internet felizmente é hoje tão grande, preenche de tal maneira as necessidades de notícia e busca de artigos sobre os mais variados temas, que só competindo na Internet (atenção que eu não disse contra a Internet – que é o que alguns jornais estão a tentar fazer, sem sucesso nenhum, aliás -) que os jornais poderão ganhar leitores para as suas versões em papel.

Repito mais uma vez: quem lê online também lê, e muito, em suporte papel (livros, revistas, jornais); mas não lê - se calhar por revanchismo – e eu faço-o! os jornais escondidinhos.

Eu comprava o Expresso todas as semanas, e o PUBLICO três vezes por semana. Agora compro zero de um e de outro. Nem quero saber deles. Desde que passaram a obrigar ao pagamento da sua leitura online que deliberadamente me esqueci que existem.

Mas o caso do PUBLICO, como escrevi aqui, é ainda mais caricato: aqueles crânios que o dirigem e editam meteram-no num sarcófago ao retirarem ao Google a autorização para o “cachear”.

E agora só lhes falta construir a pirâmide com a câmara funerária onde vão colocar o sarcófago com o jornal.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

ESADOF* CLÓVIS

Recebi, das mãos de um familiar cioso dessas coisas da genealogia e ancestralidade, um maço de papéis que pretensamente provam que ele e eu somos descendentes de Clóvis, Rei dos Francos, que casou no ano 466 DC com Clotilde de Borgonha, (mais tarde Santa Clotilde de Borgonha), que teve uma filha com o mesmo nome, esta, cuja, terá por sua vez contraído matrimónio, no ano 502 DC, com um tal de Amalric I Balthes, Rei dos Visigodos...

... E por aí fora até chegar ao nosso nascimento.

Como tenho a péssima mania de relativizar as coisas e de olhar para o ser humano mais como uma maquinazinha defeituosa e altamente dependente, que quase não presta para nada senão para albergar uma caterva incomensurável de micróbios que passam a vida a reproduzir-se, e a produzir, dentro e fora de nós, toneladas e toneladas de todo o género de porcaria que imaginar se possa;

Resolvi consultar uns velhos e adormecidos canhenhos que tenho por aqui, escritos por uns autores desmancha-prazeres, de onde pude retirar alguma informação interessante.

Num canhenho que fala de bichinhos esclareci-me sobre a porcaria que somos e a fragilidade da nossa existência. Assim:

1. Qualquer corpo humano é composto por cerca de dez quatriliões (10) de células, e hospeda cerca de cem quatriliões (100) de bactérias.

2. Nunca nos esqueçamos de que as bactérias sobreviveram biliões de anos sem nós. E nós não poderíamos sobreviver nem sequer um dia sem elas.

Esta é a precária porcaria que somos.

Num outro canhenho sobre genética vi incendiarem-se todos os pergaminhos de toda a humanidade - e, claro, também os meus que me davam Clóvis como meu antepassado em linha directa - ao ficar a saber que:

1. Há 30 gerações, o número total dos antepassados de qualquer indivíduo – dos meus, dos seus e de qualquer outra pessoa – considerando apenas a ascendência directa (apenas pais e pais de pais numa linhagem que caminhou inevitavelmente na direcção de cada um de nós) é superior a UM BILIÃO (mais precisamente 1 073 741 824) de pessoas.

2. Se tivermos uma relação com alguém da nossa própria raça e país, há, portanto, fortes probabilidades de sermos parentes.

Por isso, quando alguém se gabar à sua frente, caro leitor, de ser descendente de D. Afonso Henriques, ou de Carlos Magno, ou de Clóvis (como é o caso da minha família), responda imediatamente: “Também eu!”.

E não diga depois que não lhe proporcionei um bom fim-de-semana com esta posta, meu caro parente que me lê; e aceite um forte e fraternal abraço.

(*) O seu a seu dono: “ESADOF” (que deve ser lido de trás para a frente) foi “plagiado” aqui do Abrupto.

terça-feira, 28 de novembro de 2006

O FEITICEIRO ESTÚPIDO

Como eu descrevera aqui nesta posta, era possível ler artigos do jornal PÚBLICO, com um atraso de dois, três dias, pesquisando pelo seu conteúdo nas “caches” do Google. Digo “era” porque por certo o jornal pediu ao Google que não fizesse caches do seu conteúdo e por isso hoje já não é possível fazer essa leitura.

Mas perguntemos agora se essa terá sido uma boa decisão por parte do jornal PÚBLICO.

Penso que não. Penso que foi uma péssima e desastrosa decisão.

Senão, vejamos:

Acontece que agora o Google - pura e simplesmente ignora a existência do jornal PÚBLICO para qualquer tipo de pesquisa que se faça.

Para o Google o PÚBLICO deixou de existir. Experimente fazer uma pesquisa e constate por si que é verdade.

Penso que isso é terrível para aquele jornal. Seria terrível e desastroso para qualquer jornal de qualquer parte do mundo. Por maior e mais influente que ele fosse.

Nem os gigantes The New York Times, ou Le Monde, por exemplo, se aguentariam hoje se se retirassem do mundo Google.

Porque “quem” hoje não está no Google – é porque não existe.

Aliás, todo o mundo quer hoje ser referenciado pelo Google.

Que doideira foi essa que se meteu na cabeça dos gestores(?) daquele jornal para determinarem assim tão estupidamente a sua extinção? Ou terá sido mais uma esperteza saloia de José Manuel Fernandes, essa luminária da imprensa portuguesa?

Não se compreende. É o mínimo que se pode dizer.

