sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO VIGÉSIMA QUARTA:

(a) Desde os primórdios da Organização, a discriminação e, mais particularmente a racial, constituiu uma enorme preocupação da UNESCO. Todavia, foi necessário decorrer, aproximadamente três decénios para que a Assembleia-geral da UNESCO adopte uma “Déclaration sur la race et les préjugés raciaux” (1978). Porém, antes desta data, quatro consultas importantes foram organizadas, cada uma culminando numa “déclaration” de peritos (statement). De anotar, que enquanto tais, estes documentos não constituem declarações oficiais da UNESCO, ratificados pela sua Assembleia-geral. Possuem o valor de opinião, por certo públicos e publicados, porém estes só possuem valor de documentos preparatórios elaborados por comités de peritos, como se requer UNESCO.

(b) Explicitando: As duas primeiras declarações de peritos foram elaboradas em 1950 e 1951, respectivamente, sendo, demais duas outras publicadas em 1964 (“Propositions sur les aspects biologiques de la question raciale-Moscou, août 1964”) e 1974 (“Déclarationsur la race et les préjugés raciaux-Paris, septembre 1967”). Trata-se esta última de uma declaração de peritos. Por seu turno, a declaração oficial de 1978, que em francês ostenta o mesmo título, é feita de um texto dissemelhante, redigido no estilo característico dos juristas. E, no atinente às versões inglesas elas permitem evitar o equívoco, ou seja: em 1967, o título é “Statement on race and racial prejudice”; em 1978, “Declaration on race and racial prejudice”. Como se pode aperceber, esta fórmula chama a nossa atenção, uma vez mais, acerca do género peculiar das opiniões e das declarações, obviamente.

(c) Posto isto, o Texto de 1951 se diferencia no que foi explicitamente preparado e apresentado como uma rectificação, por biólogos, da opinião redigida por um grupo de antropólogos. De anotar, que os dois textos de 1950 e 1951, respectivamente, tinham idêntico objectivo. De feito, o facto de ter havido duas declarações, de preferência, antes que apenas uma, reflecte uma discrepância existente entre especialistas das ciências sociais e biólogos acerca da problemática da raça, ou mais exactamente, um efeito de concorrência entre dois campos disciplinares, quanto ao dos dois que dispunha da linguagem cientificamente apropriada para falar, consentânea e adequadamente, do assunto, em análise e apreço.

(d) De consignar, outrossim, que as duas declarações estão sobremaneira próximas, no atinente ao seu conteúdo respectivo. Com efeito, as duas declarações se abrem com uma frase, asseverando que os “savants” reconhecem, em geral, que todos os membros da espécie humana pertencem à mesma espécie. Demais, uma e outra sublinham que as raças, de um ponto de vista biológico, devem ser interpretadas como populações em evolução e parcialmente isoladas, cujas as diferenças são descritíveis, em termos de frequências genésicas. Uma e outra rejeitam a equivalência das noções de cultura e de raça, minimizam (sem totalmente, aliás excluir) a ideia de uma determinação genética das dissemelhanças culturais, explicando estas pela história cultural, peculiar e sui generis, dos grupos e asseveram que as classificações raciais devem ter em conta características físicas e, ipso facto, não diferenças psicológicas ou culturais.

(e) E, prosseguindo, avisadamente, temos então, que se afigura pertinente informar que o antropólogo e humanista inglês, Ashley MONTAGU (1905-1999), que presidiu, aliás, os dois comités de 1950 e 1951, respectivamente reproduziu as duas declarações na quarta edição do interessante livro: Man’s Most Dangerous Myth: The Fallacy of Race. Atribui, com efeito, a primeira declaração a especialistas das ciências sociais (“social scientists”) e a segunda a especialistas de ciências naturais (“natural scientists”), acrescentando o seguinte: “O leitor verá que existe um acordo acentuado entre os primeiros e os segundos”. Por seu turno, identicamente, o professor norte-americano, Leslie DUNN, que teve a responsabilidade de coordenar a redacção da declaração de 1951, explica numa introdução redigida pelo seu próprio punho, que o texto de 1951 contem as principais conclusões da declaração de 1950, porém “atenuando determinadas afirmações e, procedendo a importantes supressões”.

(f) Elucidando adequadamente, se impõe formular a seguinte questão. Ou seja: Quais são, por conseguinte, as diferenças entre as duas declarações?
---Em primeiro lugar, se observa que a estrutura do texto é dissemelhante: os pontos evocados, mais acima, são apresentados e agrupados numa ordem um pouco diferente. Demais, determinados pontos são evocados mais rapidamente, outros mais desenvolvidos. Por exemplo, a declaração de 1951 contem extensas passagens acerca do problema das do ponto de vista da genética das populações e sobre a questão da hereditariedade dos caracteres psicológicos, entre os indivíduos (uma evidência para o comité de biólogos de 1950) e entre raças (noção problemática).
---Os dois documentos apresentam, outrossim dissemelhanças estilísticas. Neste sentido, se verifica que em 1950, o estilo dos antropólogos é dogmático, enfático, viçoso. Já em 1951, o dos biólogos privilegia a crítica factual e retórica. De anotar, que se ignora aqui este aspecto retórico, conquanto reflicta um aspecto sociologicamente essencial do debate, o de uma concorrência entre dois grupos profissionais que participavam num idêntico combate ideológico anti-racista, defendendo, porém, outrossim o seu estatuto de peritos.

