terça-feira, 30 de junho de 2009

A VIRTUDE FILHA DO PECADO

(SEMPRE ME PARECEU QUE ASSIM É)

Notas biográficas de Winston Churchill colhidas aqui do Abrupto. Que publico para dizer que este é o homem que me merece toda a confiança e em quem na altura eu também votaria. Por toda a sua experiência de quarenta anos mas também porque, entre outras coisas, «era velho, gordo, bebia, era demasiado nobre de nascimento, tinha dívidas, maus costumes e língua afiada.»

«Quando Churchill chegou em 1940 ao lugar de primeiro-ministro de uma nação em guerra e a perder essa guerra, tinha quase quarenta anos de experiência parlamentar. Tinha sido quase tudo o que se podia ser: militar, estratega, parlamentar, ministro, jornalista, escritor, historiador, homem público, tudo. Era certamente uma das faces mais "gastas", como agora se diz, da vida política britânica. Era, com igual certeza, uma das pessoas que menos "renovação" traziam ao governo, ele que já por lá tinha passado várias vezes e algumas delas de forma bem conflitual. Era, com a certeza das certezas, uma personalidade "pouco consensual", tendo distribuído uma seara de ódios, de facções, de confrontos, de polémicas, ímpar nesses mesmos quarenta anos que o século durava. Tinha inimigos, completamente hostis, que o consideravam tudo aquilo que a política não devia ser: era acusado de ser irresponsável, incompetente, vingativo, belicista, conflituoso, quase um traidor. Os seus adversários odiavam-no muito menos do que os seus correlegionários, um sinal de intensidade do ódio muito particular. No seu partido tinha os maiores inimigos, que o acusavam de tudo o que de mal acontecera ao Reino Unido, desde derrotas militares sangrentas até a desastres eleitorais. Para além disso, era velho, gordo, bebia, era demasiado nobre de nascimento, tinha dívidas, maus costumes e língua afiada. E, homem da escrita e dos jornais, panfletário e excessivo, também não tinha os jornalistas em grande consideração.»
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sexta-feira, 26 de junho de 2009

DA MORTE DE JACKO

A morte de Michael Jackson impressiona-me. E impressiona-me da mesma maneira como me impressionava a sua vida (pelo menos na forma como era relatada ao público): estranha.

Juntamente com Marilyn Monroe e Elvis Presley, Jacko, para além de estrela excepcional do mundo da arte musical e do espectáculo, era também um mito vivo.

Com a morte de Jacko constato que nos Estados Unidos as estrelas míticas de excepcional dimensão costumam desaparecer tragica e inesperadamente quando começam a entrar em declínio.

(Será assim tão perigoso ser-se estrela artística de excepcional grandeza na América?)

Constato ainda que a morte dessas estrelas contribui imprescindível e definitivamente para a perpetuação do mito.

E do negócio.
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terça-feira, 23 de junho de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO QUADRAGÉSIMA OITAVA:


(C)

