Dir-se-ia que faz todo o sentido um ex-maoísta defender outro ex-maoísta. Mas neste caso não é bem isso que se passa. E concordo com Pacheco Pereira: o declínio do jornal “Público” no panorama da imprensa portuguesa não tem muito a ver com as posições pró-americanas do seu director, José Manuel Fernandes. Deve-se antes ao facto de a Internet e outros meios de comunicação (alguns até gratuitos) cobrirem perfeita e atempadamente a actualidade, tão ou melhor do que a imprensa escrita, sobretudo da imprensa escrita que mais não faz do que servir de caixa-de-ressonância às agencias noticiosas.
Os jornalistas portugueses deviam ler, por exemplo, os jornais e revistas americanos para se certificarem que hoje só é possível vender papel escrito se nele se integrar muito trabalho e muita imaginação dos jornalistas. Já não basta falar do golo marcado ao Porto por David ou da menina cujo pai do coração está sob prisão por sequestro. Isso é do que tratam os jornais gratuitos ― diga-se de passagem ― com muito profissionalismo. O que é preciso é os jornalistas portugueses deixarem-se de ter preguiça e começarem a pôr as meninges a funcionar, investigarem a fundo e escreverem, por exemplo, sobre os novos fenómenos sociais como é a globalização, a perda de paradigmas por parte da juventude, a iliteracia de muitos políticos profissionais, a tomada do poder por grupos económicos sem pátria e sem projecto nacional, a perda de noção de Serviço Público, etc.
Até que algo de semelhante aconteça, vamos continuar a ver definhar os jornais que ora conhecemos como quem assiste ao apodrecimento de uma banana ao sol. É a lei da vida a impor-se inexoravelmente. O negócio da futilidade tem os dias contados pois vai ser cada vez mais gratuito conhecer a futilidade que nos cerca. Ficará de pé o negócio da cultura e da divulgação séria do conhecimento. Aquele que dá trabalho fazer. Aquele que, por isso, tem de ser pago para ser usufruído.