(g) No atinente, ao ponto de vista do conteúdo, a declaração de 1951 se distingue da de 1950 por dois cortes. Um diz respeito à passagem terminal que explicava que os seres humanos, instintivamente conduzidos à cooperação e à fraternidade, deveriam desenvolver “uma ética da fraternidade universal”.
De consignar, que os biólogos do segundo comité apenas apreciaram uma tal exortação moral, sobre a qual estavam, todavia de acordo, quer apresentada como um mero corolário das “investigações biológicas”. No que, aliás, tinham, sem dúvida razão.

(h) A segunda diferença de conteúdo entre as duas declarações é mais discreta, porém essencial. Diz respeito à pertinência do vocábulo “raça”no caso concreto da espécie humana. De sublinhar, que o texto de 1950 continha duas interessantes frases, que vamos transcrever a seguir:
---“Les graves erreurs entraînés par l’emploi du mot “race”dans le langage courant rendent souhaitable qu’on renonce complètement à ce terme lorsqu’on l’applique à l’espèce humaine et qu’on adopte l’expression « groupes ethniques. »
--- « Il convient de distinguer entre la « race », fait biologique, et le mythe de la race ». En réalité, la «race » est moins un phénomène biologique qu’un mythe social. »

Finalmente, de consignar, de forma consentânea, que, de feito, a segunda declaração de 1951 não faz, de modo nenhum (absolutamente nada) alusão à ideia, segundo a qual o conceito da raça, por mais delicado que seja, não poderia possuir nenhuma pertinência para a espécie humana. Eis porque, se preserve sobremodo proscrever o vocábulo “raça” no caso concreto do Homem.

Lisboa, 26 Fevereiro 2009
KWAME KONDÉ
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terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

SEM EMENDA (HOJE COMO ONTEM)

[Pintura de Gustave Courbet exposta no Museu d’Orsay, em Paris]

A PSP de Braga fez o trabalho que se lhe impunha: olhou para a imagem e vai daí ─ isso é pornografia, pensou; e passou logo à acção ─ apreendeu os exemplares do livro e constituíu arguído o respectivo vendedor.

Já nos anos 70 se passara algo semelhante mas com a PIDE. Na altura a PIDE “visitou” o quarto de um estudante de engenharia e encontrou lá “material subversivo” que logo apreendeu, bem como prendeu o respectivo proprietário e “terrorista”: a PIDE encontrara um livro intitulado BETÃO ARMADO...

Mas vamos e venhamos ─ eu perdoo a PSP ─ este quadro só não perturba um ginecologista distraído.
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KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO VIGÉSIMA TERCEIRA:

O racismo, tanto como, o anti-racismo se apoiam sobre argumentos variados. Que se trate dos partidários de uma hierarquia das “raças”, como Aristóteles, Kant, Renan ou Hitler, ou defensores da unicidade da “raça” humana, de Montaigne a Derrida, passando por Leibniz, Darwin, Lévi-Strauss, em cada campo, os discursos são diversos.

A Carta das Nações Unidas de 1945, no seu capítulo I, indica como um dos fins da Organização que se cria após a vitória sobre o totalitarismo nazi, o seguinte:

«Réaliser la coopération internationale en résolvant les problèmes internationaux d’ordre économique, social, intellectuel ou humanitaire, en développant et en encourageant le respect des droits de l’homme et des libertés fondamentales pour tous, sans distinctions de race, de sexe, de langue ou de religion. »

(1) Efectivamente, na verdade e, na realidade, o Racismo se impõe à ponderação pela violência homicida dos comportamentos que inspira, pelo ódio meticuloso que nutre, em silêncio, no que é presa nas suas malhas, pelos sinistros delírios de interpretação que fomenta e promove, em jeito de concepção do Mundo. Todavia, este fenómeno quão agressivamente visível e quão facilmente identificável, parece desafiar a análise e uma impressionante força de resistência opõe a todas as campanhas de denúncia e condenação.

(2) Seria imputável a um preconceito, à uma opinião falsa passivamente recebida, assentando, em última análise, num erro de apreciação?

Por outro, os comportamentos racistas obedeceriam a um “dogma”, o da desigualdade das raças humanas, admitindo sem crítica, porém desnudo de fundamento científico?
Ou, outrossim e, ainda: seria necessário procurar o móbil último do racismo numa realidade doutrinal, doravante, não só caduca como sobremaneira prescrita, obviamente?
Enfim, de sublinhar, que foi esta última opinião, ora enunciada, que os primeiros dirigentes da UNESCO assumiram, aquando consignaram para a Instituição, o objectivo de erradicar do Planeta “O preconceito racial” em nome do qual a Alemanha nazi acabava de planificar e administrar a morte de milhões de seres humanos.

