terça-feira, 30 de maio de 2006

VIDA DE GATO

Sem disposição para blogar hoje, Picasso, sob o calor de Lisboa, derrete-se como manteiga.

MICRO CAUSA (PRÓPRIA)

[Dantes fora o inferno das labaredas no estômago. Agora, devagarinho, cuidadosamente, com gestos lentos de levitador profissional, como um ladrão que pisa folhas secas por baixo da janela do dono da casa, cá vou ensaiando o acompanhamento líquido das refeições - primeiro água natural, depois chás descafeinados, agora água tónica ou coca-cola, depois... depois talvez um gole de vinho tinto a acompanhar um prato de bacalhau.]

Mas para quando, meu Deus, um whisky, um conhaque, um perfumadíssimo Palácio da Brejoeira?!

Para quando o regresso ao rafting, ao parapente, ao salto de pára-quedas, ao puro prazer das touradas de morte. De copo na mão!

É assim tão difícil vencer o Helicobacter, a Natureza, o determinismo do código genético, ou mesmo Deus?!

domingo, 28 de maio de 2006

"AQUELE AMIGO DAS BORGAS"

Agostinho Oliveira, treinador da selecção dos sub21 de Portugal, terá declarado aos jornalistas:

«Continuo a acreditar [no apuramento], tal como o Einstein o fez».

Aqui e aqui já gozaram à farta com a frase do treinador dos sub21.

Eu não tinha era reparado que para além do absurdo e do risível daquela frase, o grande Agostinho diz: «o Einstein». Isto é: “aquele gajo porreiro que bebia uns copos com a gente ali na tasca da esquina”.

TIMOR JÁ ESTÁ A ARDER

Como os serviços secretos americanos e australianos tinham previsto, vinha aí (já veio) chumbo grosso em Timor. Por isso prepararam e executaram a evacuação atempada dos seus cidadãos.

Lembremo-nos que esses dois países ofereceram a Portugal a oportunidade de fazer o mesmo aos portugueses residentes em Timor. Absurdamente armado ao pingarelho, o governo português, mostrando-se ofendido com a oferta, recusou-a liminarmente.

Agora que o braseiro está aceso e já não há civis americanos e australianos em Timor, é ver o espectáculo triste e lamentável de civis portugueses dormindo na rua, ao relento, nas imediações do aeroporto de Díli, à espera que alguém os tire de lá para fora.

Não fora a “ingerência” (no dizer de Freitas do Amaral) dos australianos, que enviaram militares para Timor, mesmo antes da autorização da ONU, a esta hora algum português poderia já estar feito em churrasco.

O que vale é que a Austrália está sempre de olho em Timor e ao menor burburinho aparece para tomar conta da situação cortando as vazas à Indonésia. Eu sei que é por causa do petróleo de Timor, eu sei!; mas ao menos a Austrália não faz cabidela com o sangue dos timorenses.

quarta-feira, 24 de maio de 2006

DELIRIUM TREMENS

Depois de uma endoscopia alta e duas biopsias à mucosa do bandulho, concluiu-se que o meu estimado estômago era vítima de gastrite crónica associada à presença de Helicobacter Pylori.

Assim, desde há quatro dias que estou submetido a um tratamento brutal com doses maciças de antibióticos e de um inibidor da bomba de protões.

Hoje, ao quarto dia de tratamento, já me apeteceu uns camarões fritos à minha moda, regados por larguíssimos litros de cerveja. Isto significa que o rapaz está aí, está curado.

domingo, 21 de maio de 2006

RDP ANTENA 2

UMA CORRESPONDÊNCIA EDIFICANTE

Eis uma breve correspondência entre um ouvinte anónimo (eu) e o senhor director-adjunto da Antena 2, Sr. João Almeida.


Email de protesto enviado por mim:

«A quem de direito na Antena 2:

Basta dessa diarreia de palavras; dessa incontinência verbal permanente; desse desfiar ininterrupto de historietas sem interesse, cheias de banalidades – basta desse atentado anticultural que, salvo raríssimas excepções, se está a perpetrar quotidianamente aos microfones da Antena 2 da RDP.

Queremos música erudita!

Não queremos palavras, palavras, palavras!

Não queremos o lixo palavroso que nos tem sido servido!

Chega! Estamos todos fartos de sofrer com a situação actual da Antena 2.

Manda a mais pequenina réstia de bom senso que quem de direito dê uma varridela profunda na Antena 2 e lhe devolva a dignidade que já teve e que deve continuar a ter.»

