sábado, 31 de julho de 2010

CADA VEZ MELHOR, SIM SENHORA

O Hospital de São Gonçalo, em Amarante, vai deixar de ter cirurgiões a partir da meia noite de hoje para reduzir os custos com as horas extraordinárias, mas a mudança "não vai afetar os doentes", garante a administração.

A administração volta a frisar: "os doentes não são afetados nem a qualidade da prestação de cuidados de saúde é prejudicada".

- E porque diz isso, ó sua administração etc. e tal? - Perguntamos nós.

E responde: "as necessidades dos doentes passam a ser tratadas com recurso aos profissionais do hospital de Penafiel".


E portanto - ó povo burro que não entende nada! -, em vez de haver um cirurgião disponível para os pequenos casos que normalmente são resolvidos localmente, é chamado um cirurgião que percorre os 30 kms que distam entre Penafiel e Amarante para acorrer às necessidades utilizando um desintegrador/integrador da autoria do governo PS que torna a viagem instantânea; é como se o cirurgião sempre estivesse presente no hospital, entenderam?

- Mas que administração gastadora! Vejam lá se a mesma não pouparia muito mais dinheiro ainda incumbindo o porteiro de fazer de cirurgião!...

Ficava tão barato!... E posso garantir eu também que "os doentes não seriam afectados nem a qualidade da prestação de cuidados de saúde prejudicada".


Como é evidente.


*** Este texto NÃO foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico. ***

sexta-feira, 30 de julho de 2010

SABE QUEM É?

Pois... só podia, não é?!
JOANA AMARAL DIAS

ENGRAÇADO

Islandeses celebram um golo pescando salmão.

CASSETE PACHECO


Qual Cunhal coerente com a sua famosa “cassete”, Pacheco Pereira não se cansa de repetir à saciedade coisas como estas que publica hoje no seu “Abrupto” (sublinhado meu):

«...sem conhecer em detalhe e por escrito qual é a proposta do PSD, muita coisa parece-me ir no bom sentido. Acabar com a gratuitidade da saúde e da educação não é uma medida “liberal”, é abrir caminho para uma justiça social que coloque todos os recursos do estado a favor dos mais pobres.»

E escreve isto com a mesma desfaçatez com que diria a um inimigo ingénuo que sofre do estômago ― beba cicuta que é o melhor remédio para a úlcera gástrica. Confie em mim! ―.

No máximo, é intelectualmente um crime.

No mínimo, é uma brincadeira de mau gosto.

Peça Ensaística Vigésima Quinta, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).


                                    Nota Previa:
            Entre os eventos, os mais significativos, que marcaram as derradeiras décadas do Século XX passado, pode-se, muito provavelmente, estar entre eles, a verdadeira “explosão” dos contactos entre povos e culturas.
            Com efeito, neste sentido temos a referenciar o seguinte:
(1)               Tanto ao nível internacional, através da incessante circulação de produtos materiais e mentais, modelos e pessoas.
(2)               Como, outrossim, no próprio seio dos dissemelhantes países, em que o Social se encarrega da dimensão multicultural, pela presença de populações oriundas de todos os Continentes.
(3)               É, deste modo, aliás, que a Europa conta, quase doze milhões de emigrantes, que, conquanto, suscitando debates, tensões e reacções, naturalmente xenófobas, não sustentam menos, uma realidade a ter em conta, visto que, um grande número permanecerá, no país de acolhimento com os seus filhos e, anseiam, obviamente encontrar uma inserção social e profissional adequada.

Enfim e, em suma, de sublinhar, que:
Esta realidade, quaisquer que sejam os sentimentos que inspira, deve ser considerada, como incontornável, visto que ela é, em nada, conjuntural. Sim, efectivamente, resulta de um fenómeno fundamental: A constituição de um campo Humano Planetário devido à intricação, sem interrupção, crescente dos projectos, problemas e ensaios de solução de todos, à que se acrescenta a facilidade e a intensificação estupefacientes dos meios de Comunicação.