(3) De feito, o corpus doutrinário constituído no decurso do século XIX pelas teorias racistas tinha de que impressionar, visto que se podia encontrar nisso os primeiros esboços nas obras dos maiores naturalistas do século XVIII, designadamente, o naturalista e escritor francês, Georges Louis Leclerc, conde de BUFFON (1707-1778) e o botânico e zoólogo sueco, Carl von Linné, conhecido vulgarmente por LINEU (1707-1778), que ensaiaram classificações acerca das raças humanas. Todavia, a doutrina não corresponde antes à racionalização, isto é, à justificação e a sistematização, de práticas preexistentes?


(4) Donde, no âmbito desta dinâmica, duas vias se abrem, aparentemente incompatíveis, para se poder compreender estas mesmas práticas. A primeira consiste em procurar um móbil no âmbito de uma hipotética natureza humana. Eis porque, o racismo aparece então como a derradeira metamorfose de uma disposição prístina de todo ser humano em sobrestimar o seu próprio grupo em detrimento dos outros. Numerosos são, na verdade, os documentos históricos que testemunham a xenofobia (aversão às pessoas e coisas estrangeiras) da qual pode parturir esta sobrevalorização, identicamente entre os povos aparentemente mais esclarecidos como os da Grécia antiga.


(5) Destarte, uma determinada sociobiologia (disciplina que trata de estudo comparativo da organização social dos animais, incluindo a do homem, especialmente em relação à sua base genética e à sua história evolutiva), auxiliando, alguns investigadores advindos, no término da década de setenta do século XX pretérito, no enraizamento deste etnocentrismo (tendência de um indivíduo para hipervalorizar o seu grupo, o seu país, a sua nacionalidade) no jogo de uma espécie de mão invisível genética que teria guiado cada grupo, nos afrontamentos com os seus rivais, na via de um “êxito reprodutivo” global.


(6) Outros, ainda, sublinham, pelo contrário, a novidade do racismo tal como se constitui, se propala e, no momento oportuno, se desenfreia sob forma de genocídios (exterminações de um grupo humano, nacional ou religioso), à partir da Europa hodierna. Demais, verifica-se actualmente, outrossim, que as potências imperiais lograram exportar para o território das suas vítimas, as concepções destinadas a justificar as suas exacções nefandas.


(7) Os economistas, por seu turno, contribuem para advertir, que para além do período colonial, a expansão do capitalismo à escala planetária incitou à “etnização” das populações destinadas a fornecer a mão-de-obra mais mal paga. Por sua vez, os historiadores sublinham o vínculo entre o advento do racismo e a descristianização que teria desacreditado a tese bíblica da unidade do género humano. Enfim, por sua parte, os politólogos relacionam racismo e nacionalismo.


(8) Deste modo, o racismo se assume, não como um traço de natureza, porém como um fenómeno social recente intrinsecamente vinculado aos desenvolvimentos do que se denomina a “modernidade”.

Finalmente, a reiteração mortífera dos temas do sangue, do sexo e da irracionalidade que nutre os discursos e acompanha invariavelmente as práticas racistas deve ser tomado a sério, identicamente o jogo repetitivo ao qual se entregam os racistas acerca dos nomes próprios. Desta forma, nisso se revela o que coloca à experiência esta forma radical do ódio social. Seja, a identidade dos indivíduos humanos que, cada um assume por conta própria, somos chamados a tornar, tomando lugar num sistema de filiação que se apodera dos corpos para os distribuir, em função do sexo, nos seus lugares juridicamente instituídos. Eis porque, os reptos imediatos do racismo sejam exterminação genealógica.

Lisboa, 22 Fevereiro 2009
KWAME KONDÉ
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sábado, 21 de fevereiro de 2009

ATLÂNTIDA MEU AMOR

MISTÉRIO DESVENDADO


O tabloide inglês The Sun noticiou sensanionalmente ontem, e voltou hoje à notícia, a descoberta da localização da mítica Atlântida, algures entre a Madeira e as Ilhas Canárias (um pouco mais ao largo para ocidente). A fotografia não engana: é mesmo a de uma cidade no fundo do Oceano Atlântico, vista do espaço pelos satélites que fornecem imagens para o Google Earth.

Se tem o Google Earth instalado no seu computador, é só correr o programa, localizar o mar entre a Madeira e as Canárias e aumentar a resolução da imagem para começar logo a ver surgir o desenho da figura acima.

Escritos antigos sobre a mítica Atlântida já a descreveram como situando-se até no Polo Norte. Platão, no ano 350AC sugeriu a sua localização perto do Norte de África. Mas quem se aproximou do que parece ser a realidade terá sido o historiador Lewis Spence, em 1924, no seu livro The Problem of Atlantis em que advoga que as Ilhas Canárias e a Madeira serão o que restou de Atlântida depois que um violentíssimo sismo a destruiu e submergiu no oceano.