E, prosseguindo o nosso Estudo, na realidade, o desprezo afixado, tornado público, divulgado à exaustão e ostentado pelas antigas potências coloniais exprimia o seu desacordo acerca do processo de descolonização e, concomitantemente, outorgava, em África, a ilusão de uma nova etapa franqueada, no âmbito do percurso da Liberdade. Nos factos, sem nenhuma excepção, os senhores de outrora julgavam os Africanos “de incapazes”/”incompetentes”/”corruptos”.
Todavia, se asseguraram, de modo insidioso, da penhora sobre o nosso futuro. Novos mecanismos, ainda mais humilhantes e mais destruidores, vão se afirmar. O contexto difícil vai mergulhar o Continente, num marasmo económico sem precedentes. Os efeitos acumulados do endividamento, da deterioração dos termos da permuta e os deficits públicos abissais ensombram os horizontes.
(b)
A reorganização política, institucional e económica posta em marcha, na sequência do acesso à soberania internacional, será rapidamente aniquilada, esmagada pela mecânica complexa de uma Ordem Internacional dominada pela “guerra-fria”, com todo o seu cortejo de tensões e de conflitos respectivos. Novos cismas aparecem. A símile referência ideológica vai servir de leme a Estados nascentes sem marca de referência e sem rasto. Muitos entre si se confundem, no campo democrático e liberal. Outros se juntam o “campo socialista” (soit-disant).
(c)
De sublinhar, entretanto, que sob a égide destas duas vertentes, uma idealista, igualitária e autoritária, outra antes portadora da Liberdade e da Igualdade, a Ordem Internacional só fez acelerar a ocorrência das trevas da decadência.
De feito, desde, aproximadamente, duas décadas, o uso do modelo milagre principiou. O balanço do novo modelo de desenvolvimento, inspirado nos seus fundamentos conceptuais do neo-liberalismo triunfante, é contestado, por causa da transgressão de regras simples que têm por designações a igualdade das oportunidades, a competição franca e leal e a primazia do Direito.
(d)
O vazio semântico, com uma nova conceptualização centrada na redução da pobreza, não traz nada de novo. Os factos estão aí! A semântica, sem dúvida simpática, não muda nada, no fundo. O dogmatismo nas escolhas, a despeito dos fracassos recorrentes é revoltante. A passividade dos poderes políticos ante uma coorte de funcionários arrogantes das Instituições Internacionais, pirotécnicos da desordem e da confusão respectiva, afiança deste consenso planetário, em torno dos valores desumanos e do estiolamento organizado da autoridade política, mecanismo necessário para a regulação e, sobretudo, para a protecção dos cidadãos.
De anotar, no entanto, que enquanto a África, estagnada, vivendo na imundice, sob o peso da miséria, as revoluções industriais, tecnológicas e científicas dinamizam as forças de produção e oferecem à Humanidade, riquezas ilimitadas.
Eis porque, actualmente mais que outrora, chegou o tempo azado da revolta, Revolta para a construção/edificação de novas regras do jogo, para a refundação das conexões sociais e da implantação de uma Ordem Internacional menos iníqua.
(e)
DESTARTE, Autoridades e Povos hesitam ante o desconhecido, mesmo, querendo, sempre se desarreigar da irremediável declinação da Potência.
Todavia, nesta fase de incertezas e de angústias, a aposta/repto constitui em escolher uma direcção, com audácia para sair das cruéis engrenagens actuais. Donde e daí, escolher sinal/marca de referência, num labirinto de fracturas, com tripla fácies Nacional, Continental e Mundial, se afigura inevitável, obviamente.
E, explicitando pertinentemente:
--- O Primeiro repto/aposta consiste em extrair ensinamentos dos nossos fracassos após tantos anos, ousar então fazer frente a realidade, para se levantar. O malogro económico, mais aparente que os demais outros, decorre da ausência de sólidas e robustas fundações institucionais democráticas. O modelo democrático só pode ancorar, de modo credível, em sociedades modernas. Com efeito et pour cause, a modernidade, filha da revolução cultural, se edifica, num sistema educativo performante e, no âmbito de uma “alfabetização” de massa eficaz.
--- A sedimentação das ideias de Progresso, graças à difusão do Saber, cria novas mentalidades, mais esponjosas aos ideais de Justiça, de Liberdade e de Equidade. A emergência, tanta admirada dos dragões da Associação de Nações do Sudoeste Asiático (ASEAN), se encontra associada, entre outros, a bases simples, designadamente, ler, escrever, contar e empreender. A deslocação não se faz em direcção à África por causa da ignorância, da ausência de Justiça e, consequentemente, pela gravidade dos riscos.
Antes de mais, uma Elucidação oportuna:
A Associação de Nações do Sudoeste Asiático (ASEAN) é uma organização regional de Estados do Sudoeste Asiático, constituída a 8 de Agosto 1967. Os principais objectivos da ASEAN são acelerar o crescimento económico e fomentar a Paz e a estabilidade regionais. A ASEAN estabeleceu um Fórum conjunto com o Japão e um Acordo com a UNIÃO EUROPEIA (U. E.). A sua sede e o seu secretariado permanente encontram-se em Jacarta (cidade capital da Indonésia).
DESTARTE, no ano de 1992, os Países participantes decidiram transformá-lo em zona de Comércio Livre, a ser implantada gradualmente até 2008. Foi fundada originalmente, pela Tailândia, Indonésia, Malásia, Singapura e Filipinas.
Dos seus Membros de Pleno Direito:
Os actuais membros da ASEAN são (por ordem da data da adesão):
--- Tailândia (1967);
--- Malásia (1967);
--- Singapura (1967);
--- Indonésia (1967);
--- Brunei (1984);
--- Vietname (1995);
--- Mianmar (1997)
--- Laos (1997);
--- Cambodja (1999).
Membros observadores:
--- Papua Nova Guiné;
--- Timor-Leste.

Lisboa, 20 Junho 2009
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista—Cidadão -do Mundo).
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quinta-feira, 18 de junho de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO QUADRAGÉSIMA SÉTIMA:


(B)

(1)

Na verdade, realmente, a situação dramática exige um novo tipo e modelo de Combate, o da Coragem para a Justiça, contra a brutalidade e a crueldade, ao Serviço da Solidariedade enérgica e activa, visando à eclosão/nascimento de uma Alma sã e pura num Continente olvidado, marginalizado e esmigalhado.
Hoje, com efeito (nos dias que escoam, célere e, sob o Signo da Incerteza), despontam, no Horizonte, sinais anunciadores do Advento de uma Nova ERA. A marcha imparável para a Democracia (na sua assunção, a mais genuína e autêntica), principiando, pelo modelo participativo, é irreversível. De anotar, no entanto, que as resistências são naturais, obviamente. Porém, os diques, os mais sólidos e robustos, cederão sob a pressão das ondas da Esperança. Enfim, esmagar as resistências far-se-á, na Dor e Sofrimento.

(2)

De feito, as Mudanças se operam, frequentemente na Dor, Dor, aliás, geradora da felicidade do Porvir. As Revoluções inglesa e francesa são disso, exemplos, quão eloquentes e, quão, assaz vivos. A Inglaterra decapitou o Rei Carlos I, no longínquo ano de 1649. Na verdade, o conflito metafísico, opondo os puritanos protestantes do Político e Lorde Inglês, OLIVER CROMWEL (1599-1658) contra os prosélitos dos reis STUART passou por isso. Por seu turno, a Guerra da Secessão fez, na América do Norte, 620 000 vítimas, das quais 51,6% eram nordistas, muito mais que as vítimas causadas pelos conflitos no Vietname e na Primeira Guerra do Golfo, somadas.
Não há dúvida nenhuma, que a passagem para uma fase de modernidade, se encontra em plena Marcha. Uma série de Universais Humanos, suavemente se ancoram, no entanto, de consignar irremediavelmente no quotidiano das populações africanas. As inevitáveis fases tumultuosas exprimirão esta modernização que apenas se demorou demasiado.