Posto isto, vamos, então abordar um tema bastante actual e, que se prende, com a relevância que assume, o Conhecimento da Cultura de Origem pelos emigrantes.

Todavia, antes de mais, um Ponto prévio, para principiar:
Deve-se encorajar esta démarche de Conhecimento, este esforço de ordem etnológica e antropológica que confere Abertura ao Mundo e revitaliza os seus modos de ver e de fazer.

(A)    Com efeito, demasiado, frequentemente, não se procura a informação adequada, mesmo se supõe a origem cultural de certas condutas, atitudes e costumes. Trata-se, efectivamente, de uma forma de actuar e agir, a rejeitar, por motivos e razões óbvios. Eis porque, se nos afigura, apropriado, a positiva ideia que visa privilegiar, que um dos primeiros informadores pode (aliás, deve mesmo) ser, amiúde, o próprio migrante.
(B)     De feito, o interesse que se atribui à sua cultura, ao seu país, à sua aldeia, ao seu costume, aos seus objectos e à iconografia da sua casa, não lhe é indiferente. Muito, pelo contrário, aliás, pois que lhe vai directo ao coração e, lho manifestar, sem dúvida, antes os seus olhos, tanta paz, como, outrossim um apoio assaz concreto. Ganha-se, com isso, evidentemente, não apenas, uma confiança mais autêntica e mais aprofundada, outrossim e, ainda, um relacionamento mais simétrico em que o migrante já não é apenas o que recebe, mas o que traz algo, ao dar a conhecer e fazer reconhecer a sua Cultura, que forma a trama da sua Identidade Social e Cultural.
(C)     De anotar, avisadamente, que mesmo se ele ignora o sentido dos seus costumes, mesmo se ele só responde através de uma linguagem pobre, o que ele exprime ao trabalhador social (por exemplo) é uma parcela de si próprio, dos seus hábitos, das suas tradições, com toda a ressonância e carga afectiva, que elas assumem para ele. Afirma o seu enraizamento, a sua história e, para além da anedota e dos eventos da sua vida, a sua memória inscrita, numa dimensão colectiva, histórica, simbólica na qual, busca, fundo e extrai o sentimento de pertença, estima de si e dignidade.
(D)    Importante consignar: Na verdade, não há dúvida nenhuma, que, mesmo no caso de o migrante não poder ou não pretende se exprimir, encontrará sempre um informador, no âmbito do seu meio social (entre os seus mais próximos), ou junto de associações quem fornecerá esclarecimentos pertinentes acerca da sua pessoa, em tempo útil e oportuno.
(E)     Donde, em Suma:
a.       É, efectivamente, pela sua Identidade, que o trabalhador social, lhe permite apresentá-lo, pô-lo em cena, se informando junto dele, se interessando por ele.
b.      É neste sentido, que é necessário compreender os convites para refeições ou para festas, troca de presentes, tão, frequentemente, uma autêntica fonte de admiração e de mal-estar da parte dos profissionais.
c.       O Migrante, ao efectuar um dom, como permuta de um serviço prestado ou de uma ajuda recebida, recupera a estima em si mesmo, outrossim, dignidade e autoridade necessária. Por seu turno, o profissional ao aceitar este dom, respeita um outro código cultural de permuta social, código, esse, que se inscreve, no mais profundo arcano da afectividade da pessoa do migrante e lhe reconhece, ipso facto, a sua dimensão social, enquanto ser portador de valor e de sentido, obviamente.
d.      Enfim, rematando assertivamente: Este reconhecimento da pessoa, em todas as suas dimensões, designadamente nas suas vertentes: psicológica, cultural, social e histórica, é sumamente fundamental no processo de ajuda e apoio, necessariamente quão eficaz e, assaz eficiente.