A imagem do Google Earth é de facto impressionante e até parece obra de um brincalhão num qualquer dia 1 de Abril.
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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A VACA AINDA MEXE

Maria José Nogueira Pinto, ontem aqui no DN, oportuna e inteligentemente escarafunchou bem fundo na ferida dos homossexuais tocando lá no ponto que lhes dói e não há como anestesiar. Disse:

«Então, porque querem tanto a lei os homossexuais? Esta é a segunda e a mais importante das questões que o tema levanta: a simbologia. Na busca de um estatuto de respeitabilidade, os homossexuais exigem um símbolo suficientemente forte para afastar os fantasmas da diferença, da discriminação implícita, de uma situação apenas consentida, do medo da homofobia, da suposição do desprezo, da condescendência hipócrita. Só a institucionalização por via do legislador de uma igualdade de acesso ao casamento, destruindo os pilares fundamentais e distintivos desta realidade antropológica e social, criando uma ficção onde todos são igualmente incluídos, os pode securizar.»

Hoje apareceu Fernanda Câncio no mesmo jornal pretendendo responder a Nogueira Pinto mas sem argumentos e sem razão ― aliás, Câncio não respondeu, tentou apenas ― e veio logo com aquela de PESSOAS DO MESMO SEXO significando os homossexuais a ver se a moda pega. E disse, escreveu:

«Quando alguém diz, como ontem dizia na sua coluna neste jornal Maria José Nogueira Pinto, que "não se pode tratar da mesma forma o que é diferente", falando de "usurpação" a propósito do desejo dos homossexuais de aceder ao instituto do casamento e ao que ele simboliza - a assunção e dignificação social de uma relação -, está a falar a língua da exclusão.»

Câncio talvez ache que se uma lésbica desejar um dia fazer uma biopsia à próstata nenhum médico terá o direito de lha recusar sob pena da prática inadmissível de «exclusão».

E vamos continuar com este folclore enquanto a economia do país se afunda, o trabalho se vai, o desemprego cresce e a miséria se instala.
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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

VOLTEMOS À VACA QUENTE

Para que fique claro.
Por aqui não há nada contra os homossexuais. Nada contra a “união”, a “vida em comum”, etc. entre os homossexuais.

Só que ― chamar “casamento” à união entre homossexuais é que me parece desadequado. Porque entende-se que o casamento é mais que uma simples ou mesmo complexa união de duas pessoas; e sejamos directos: o casamento, lato sensu, também pressupõe procriação.

(Que a procriação não seja possível por doença ou por opção, é outra coisa diferente da impossibilidade de procriar; e não invalida que à partida essa união fosse ao menos potencialmente “procriativa”).

Agora entre homossexuais! Aquilo é tudo menos casamento.

Para mim o problema está na instituição Casamento que, no meu entender, os homossexuais pretendem conquistar para seu sossego interior e obtenção (pensam) de um estatuto que os iguale exteriormente aos heterossexuais ― sem se importarem de com isso destruir, desvirtuar, abandalhar, se quiserem, a instituição Casamento. E é isso que deve ser evitado.

Durante muito tempo os homossexuais clamaram pelo "direito à diferença". Sabiam e sabem que são diferentes dos heterossexuais. Agora querem parecer iguais aos heterossexuais. Já não se sentem bem na sua pele de "diferentes". Há qualquer coisa que continua a perturbá-los na sua pele de homossexuais.

Até é questão para se dizer que os homossexuais agora querem ser heterossexuais por via legal. Já não confiam nem se sentem bem com a sua natureza.

Quererão dar razão a D. José Saraiva Martins?

Dê-se aos homossexuais todos os direitos consagrados no casamento ― até o direito impossível de terem filhos entre si ― mas não se chame a isso casamento.

É aqui que bate o ponto.
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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

IGUAIS UMA OVA!

Todos sabemos que há veados, panascas e paneleiros; bichas, rabos e rabichos; lésbicas, fufas, sapatonas, e o mais que se costuma chamar aos HOMOSSEXUAIS.

Mas agora a moda nos partidos políticos e na comunicação social politicamente correcta é chamar aos homossexuias PESSOAS DO MESMO SEXO.

Parece que ao chamar PESSOAS DO MESMO SEXO aos homossexuais se consegue algo extraordináio: fazer com que os homossexuais pareçam iguais aos heterossexuais e não se ofendam tanto na sua condição de homossexuais.

O que não se percebe é porque se ofenderiam os homossexuais de se dizer que são o que são: homossexuais!

Vá lá a gente entender estas subtilezas!...

Mas eu protesto. E vejam lá se não tenho razão. Imaginem que estou ao lado de um homem qualquer; e que vem alguém que aponta para nós dois e diz ─ temos aqui duas PESSOAS DO MESMO SEXO.

─ O quê?!... PESSOA DO MESMO SEXO, eu?! Já chegámos à Madeira ou quê?... DO MESMO SEXO és tu, ó seu ...!
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domingo, 15 de fevereiro de 2009

PENSAMENTO DO DIA

«Há dois pecados humanos capitais dos quais derivam todos os outros: a impaciência e a preguiça. Por causa da impaciência fomos expulsos do Paraíso. Por causa da preguiça não regressamos lá.»

[Franz Kafka, Meditations]

BOA TARDE.
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sábado, 14 de fevereiro de 2009

EDIFICANTE!

Eu só quero lembrar a quem me lê que, apesar de tudo o que se tem escrito e dito, este homem continua a ser Conselheiro de Estado.