Resposta do senhor director-adjunto [Com três chamadas de atenção, da minha responsabilidade, para erros ortográficos contidos no texto]:

«Senhor ouvinte.

Com que direito fala na 1ª pessoa do plural? "Queremos"? "Estamos todos"? Quem o nomeou ou mandatou para se apresentar como representante de todos? Porque se acha no direito de representar todos os ouvintes? Que presunção é essa? Porque não demonstra alguma modéstia e diz antes "quero", ou "estou farto"? Fique sabendo que não pensam "todos" como o senhor.
E mais: fique sabendo que NENHUMA rádio estatal clássica se comporta como rádio gira-discos. TODAS têm locução, ocupando com palavra, em média, cerca de 25% do tempo de antena (dados da UER - União Europeia de Rádios). A Antena 2 tem, ao longo de um dia, em média, 20% da emissão ocupada com locução. As rádios que têm menos tempo de locução são privadas e baseiam-se em play-lists(1), ou seja, são máquinas, e não pessoas, que escolhem a música. O senhor, obviamente, não gosta de ouvir falar porque já sabe tudo o que há para saber, e não precisa de (ou não quer que) ninguém que lhe diga nada. Mas, sendo esse o caso, escolha o senhor a sua própria música. Use CD's. A Antena 2 não se dirige a quem tem a certeza de que sabe tudo e não quer ouvir ninguém a falar. Dirige-se aos outros, que não conhecem tudo, ou pelo menos não têm essa presunção... e têm curiosidade em saber mais.
A Antena 2 feneceu ao longo de anos, com o auditório a envelhecer, tendo a média de idades passado de 45 para 55 anos ao longo de uma década. Isto quer dizer que eram sempre os mesmos a escutar, e que íam(2) envelhecendo, ou até morrendo, sem que a A2 mobilizasse as novas gerações. Os últimos estudos de audiências (ao longo do último semestre) comprovam que o auditório da A2 rejuvenesceu, com a média etária dos ouvintes a passar dos 55, de novo, para os 45 anos, e com tendência para rejuvenescer ainda mais. Significa que o auditório está a mudar, com pessoas mais jovens, algo que o deverá certamente enervar, já que o senhor, claramente, não gosta do nosso tempo. Problema seu. Não queira é impôr(3) o seu parâmetro aos outros, nem ter a pretensão de que representa todos... porque na verdade, simplesmente, só se representa a si próprio.

Passe bem.

João Almeida»


[ (1) Escreve-se playlists e não “play-lists”]
[ (2) Escreve-se iam (sem acento agudo no “i”) e não “íam”]
[ (3) Escreve-se impor (sem acento circunflexo) e não “impôr”]


Contra-resposta minha:

«Senhor João Almeida:

A sua resposta ao meu protesto merece-me a seguinte contra-resposta:

Quem preza a Língua Portuguesa sabe que o uso da primeira pessoa do plural pode ser feito por qualquer sujeito individual quando este pretende retirar a um texto ou fala a carga de arrogância que o uso da primeira pessoa do singular lhes transmitiria. Faça este exercício simples e conclua por si: pegue no texto do meu protesto e substitua o plural pelo singular e veja a diferença. Não que o texto que lhe enviei não continuasse, mesmo assim, a ser arrogante; mas, lendo a sua resposta, se calhar, o senhor mereceria que o tivesse escrito na primeira pessoa do singular.

Mesmo sem "nomeação" ou "mandato" sempre lhe vou dizendo que se estivesse minimamente atento ao que se escreve (nos blogues, por exemplo) admitiria que eu pudesse, falando no plural, como ouvinte, interpelar "quem de direito na Antena 2" (não a si pessoalmente) sobre aquilo que no meu entender (e, pelos vistos, não só no meu) é o mar de palavras sem interesse que hoje afoga a música nessa rádio.

Só lhe vou dar dois exemplos, entre muitos (com sublinhados meus):

Exemplo I

No dia 04-01-2006, Pacheco Pereira escrevia o seguinte no blogue "Abrupto":»

«BOAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2005, VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR
...

PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2005, VISTAS PELO MESMO»
...
«A Antena 2 é demasiado loquaz. Muito se fala naquela rádio, num tom entre o pedante e o falsamente íntimo, tirando limpidez à música. »

«Tem aqui o link para confirmar:
http://abrupto.blogspot.com/2006_01_01_abrupto_archive.html
#113640941290714023

Exemplo II

No dia 11-01-2006 Álvaro José Ferreira escrevia o seguinte no blogue "Bem Comum":»
...
«Admito que a Antena 2 precisasse de alguns ajustamentos de modo a torná-la menos temática e mais ecléctica (a exemplo do canal 3 da BBC Radio), mas parece-me que há uma forma mais adequada e eficaz de conquistar novos públicos para o canal do que fazer cedências à facilidade.
...
Talvez com esta grelha a Antena 2 venha a conquistar alguns dos tradicionais ouvintes da Antena 1 que não se revêem na programação musical que vem sendo implementada. É provável que as audiências subam, mas haverá certamente a fuga de alguns melómanos mais exigentes e exclusivistas da música clássica. Talvez os ouvintes que venham a ser conquistados ultrapassem em número os que vão desertar, mas há uma questão que se impõe: não estará a Antena 2 a desempenhar agora uma parte do papel que caberia à Antena 1?»

« Nota: Estando a RTP e a RDP sob a alçada da mesma administração, e tendo a obsessão com as audiências sido abandonada na televisão, não entendo ela estar a ter a sua máxima expressão na rádio. Tal dever-se-á ao facto da rádio ter menos visibilidade e, como tal, ser descurada pelo poder político? Se alguém tiver uma explicação verosímil, faça o favor de ma dar.»


«Tem aqui o link para confirmar:
http://bemcomum.blogspot.com/2006/01/nova-grelha-da-antena-2-entrou-em.html

Como vê, não estou só.

Certamente não ignora que ainda existem tertúlias em Portugal. Pois então digo-lhe que eu frequento tertúlias onde se debate música e onde se tem falado da programação da Antena 2. É um direito dos ouvintes. Por isso sei o que é que pensam muitas outras pessoas sobre a desvirtuação que a programação da Antena 2 tem sofrido no sentido da sua aproximação qualitativa a um baixo patamar cultural. E também por esta razão julgo também poder falar no plural.

Diz-me que estão a fazer isso para captar mais público jovem. Olhe: aconselho-o a ler "Apocalípticos e Integrados", de Umberto Eco, para conhecer a opinião deste ilustre intelectual e linguista de renome internacional, entre outras coisas sobre a transmissão de conhecimentos eruditos ao grande público. Ficará a saber que Eco é de opinião que quando se quer transmitir conteúdo erudito a alguém não se deve transigir na linguagem (que deve sempre ser erudita) pois que, quando esta não é entendida logo à primeira, obriga o destinatário a cultivar-se até que a compreenda e passe, por isso, a ser um pouco mais culto do que era – quer porque passou a compreender essa linguagem, quer ainda porque passou a ter mais conhecimentos veiculados por essa mesma linguagem (conhecimentos só passíveis de serem bem transmitidos se se não fizer «cedências ao facilitismo»).

Mas se a grande preocupação dos gestores da Antena 2 vai continuar a ser a procura desesperada de (qualquer) audiência, então dou-lhe uma receita infalível: transmitam programas desportivos e antenas abertas sobre o desporto; transmitam relatos de futebol com música erudita nos intervalos. Vai ver que conseguirão captar, num instante, uma larguíssima fatia de ouvintes.

Agora permita-me que lhe diga o quão desiludido fiquei com a qualidade da sua resposta.

Fui saber quem o senhor era e disseram-me que é o director-adjunto da Antena 2 (se me informaram mal peço desculpas).

Então, senhor director-adjunto, é assim, desse modo ligeiro, pesporrente e auto-suficiente, que se permite, no exercício do seu cargo, dirigir-se a um ouvinte anónimo que faz um protesto (indignado embora) contra uma rádio que considera palavrosa e pouco culta? (Rádio que fora, até há pouco tempo, na opinião desse ouvinte, de muito melhor qualidade).

É assim que se responde?

Eu não me dirigi a si pessoalmente. Eu dirigi-me a "quem de direito na Antena 2". Que esse "quem de direito" seja o senhor, muito bem! Mas quando me responde de forma pessoal, sem se identificar do ponto de vista profissional, nos termos ligeiros e pouco dignos em que o faz, desqualifica-se profissionalmente (é a minha opinião) e dá uma péssima imagem da cúpula que hoje dirige a Antena 2.

Não sei se o Conselho de Administração da RDP ficaria contente em conhecer o texto integral do meu protesto e o da sua resposta.

Creio que, no mínimo, ficaria desapontado. Consigo, senhor director-adjunto.