Paz à alma do PÚBLICO.

Nota: Será que Belmiro de Azevedo tem conhecimento de tudo isso? Não creio, pois, como todos sabemos muito bem, ele não é estúpido.

VOLTA ZIDANE

E DÁ-LHE OUTRA CABEÇADA E UM PONTAPÉ NOS TOMATES

Vejam só do que é capaz “O Carniceiro”, nome pelo qual Marco Materazzi é conhecido na Itália.


Depois de cometer as faltas, o rapaz até se dá ao trabalho de pedir candidamente desculpas às suas vítimas.

E na maioria dos casos os árbitros nem sequer o amarelam com o cartão.

sábado, 18 de novembro de 2006

DESCODIFICANDO SINAIS

O menino guerreiro escreveu um livro em que se queixa de malfeitorias que Cavaco lhe terá feito quando no Verão de 2004 fora primeiro-ministro do então governo circense de Portugal.

E deixou no ar a ameaça de que qualquer dia pode aparecer «por aí» de novo com o PSD domesticado e pronto a lutar por ele e pelo poder.

Cavaco não perdeu tempo a mandar recados ao PSD e a responder desta maneira ao livro de Santana Lopes.

Com isso entalou o PS que, incomodado, ainda não reagiu claramente à colagem de Cavaco.

Mas o farol independente, (esta vírgula é importante) do PS, Vital Moreira, já o fez, com algum desagrado, contorcendo-se na cadeira e inspirando fundo com o bigode colado às narinas.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

ENTÃO COMO É?

Como todos sabemos, o Governo PS tem atacado, e nalguns casos extinguido, os “direitos adquiridos” de diversos trabalhadores. Os senhores jornalistas, em vez de tratarem o assunto com toda a verdade, têm enchido páginas e páginas de prosa noticiando, comentando, glosando, aplaudindo, e servindo de câmara de eco do Governo chamando aos “direitos adquiridos” “PRIVILÉGIOS”.

Mas eis que o Governo resolveu agora extinguir a Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas.

Aqui d’el Rei que o Governo está a atacar os nossos “DIREITOS”! Dizem esses pândegos aqui.

“Direitos não, meus caros amigos. O que o Governo está a atacar não será antes os vossos “PRIVILÉGIOS”?

Sejam coerentes ao menos uma vez, meus caros: aplaudam o Governo e glorifiquem-no nos vossos jornais.

Ou será que a partir de agora está entornado o caldo e vamos ter outra comunicação social, com outro léxico e olhando para as coisas de forma diferente?

Vá! Não esmoreçam!

ABAIXO OS “PRIVILÉGIOS”!

terça-feira, 14 de novembro de 2006

POSTA FEDORENTA

A Civilização tem requisitos que acabam por desembocar na cultura e na educação das colectividades humanas e no próprio indivíduo. Um desses requisitos é a educação dos hábitos intestinais de cada um de nós.

Pode parecer a alguns, ou mesmo a muitos de nós, que assim não é; mas a verdade é que isso faz parte integrante da educação de cada indivíduo e insere-se na cultura da comunidade.

Não é a qualquer hora e em qualquer lado que se deve fazer o cocó quotidiano.

Só excepcionalmente, numa emergência por alterações fisiológicas causadas por doença ou ingestão de produtos estragados, por exemplo, deve acontecer onde for mais conveniente.

De resto, cabe ao indivíduo ser educado e educar-se habituando os seus intestinos a funcionar, em casa, sensivelmente à mesma hora, ou aquando de um acontecimento quotidiano regular, como é o acordar de manhã, por exemplo. Excepcionam-se, como é evidente, os indivíduos que trabalham por turnos variáveis e por isso não têm rotinas quotidianas.

Por isso não se entende, por exemplo, aquele senhor doutor, aquele senhor engenheiro, aquela senhora professora, que, no serviço, às horas que calhar, se senta no trono e empesta o ambiente da retrete e os corredores circunvizinhos com os odores nauseabundos das suas fétidas tripas.

É que há pessoas que, para agravar ainda mais a situação, entram numa retrete, ficam lá meia hora ou mais a evacuar, e durante todo aquele tempo não accionam o autoclismo uma única vez sequer; ficam sentadas no trono a banhar-se nos vapores odorantíssimos do cocó que vão fazendo, no que saem de lá - não só deixando pestilento o ambiente, como ainda com a roupa e os cabelos impregnados do mortífero vapor das suas humanas entranhas.

O que acontece no local de trabalho também, às vezes, acontece em nossa casa. Quando uma visita ou convidado pede-nos para ir à nossa casa de banho. Tudo bem, dizemos - que remédio, apetece-nos dizer -. É que pode tratar-se de um “incivilizado” que quando sair de lá nos deixará com vontade de mudar de casa ou de contratar um meteorologista experiente que nos faça passar um temporal ou mesmo um ciclone tropical de grau 7 pelo WC e todas as divisões da habitação.

Por isso, caro/a amigo/a, se ainda o não é:

Civilize-se.

Eduque-se.

Tome boa conta dos seus intestinos.

Não esfregue o interior das suas tripas nos narizes dos outros.

domingo, 12 de novembro de 2006

DA ORIGEM DA POESIA

«As meias dela estão enrugadas no calcanhar. Desgosta-me isso: tão sem gosto. Essas gentes literárias etéreas são todas. Oníricos, nefelibáticos, simbolísticos. Estetas é o que são. Não me surpreenderia se fosse aquele tipo de alimento [vegetariano] que produz essa como onda do cérebro as poéticas. Por exemplo um daqueles polícias que tresandam a cozido pela roupa toda; não se poderia espremer dele um verso de poesia. Nem sabe mesmo o que é poesia. Precisa-se de uma certa veia.»