(3)

No nosso Mundo Hodierno, a localização geográfica dos Grandes Eventos/Acontecimentos Humanos, em nada, aniquila o seu impacto sobre as novas vidas de Alger ao Cabo, donde então, evidentemente a necessidade imperiosa da grande complexidade que deve nortear a organização da resistência a implantar.

O Combate a se devotar é, assaz multiforme e, quão complexo, ipso facto. Não é o de uma categoria contra uma outra, nem de uma etnia contra a outra, ainda menos, de um país contra o seu vizinho. Muito pelo contrário, é Solidário. Deve servir para dinamitar a golilha da submissão, da incultura e da ignorância, da discriminação e da desigualdade entre os sexos, da crueldade e da fome.

(4)

A ruptura de ao pé do modo actual de orientar o nosso devir é uma Exigência Histórica.
E colocar, sobre o nosso Destino/Desígnio, diante dos que nos conduziram na démarche da vergonha e da humilhação, é, uma outra. Os prontos a vestir programáticos malograram, se fracassando sobre os muros da Injustiça, da Incúria e do Arbitrário, frutos da reprodução dos Sistemas oligárquicos em vigor e funcionamento respectivo.
De feito e, sem sombra de dúvida nenhuma assumir esta decisão é a única alternativa possível e, consequentemente, com grande hipótese de êxito seguro contra à decomposição em curso.

(5)

E, em jeito de remate assertivo:
Efectivamente, a exigência do risco, para renascer e emergir, pressupõe muita, muita audácia. Aí se jogam o nosso porvir e o das gerações vindouras. É, realmente, desta vontade que virá o sobressalto para forçar o Destino/Desígnio, num Mundo pleno e, outrossim prenhe de incertezas e de angústias.
Ontem, com o advento das Independências, os Africanos imaginaram edificar Estados nações, onde a Honra, a Justiça, a Dignidade, a Procura da Felicidade estarão garantidos, da forma, a mais consequente possível. Muitos Africanos acreditavam no término da miséria e da servidão. Este desejo, quão profundo e, quão legítimo, não era algo, sem fundamento óbvio. Com efeito, o acesso à soberania suscitou, em numerosos países, imensas esperanças ante às devastações inerentes às condições de vida de todos os dominados.

Lisboa, 17 Junho 2009
KWAME KONDÉ
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segunda-feira, 15 de junho de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO QUADRAGÉSIMA SEXTA:
A
(I)

“L Afrique noire (est ou était) mal partie” escrevia, com densidade e húmus respectivo, no ano 1962, o pacifista, agrónomo de prestígio internacional, ecologista conceituado, o francês, RENÉ DUMONT (1904-2001).
Desde então, as imagens difundidas pelas médias de massa são bem mais funestas, que esta profecia anunciada não deixa pressagiar. Os factos são acabrunhantes para a África, para a espécie humana, enfim, para Todos, sem excepção.
Explicitando adequadamente, vejamos então:
O Genocídio Ruandês, a Sobrevivência e o Antagonismo bárbaro dos tribalismos residuais, a ruína avançada da Somália, a Proliferação dos órfãos, corolários revulsivos do SIDA, o Terrorismo de massa concebido pelo fundamentalismo obscurantista e resíduos dos sincretismos religiosos, a desintegração virtual da Costa do Marfim, a persistência da crónica e deletéria crise no Zimbaubwe e os recentes Eventos/Acontecimentos, assaz trágicos no Quénia e na África do Sul, não são, na verdade, meros factos isolados.
Com efeito, não há dúvida nenhuma, que estamos perante um autêntico e verídico enfraquecimento, quão generalizado e, quão preocupante!

(II)

Todavia e, a despeito de tudo, muitas mulheres e muitos homens decididos e afoitos tentam se desarreigar da rampa da miséria. O seu combate francamente temerário, apesar das divisões e das temporalidades diferenciadas, testemunha acerca desta marcha forçada para vislumbrar e, porque não, poder ocupar um lugar ao sol.
Eis que, então o céu pardacento da África foi iluminado por quatro (4) Acontecimentos de alcance Continental, ou seja: O fim do odioso Sistema do Apartheid, na África do Sul, a Instauração gradual de Sistemas políticos de “tonalidade”- soit disant – “democrática e liberal”- o Nascimento da União Africana e o Lançamento do Novo Partenariado para o Desenvolvimento da África.
Trata-se, apenas de mais um dos sinais anunciadores de um possível renascimento africano, ou, não passa de uma mera expressão de uma remissão fugaz de um cancro metastasado? É a questão que paira soturnamente, no Horizonte incerto dos Grandes Eventos Humanos, mais uma vez. A ver, vamos! ...