E para quem esteja distraído e não esteja a ver bem o que isso é, sempre digo:

Este homem continua a pertencer; continua a fazer parte integrante do mais importante órgão consultivo do Senhor Presidente da República, Cavaco Silva: O CONSELHO DE ESTADO.
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KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO VIGÉSIMA SEGUNDA:

(A)-Na verdade, qualquer que seja o período que se considera, a África aparece como um cruzamento de línguas e culturas diversas. De feito, apenas no âmbito linguístico, é realmente, o Continente mais diversificado do Planeta. Demais, é, unicamente na duração que a “África” principia a aparecer. Assim, efectivamente, no âmbito desta dinâmica, enquanto massa continental, se estende do cabo de Boa Esperança ao delta do Nilo, englobando simultaneamente Marrocos e Moçambique. Todavia, muitos dos seus habitantes, identicamente numerosos Americanos e Europeus, não a consideram como uma entidade unificada e fazem uma distinção nítida entre a “África do Norte” e a “África sub-sariana”ou “África negra”. De anotar, que a linha de divisão é frequentemente entendida, em termos raciais, ou seja: a África é o lugar donde são oriundos os Negros.

(B)- O eminente filósofo ganense/ganês, o docente universitário Kwame Anthony APPIAH (n-1954), Professor de Filosofia na Universidade Laurence S. Rockefeller e, outrossim, membro do Centro para os Valores Humanos da Universidade de Princepton – dizíamos – de modo abertamente consequente, assumiu a seguinte interpelação, ou seja: como representar a “África” se recusa a classificação das populações do mundo em grupos raciais? Classificação que todos sabem, que os biólogos reputaram sem fundamento. Assumidamente, os Africanos são, outrossim, dissemelhantes entre si, como o são de toda outra pessoa sobre terra e, unicamente, erigindo a cor da pele como critério supremo que se lhe pode declarar que os Africanos formam uma raça única? Por outro, pode-se, todavia, considerar que os habitantes, vivendo ao sul do Sara formam um único e mesmo povo, na ausência de raça?
E, prosseguindo a nossa interpelação, de cariz eminentemente pedagógico, sempre na esteira e peugada do filósofo APPIAH, temos ainda que:
--- O facto que aproximadamente um terço de entre eles sejam muçulmanos não significa, afinal de contas, que se deveria os classificar juntamente com os seus correligionários muçulmanos da África do Norte, quer estes últimos se consideram ou não, eles próprios africanos?
--- A pretensa solidez dos vínculos de parentesco entre Africanos, o respeito generalizado que as pessoas, dos Zulos aos Uólofes/Wolofs, manifestam para com os seus primogénitos e os seus antepassados e o papel central das relações sociais individuais nas aldeias não definem uma colectividade cultural através de todo o Continente, facto que influenciou os descendentes dos Africanos no Brasil, em Cuba e nos Estados Unidos da América?
--- Ou ainda, o que todos os Africanos possuem em comum é, outrossim, o que é comum na maior parte das comunidades “campesinas”?
--- E, outrossim e, ainda, o que as pessoas designam por “cultura” em África, corresponde algures a traços duradouros e comuns, ou a esquemas de adaptação em permanente evolução (em presença) e perante às situações novas?

(C) De sublinhar, assertivamente, que a resposta de APPIAH não depende da existência, ou não, de uma correspondência entre as culturas africanas, quaisquer que sejam as suas analogias ou as suas discrepâncias e a cor da pele. Na verdade, ele afirma que o vocábulo “África” possui, efectivamente, um sentido e, que este sentido é histórico. De feito, aliás, desde à partir do século XVI, os negreiros europeus se puseram a considerar diversos portos africanos como centros de compra de mão-de-obra escrava, servindo as características físicas dos escravos de critério para determinar quem, de um lado do Atlântico, podia ser comprado e, de outro lado, ser suposto tornar escravo.

(D) Todavia, se a África foi definida, primeiramente, pelo aspecto, o mais horrível da sua história, o sentido do vocábulo “África”principiou a mudar no seio mesmo da diáspora africana. Com efeito, os indivíduos escravizados e os seus descendentes principiaram a se considerar “africanos”e, não mera e simplesmente como a propriedade de outras pessoas. Sim, efectivamente eram indivíduos que procediam de algures. E, explicitando adequadamente, deste modo, nos Estados Unidos da América, alguns cristãos descendentes de escravos principiaram a se considerar “etíopes”não porque os seus antepassados provinham desta região de África, sim, efectivamente, este facto evocava as narrativas bíblicas do rei Salomão e da rainha de Sabá. Eis porque, deste modo, a Etiópia ou a África assinalava o seu lugar numa história universal. E, na sequência, determinados intelectuais afro-americanos proclamaram que os antigos Egípcios eram Negros de África e que via Egipto, a África contribuíra, de molde, decisiva, para o desenvolvimento e o engrandecimento respectivo das civilizações helena, romana e do Mundo inteiro. Enfim, se afigura importante, consignar, com ênfase, que, na realidade, é que a África se revelou, na sua plenitude, quando uma diáspora afirmou o seu lugar no Mundo.