Onírica nefelibata gaivota
Ondula por sobre os mares sua derrota


[James Joyce]

domingo, 5 de novembro de 2006

VENENO DE SAPO

PONHA-SE A PAU


Como pode constatar pela imagem supra, uma visita ao conhecidíssimo domínio português home.sapo.pt pode provocar uma violação da segurança do seu browser, pois, é o "Site Advisor" da McAfee que o diz: «ao navegar neste site, o site efectuou alterações não autorizadas ao nosso computador de teste».

Obtive este aviso quando tentei aceder ao endereço: http://xistemas.home.sapo.pt/.

Será que já não se pode navegar no "sapo.pt" sem se sair de lá com o computador feito num oito?

Vou enviar um email ao sapo.pt a colocar a questão.

RECEITAS

Certo dia uma senhora prendada descreveu com discreta volúpia o almoço que preparara no dia anterior de domingo tendo como prato principal um excelente – dizia ela - rolo de carne. E deu, urbi et orbi, a receita: temperou ½ Kg de carne de vaca picada à qual adicionou ½ Kg de carne de porco picada, com sal pimenta e o conteúdo de um pacote de sopa de cebola Knorr desfeito em meia chávena de água. Juntou um pouco de pão ralado e amassou tudo muito bem, fez um rolo de carne que untou com margarina derretida e levou ao forno para cozer. Serviu o rolo com batata frita e salada.

E disse: «ficou com um paladar excelente; fica sempre; a sopa Knorr dá-lhe qualquer coisa de especial que é muito bom».

Porque não sou egoísta, mas antes epicurista, vou dar-vos uma receita de rolo de carne que, por sinal, hoje vou confeccionar para o almoço:

500 gr de carne de vaca picada;
250 gr de carne de porco;
250 gr de vitela(peito);
50 gr de chouriço;
1 colher de sopa de manteiga;
100 gr de toucinho;
20 bolachas de água e sal;
4 ovos;
2 cebolas grandes;
1 copo de vinho branco;
20 grãos de pimenta;
2 cenouras;
2 cravos de cabecinha; salsa; louro;
50 gr de azeitonas pretas;
sal, pimenta e noz-moscada.


Passe as carnes pela máquina de picar. Passe também o chouriço, as bolachas, 1/4 da porção de toucinho e um ramo de salsa. Tempere com sal, pimenta e noz-moscada.

Coza uma cebola, previamente picada, com a manteiga e, quando estiver macia, junte-a ao preparado anterior. Adicione os ovos inteiros e amasse tudo muito bem.

Com a ajuda de um rolo de madeira estenda o preparado e por cima coloque algumas tiras de toucinho, de cenouras cozidas e azeitonas pretas descaroçadas.

Enrole e envolva o rolo de carne num pano branco. Ate com uma guita.

Mergulhe o Rolo num tacho com água a ferver à qual juntou 1 cenoura, a restante cebola cravejada com os cravos de cabecinha, o vinho branco, os grãos de pimenta, um ramo de salsa, uma folha de louro, sal e o restante toucinho.
Quando o rolo estiver duro, retire o tacho do lume e deixe-o arrefecer dentro do caldo.

Sirva com esparregado e batatas novas sem casca untadas com óleo vegetal e assadas no forno, regadas com o molho do rolo de carne.

Acompanhe com vinho tinto Vila Santa, colheita de 2000. E ponha a girar no leitor de CD um disco de canto gregoriano.

Se começar tudo agora, talvez ainda consiga fazer hoje um almoço interessante. Mas se quiser ter um almoço excelente talvez deva escolher a primeira receita. Ou não?!

Tenha um bom domingo.

DISSE HERR CAZOTTE:

[...] «Por mais admirável que seja, a mulher que não desperta no homem o instinto do sedutor é como o cavalo do Chevalier de Kerguelen, que tinha todas as boas qualidades, mas que estava morto. E que pobres criaturas desvalidas seriam os homens, se não tentassem arrancar, como o violinista com o arco sobre as cordas, toda a riqueza e todas as virtualidades do instrumento que temos nas mãos?» [...]

Bom dia.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

DESCULPAS

Desde cerca das 19:00h de ontem, este blogue esteve indisponível por razões da inteira responsabilidade do Blogger.com.

Enviámos uma mensagem a relatar o problema que foi resolvido passadas sete horas.

Aos nossos leitores pedimos desculpas por este inconveniente de cuja causa somos alheios.

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

COM O ABISMO À VISTA

SEJA UM BOM PORTUGUÊS: SEJA CORAJOSO

Visando a extinção dos quadros clínicos hospitalares e, consequentemente, das carreiras a eles inerentes, os sucessivos três últimos governos, no que se inclui o actual, promoveram o “emagrecimento” desses mesmos quadros, quer pela não substituição dos médicos que foram saindo para a reforma, quer ainda pela criação de condições propícias ao abandono dos que foram ficando, estes descontentes com as condições de trabalho e/ou a falta de perspectivas de uma carreira que, como já se disse, está em extinção galopante.

Saíram, assim, dos hospitais, sobretudo os médicos mais capazes. Mas não só: também saíram e têm saído médicos jovens, especializados há pouco tempo.

Depois, então, promoveram a contratação, a trouxe-mouxe, de tarefeiros (alguns, pelos vistos, de qualidade e competência duvidosas) para colmatar a falta dos médicos que saíram.