(III)

Por razões e motivos óbvios, a nossa convicção é que a África só é tão grande, quando se volta para si mesma e extrai do mais profundo dos seus arcanos, nos seus valores de elevado Humanismo, força e, outrossim, uma esperança eminentemente viva e prenhe de porvir. Deste modo, nestes azados momentos, sabe, evidentemente, se congregar e banir, com uma robusta eficácia, os estultos demónios do ódio.
Continente aparentemente “pobre”, singular e, outrossim sui generis, infelizmente marginalizado, a África é um dos berços, melhor dito, aliás, o verdadeiro Berço da Humanidade, com todo o seu esplendor, de forma cientificamente, concreta, à partir da descoberta dos australopithecos, no Rift Valley e, recentemente do de Toumai (o Primeiro Homem), encontrado, num fóssil de sete (7) milhões de anos, na República do Chade (Estado da África Central), no ano 2003, sem olvidar, obviamente, o homo habilis e o homo errectus. Desde então, se o sabe actualmente, que, na verdade, principiou a longa e complexa “Aventura Humana”.
De feito, de sublinhar, que Jazigos Africanos receptam os mais vetustos Hominídeos cuja a evolução se acompanhou da indústria acheulense com o homo errectus. Na Europa, a espécie denominada, o Homem de Neandertal é um derivado do Homo Sapiens africano.
Já agora, uma elucidação pertinente e oportuna: Acheulense se diz de uma indústria do paleolítico antigo/inferior, caracterizada pelo uso de grandes sílex talhados como bifaces.
Por outro, tão longe, quanto se possa remontar no tempo, na Idade do Ferro, na conjuntura, se observa que os Povos Africanos terão franqueados estas decisivas etapas associadas às mutações demográficas, às alterações erráticas, porém, contínuas do Ambiente, assim como, aos efeitos associados às múltiplas deflagrações dos sincretismos religiosos e culturais.

(IV)

Todavia, se impõe consignar, com ênfase, que é a rigidez e a brutalidade da ancoragem da África, no Sistema Mundial que engendrou as rupturas, as mais profundas, absolutamente.
Nesta Terra, (hoje em dia), presentemente, quão abandonada e, quão desamparada, porém, outrora, autêntica locomotiva do Mundo com o Egipto, nasceram escravos e mãos de obra servis, vassalos do tráfego de uma importante porção da Espécie Humana.
Historiadores idóneos relataram, com um mínimo de rigor científico as etapas marcantes das mutações do Homem Africano e das suas capacidades, onde se pode verificar claramente que, na verdade, as Sociedades Africanas demonstraram as suas habilitações e aptidões respectivas em se transformar. Demais, de referir, ainda que, ulteriormente, o Continente conheceu epopeias com os Fatimidas, os Almoranidas, os Almohadas, o Mali, os reinos Yorubas, os Impérios do Benin e Gao, para só citar estes, evitando ser exaustivo.
Eis porque, os Africanos podem e devem ser considerados, sem favor e preconceito de espécie alguma, como os edificadores/construtores anónimos de grandes Civilizações. Donde, com assumida modéstia, se impõe, asseverar avisadamente que a África serviu eloquentemente o Universal dominado actualmente, pela potência do dinheiro. Aliás, não é por mero acaso, que o conhecido e conceituado historiador africano (natural de Burkina Faso) o Professor Joseph KI-ZERBO (1922-2006), escreveu, em substância, na sua obra mais recente (Repères pour l’Afrique, Panafrika), que ela (a África) “a enfanté la civilisation humaine”.

(V)

No entanto, o que é facto é que o tempo da conquista pelas armas terminou. As guerras coloniais, as vagas dos djihads, os contextos bélicos, a espiral dos actos de violência militares, enfim e, em suma: numa eloquente asserção o caos de outrora terminou.
Porém, a violência perdura sob a forma, a mais perniciosa possível. Aliás, foi neste sentido, que o filósofo francês, Jean-Paul SARTRE (1905-1980) asseverou avisada e magistralmente nos termos seguintes: “La violence n’est pas nécessairement un acte …Elle est absente en tant qu’acte de nombreux processus … Elle n’est non plus un trait de Nature ou une virtualité cachée… Elle est inhumanité constante de conditions humaines en tant que rareté intériorisée, bref, ce qui fait que chacun voit en chacun l’Autre et le Principe du Mal… Aussi n’est-il pas nécessaire pour que l’économie de la rareté soit violence qu’il y ait des massacres et des emprisonnements, un usage visible de la force… Il suffit que les relations de production soient établies et poursuivies dans un climat de crainte, de méfiance mutuelle, par des individus toujours prêts à croire que l’autre est un contre homme et qu’il appartient à l’espèce étrangère ; en d’autres termes que l’Autre comme « celui qui a commencé » … Cela signifie que la rareté comme négation en l’homme de l’homme par la matière est un principe d’intelligibilité dialectique ».
De consignar, que efectivamente, esta reflexão remete para esta violência permanente, fugaz, indescritível, porém sempre presente, como uma assumida variável estruturante da nova cosmogonia. De feito, mais odiosa que um mero acto, estende a sua esfera em África, onde as populações desarmadas se sentem abandonadas por todos os homens que renegaram todos os elementos fundamentais da ética humana.