(E) Destarte, o estudo das redes que sulcavam o oceano Atlântico, o oceano Índico, o deserto de Sara e o próprio Continente Africano, outorga da África uma imagem dissemelhante dos estereótipos vinculados às “tribos” africanas. Por seu turno, intelectuais muçulmanos da África do Sahel ocidental atravessavam o deserto para se dirigir para a África do Norte ou iam para o Egipto ou para a Arábia Saudita para estudar ou cumprir uma peregrinação. Outrossim e, ainda, de referir, que redes islâmicas análogas se estendiam ao longo da costa este africana e no interior do Continente, até aos lagos Vitória e Tanganhica. Já, no interior da África, alguns reinos ou impérios englobavam populações de culturas diversas, assimilando-os, por vezes, acordando, em determinadas circunstâncias, uma autonomia cultural considerável, exigindo, integralmente, neste caso, submissão e impostos. Finalmente, em determinadas demais outras regiões, grupos de uma idêntica família se reconheciam afinidades com parentescos distantes de centenas de quilómetros.

E, prosseguindo, esclarecida e elucidadamente, este nosso Estudo, temos, então, complementarmente que:

(1) A diversidade cultural era, decerto, real e, numa determinada medida, identicamente, verídica que a especificidade cultural se transformava, por vezes, num sentimento de pertença a um “povo” distinto. Porém, a distinguibilidade, ora enunciada, não era sinónimo de isolamento e, demais, não apagava as inter-conexões, as relações e as influências mútuas. Efectivamente, a carta cultural da África está marcada por graduações de dissemelhanças e de vínculos e, não por uma série de espaços herméticos, cada qual com a “sua” cultura respectiva, o “seu” idioma e o “seu” sentimento de unicidade. Na verdade e, por certo, um empreendedor político, tentando mobilizar “o seu” povo para defender os seus interesses podia se apoiar sobre um sentimento de grupo, todavia, isso funcionava, do mesmo modo, para um organizador político ou religioso que tentasse pôr em contacto povos separados por débeis ou grandes distâncias. De anotar, que a tendência que a dominava dependia das circunstâncias históricas e, não de uma suposta unidade racial ou singularidade cultural africana.

(2) Nos meados do século XX pretérito, o vocábulo “África” recobre várias significações políticas. Donde e daí:
---Para um pan-africanista, a unidade pertinente era a diáspora.
---Já para o psiquiatra, escritor e ensaísta antilhano, de ascendência africana, Frantz FANON (1925-1961) (quiçá, o maior pensador do século XX passado, no âmbito dos temas da descolonização e da psicopatologia da colonização) – dizíamos – a política era determinada pelo imperialismo e, eis porque, recusava a ideia de nação negra para lhe preferir a de unidade dos povos oprimidos pela colonização.
Deste modo, no âmbito desta dinâmica, quando o Presidente egípcio Gamal Abd Al NASSER (1918-1970) desafiou as potências estrangeiras, designadamente a britânica, a francesa, a norte-americana e a israelita no Médio Oriente, tornou-se, para numerosos Africanos, o símbolo de um dirigente autenticamente nacional.

Demais, outrossim e, ainda, na década de cinquenta do século XX pretérito, as lutas comuns travadas contra as potências coloniais, visando a construção de economias nacionais e, em prol da dignidade nacional, deram origem à uma concepção militante do “Terceiro mundo”, nem capitalista e, nem comunista, unindo, todavia, a Ásia, a América latina e a África contra o “Norte” – contra as potências “imperialistas”.
Enfim, no âmbito desta perspectiva, temos de referir também, que outros dirigentes políticos procuraram uma unidade especificamente africana, limitada ao Continente.
E, finalmente, demais outros, ainda e, outrossim, se opuseram acerca das bases ideológicas e estabeleceram alianças com blocos de influência conduzidos pelos Estados Unidos da América ou com a União Soviética.

(3) De sublinhar, que os vínculos internacionais não convinham apenas aos militantes políticos. Com efeito, Africanos, desejando efectuar estudos, encetando uma carreira na ONU ou, em demais outras organizações internacionais, ou migrante para economias europeias que, nesse momento, pretendiam a sua respectiva força de trabalho nos próprios solos — tornaram, cada vez mais, numerosos na Europa, na União Soviética e nos Estados Unidos da América do Norte. Na verdade, possuíam, ora contactos com os autóctenes, ora formavam comunidades de origem relativamente independentes, outrossim, ainda, possuíam vínculos mais estreitos com demais outros migrantes de ascendência africana.