E agora vêm p’raí com choradinhos e análises preocupadas, e anúncios de medidas impraticáveis que vão deixar o Serviço Nacional de Saúde ainda mais moribundo, incapaz, e, por esse caminho – perigoso para o doente no futuro. Prevêem medidas, até, contraditórias: pretendem dificultar ainda mais a contratação de tarefeiros, no momento em que mais ainda vão precisar deles: quando os médicos, a partir de 1 de Janeiro próximo, poderão optar por não fazer trabalho extraordinário nos hospitais e Centros de Saúde do Estado, pois muitos deles não querem ganhar 28 euros à hora quando a seu lado há um tarefeiro menos qualificado a ganhar, por exemplo, 70 euros à hora.

Quando se pratica a lei cega do mercado – a lei da oferta e da procura - é nisso que as coisas podem dar: numa como que mercenarização do trabalho médico (Hipócrates deve estar a dar voltas e mais voltas na tumba. E qualquer dia até é bem capaz de aparecer por aí doido de todo).

É como disse Marcelo rebelo de Sousa: «Parece que não há um plano para a Saúde» em Portugal. Navega-se à vista. Mas fica a ideia que o objectivo principal é extinguir o Serviço Nacional de Saúde sem que as consequências, sequer as de curto e médio prazo, estejam a ser devidamente perspectivadas.

Pergunto: é preciso que morra gente em número significativo para só então se parar, pensar e definir outro caminho?

Mas aonde é que se quer chegar com tudo isto?!

Estamos num país de loucos ou quê?!

Fiquemos com a citação de algumas frases que o Diário de Notícias atribui hoje à senhora Secretária de Estado Adjunta da Saúde, Carmen Pignatelli:

"ninguém garante a qualidade" do atendimento

"há hospitais que celebram contratos que se resumem a meia folha A4".

"Não há informação sobre o corpo clínico da empresa, do registo de cada médico na ordem, nem a garantia de que ele é especialista em oftalmologia, se for o caso de ser contratado para a oftalmologia."

"Uma das coisas que me deixam perplexa é como é que se garante a qualidade dos serviços nestas condições."


Nota: Será que tudo o que disse a senhora Secretária Adjunta da Saúde, Cármen Pignatelli, significa que já se vai admitindo encerrar os hospitais (praticamente todos), acabar com o Serviço Nacional de Saúde, e entregar tudo nas mãos dos privados?

Estará a senhora Secretária a preparar os portugueses para uma notícia destas?

Da forma como as coisas estão, hoje em Portugal, nada espanta e tudo se admite.

O socratismo caminha em roda livre, apoiado firmemente numa maioria absoluta conquistada à base da maior fraude política eleitoral de que há memória, e baseada nas mais mentirosas promessas eleitorais até hoje feitas em campanha.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

DE OUTRA CARTA

De Herr Cazotte



[...]«Embora a minha amiga seja para Babenhausen a expressão viva das virtudes domésticas, deve estar a perguntar no seu íntimo: “Porque será que esse idiota não seduz a rapariga à velha maneira ortodoxa e acaba com toda essa história?». A minha resposta à vossa pergunta é: “Madame, esse idiota é um artista”».[...]

UM GOZO PERMANENTE

É isso que parece estar a fazer connosco o Ministério da Saúde em relação a certas matérias (é a primeira vez que emprego a palavra “matéria”. Algo deve estar para me acontecer. Ou se calhar é de ouvir Jorge Coelho empregá-la pelo menos umas vinte vezes em cada Quadratura do Círculo. Onde volta e meia ele costuma dizer: «como é evidente, nesta matéria», e patati e patatá).

Vejamos então se não é gozo:

1. Até há bem pouco tempo os anticoncepcionais orais (é assim que os médicos tratam a vulgar “pílula”) eram comparticipados pagando a utente uma parte e o Estado outra. Agora, com a descomparticipação da pílula pelo Estado, a utente tem que pagar a totalidade do custo da mesma se não quiser ficar grávida aquando do truca-truca.

Claro que assim o Estado vai poupar muito dinheiro.
Parece... mas não é verdade!

Porque, por outro lado, o Estado se prepara para pagar na totalidade as despesas com os abortos voluntários que a aprovação da lei do aborto vai permitir que se faça em unidades de saúde.

Agora perguntamos: é preferível e mais barato comparticipar a pílula a 100%, ou contribuir para que as mulheres engravidem e depois recorram ao sistema de saúde para abortar gratuitamente?

Em que cabeça é que medrou essa ideia absurda de fazer do aborto um método anticoncepcional? Desculpem, mortipósconcepcional.

Claro que estamos perante um gozo.

Vejamos agora outro:

2. Desde há um ano que os serviços do Ministério da Saúde têm alertado a população para o perigo da Gripe das Aves. Reconheça-se que também nos tem dito que o país está prevenido pois foram encomendadas doses suficientes do antivírus Oseltamivir (TAMIFLU), para se tratar os doentes.

Mas...

Como nas farmácias o TAMIFLU não é comparticipado, tendo o doente não hospitalizado que pagar 25,17 euros por cada caixinha de 10 cápsulas, isto é, 5 euros por cada dia de tratamento;

E como os doentes internados num hospital têm tratamento “gratuito” mas têm que pagar o imposto diário de 5 euros, imposto apelidado de forma brincalhona, pelo senhor ministro da Saúde, de “taxa moderadora”;

Conclui-se, com toda a crueza deste mundo, que se houver uma epidemia da Gripe das Aves em Portugal, será a população doente a pagar na totalidade o seu tratamento.