Lisboa, 13 Junho 2009

KWAME KONDÉ
(Intelectual Internacionalista Cidadão do Mundo)
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quinta-feira, 11 de junho de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO QUADRAGÉSIMA QUINTA:


Para Principiar:

A emergência da África homicida é uma responsabilidade de Porvir. Compreender para explicar e tratar as problemáticas relevantes do nosso Continente passam pela equação de uma infinidade de variáveis. Isto exige e necessita, ipso facto, um hercúleo trabalho de reflexão e de implantação de propostas acerca do nosso devir colectivo. Deste modo, aliás, no âmbito desta dinâmica, ora enunciada, lançar um olhar, sem complacência, sobre a história africana e sobre a sua alma profunda devolve duas imagens contraditórias, designadamente:
-- Por um lado, uma imagem “papão” e funesta restituída pelos médias de massa;
-- Por outro, a portadora de esperança e selo de dignidade inspirada da maat faraónica e da mogoya bambara.
A despeito dos imensos desafios e reptos, despontam no horizonte, sinais anunciadores de renascimento. Renascimento tanto mais possível, pois que a “Mundialização”, apesar dos efeitos negativos, oferece a oportunidade e o ensejo para a construção de um outro destino e desígnio respectivo com a condição de se adaptar, resistindo, com uma eficácia consequente.
De consignar, que esta dupla dinâmica ora enunciada, na aparência, assimétrica, visa um único objectivo: O reforço solidário. Este, por seu turno, não é uma ideologia, ainda menos, uma concepção congelada. De feito, o uso, os contextos e as experiências conseguidas em África e algures fixarão as regras e o modo de funcionamento. Este se deseja evolutivo e aberto, pois que a sua essência, de fundo e primordial é inspirar para a acção.
Trata-se, enfim, de uma oportunidade de transportar solidariamente uma ambição inovadora, melhor adaptada aos egrégios desafios/reptos da nossa época. Por outro, não poderia, aliás, pôr em causa as identidades nacionais robustas. Muito, pelo contrário, abre-lhes uma outra avenida menos caótica. Ainda por cima, coloca ao seu serviço um poderoso vector de alerta/aviso da consciência africana e da democratização, na sua assunção, mais elevada e genuína, da própria governação.

(1)
Durante, mais de meio século, aproximadamente, a África viveu numa miragem de certezas quase instintiva cuja a mais distinta corresponde à noção do “cada um por si”. De feito, um tal individualismo, ingenuamente mais confiante, edificado sobre as bases de uma ascensão, mais célere, releva de uma ilusão evidente, tanto mais que cria as condições para um exercício absoluto do poder.
Esta visão ilusória, assaz redutora, conduziu ao impasse institucional e à inércia, ao naufrágio económico, à exacerbação da fragmentação territorial e a desigualdades intra nacionais e inter-regionais.
Engendrou, por outro, com efeito, um contexto inédito em África, onde se telecopiam desafios avultados e apreciáveis de natureza e de escala dissemelhantes. Eis porque, se afigura, quão difícil restituir os múltiplos efeitos e interacções respectivas oriundos, como corolário lógico, de tais reptos, que participam de uma idêntica mecânica global da derrota/falência/ruína generalizada.

(2)
Donde, para responder a estes desafios, concomitantemente, estratégicos e urgentes, em tempo útil e oportuno, com uma eficácia, quão assumida, requer muita audácia, vontade férrea e humildade respectiva. Não se trata menos que de pôr em causa, o nosso modo de ver, de actuar, agindo e de prosseguir sobre o longo prazo para crer, acreditando em futuros, assaz melhores. O que supõe, aliás, obviamente, a assunção em nosso proveito, da acertada visão do conceituado filósofo alemão (um exímio historiador do gnosticismo), HANS JONAS (1903-1993), ou seja: “a responsabilidade para outrem”. O que significa, acima de tudo, que devemos ser dextra e abertamente audacioso (s) e determinado (s) e dar a voz a vontade para falar, o mais eloquentemente possível.

(3)
Não há dúvida nenhuma, efectivamente que é possível, renascer das cinzas, dotando-se de ambições vastas e amplas, aliando o progresso social à prosperidade económica e “governá-las doutro modo, aliás”. A este respeito, uma governação baseada na edificação de novas territorialidades concertadas e aprazadas e, outrossim e, ainda, uma restauração completa da integralidade das novas conexões com a comunidade internacional, abre, ipso facto, uma outra avenida portadora de esperança.
De feito, se impõe sublinhar, que as demagogias incessantemente destiladas nos precipitaram numa anfractuosidade abissal. Donde e daí, urge desarraigar do declive da decadência, propondo uma alternativa apta a responder, com eficácia aos desafios/reptos convergentes que interpelam a África contemporânea.
No fundo, no fundo, hoje mais que nunca, temos necessidade de ter coragem assumida, quite para virar de baixo para cima, assertivamente as verdades impostas pelo pardo tempo, o mimetismo cego e o conformismo contra-produtivo.