E à guisa de remate/conclusão seria, todavia um erro crasso, substituir a visão quão errónea e, assaz adulterada de uma África de tribos isoladas por de uma África submersa numa rede infinita de movimentos e de permutas. De feito, em África, a população era desproporcionadamente distribuída, num enorme espaço, por outras palavras e, para melhor dizer, as deslocações eram possíveis, no entanto, sobremaneira, onerosos os transportes. Na verdade, lucrativo era permutar bens de grande valor, inexistentes em determinadas regiões, contudo menos rentável que construir densas redes de permutas e de relações diversificadas.
Por outro, de consignar, que os dirigentes africanos podiam encontrar lugares susceptíveis de assegurar a prosperidade dos seus povos, porém, havia identicamente demais outros sítios, onde as pessoas podiam se refugiar e sobreviver, o que tornava difíceis a consolidação do poder e a intensificação da exploração. Demais, as permutas com o resto do mundo eram habitualmente muito especializadas — horrivelmente especializadas, no caso concreto, do comércio dos escravos, designadamente. De anotar, destarte, que os centros de produção específicos – de ouro ou de óleo de palma, por exemplo – ou as estradas comerciais específicas – a do marfim, que ligava o interior do Este africano à costa -funcionavam assaz bem. Todavia, a sua acção respectiva foi criar vínculos particulares, exclusivos, entre o interior da África e as economias exteriores à África e, não de desenvolver uma economia regional densa e diversificada.
De sublinhar, que após a conquista europeia, as economias coloniais construíram, caminhos ferroviários e estradas respectivas, para fazer escoar o cobre ou o cacau e fazer entrar os produtos manufacturados europeus, canalizando, deste modo, o movimento dos bens, das pessoas e das ideias para a metrópole e, não para o conjunto do mundo.
Efectivamente, os regímenes coloniais edificaram uma grande parte do seu poder na sua capacidade para controlar os pontos nodais chaves, tais como os portos em águas profundas, de um sistema de transportes e de comunicações relativamente limitado.
Enfim, os Africanos procuraram criar as suas próprias redes: estradas comerciais no seu próprio Continente com conexões políticas, com demais outros povos colonizados. De anotar, com, um certo e determinado êxito. Porém, quando os impérios coloniais se desmoronaram, os dirigentes africanos foram, outrossim, confrontados, com a tentação de reforçar o seu controlo nestas redes limitadas, de preferência, antes que ampliar e multiplicar os vínculos através do espaço.

Lisboa, 11 Fevereiro 2009.
KWAME KONDÉ

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

ELE GOSTA É DE «MALHAR»

«Eu cá gosto é de malhar na direita e gosto de malhar com especial prazer nesses sujeitos e sujeitas que se situam de facto à direita do PS e que são das forças mais conservadoras e reaccionárias que eu conheço e que gostam de se dizer de esquerda plebeia ou chic. Refiro-me, obviamente, ao PCP e ao Bloco de Esquerda.»

Sempre que este homem aparece na televisão ou o oiço na rádio, acabo por pensar e dizer a mesma coisa: “Este homem é sinistro”. E digo isto não porque eu tenha provas de que ele seja de facto sinistro, mas porque a sua figura, o seu timbre de voz e muito daquilo que ele diz, sobretudo da forma como costuma dizer ― me dão a sensação de que ele é sinistro.

Foi assim quando falou dos jornalistas; foi assim quando falou dos professores; e foi assim agora que falou do PCP e do Bloco de Esquerda.

Sinistro! ― é a sensação que me dá.

E aquele verbo «Malhar»!... é tão rasca, tão reles e tão foleiro que até a palavra “foleiro” parece aristocrática ao pé dele.

Deus nos guarde e nos livre de mais uma maioria absoluta do PS nas próximas eleições.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

WINDOWS 7

Inscrevi-me como beta tester do Windows 7 (que há-de aparecer no mercado um dia destes) e estava entusiasmadíssimo com o trabalho que a Microsoft tem vindo a fazer neste novo sistema operativo baseado no Windows Vista de má memória, quando me atiraram um balde água gelada com a notícia de que falarei mais abaixo.


De facto o Windows 7 está a ser concebido segundo uma outra filosofia que não aquela que presidiu nos últimos anos a Microsoft ― a de fazer do utilizador um dependente mórbido, um robot e um escravo do Windows ―. A nova filosofia que preside ao Windows 7 parece (parecia) ir na direcção certa: libertar o utilizador metendo-lhe na mão todas as ferramentas de um sistema operativo deixando-o livre para a sua utilização consoante as suas necessidades e as suas manias, inclusive. De facto este Windows 7 é leve de instalar e de usar; rápido a iniciar; seguro contra intrusões online; amigo do utilizador; portador de inúmeras ferramentas que dispensam muito do software adicional habitual (leitor e gravador de filmes e de música, processador de texto, manipulador de imagens, etc.) enfim: este Windows 7 parece (parecia) UMA BELEZA DE SOFTWARE; um sistema operativo capaz de competir com o Leopard da Apple.

Mas... eis senão quando... surge esta notícia:
O Windows 7 terá 6 (seis) versões diferentes a saber:

1) Windows 7 Starter
2) Windows 7 Home Basic
3) Windows 7 Home Premium
4) Windows 7 Professional
5) Windows 7 Enterprise
6) Windows 7 Ultimate

Ao que parece nunca mais os senhores da Microsoft tomam juízo e aprendem alguma coisa com Steve Jobs, o patrão da Apple. Ele, Jobs, não discrimina os utilizadores do seu software vendendo versões diferentes a preços diferentes e com funcionalidades diferentes de um mesmo sistema operativo.

Steve Jobs, quando lança um novo sistema operativo, lança uma só versão e igualiza os utilizadores todos de uma assentada: não cria nichos de coitadinhos; nichos de burrinhos; de espertinhos pobres, de espertinhos ricos; de profissionais endinheirados, de profissionais piratas; de patrões e empresários e por aí fora.