Lindas medidas para o sector da Saúde!

É ou não é verdade?

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

APAZIGUEMOS O NOSSO ESPÍRITO

DAS HISTÓRIAS DE PLÁGIO

Com a primeira página de Ulisses, manuscrita por James Joyce.




STATELY, PLUMP BUCK MULLIGAN CAME FROM THE STAIRHEAD, bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed. A yellow dressinggown, ungirdled, was sustained gently behind him by the mild morning air. He held the bowl aloft and intoned:

--INTROIBO AD ALTARE DEI.

Halted, he peered down the dark winding stairs and called out coarsely:

--Come up, Kinch! Come up, you fearful jesuit!

Solemnly he came forward and mounted the round gunrest. He faced about and blessed gravely thrice the tower, the surrounding land and the awaking mountains. Then, catching sight of Stephen Dedalus, he bent towards him and made rapid crosses in the air, gurgling in his throat and shaking his head. Stephen Dedalus, displeased and sleepy, leaned his arms on the top of the staircase and looked coldly at the shaking gurgling face that blessed him, equine in its length, and at the light untonsured hair, grained and hued like pale oak.

Buck Mulligan peeped an instant under the mirror and then covered the bowl smartly.

--Back to barracks! he said sternly.

He added in a preacher's tone:

--For this, O dearly beloved, is the genuine Christine: body and soul and blood and ouns. Slow music, please. Shut your eyes, gents. One moment. A little trouble about those white corpuscles. Silence, all.

CAI MAIS UM MITO?

GRANDE SERÁ O ESTRONDO
(Se se confirmar a acusação de plágio)


Nunca li “Equador”, o romance de Miguel Sousa Tavares, pelo que só posso dizer assim:

A serem verdadeiras as transcrições feitas no blogue português “FREEDOMTOCOPY”, de passagens do livro escrito por Sousa Tavares e do livro de Dominique Lapierre e Larry Collins, «Freedom at Midnight», 2ª Edição, 2002,

Poucas dúvidas restarão de que poderá tratar-se de plágio, pelo menos nas partes referidas naquele blogue; e em algumas passagens (também no memso referidas) será apenas e só mera tradução.

Repetimos: a serem verdadeiras aquelas transcrições – e não se viu ainda, por parte de Miguel Sousa Tavares, um desmentido cabal que nos convença do contrário, ou uma mera explicação das estranhíssimas profundas semelhanças dos dois textos – não podemos senão admitir que o tonitruante comentador da TVI terá colocado a pata na poça;

Que o homem que se gabou de «ter posto os portugueses a ler»,

Poderá ter posto os portugueses a ler sim, mas… Dominique Lapierre e Larry Collins. Pelo menos nalgumas passagens do livro.

Triste. Muito triste! Se for verdade.

Será mais um ídolo popular (não meu) que cai.

Esta acusação anónima de plágio fez-nos lembrar a Clara Pinto Correia que, depois de um plágio/tradução de uma crónica no The New Yorker, desapareceu da cena literária e jornalística durante cerca de três anos e agora, como quem começa de novo, lá vai escrevendo uns artiguelhos em revistas e jornais de segunda e terceira categorias.

Estaremos perante um caso de mais um sapateiro e sua chinela?...

Nota: Vou comprar os dois livros. E vou tirar, por mim, as minhas conclusões. Primeiro vou ler as páginas referenciadas no “FREEDOMTOCOPY”. E se nelas encontrar o que se transcreve naquele blogue, então não terei muitas dúvidas em dizer que "Equador", pelo menos naquelas passagens, é mesmo um plágio. Mas depois lerei os dois livros pois por certo deliciar-me-ei com o que vou ler: é que a qualidade dos textos transcritos é boa e convida à leitura completa dos "originais".

Actulaizado (26/10/2006, 07:09PM)
Ao que temos lido por aí na blogosfera, o blogue “FREEDOMTOCOPY” será mal intencionado e terá alterado o início de “Equador” de Muiguel Sousa Tavares (MST) para fazê-lo assemelhar-se, ou mesmo coincidir, com o início de «Freedom at Midnight», de Dominique Lapierre e Larry Collins, lançando sobre o autor de “Equador” uma falsa acusação de plágio. Mas os autores da denúncia voltaram a reafirmar que os inícios dos dois livros narram os mesmos factos e neles intervêm personagens similares.

Mas também já lemos que «Freedom at Midnight» narra factos históricos que MST terá transcrito para o seu livro, não sendo isso um plágio. Mas os autores da denúncia defendem-se e contra-atacam dizendo que MST não faz citações de textos históricos pois que os alterou a seu benefício fazendo «copianço».

Urge, portanto, comprar os livros. Não com a finalidade última de saber se MST plagiou ou não, mas para um salutar exercício de leitura comparativa. Não é mal visto, não senhor.

Actualizado (31/10/2006, 07:28PM)
Não queremos entrar em especulações. Mas apenas dizer que o endereço do blogue que denunciou o eventual plágio de Miguel Sousa Tavares serve agora uma página do próprio romance de MST tendo desaparecido os textos da denúncia de plágio e os fragmentos que, segundo o denunciante, demonstrariam a veracidade da denúncia.

Alguém tratou de fazer desaparecer os textos que nos permitiriam fazer alguma comparação entre fragmentos dos dois livros em causa.