Não sei se quer fazer essa experiência. Quer? É uma hipótese a considerar.

Vá por mim, senhor director-adjunto: quando ocupamos cargos de chefia, ainda por cima ao nível de director ou de director-adjunto, devemos ter estofo suficiente para engolir certos sapos e continuar a dar uma imagem polida do cargo, mesmo quando somos atingidos por aquilo que consideramos injusto (e, em certos casos, até, ofensivo). Devemos alardear superioridade moral (de preferência devemos tê-la efectivamente). Não devemos perder a cabeça e desatar à pancada com cada protestante. É que o senhor é pago também para ser polido e educado

Poderá dizer-me que eu não tenho o direito de fazer o protesto nos termos em que o fiz. Até posso concordar consigo neste aspecto e pedir desculpas. Mas eu sou apenas um simples e anónimo ouvinte e contribuinte fiscal com algum direito à indignação quando acho que esse bem público que é a Antena 2 está a morrer no seu propósito de veicular adequadamente música erudita (ou isso já não faz parte dos estatutos dessa rádio?). Mas o senhor, no cargo que ocupa, está-lhe vedado, deontologicamente, ser malcriado. É que, sendo-o, mancha logo o nome da Antena 2; e o da RDP. Ou será que isso não interessa?!

Para terminar quero ainda dizer-lhe que continuarei a lutar para a melhoria substancial da qualidade da programação da Antena 2, e por uma maior dignificação dessa rádio. Não ficarei pelo protesto que enviei a "quem de direito". Se for preciso chegar mais longe, tentarei consegui-lo. Porque a Antena 2 não é de ninguém em particular. É de todos.

Passe também muito bem.»

sábado, 20 de maio de 2006

UM PRIMOR JORNALÍSTICO

No Diário de Notícias já se escreve muito pior do que os putos de hoje o fazem quando abreviam palavras nas suas mensagens por telemóvel. Para além disso o redactor do DN abusa errando a ortografia de várias palavras.

«Valter Hugo Mãe, editor da Objecto Cardíaco, disse ao DN que esta era a decisão que esperava, mas que "ao o contrário do que possa parecer, não me alegra. pq acho q esta sit nunca devia ter chegado aos tribubais. Alegria deviamos [falta o acento agudo no "í"] ter qdo o exercício da cr+irca fosse consensual.»

Por este andar qualquer dia teremos os jornais portugueses escritos em crioulo.

Porque não?!

terça-feira, 16 de maio de 2006

OS PERIGOS DO “DIRECTO”

Há poucos dias, no programa da SIC Notícias, "Opinião Pública", um telespectador, intervindo em directo, teve palavras obscenas para a apresentadora de serviço.

Clique aqui e oiça o inimaginável


Parece que o caso já foi entregue às autoridades e espera-se que a sanção seja exemplar. Porque se a moda pega...

domingo, 14 de maio de 2006

A REDESCOBERTA DA PÓLVORA

De há algum tempo albergo em mim a sensação de que há qualquer coisa de revolucionário que distingue os intelectuais de hoje dos das gerações anteriores. E essa “qualquer coisa” parece consistir no exercício do óbvio em que se ocupa grande parte destes intelectuais.

Lá pelas bandas do Estado Civil, Pedro Mexia acaba de redescobrir a pólvora. Diz ele, melhor, escreve ele:

A beleza dura poucos anos. Não há quase nenhuma pessoa que seja bela uma vida inteira. E essa devastação progressiva do tempo sugere o fatal fascínio da beleza: a beleza é fascinante porque dura pouco. A beleza é fascinante porque é angustiante, porque está em contagem decrescente, porque (tal como todos nós) não anda no mundo muito tempo.

sábado, 13 de maio de 2006

PARABÉNS AMÉRICA

«O americano Justin Gatlin bateu ontem o recorde do mundo dos 100 metros, registando o tempo de 9.76 segundos, durante o Meeting de atletismo de Doha.»

«Justin Gatlin, campeão olímpico e do mundo em título dos 100 metros, melhorou em um centésimo a marca do jamaicano Asafa Powell (9.77), estabelecido a 14 de Junho de 2005, em Atenas, na Grécia.»


Está bem, eu acredito que tudo aconteceu dentro da normalidade. Afinal de contas a corrida não aconteceu nos Estados Unidos. É que nos Estados Unidos, como se sabe, os cronómetros são muito perfeitos e precisos. E quando se trata de desporto, impera a seriedade e a honestidade absolutas. Daí que seja de acreditar que Gatlin tenha retirado um centésimo de Segundo à marca do jamaicano Asafa Powell.