Qual vai ser então o resultado disto tudo? O resultado vai ser que os menos informados engolirão o que os vendedores de software lhes impingirem e as suas carteiras puderem suportar. Os que não quiserem gastar dinheiro mas também não souberem como fazer a coisa, continuarão a usar o Windows XP. Quem não quiser gastar dinheiro mas sabe como fazer, vai piratear o Windows 7 e utilizá-lo de graça. E só quem tem dinheiro e ou é parvo vai comprar a versão Ultimate do futuro Windows 7.

É assim que uma ideia boa acaba por dar um produto eficaz mas pouco satisfatório para os seus potenciais utilizadores.

Quanto a mim, no fim dos testes ― ou a Microsoft me oferece o programa (ou a possibilidade de o adquirir barato), ou então vou ter que pensar muito bem o que vou fazer.

Migrar para a Apple?!

Ou... isso mesmo. Pois!

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO VIGÉSIMA PRIMEIRA:

Complementando avisadamente a nossa “posta”anterior,
Efectivamente,

(A) Apresentada como a panaceia universal e o sistema que optimiza melhor os meios de produção, a livre troca gera um conjunto de custos não tidos em conta pelo sistema económico actualmente implantado, melhor dito, o Capitalismo.

(B) De feito e, por outro, a colocação em concorrência trabalhadores dos países desenvolvidos com as mãos de obra abundantes, pouco qualificadas, sub remuneradas e exploradas (inclusive o trabalho infantil) dos países em desenvolvimento, só pode conduzir a um nivelamento por baixo dos salários e dos direitos sociais adquiridos. Enfim que se denomine “dumping social”, “course au moins-disant”, não é, nem mais nem mesmo (assim mesmo), unicamente um efeito de vasos comunicantes.

Posto isto, vamos abordar e estudar as suas consequências, no âmbito dos países em desenvolvimento e no âmbito dos países desenvolvidos.

(1) Aproveitam realmente, os países em desenvolvimento da livre troca?


(a) De anotar, que a teoria económica parece mostrar que a livre troca é globalmente criador de empregos, porém este balanço quantitativo deve ser relativizado por uma visão mais qualitativa. Com efeito, os empregos criados são menos bem remunerados e com uma protecção social degradada.


(b) De feito, apenas os países ricos estão habilitados para manter algumas das suas actividades, tal como a agricultura, por formas de subvenções autorizadas enquanto coagem os países mais pobres a abandonar o único meio de protecção que dispõem, concretamente as barreiras alfandegárias.


(c) De salientar, outrossim, que as especializações que engendra a livre troca não são equivalentes. De facto, a realização de produtos manufacturados necessita o domínio de todo um processo de fabrico, enquanto as extracções de matérias primas não conduzem à uma industrialização.


(d) Finalmente, na verdade, na ausência de instâncias de regulação, os preços submetidos à lei do mercado, podem se revelar “desfavorável” num momento dado para uma nação (concorrência falseada, cartel, especulação…) e provocar uma grave crise.

Enfim e, em suma, nos países pobres ou em desenvolvimento, os povos são as vítimas, concomitantemente das grandes potências e das suas próprias classes dirigentes que se enriquecem destes deserdados da sorte.

(2) Antes de mais, se impõe consignar que, no âmbito dos países desenvolvidos, as consequências diferem consoante a flexibilidade dos salários: Ou seja:

---Salários flexíveis: diz respeito a baixa dos salários dos trabalhadores menos qualificados e, ao invés, alta dos salários dos mais qualificados. Resulta, deste modo, um aumento sensível das desigualdades. São os casos dos países, nomeadamente, os Estados Unidos da América do Norte e do Reino Unido.
---Salários não flexíveis (salário mínimo legal): diz respeito à deslocalização de actividade, aumento do desemprego e pressão produtivista sobre os que trabalham. Estamos a referir, concretamente, os casos da Alemanha e da França.
De sublinhar:
Por um lado, que os empregos mais “qualificados” não estão ao abrigo de um tal fenómeno. Com efeito, não constitui dúvida alguma, que daqui mais alguns anos, países como a China e a Índia poderão colocar no mercado mundial do trabalho, dezenas de milhões de assalariados ou quadros qualificados.
E, por outro, que os países tendo um deficit do seu comércio externo devem pedir por empréstimo no mercado internacional para se procura divisas. Estas dívidas engendram um constrangimento financeiro que vai influir na política interna: afrouxamento do crescimento económico, desemprego, redução dos investimentos.

E, para rematar, de modo, dialecticamente, consequente, na verdade e, na realidade, a livre troca só apresenta inconvenientes. Permite, em determinadas condições aos países mais pobres se desenvolver mais rapidamente. Todavia, num regime capitalista, a livre troca desenfreada é um sistema não equitativo que se aparenta à uma guerra económica entre os trabalhadores do mundo inteiro, enquanto os detentores do capital acumulam os benefícios, ávida e vorazmente.

Lisboa, 01 Fevereiro 2009.
KWAME KONDÉ