Lisboa, 29 Julho 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).

quinta-feira, 29 de julho de 2010

AFOGAMENTO MORTAL EM BAPTISMO





Certamente distraído, 

"MACAU PASSADO"

澳門
As nossas boas-vindas ao novo blogue, Macau Passado, do jornalista João Severino que por aquelas terras fascinantes do Oriente, tal ou melhor ainda do que nós, viveu certamente experiências ricas e únicas da sua vida, que esperamos ir conhecendo à medida que no-las trouxer à blogosfera.

Chears! E um abraço aqui do África Minha.

A NÃO PERDER

[...] «A aceleração dilui a percepção do tempo, condenando-nos a viver num presente perpétuo em que os acontecimentos se multiplicam na razão inversa da compreensão do seu sentido. A torrencial multiplicação dos pontos de vista tem como único efeito seguro o de privar o homem contemporâneo de qualquer perspectiva consistente sobre o quer que seja.»

[...] «Vivemos, em suma - a analogia é de J.L. Servan-Schreiber, no livro Trop Vite  -, como se nos deslocássemos de noite num automóvel cuja velocidade aumenta à medida que o alcance dos faróis diminui. É por isso que, mesmo em férias, se torna tão difícil desacelerar? Habituados que estamos, por um lado a viver como se a velocidade por si só desse sentido à vida e, por outro lado, a associar a aceleração com a intensidade, é cada vez mais comum reagirmos com ansiedade a qualquer vislumbre de lentidão e identificarmos a mais pequena desaceleração com uma assustadora ameaça de tédio. Como se, quando finalmente há tempo, faltasse a paciência?»

[Manuel Maria Carrilho, no DN de hoje]

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A APARÊNCIA E A REALIDADE

POR DETRÁS DA POSE DE ESTADO, A ESSÊNCIA DO SER

Por estes dias, António Nogueira Leite surpreende não só por indirectas de baixo nível e sem link, como esta e também esta,  por exemplo, como ainda e sobretudo por esta diatribe que, com toda a naturalidade deste mundo, “brinda” o psiquiatra e escritor (com obra publicada e largamente escrutinada e apreciada), Filipe Nunes Vicente, do blogue Mar Salgado.

Acho que, longe de fazer parte da silly season que atravessamos, este é um case study.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Peça Ensaística Vigésima Terceira, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

Todos os Homens têm sede. E, eis porque, passam de um poço a outro, num vaguear incessante, acompanhando um desejo inesgotável orientado para os múltiplos bens do corpo e do espírito.

                                    Definições oportunas:

Toxicomania: Impulso mórbido que possuem determinadas pessoas de absorver substâncias que proporcionam sensações agradáveis ou que acalmam a dor (ópio, cocaína, éter, etc.).
Toxicomaníaco: Relativo à toxicomania.
Toxicómano: Pessoa dada ao vício de consumo de tóxicos.
Toxicopatia: Designação extensiva a todas as enfermidades provocadas pelo consumo (absorção) de tóxicos.
Toxicose (ou toxinose): Doença provocada pela presença de produtos tóxicos no organismo.
Toxiterapia: Emprego terapêutico de tóxicos.
Toxofobia: Receio obsessivo de envenenamento.
Toxicofobia: Medo excessivo de venenos.


Tóxico: Substância susceptível de provocar efeitos nocivos no organismo.
Toxico: Elemento de composição de palavras com a ideia de tóxico, veneno.
Toxicofagia: Ingestão habitual de pequenas porções de certo veneno para habituar o organismo aos seus efeitos indesejáveis e prevenir assim um eventual envenenamento.
Toxicófago: O que pratica a Toxicofagia.
Toxicografia: Descrição dos tóxicos.
Toxicologia: Tratado ou Ciência que estuda os tóxicos.
Toxicologista (ou Toxicólogo): Aquele que se ocupa da Toxicologia.
Toxémia: Intoxicação do sangue.


Toxicodependência: Estado de dependência para consumo de tóxicos (drogas), narcóticos.
Toxicodependente: Relativo a Toxicodependência ou indivíduo dependente de consumo de drogas.