(4)
E, finalmente, em jeito de remate assertivo: Uma nova África é necessária. Deve ser, obviamente a filha eleita de uma vontade comum, esteando, numa robusta convicção partilhada, de uma visão estratégica luminosa e, outrossim, de uma definição judiciosa das respostas coordenadas aos desafios/reptos e às ameaças respectivas susceptíveis de as de levar de vencida, se não forem domadas e, bem assim, as barragens, as mais betonadas possíveis. Eis, sim, efectivamente, o sentido da restauração e renovação, a levar a cabo, ao serviço da esperança e da grandeza africana.
Constitui, seguramente, outrossim, uma forma inteligente de se revoltar e de fazer uma introspecção apropriada a respeito dos nossos percursos, assaz caóticos.
Na verdade, são os fundamentos, ora enunciados que outorgam o nosso Continente, o berço da Humanidade e, outrossim e, ainda berço da Escrita, uma oportunidade única de transportar colectivamente uma ambição prestigiante, acelerar as indispensáveis mutações estruturais e, quiçá poder desempenhar um papel fulcral à altura da sua real dimensão e envergadura respectiva, no âmbito da História da Humanidade.

Lisboa, 10 Junho 2009
KWAME KONDÉ
(Intelectual Internacionalista — Cidadão do Mundo).
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segunda-feira, 8 de junho de 2009

DE DEUS E DO HOMEM

Descoberto há cerca de 26 anos, mas só este ano dado a conhecer ao público, Ida, baptizado de Darwinius masillae em homenegem aos 200 anos de Charles Darwin completados este ano, é um fóssil de um vertebrado em tudo semelhante aos mamíferos, e sobretudo ao homem: tem quatro membros (embora o membro de trás e esquerdo não tenha sido encontrado) terminados em 5 dedos sendo um deles o polegar; a coluna vertebral bem como o tórax e a bacia fazem lembrar a anatomia humana; e a cabeça com os maxilares um pouco salientes à frente aproxima-se na sua conformação à dos hominídeos e primatas mais antigos de que descendemos.
O mais espantoso aqui é saber que Ida foi datada de 47 milhões de anos (de idade).

Isto dá que pensar. Muito. Pensar em Deus. E pensar nas várias religiões que o homem entretanto inventou em nome de Deus.

Deus meu!
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KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO QUADRAGÉSIMA QUARTA:

(…)
“Deixemos de histórias: toda a gente sabe que
os cabo-verdianos, negros, mestiços ou de pele branca,
são africanos de uma colónia africana de Portugal.
Para aqueles que porventura não saibam onde fica
Cabo Verde basta que olhem bem para um mapa.
Para aqueles que não conhecem Cabo Verde, basta
dizer-lhes que a sua população é constituída de 97%
de negros e mestiços e apenas 3% de gente branca,
Incluindo os europeus”. (…)
“Mas não é demais lembrar que a população de
Cabo Verde provém fundamentalmente de escravos
levados da Guiné e da costa ocidental africana”. (…)
“É bom afirmar sem rodeios que, mesmo que em
Cabo Verde houvesse uma população nativa cuja maioria
Tivesse pele branca, como acontece nos países da
África do Norte (Argélia, Marrocos, Tunísia, etc.) os
Cabo-verdianos não deixariam de ser africanos”. (…)
Extractos respigados do Manifesto (Carta Aberta) “Aos Cabo-verdianos residentes na República do Senegal”, da autoria de
Amílcar CABRAL, vindo a lume no ano de 1961.

(II)
“J’appartiens au grand jour”proclama eloquente e veementemente o Poeta camaronense/camaronês, Paul DAKEYO (Doutor em Sociologia, identicamente Editor), nascido no ano de 1948, um dos críticos mais ácidos da Négritude de SENGHOR.
No entanto, o que mais importa, obviamente, é que, na verdade, para além do essencialismo das teorias raciais e da ilusão da solidariedade vinculada à cor suposta da pele, existe, sobretudo a activa e imparável erosão do tempo que passa. Donde e daí, a pertinência das questões seguintes:
--- Com efeito o que existe entre a filosofia de vida da multimilionária afro-americana de Chicago, a OPRAH WINFREY e a das senegalesas emigradas que vendem bibelots nas ruas de Nova Iorque ou de Dacar?
--- Outrossim, o que existe de comum entre um Barach OBAMA (nascido de um pai queniano, que praticamente não conheceu) e de uma mãe norte-americana do Kansas, que o educou no Hwai e na Indonésia e os seus irmãos e sobrinhos de Nairobi, que nem sequer ele sabia da respectiva existência e com os quais jamais manteve relações familiares?
--- Enfim, o que significa a biologia num mundo, onde o negro e o branco se declinam numa paleta infinita de cores?
E, concluindo avisadamente, na verdade, o mito da homogeneidade racial do mundo negro e das visões do Mundo, que supostas daí emanam não resiste à análise, e, por que não, outrossim à uma exegese objectiva.

