Recebi, das mãos de um familiar cioso dessas coisas da genealogia e ancestralidade, um maço de papéis que pretensamente provam que ele e eu somos descendentes de Clóvis, Rei dos Francos, que casou no ano 466 DC com Clotilde de Borgonha, (mais tarde Santa Clotilde de Borgonha), que teve uma filha com o mesmo nome, esta, cuja, terá por sua vez contraído matrimónio, no ano 502 DC, com um tal de Amalric I Balthes, Rei dos Visigodos...
... E por aí fora até chegar ao nosso nascimento.
Como tenho a péssima mania de relativizar as coisas e de olhar para o ser humano mais como uma maquinazinha defeituosa e altamente dependente, que quase não presta para nada senão para albergar uma caterva incomensurável de micróbios que passam a vida a reproduzir-se, e a produzir, dentro e fora de nós, toneladas e toneladas de todo o género de porcaria que imaginar se possa;
Resolvi consultar uns velhos e adormecidos canhenhos que tenho por aqui, escritos por uns autores desmancha-prazeres, de onde pude retirar alguma informação interessante.
Num canhenho que fala de bichinhos esclareci-me sobre a porcaria que somos e a fragilidade da nossa existência. Assim:
1. Qualquer corpo humano é composto por cerca de dez quatriliões (10) de células, e hospeda cerca de cem quatriliões (100) de bactérias.
2. Nunca nos esqueçamos de que as bactérias sobreviveram biliões de anos sem nós. E nós não poderíamos sobreviver nem sequer um dia sem elas.
Esta é a precária porcaria que somos.
Num outro canhenho sobre genética vi incendiarem-se todos os pergaminhos de toda a humanidade - e, claro, também os meus que me davam Clóvis como meu antepassado em linha directa - ao ficar a saber que:
1. Há 30 gerações, o número total dos antepassados de qualquer indivíduo – dos meus, dos seus e de qualquer outra pessoa – considerando apenas a ascendência directa (apenas pais e pais de pais numa linhagem que caminhou inevitavelmente na direcção de cada um de nós) é superior a UM BILIÃO (mais precisamente 1 073 741 824) de pessoas.
2. Se tivermos uma relação com alguém da nossa própria raça e país, há, portanto, fortes probabilidades de sermos parentes.
Por isso, quando alguém se gabar à sua frente, caro leitor, de ser descendente de D. Afonso Henriques, ou de Carlos Magno, ou de Clóvis (como é o caso da minha família), responda imediatamente: “Também eu!”.
E não diga depois que não lhe proporcionei um bom fim-de-semana com esta posta, meu caro parente que me lê; e aceite um forte e fraternal abraço.
(*) O seu a seu dono: “ESADOF” (que deve ser lido de trás para a frente) foi “plagiado” aqui do Abrupto.