            A Arte e as drogas (quiçá) têm constituído lenitivo da dor de viver. Eis, com efeito, uma ponderação, tão geral, que aparecerá (quiçá), como um autêntico Truísmo. Com efeito, no caso concreto do uso das drogas, o vocábulo “dor” é a considerar, em primeiro lugar, na acepção (a mais material). De feito, de THOMAS de QUINCEY à ANTONIN ARTAUD, numerosíssimos são os escritores cujo o primeiro contacto com uma droga se ocorreu, por razões estritamente médicas.
            E, já, num plano (que engloba, concomitantemente) o físico e o mental constitui o principal aguilhão da dor de viver. Neste sentido, ninguém asseverou, melhor que BAUDELAIRE: “est l’inexorable tyrannie du temps, et le rêve de tout artiste est d’échapper à cette tyrannie », quer outorgando corpo aos « pressentimentos de imortalidade”, quer se consagrando ou se antecipando o ritmo da duração por uma surpreendente aceleração do seu pensamento. Este sonho, as drogas o concretizam (ou seja: fazem que não seja um sonho), em duas direcções seguintes:
            --- A do “kief”, que conhecem os consumidores de haxixe e os fumadores de ópio;
            --- E a dos estados de consciência rodopiantes, superabundância de sensações, sobreposições de vocábulos e conceitos que HENRI MICAHUX, entre outros, experimenta graças aos alucinogéneos (drogas que provocam alucinações, geralmente visuais, com alterações do comportamento e da personalidade).

*****
            Dispersão, fragmentação, possibilidade de se projectar em múltiplos, por um lado e de outro: Sentimento de uma unidade recuperada, de uma invulnerabilidade adquirida, quer pela constituição de um Eu (melhor dito, um Ego) liberto de todo dano exterior. Esta situação, as drogas a prometem e a realizam, numa certa medida em determinadas condições.

            E, já agora, uma pertinente Interrogação merece, ser tida, em consideração. Ou seja: Estas esperanças eram falaciosas? A toxicomania e a forma em que ela, actualmente monopoliza a atenção (por razões e motivos vários, assaz legítimos, aliás) podem a este respeito (sob esta perspectiva, obviamente) servir de repuxo.

            De sublinhar, com ênfase, que os eminentes Estudiosos desta problemática, que se prende com o consumo de drogas, vinculam à fascinação que estas exercem sobre o Toxicómano à posse de um saber que estaria vedado ao comum dos mortais: “porque se o imagina, evoluindo sempre, em alguma experiência limite, até sem limite, tudo se passa como se esperasse, que Deus nos revele, sabe quê, dizendo respeito à nossa condição de homens ou de indivíduos e que, simultaneamente, nem ele nem nós: nada queremos saber”.
            Com efeito, este dano (se for verdadeiro que existe ainda), só pode ser, como algo não realizado e concretizado, na medida em que o toxicómano, tendo atingido um certo grau de adição, procura e encontra, aliás, na sua droga de quê colmatar o vazio que abre nos poetas (e no poeta que existe em cada um de nós), o espaço do sonho e do desejo de outra coisa que o real: “Para além dos “períodos psicadélicos”, ou de outras manifestações iniciáticas, escreve avisadamente a psicanalista francesa (Professora de Psicopatologia na Universidade Paris VII), a docente universitária, Sylvie Le POULICHET: a “experiência confronta ordinariamente a práticas e à elóquios cujo o sonho se ausentou para realizar a implantação de uma prótese. Elas se apresentam entre outras, como próteses químicas contra o terror, a dor ou o vazio”.

