quinta-feira, 5 de outubro de 2006

SINAIS

Há pouco mais de uma semana Marcelo Rebelo de Sousa, nas suas “Escolhas”, na RTP1, terá comentado mais ou menos isto (cito de cor pelo que as palavras não serão todas as mesmas que ele disse) sobre a acção do Senhor Ministro da Saúde:

«Ele faz as coisas de forma avulsa. Tem o hábito de aproveitar as entrevistas para anunciar as medidas do seu ministério. Apresenta-as de forma desgarrada: hoje uma medida, amanhã outra, e depois outra e outra, tudo de forma caótica, desgarrada. Dá a sensação que ele não tem um plano para a Saúde. Pelo menos ninguém conhece qualquer plano para a Saúde. Assim não é a melhor forma de fazer as coisas. Ele deveria apresentar um plano concreto e dizer: bem agora vamos fazer isto, depois aquilo, e depois aqueloutro. Assim é que era. Mas como está a fazer é que não. É tudo muito confuso, caótico, desgarrado e fica-se com a sensação de que não há plano nenhum e vai-se fazendo as coisas de forma avulsa, uma a uma, para depois ver no que tudo vai dar.»

Jorge Coelho, ontem, na Quadratura do Círculo, na SIC Notícias, afirmou (cito também de cor pelo que as palavras não serão todas as mesmas que ele disse):

«Eu tenho a maior das dúvidas quando vejo os tecnocratas a tratar de assuntos políticos; nisto do encerramento das urgências eu vou informar-me, vou ver no que isso dá e depois me pronuncio. Se é apenas para poupar dinheiro, há muito por onde cortar sem ser na Saúde».

E este é um peso pesado do PS a falar.

É isso: já começa a ser mais que evidente aquilo que os profissionais da Saúde sempre disseram, desde o primeiro minuto, sobre a acção do Governo no domínio da Saúde: o que se está a fazer é apenas e só uma política de corte de despesas. Cortes a esmo com a finalidade única de poupar dinheiro. «O bem-estar das populações», «a segurança das grávidas», «melhor Saúde», etc., tudo isso é treta para enganar papalvos. Hoje, na Saúde, está tudo pior. Para os doentes, para os profissionais da Saúde, para as populações. Tudo pior sobretudo para os mais pobres.

Está a chegar-se ao ponto em que só os cegos é que ainda não vêm o que verdadeiramente se está a passar – mas até eles irão ver, se a coisa continuar por este caminho.

E o que mais impressiona – mesmo quando entra pelos olhos adentro do mais perfeito imbecil que o Serviço Nacional de Saúde (que era um dos melhores da Europa comunitária) já está hoje moribundo e em estertor mortis – é ver revelar-se, quotidianamente, nos mais diversos meios e nas mais diversas conversas, a sanha atávica portuguesa contra os médicos levando ainda muito mentecapto, muito traumatizado, muito invejoso, muito palerma a bater palmas ao Senhor ministro da Saúde e, fazendo coro com os representantes do poder económico dominante (estes sim reais beneficiários da morte do Serviço Nacional de Saúde) pedindo mais e mais medidas restritivas, mais e mais cortes nas despesas da Saúde, em suma, mais e mais asfixia do Serviço Nacional de Saúde.

Mas depois. Um dia. Quando esses mentecaptos. Quando esses traumatizados estiverem doentes. Hão-de ir tratar-se sim. Mas é naquele sítio que bem sabemos qual é.