Mas se a corrida fosse na Jamaica. . .

Nota: A notícia é do DN . Não reparem nos erros de Português: o jornalista manda a concordância às urtigas e escreve que «a marca de Asafa Powell foi estabelecido»; e deixa duas vírgulas na gaveta, vírgulas que deveriam separar as palavras “em título” do resto da frase. Coisas de somenos hoje em dia quando para se ser jornalista basta não se ser analfabeto.

sexta-feira, 12 de maio de 2006

NO REINO DA FANTASIA

OU POEIRA PARA OS OLHOS DO PÚBLICO

Luís Graça, presidente do colégio da especialidade de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos, referindo-se à falta de médicos obstetras para manter abertas todas as maternidades existentes no país, terá declarado ao Diário de Notícias, em forma de aviso «a quem garante que conseguirá médicos» para manter os blocos de partos abertos: «A Ordem vai estar atenta aos médicos turbo. Não podemos aceitar que cada um faça mais de uma urgência de 24 horas por semana.»

É preciso dizer aqui claramente que esta declaração de Luís Graça é apenas uma fantasia; é poeira lançada ao vento; e só como fantasia faz sentido. Luís Graça não deve desconhecer que o próprio Estado tem, neste preciso momento que o leitor me lê, obstetras contratados, através de contratos de empresa, os quais têm contratos válidos com mais de uma maternidade ou hospital do Estado onde prestam mais de 24 horas semanais de serviço de urgência obstétrica. E Luís Graça não pode desconhecer que a única forma que teria de fiscalizar o horário de trabalho desses obstetras seria seguir-lhes o passo, quotidiana e individualmente, para ver onde cada um entra para trabalhar em cada dia da semana. Isto porque os contratos são feitos em nome de empresas e não em nome individual; e a empresa, em teoria, tanto pode mandar hoje um trabalhador (obstetra), como amanhã outro. Claro que o trabalhador é sempre o mesmo; mas como, em teoria, não é obrigatório que o seja, a Ordem dos Médicos aí nada pode fazer porque sequer tem meios para averiguar a situação.

E mais: se porventura a Ordem viesse um dia a conseguir fazer uma fiscalização efectiva e proibisse os obstetras de realizarem mais de 24 horas semanais de urgência, TODAS AS MATERNIDADES DO PAÍS, sem qualquer excepção, teriam que fechar as portas. Mesmo depois de executado o anunciado encerramento das 11 maternidades.

É que não há obstetras em número suficiente no país.

E os únicos culpados desta situação são:

O Estado e a Ordem dos Médicos.

Que durante mais de uma década estabeleceram numerus clausus irrealistas para as Faculdades de Medicina e forneceram escassas vagas para formação de especialistas de Ginecologia e Obstetrícia, impedindo com isso que se formassem médicos e se formassem obstetras em número suficiente para as necessidades do país.

Tanto a Ordem dos Médicos como o ministro da Saúde estão agora aflitos e desorientados sem saberem como justificar o descalabro actual aos portugueses.

E ninguém diz a verdade.

Como nota de rodapé acrescenta-se mais este pormenor interessante em forma de pergunta: vai a Ordem dos Médicos proibir os médicos que façam 24 horas semanais de urgência, de trabalharem, de urgência, em maternidades privadas?

Vai mesmo?

Não brinquem comigo! . . .

domingo, 7 de maio de 2006

«MISERÁVEL»

Esta é a palavra que reuniu uma quase unanimidade dos jornalistas desportivos que cobriram o jogo Paços de Ferreira/Benfica.

Quando se referiram à actuação, hoje, do clube do homem vaca, quase todos disseram: «miserável».

E o senhor vaca, que andou toda a semana a pressionar, vergonhosamente, o adversário de hoje do Sporting, e que tinha toda a obrigação de fazer com que o Benfica ganhasse o seu jogo em Paços de Ferreira, não só viu o Sporting ganhar claramente ao Braga, como ainda viu o Benfica sofrer uma humilhante derrota por 3-1, tendo ainda feito uma exibição «miserável».

É caso para dizer que à desonestidade dos jogadores do Rio Ave, na semana passada, se somou hoje a desonestidade dos jogadores do Benfica.

É o que sucede quando se cospe para cima: o cuspo caiu hoje na cara do senhor Vaca.