                        Donde, enfim e, em suma:
(1)         É, sem dúvida, nesta imediação da fruição ou da supressão da dor, que reside o grande escolho das drogas para quem deseja e quer se assumir Criador. É, aliás, em suma, o que asseverava já BAUDELAIRE, na sua linguagem teológico moral, quando recusava “invoquer la pharmacie et la sorcellerie” para ganhar o Céu.
(2)         De feito, não se pode ter o Paraíso, concomitantemente ao alcance da mão e à distância da palavra…Todavia, não é fatal que a “prótese” que fornecem as drogas vale para todos os usos que se pode ofertar esta outra prótese, de outro modo, hábil e sagaz, que é um corpo de escrita.
(3)         Finalmente, em jeito de Remate: Se o ideal do Artista clássico foi “rentrer en soi-même” para aí encontrar Deus, ou a Imagem eterna do Belo, o Artista moderno, sonhou, amiúde efectuar um percurso, no exterior do seu próprio Corpo, para ver a velocidade que possuem as coisas à partir deste observatório e que as drogas ajudaram, frequentemente a ter êxito nisso. Entretanto, não há dúvida nenhuma, que se afigura necessário, outrossim e ainda, “retourner chez soi”, evidentemente!...

Lisboa, 26 Julho 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).

segunda-feira, 26 de julho de 2010

INÉDITO SURPREENDENTE

No Campeonato Europeu de Sub 19
O jogador Espanhol, Ezequiel,
Marca com o pé de apoio
(Em vez de rematar, como habitualmente, com o outro pé)

domingo, 25 de julho de 2010

EU NÃO VOU NESSA!

Acabei há bocado de ver o meu Sporting jogando lá por Nova Iorque um agradável futebol de Verão (é verdade) que prenuncia uma melhoria relativamente à época passada. Mas...

Mas o mercado de jogadores, para o Sporting, só tem mesmo cabritinhos? É que, caramba! Aquilo é só “hometas” de metro e meio e de cinquenta e poucos quilos.

Não tendo dinheiro para jogadores a sério, ao menos tentemos obter uma autorização especial da Liga e compremos uma junta de bois para a cabeça da área.

Porque... da maneira como estão as coisas, vai ser mais do mesmo!...

Peça ensaística Vigésima Segunda, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

            E, antes de mais, como breve Intróito, algumas marcas, quão instrutivas e, assaz eloquentes:
            (1) A liberdade arbitrária ou que procura apenas uma satisfação fácil, não faz crescer, não se dirige para parte nenhuma, apenas se agita. O prazer não é um valor em si mesmo, nem um critério legitimador de uma acção. É, unicamente consequência de um objectivo alcançado, sendo reputado Bom ou mau, consoante a moralidade do próprio objectivo.
            (2) Uma escolha só é racional quando contribui para a realização definitiva da Pessoa. Demais, desde sempre, andamos à procura de uma plenitude para a nossa Vida e existência respectiva. Sim, efectivamente, só poderemos realizar-nos verdadeiramente, se respeitarmos a ordem objectiva dos Seres, permanecendo sempre orientados para o Bem Infinito. Enfim e, em suma: A nossa Busca (quão incessante) é, afinal de contas: Um Apelo ao Bem Absoluto, que nos atrai e nos chama para Si. No fundo, no fundo, trata-se de um Chamamento especial, Origem e Desígnio da Vida e da Existência do Homem.

