domingo, 1 de outubro de 2006

O REGERSSO DO FILHO PRÓDIGO

Este livro é uma preciosidade e uma raridade.

Publicado pela Quetzal, conheceu uma única edição (de há muito esgotada) nos anos 80, e nunca mais ninguém quis saber dele.

Emprestado por mim a uma amiga em Macau, esteve sete longos anos longe das minhas estantes e confesso que temi pelo seu desaparecimento – desculpa lá, ó Elsa, mas raríssimas pessoas devolvem um livro emprestado, passados sete anos.

Mas eis que, finalmente ontem, durante um jantar de convívio de velhos amigos e conhecidos, a Elsa fez o favor de me mandar esta jóia de volta, num claríssimo sinal de grande amor pelos livros e do conhecimento de quão importante é para mim o convívio com esta preciosidade.

Aqui há cerca de quatro anos corri, sem sucesso, seca e Meca à procura de um exemplar para substituir o livro ausente; desesperado recorri ao editor Nelson de Matos que me aconselhou contactar a Quetzal pedindo-lhes que me arranjassem um exemplar ou que ao menos me facultassem uma cópia da matriz do livro. Nada feito: vasculhados os armazéns, nada fora encontrado. Não era possível.

Mas eis que, finalmente, a jóia está de novo em casa.

E que livro é este!? Querem saber?

Trata-se de um livro «escrito como um delicioso conto de fadas passado no século dezanove no grão-ducado de Babenhausen... é na realidade um curioso livro sobre a sedução. Herr Cazotte, o pintor da corte, quer seduzir Ehrengarda, a dama de honor da jovem princesa Ludmilla e para atingir os seus objectivos decide pintá-la como Vénus no banho, mas descobre, à sua custa, que por vezes o feitiço se vira contra o feiticeiro, ou seja, que o sedutor pode acabar irremediavelmente seduzido.»

Herr Cazotte – agora sou eu a dizê-lo – é uma personagem interessantíssima que tinha opiniões pessoalíssimas que às vezes generalizava mas apenas a um universo de eleitos. Numa carta à condessa Von Gassner encontra-se, por exemplo, esta passagem:

«Eu sou capaz de esvaziar uma garrafa de vinho do Reno até à última gota, mas sorvo lentamente um copo de aguardente fina e há castas raras de que ambiciono apenas respirar o aroma. O sedutor leal e honesto, quando alcançou o sorriso, o olhar de soslaio, a valsa ou as lágrimas, tira o chapéu à dama, o seu coração transborda de gratidão, só temendo uma coisa: a possibilidade de voltar a encontrá-la.»

Ah, já me esquecia do mais importante: a autora do livro é Karen Blixen, que também escreveu Out of África (muito conhecido em filme).

Passem bem.