E, prosseguindo, dextramente esta nossa elocubração, se nos afigura pertinente, consignar, que os Africanos actualmente são amiúde, autênticos cidadãos do Mundo, mesmo quando não abandonaram o seu território de nascimento. E, explicitando um pouco melhor as nossas ideias, temos que:
-- Deste modo, eis porque, os progressos tecnológicos e os desenvolvimentos da comunicação permitem (doravante, de hoje em diante, para o porvir) a camponeses cabo-verdianos conhecer, concomitantemente, as decisões e comportamentos respectivos dos agricultores zimbaubianos ou indianos.
-- Identicamente, os estudantes camaronenses podem acompanhar através da Internet todos os cursos de economia que ministram os professores do Massachussetts Institute of Technology em Bóston.
-- Enfim, militantes dos direitos humanos no Gana podem seguir praticamente em directo nas cadeias de televisão, a evolução da situação política no Darfur ou na Etiópia.
Na verdade, verdade, o Mundo se encontra, realmente, muito, muito mais, mesmo, acessível que há meio século atrás. E, como corolário lógico de tudo isto, os nossos imaginários extraem, muito mais que não se acredita, no património filosófico desse Mundo, de que todos nós, sem excepção, fazemos parte integrante, absolutamente. Eis porque, a Négritude, como filosofia de vida não poderia, hoje, nos nossos dias, ser o que fora outrora, por motivos óbvios.
Aliás, é no âmbito desta dinâmica e perspectiva respectiva, que o insigne historiador camaronês, Achile MBEMBE (n-1957) fala de um “afropolitanisme” que designaria a emergência de uma nova sensibilidade cultural, histórica e estética, da “conscience de cette imbrication de l’ici et de l’ailleurs, la présence de l’ailleurs dans l’ici et vice versa, cette relativisation des racines et des appartenances primaires, et cette manière d’embrasser, en toute connaissance de cause, l’étranger et le lointain, cette capacité de reconnaître sa face dans le visage de l’étranger et de valoriser les traces du lointain dans le proche, de domestiquer ‘in-familier, de travailler avec ce qui a tout l’air des contraires ».

Eis porque, como milhões de demais outros Africanos, sentimos sobremaneira, o herdeiro desta longa tradição de permutas que invalida todo feitichismo (idolatria/veneração) biológico e racial. De feito, não há dúvida nenhuma, que as civilizações não são partículas químicas estanques. Dito isto, algumas gerem melhor o processo de fusão absorção do que outros. Destarte, aliás, ninguém diria, por exemplo, que a China já não é “chinesa” porque, em cinco mil anos de história, integrou costumes e hábitos da Ásia Menor ou do Japão.
Na verdade e, na realidade, a imbricação do aqui e do algures em cada um de nós é um facto óbvio e inegável, porém, não se opera com idêntica intensidade, por toda a parte, e, os seus resultados não são, ipso facto, uniformes. Demais, por motivos e razões assaz óbvios, o fenómeno que consiste em se fundir em culturas oriundas de algures não atinge toda a gente e, decerto, não em idêntico grau. E de resto, aliás, se todos os cidadãos tivessem os mesmos backgrounds culturais, acabaríamos rapidamente por tornar idênticos. Deste modo, no âmbito desta dinâmica, a mestiçagem cultural já não teria razão de ser.

Donde e daí, como remate pertinente, definimos, por conseguinte, como autêntico cidadão do Mundo, obviamente, porém, Cabo-verdiano/ Africano, a despeito de tudo. Sim, efectivamente, é a partir da perspectiva desta “africanidade” sincrética que agimos, actuando, o mais conscientemente possível, outrossim e, ainda, observamos os nossos semelhantes e interpretamos os seus Pensamentos respectivos.
Lisboa, 05 Junho 2009

KWAME KONDÉ
(Intelectual Internacionalista - Cidadão do Mundo).
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ELEIÇÕES?

Disseram-me que ontem houve eleições.
Vou já ler a imprensa a ver se é verdade.

BOM DIA
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sexta-feira, 5 de junho de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO QUADRAGÉSIMA TERCEIRA:

(I)
--- O vocábulo/lexema “Négritude” é, na verdade, destes termos/expressões que embotaram, adormentando pela sua própria história. Eis porque, se afigura prudente, se esforçar por precisar os seus contornos respectivos, antes de o utilizar.
--- Vindo a lume, pela primeira vez, sob a pena do poeta e dramaturgo antilhano, Aimé CÉSAIRE (1913-2008), no longínquo ano de 1935, num famigerado artigo da revista L’Étudiant noir, designava, sobretudo, um movimento literário e político. Procurava exprimir “l’ensemble des valeurs culturelles du monde noir”, segundo o intelectual senegalês Leopold Sédar SENGHOR (1906-2001) e de se servir dessas como alicerce para a revalorização da humanidade contestada dos povos negro africanos.
No fundo, no fundo, definia, por conseguinte, concomitantemente, uma atitude de orgulho filosófico e a nervura intelectual de um movimento político de reconhecimento de um povo oprimido, se encontrando, na época ainda, sob o domínio colonial. Deste modo, impossível, aliás, se afigura avaliar o impacto da négritude sem a re situar no contexto da sua peculiar génese histórica.

--- Os seus prosélitos inscreviam, demais a sua acção respectiva no rasto de uma vetusta tradição negra americana de dissidência e de valorização de uma identidade achincalhada pelo Tráfego dos Negros e a escravatura. Donde e daí, o vocábulo “Négritude”, estandarte desta revolta, recuperava a Ideia de Blackness, já em voga nos escritos de autores norte-americanos, designadamente o poeta, novelista, dramaturgo, contista e colunista, Langston HUGHES (1902-1967) e o escritor engajado, aliás, sem dúvida, o maior romancista norte-americano, Richard WRIGHT (1908-1960) e, de demais outros animadores da Harlem Renaissance.
Vale a pena abrir um breve parêntese para elucidar acerca da Harlem Renaissance: Trata-se de uma expressão oriunda do nome do célebre bairro negro de Nova Iorque e que ia ser ulteriormente o título de uma antologia The New Negro (1925) dirigida pelo escritor, filósofo e pedagogo norte-americano, Alain LeRoy LOCKE (1885-1954), congregando textos de intelectuais e artistas negros que pretendiam apresentar aos olhos do mundo uma amostra da efervescência cultural e da liberação do imaginário negro norte-americano.