(I)                Com efeito, na verdade, se nas suas origens inglesas, um “Super-naturalismo” tributário da Filosofia Romântica Germânica é facilmente reconhecível, por seu turno, em França se interessou, antes de tudo (e, em primeiro lugar) pelas renovações que a experiência dos “paraísos artificiais”trazia, no âmbito da esfera do fantástico, então, em plena expansão. Todavia, a Estética não era única que estava em causa: As conexões estreitas do principal propagandista do haxixe, o Doutor, MOREAU de Tours (de verdadeiro nome, Jacques (-Joseph) MOREAU de TOURS (1804-1884), (considerado como o fundador da psicofarmacologia pelo conceituado Professor Henri Marc BARUK (1897-1999)], com os meios Literários e Artísticos contribuíram para estabelecer pontes entre as “vies secondes” cuja a Literatura cultivava a Imagem e as Pesquisas dos médicos sobre a alucinação, as alterações da Personalidade ou as aberrações perceptivas resultantes da acção directa de substâncias químicas sobre o Sistema Nervoso.
(II)             Eis porque, a célebre exclamação do escritor francês, Honoré de BALZAC (1799-1850):”Quel opera qu’une cervelle d’homme”inserta, pela primeira vez, num texto datado de 1830, onde descreve (se inspirando nos lúcidos ensinamentos do jornalista, crítico e escritor britânico, Thomas de QUINCEY, 1785-1859), dizíamos, as visões que assaltam dois opiómanos, resumindo, de um modo surpreendente, a convicção de estar em presença de um território, cuja a descodificação reserva aos artistas extraordinárias descobertas (assaz maravilhosas aos olhos de BAUDELAIRE, por exemplo), para não incitar a reflectir no preço (do qual elas pagam) e às esperanças que as drogas exaltam e iludem, simultaneamente.
(III)          Antes de mais, se afigura pertinente e oportuno, consignar (de molde pedagógico), que estas esperanças se desenvolveram em dois (2) planos, que se recortam, frequentemente, adquirem, todavia, mais ou menos, relevância um em relação ao outro, consoante os períodos. E, explicitando, apropriadamente, temos então:
a.       O Primeiro plano é o que poderia se denominar de cognitivo. Aliás, BAUDELAIRE ele mesmo, a despeito da sua repugnância para substâncias que não dão a ilusão de poder criar sem trabalho, conduz o seu Poema Le Voyage, alistando-se no elenco dos cujo o último recurso é mergulhar “no fundo do desconhecido para encontrar o novo”. Esta aspiração, visando alargar a experiência humana para além dos limites que lhe impõem a realidade e o exercício do pensamento racional, o Romantismo na sua totalidade, tentou a satisfazer pela imaginação e o sonho. Todavia, as drogas permitiam inscrever no real o que parecia só relevar de uma actividade projectiva.
b.      De feito, qualquer que seja o papel que elas tenham desempenhado, efectivamente no âmbito do projecto de RIMBEAU de “changer la vie”, a “Opéra fabuleux” evocada na sua obra: Une saison en enfer lhes deve, evidentemente algo e fez eco, quarenta anos mais tarde, no que pressentia BALZAC.
(IV)           No entanto, à Curiosidade artística, incitando à procura do novo, a todo custo, com tanto mais de violência que o mundo cultural parece sofrer de saciedade e de usura, sobrepor-se-á, após a Primeira Guerra Mundial, uma curiosidade especulativa, oriunda do desejo de completar, do lado das terrae incógnitae, a cartografia do espírito Humano.
(V)              Todavia, já com motivações diversas: Walter BENJAMIM (1892-1940), Aldous HUXLEY (1894-1963), Carl Gustav JÜNGEN (1875-1964), Henri MICHAUX (1899-1984), se envidaram menos, em alargar o âmbito e domínio da Arte, que em surpreender mecanismos do pensamento, tendo escapado às investigações dos psicólogos profissionais ou dos médicos preocupados, antes de tudo, pela terapêutica.
(VI)           Entretanto, o projecto de “changer la vie”, para si, como para os outros, não podia ir sem uma transgressão que se situasse, ela, num plano existencial.
(VII)        De anotar, finalmente, com ênfase, que vários factores intervieram para acentuar o carácter transgressivo do uso das drogas, designadamente:
a.       A descoberta de substâncias novas, como a morfina ou a cocaína susceptíveis de provocar uma dependência grave e rápida, acarretando a prazo, uma proibição, mais ou menos, severa da parte dos poderes Públicos.
b.      A valorização, nos meios artísticos de uma marginalidade, que o recurso aos tóxicos só podia acentuar e que ia a par da reivindicação do decadentismo em que estes mesmos meios eram acusados.
c.       A reacção hedonista de gerações traumatizadas pela Guerra, cujo o limiar de tolerância ao sofrimento e ao tédio se atenuava (ou, pelo contrário, todavia, é, amiúde, pelo que diz respeito, a mesma coisa), a fascinação do nada, de uma “morte na vida”, permitindo ao Ser Humano refazer, em sentido inverso, o percurso da Existência.

Lisboa, 24 Julho 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).