quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

UMA «VERDADE» CONDENÁVEL

Faz hoje notícia o que disse na China o Ministro de Economia, Manuel Pinho, para convencer os empresários chineses a investirem em Portugal: «Em Portugal os salários são inferiores à média dos salários europeus».

Conhecido o dislate, toda a oposição, bem como os sindicatos e muitos cidadãos com dois dedos de testa, condenaram o senhor ministro.

Ao que parece o senhor ministro defende-se ― e os seus “defensores” defendem-no ― com o argumento de que «disse uma verdade».

Ora bem, condena-se o senhor ministro não pelo simples facto de ter dito «uma verdade», mas sim pelo facto de ter-se socorrido de uma verdade negativa para promover Portugal. Os baixos salários são uma verdade negativa a que urge pôr cobro; uma verdade negativa que é urgente ser banida da sociedade portuguesa. E é por isso que não se admite que um ministro se socorra dela para promover o País.

O que se diria se alguém com responsabilidades públicas dissesse isto no estrangeiro para promover o turismo, por exemplo: "façam férias em Portugal porque em Portugal temos das mulheres mais boas da Europa".

Primeiro morreria meio mundo de riso; depois morreria outro meio de vergonha. Mas não sem antes condenar-se o desmiolado que tal frase proferisse. Sem que, contudo, deixasse de ter dito «uma verdade». Neste caso, até, uma verdade não negativa: de facto Portugal tem das mulheres mais boas da Europa. E isso não é coisa má. Mas não caberia na cabeça de ninguém que tal verdade pudesse ser usada para promover o turismo em Portugal.

O senhor ministro merece, pois, toda a reprovação pelo que disse na China. Porque envergonhou Portugal e ofendeu os portugueses.