No “Almocreve das petas” o benfiquista "masson" não faz a coisa por menos e diz isto do Benfica: Uma anedota de equipa, uma direcção gabarola.

AI TIMOR TIMOR

Noticia-se um pouco por todo o lado a fuga de cerca de setenta e cinco mil habitantes de Díli (a maioria da população da cidade, portanto) em direcção às montanhas de Timor, com medo de matanças entre facções “políticas” rivais que poderão acontecer por alturas do congresso da FRETILIN (o partido no poder), congresso que se realizará a 17, 18 e 19 deste mês.

Concomitantemente a essa fuga para as montanhas, dá-se, por parte da administração americana, no seguimento, aliás, de idêntica atitude assumida pela Austrália, a preparação para a retirada do seu pessoal diplomático e técnico de Timor.

Face a estes acontecimentos, Mari Alkatiri, primeiro-ministro de Timor-Leste, terá declarado ontem ao fim do dia: «Compreendo que o corpo diplomático tenha como preocupação a integridade física dos seus cidadãos, mas é um exagero. Díli não está sob fogo, nem há perspectivas disso. Compreendemos que a população da cidade, ainda traumatizada com o passado recente, tenha reagido como reagiu aos rumores. Mas já não entendemos quando os cidadãos estrangeiros residentes em Timor-Leste reagem da mesma forma, particularmente o corpo diplomático.»

Quer dizer: os timorenses que se conhecem muito bem (uns aos outros) e sabem muito bem aquilo de que foram capazes no passado recente - mortes sem fim -, fogem uns dos outros para as montanhas.

Os estrangeiros que nada conhecem daquilo – quer o primeiro-ministro Mari Alkatiri que lá continuem impávidos e serenos, expostos aos "brandos excessos" de que os timorenses deram recentemente sobejas provas de serem capazes.

É sabido que os serviços secretos americanos são eficazes e coligem muita informação em toda a parte do globo. Pois, se os americanos retiram o seu pessoal diplomático de Timor, não o farão certamente por medos infundados ou amadorismo na análise da situação naquele território.

No que diz respeito às autoridades portuguesas, há já muito quem se considera ofendido por os americanos lhes terem disponibilizado lugares no avião que deverá ir buscar os seus cidadãos; e seguindo os princípios dos "brandos costumes" e de “isto não vai acontecer” (assim a modos de quem diz “não há-de ser nada”, «é só fumaça», “só acontece aos outros”), lá vão deixando os seus cidadãos numa Díli quase deserta e a vinte mil quilómetros de distância de Lisboa.

Que Deus os proteja.

sábado, 6 de maio de 2006

ATÉ METE DÓ

OU O ESTADO A QUE O BENFICA CHEGOU

Escreve o Diário Digital:

Koeman «confia» no Braga para chegar ao segundo lugar.

O treinador do Benfica, Ronald Koeman, disse hoje ainda acreditar no segundo lugar, de acesso directo à Liga dos Campeões de futebol, confiando numa vitória do Benfica em Paços de Ferreira e no Sporting de Braga em Alvalade.

«Temos de pensar em ganhar ao Paços de Ferreira e depois esperar o resultado do Sporting-Sporting de Braga. Tenho confiança que o Braga e o seu treinador (Jesualdo Ferreira) vão fazer o máximo para complicar a vida ao Sporting»

O problema não está na esperança que o homem vaca possa ou não ter de que as coisas sucedam de determinada maneira; o problema está em, depois de o homem vaca ter dito na semana passada que os jogadores do Rio Ave eram desonestos, vir de novo, hoje, o mesmo vaca revelar desconfiança na honestidade dos profissionais do Sporting de Braga (treinador incluído) a ponto de os vir pressionar publica e desavergonhadamente.

Este holandês leiteiro a princípio parecia ser uma espécie de José Peseiro dos Países Baixos, mas veio a revelar-se ultimamente um misto de Octávio Machado e Valentim Loureiro.

E um bom aluno do honestíssimo José Veiga.

ELEIÇÃO À LA COREANA

Os delegados ao congresso do PSD elegeram ontem o seu Kim IL Sung com 91% dos votos expressos. As quase unanimidades deste calibre costumam ser a passadeira vermelha que conduz à porta de saída dos partidos. É como quando vêm os presidentes dos clubes de futebol declarar «total apoio ao treinador» - passadas umas quantas semanas lá vai o treinador de escantilhão pela porta fora.