Pense o leitor o que quiser sobre este facto.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

DA IGREJA CATÓLICA (2)

A INQUISIÇÃO E AS TESTEMUNHAS
«A opinião de todos os Canonistas é que em matéria de heresia o irmão pode testemunhar contra o irmão e o filho contra o pai. É que deve-se obedecer antes a Deus do que aos pais. E se é permitido matar o pai, quando ele for inimigo da pátria, por maior razão ainda se pode denunciá-lo quando for culpado de heresia. De resto o filho que denuncie o seu pai fica livre das penas que o direito prevê contra os filhos de herejes, como recompensa por o ter denunciado.»

«As Testemunhas domésticas, isto é, os pais, os amigos e os criados do Acusado são admitidas a testemunhar contra ele, mas nunca a favor dele

«Em rigor, bastam dois testemunhos para condenar definitivamente em matéria de heresia.»

sábado, 21 de outubro de 2006

PRÉMIO ORELHAS DE BURRO

Para Joaquim Rita, jornalista e comentador desportivo

Que hoje à tarde disse isto na Sportv durante o jogo de futebol
Chelsea v Portsmouth:

«Claude Makelele é o barómetro que controla a temperatura do jogo.»



Claude Makelele
Sem dúvida um barómetro sorridente.

DA IGREJA CATÓLICA (1)

A INQUISIÇÃO E OS HEREGES
«O processo pelo método de inquisição é portanto baseado, como ficou dito, em rumores públicos; mas esses mesmos rumores públicos têm que ser constatados por duas testemunhas. Para que com isto se obtenha uma prova completa, importa que as duas testemunhas sejam pessoas respeitadas e tidas como honestas. É bastante para constatar a má reputação do Acusado que elas digam ter ouvido dizer a fulano ou a sicrano que o Acusado é hereje*. O seu depoimento faz fé, mesmo que as duas testemunhas não o tenham ouvido dizer a idênticas pessoas



(*) A palavra “herege” encontra-se grafada no texto com “j”. Parece que ao tempo era essa a grafia correcta.

Notas:
1) Texto extraído de um Abregé do “Manual dos Inquisidores”, fruto do trabalho de Frei Nicolau Emérico (1320-1399), edição de 1607, que pretende dar uma ideia, quanto possível completa, do Código Criminal da Santa Inquisição.
2) Destaques da nossa autoria.

O PIDE MAU E O PIDE BOM

Dos jornais: «preço da electricidade aumenta 6%»

Esta história do aumento do preço da energia fez-me muito lembrar a táctica dos dois pides.

Aquela velha e bem conhecida tática da PIDE para obtenção de confissões aos presos políticos: primeiro aparecia na sala de interrogatório ou tortura o pide mau que maltratava, sovava, e torturava o prisioneiro; depois aparecia o pide bom que “acudia” ao prisioneiro, lhe dava água a beber, lhe chegava uma cadeira, o ajudava a sentar-se, e com falinhas mansas de falso amigo o aconselhava convencendo-o a “falar” porque senão o mauzão voltaria para lhe aplicar mais “tratamento” daquele sem que ele, o bonzão, pudesse impedir a malfeitoria.

No fim, a acção conjugada dos dois biltres tinha por único objectivo, como é bom de ver, fazer confessar o prisioneiro para depois o incriminar no julgamento político que se seguiria no legendário e famigerado Tribunal Plenário.

Com o preço da energia aconteceu agora o seguinte: primeiro apareceu a Entidade Reguladora do Sector Energético a divulgar aos quatro ventos que a energia para os consumidores domésticos iria subir 15,7% no próximo ano; depois apareceu o nosso bom amigo Ministro da Economia a proteger-nos declarando alto e bom som que não senhor, não se irá permitir tal malfeitoria: o preço da energia aumentará, sim senhor, mas apenas 6%.

E é assim que se consegue aplicar um aumento brutal de 6%. Brutal porque num país onde os salários vão aumentar apenas uns míseros 1,5%. Abaixo da inflação, portanto. O que quer dizer que vão diminuir no próximo ano.

E esse aumento brutal de 6%, mercê do anúncio prévio bombástico dos 15,7%, parece uma benesse graças à intervenção do Governo por via do senhor Ministro da Economia.

E é assim que se transforma uma coisa má numa coisa boa.

E nós engolimos isto com a maior das naturalidades. E acreditamos que o senhor ministro foi surpreendido pelo anúncio dos 15,7%, por parte da Entidade Reguladora.

Estamos, na verdade, todos de parabéns.

E viva Portugal!

domingo, 15 de outubro de 2006

A SAPATEIRA ALÉM DA CHINELA

Ana Gomes, a fogosa deputada do Partido Socialista, gaba-se de ter feito esta fotografia:


Que é apenas e só uma autêntica aberração estética.

Já tivéramos no mesmo blogue as maminhas, de Vital Moreira, apelidadas de «lugares de encanto».

E agora calhou-nos a “estragação” da vista da nave do Mosteiro de Alcobaça por uma enorme cruz preta inutilizando completamente a fotografia - como se alguém a tivesse censurado com um marcador grosso.

Quando é que pessoas sem talento para isso aprendem que não é o preço das máquinas fotográficas que faz o bom fotógrafo, antes sendo-o apenas o talento para aquela arte!

terça-feira, 10 de outubro de 2006

GRANDE NOVIDADE...

O LENTO VERBAL (MENTAL?) FOI APANHADO

Relatório pode implicar Xanana na violência de Díli

Segundo o DN: «O Presidente Xanana Gusmão poderá vir a ser esta semana implicado pelas Nações Unidas na violência que ocorreu em Timor-Leste durante os meses de Abril e Maio, e que se saldou num número ainda indeterminado de mortos e feridos, provocando uma onda de milhares de refugiados no país.»

domingo, 8 de outubro de 2006

LER PARA CRER

«Um sujeito de meia-idade, forte, barbudo, mal-enjorcado, aspecto magrebino»

É assim, com toda esta polidez que por certo lhe advém da sua impecável formação diplomática, que a deputada do PS, Ana Gomes, descreve Pacheco Pereira.

O Dicionário da Academia define enjorcado como «quem se vestiu mal, à pressa ou atabalhoadamente.»

Já o termo magrebino não figura naquele dicionário. Nem sequer o termo Magrebe, o que já é mais grave. Aliás, quem consulta aquele dicionário com alguma regularidade sabe que o mesmo, sendo, segundo dizem alguns entendidos, um dos melhores da língua portuguesa, deixa, contudo, muitíssimo a desejar pois, com frequência se depara nele com enormes lacunas.

No nº 1497 da “Revista” do Expresso, de Junho de 2001, Vasco Graça Moura faz a seguinte apreciação de dita obra:

«Estamos perante uma coisa que não justifica as muitas centenas de milhares de contos que nela foram despendidos. E que não só labora em equívocos muito discutíveis, como induz outros equívocos com consequências ainda imprevisíveis neste momento para a nossa língua e para o seu património semântico e expressivo. ...Mas o pior é que, se este dicionário não permite ler muito de que os grandes autores da língua portuguesa do passado escreveram, ... ele também não permite ler uma parte muito significativa dos autores modernos.»

Mas sempre podemos adiantar que Magrebe é identificado como a parte ocidental da África, ao norte do Deserto do Sara. Magrebe significa, em árabe, «onde põe o sol».

Magrebinos são os habitantes do Magrebe; são basicamente, árabes e berberes.

RADIOGRAFIA DE UM PAÍS

Não resisto a transcrever, na íntegra, esta posta do Professor Doutor Henrique Silveira no blogue Crítico Musical:

«A tão propalada falta de qualificação da função pública não será espelho da falta de qualificação de toda a gente neste país?
Dizer-se que o sector mais qualificado do país, o do ensino superior, tem falta de qualificação é mesmo a maior aberração que tenho lido ultimamente, será que não bastam os mestrados e os doutoramentos, os papers, os livros, as publicações para os alunos e as participações e organização de conferências. Será que ficar de 10 a 15 anos a prazo antes da nomeação definitiva na Universidade não será prova mais que suficiente?
Enfim, não será esta falta de qualificação reflectida primeiramente na própria classe política? Alguém me diz onde o primeiro ministro José Sócrates tirou o curso quando nem o próprio senhor o sabe dizer? Vejo uma biografia miserável de um político carreirista sem nada feito fora da área politiqueira e que acaba a dirigir um país.
A qualificação da nossa classe política é vergonhosa, o atraso deste país é vergonhoso, mas isso deveria ser um estímulo para melhorar, não para destruir o que de relativamente bom existe. Cortar na educação neste país é o que tem sido feito desde sempre e deu naquilo que somos. Como será possível desenvolver Portugal cortando na educação?»

A VISÃO DO ARTISTA

De uma carta de Herr Cazotte:

«Vi, num baile da corte, uma rapariga com um vestido branco, filha de guerreiros, em cujo universo a arte, ou o artista, nunca existiram. E exclamei como Miguel-Ângelo: “O meu maior triunfo esconde-se dentro daquele bloco de mármore”

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

EU TAMBÉM NÃO

«Não acredito na bondade do ser humano».

Desde que ouvi Jaime Nogueira Pinto afirmar e reafirmar esta verdade, sem qualquer rebuço, aí há cerca de dois anos, num debate televisivo, que passei a admirá-lo profundamente.

Independentemente de ele ser um homem de direita.

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

SINAIS

Há pouco mais de uma semana Marcelo Rebelo de Sousa, nas suas “Escolhas”, na RTP1, terá comentado mais ou menos isto (cito de cor pelo que as palavras não serão todas as mesmas que ele disse) sobre a acção do Senhor Ministro da Saúde:

«Ele faz as coisas de forma avulsa. Tem o hábito de aproveitar as entrevistas para anunciar as medidas do seu ministério. Apresenta-as de forma desgarrada: hoje uma medida, amanhã outra, e depois outra e outra, tudo de forma caótica, desgarrada. Dá a sensação que ele não tem um plano para a Saúde. Pelo menos ninguém conhece qualquer plano para a Saúde. Assim não é a melhor forma de fazer as coisas. Ele deveria apresentar um plano concreto e dizer: bem agora vamos fazer isto, depois aquilo, e depois aqueloutro. Assim é que era. Mas como está a fazer é que não. É tudo muito confuso, caótico, desgarrado e fica-se com a sensação de que não há plano nenhum e vai-se fazendo as coisas de forma avulsa, uma a uma, para depois ver no que tudo vai dar.»

Jorge Coelho, ontem, na Quadratura do Círculo, na SIC Notícias, afirmou (cito também de cor pelo que as palavras não serão todas as mesmas que ele disse):

«Eu tenho a maior das dúvidas quando vejo os tecnocratas a tratar de assuntos políticos; nisto do encerramento das urgências eu vou informar-me, vou ver no que isso dá e depois me pronuncio. Se é apenas para poupar dinheiro, há muito por onde cortar sem ser na Saúde».

E este é um peso pesado do PS a falar.

É isso: já começa a ser mais que evidente aquilo que os profissionais da Saúde sempre disseram, desde o primeiro minuto, sobre a acção do Governo no domínio da Saúde: o que se está a fazer é apenas e só uma política de corte de despesas. Cortes a esmo com a finalidade única de poupar dinheiro. «O bem-estar das populações», «a segurança das grávidas», «melhor Saúde», etc., tudo isso é treta para enganar papalvos. Hoje, na Saúde, está tudo pior. Para os doentes, para os profissionais da Saúde, para as populações. Tudo pior sobretudo para os mais pobres.

Está a chegar-se ao ponto em que só os cegos é que ainda não vêm o que verdadeiramente se está a passar – mas até eles irão ver, se a coisa continuar por este caminho.

E o que mais impressiona – mesmo quando entra pelos olhos adentro do mais perfeito imbecil que o Serviço Nacional de Saúde (que era um dos melhores da Europa comunitária) já está hoje moribundo e em estertor mortis – é ver revelar-se, quotidianamente, nos mais diversos meios e nas mais diversas conversas, a sanha atávica portuguesa contra os médicos levando ainda muito mentecapto, muito traumatizado, muito invejoso, muito palerma a bater palmas ao Senhor ministro da Saúde e, fazendo coro com os representantes do poder económico dominante (estes sim reais beneficiários da morte do Serviço Nacional de Saúde) pedindo mais e mais medidas restritivas, mais e mais cortes nas despesas da Saúde, em suma, mais e mais asfixia do Serviço Nacional de Saúde.

Mas depois. Um dia. Quando esses mentecaptos. Quando esses traumatizados estiverem doentes. Hão-de ir tratar-se sim. Mas é naquele sítio que bem sabemos qual é.

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

A ERA DOS ANALFABETOS

Aqui pode encontrar muitas gafes de Lula da Silva, presidente do Brasil.

Três delas são para mim hilariantes:

1) No aniversário da RBS, 02/06/2004, em Brasília:

"Todo brasileiro tem motivos para se sentir otimista. As perspectivas só são ruins para os desempregados."

2) Na Radiobras e em vários jornais, falando no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março de 2004:

"Eu sou filho de uma mulher que nasceu analfabeta."

3) No lançamento do programa Brasil Alfabetizado, em 08/09/2003:

"Não é mérito, mas, pela primeira vez na história da República, a República tem um presidente e um vice-presidente que não têm diploma universitário. Possivelmente, se nós tivéssemos, poderíamos fazer muito mais."

Pois, o problema é esse mesmo.

NÃO CONSUMA LIXO

Há p’raí muita gente a congratular-se por o jornal Público estar de novo online, gratuitamente.

Diga-se como informação que o que o Público disponibiliza agora online é apenas o lixo noticioso e a publicidade.

Porque os editoriais e os artigos de opinião – afinal aquilo que é o mais importante do conteúdo do jornal – continuam a ser apenas acessíveis aos assinantes (aos que pagam para ler).

Por isso, caro amigo, siga o meu conselho e continue a ler gratuitamente a parte paga do jornal.

domingo, 1 de outubro de 2006

O REGERSSO DO FILHO PRÓDIGO

Este livro é uma preciosidade e uma raridade.

Publicado pela Quetzal, conheceu uma única edição (de há muito esgotada) nos anos 80, e nunca mais ninguém quis saber dele.

Emprestado por mim a uma amiga em Macau, esteve sete longos anos longe das minhas estantes e confesso que temi pelo seu desaparecimento – desculpa lá, ó Elsa, mas raríssimas pessoas devolvem um livro emprestado, passados sete anos.

Mas eis que, finalmente ontem, durante um jantar de convívio de velhos amigos e conhecidos, a Elsa fez o favor de me mandar esta jóia de volta, num claríssimo sinal de grande amor pelos livros e do conhecimento de quão importante é para mim o convívio com esta preciosidade.

Aqui há cerca de quatro anos corri, sem sucesso, seca e Meca à procura de um exemplar para substituir o livro ausente; desesperado recorri ao editor Nelson de Matos que me aconselhou contactar a Quetzal pedindo-lhes que me arranjassem um exemplar ou que ao menos me facultassem uma cópia da matriz do livro. Nada feito: vasculhados os armazéns, nada fora encontrado. Não era possível.

Mas eis que, finalmente, a jóia está de novo em casa.

E que livro é este!? Querem saber?

Trata-se de um livro «escrito como um delicioso conto de fadas passado no século dezanove no grão-ducado de Babenhausen... é na realidade um curioso livro sobre a sedução. Herr Cazotte, o pintor da corte, quer seduzir Ehrengarda, a dama de honor da jovem princesa Ludmilla e para atingir os seus objectivos decide pintá-la como Vénus no banho, mas descobre, à sua custa, que por vezes o feitiço se vira contra o feiticeiro, ou seja, que o sedutor pode acabar irremediavelmente seduzido.»

Herr Cazotte – agora sou eu a dizê-lo – é uma personagem interessantíssima que tinha opiniões pessoalíssimas que às vezes generalizava mas apenas a um universo de eleitos. Numa carta à condessa Von Gassner encontra-se, por exemplo, esta passagem:

«Eu sou capaz de esvaziar uma garrafa de vinho do Reno até à última gota, mas sorvo lentamente um copo de aguardente fina e há castas raras de que ambiciono apenas respirar o aroma. O sedutor leal e honesto, quando alcançou o sorriso, o olhar de soslaio, a valsa ou as lágrimas, tira o chapéu à dama, o seu coração transborda de gratidão, só temendo uma coisa: a possibilidade de voltar a encontrá-la.»

Ah, já me esquecia do mais importante: a autora do livro é Karen Blixen, que também escreveu Out of África (muito conhecido em filme).

Passem bem.