--- De feito, de sublinhar, que a “Négritude” era, por conseguinte, na sua génese e origem respectiva, um vector de reapropriação da dignidade dos povos oprimidos.
Assim, no âmbito desta perspectiva e contexto respectivo, o filósofo, romancista e autor dramático francês, Jean-Paul SARTRE (1905-1980), ao prefaciar, no ano de 1948, a Antologie de la poésie nègre publicada por SENGHOR, se exaltava arrebatadamente ante esta tomada de palavra por pessoas a quem tinha sido, durante bastante tempo, imposto uma mordaça, afirmando com uma adorável ingenuidade: “La poésie noire est angélique, elle annonce la bonne nouvelle; la négritude est retrouvée”.
Todavia, o que é facto, em se posicionando como um movimento de resposta ao domínio branco, a Négritude assentava na visão idílica e sumptuosa de um mundo negro que, na realidade, jamais existira. Eis porque, a Négritude como mera rejeição do sofrimento e exaltação da alegria de dançar e de reivindicar a “personalidade negra”, permitiria, obviamente, aos novos leaders políticos e elites africanas se ofertar um lugar ao sol. No entanto, se afigura percuciente consignar, que exactamente porque se focalizava sobre a questão racial, sonegava, por exemplo, os problemas de classes.

--- De sublinhar, que no término da década de 1960, CÉSAIRE se esforçara por repor a Négritude no seu verdadeiro contexto histórico, insistindo no seu papel de conexão entre grupos de populações, partilhando uma história comum plena de sofrimento e de humilhação: “C’est un mouvement qui affirme la solidarité des Noirs de la Diáspora avec le monde africain. Vous savez, on n’est pas impunément Noir, et que l’on soit Français – de culture française - ou que l’on soit de culture américaine, il y a un fait essentiel : à savoir, que l’on est Noir, et que cela compte. Voilà la négritude. Elle affirme une solidarité. D’une part dans le temps, avec nos ancêtres noirs et ce continent dont nous sommes issus (cela fait trois siècles, ce n’est pas si vieux), et puis une solidarité horizontale entre tous les gens qui en sont venus et qui ont en commun cet héritage. Et nous considérons que cet héritage compte ; il pèse encore sur nous ; alors, il ne faut pas le renier, il faut le faire fructifier – par des voies différentes sans doute – en fonction de l’état actuel – et devant lequel nous devons bien réagir » ( Entrevista concedida ao Magazine littéraire, 1969).
Por conseguinte, a Négritude, se assume, como relevadora de uma experiência particular de vida peculiar a povos disseminados através da África, das Caraíbas, da América e da Europa. A Négritude assume, outrossim e, ainda, como revelação de um património de Humanidade que vários séculos de uma história ensanguentada não apagaram completamente. Enfim e, em suma: A Négritude se assume, como um aggiornamento filosófico necessário para a restauração de um imaginário ofendido e ferido pelas injustiças da opressão, porém, sempre capaz de se reinventar para fazer frente (opondo-se) às necessidades e às urgências do momento.

Lisboa, 02 Junho 2009
KWAME KONDÉ
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terça-feira, 2 de junho de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO QUADRIGÉSIMA SEGUNDA:

Não há dúvida nenhuma, et pour cause, que, efectivamente, uma ideologia do gratuito se difundiu estes derradeiros anos entre os jovens, pouco ou nada acostumados a pagar para conteúdos, de molde, que assumiram o hábito de adquirir em linha sem pagar. Todavia, o fenómeno vai muito mais longe!
De feito, a gratuidade tornou um dado do marketing. Eis porque, doravante (para o porvir), os jornais gratuitos se encontram inscritos na paisagem – apagando aos olhos de muitos leitores, pelo facto, que o fabrico da informação possui um custo/preço. E, por outro, no âmbito desta dinâmica, rádios e televisões (fora renda e ou assinaturas) fornecem conteúdos gratuitos desde há já bastante tempo.
Outrossim e, ainda, no entanto, os telefones portáteis comprados ao desbarato, identicamente a possibilidade de telefonar gratuitamente via Internet ou o livre acesso à uma infinidade de serviços, a principiar pelos conteúdos dos jornais na Internet, instalaram a ideia de gratuidade na paisagem.

De anotar, que actualmente, comerciantes hábeis instalam “gratuitamente” distribuidores de bebidas em todas as empresas, o que lhes traz bastante na venda de cafés, sodas (bebidas gaseificadas), doçarias e confeitarias. Impõe, sublinhar, porém, que em todos estes casos, não deixa de ser difícil, contudo, de se poder falar de verdadeira gratuitidade, mas sim, antes de uma subvenção para a compra, deslocação do custo de um produto num outro (cross-subsidy).

Não há dúvida nenhuma, que presentemente, o consumidor tem, na verdade, acesso, via Internet, a produtos e, sobretudo, a serviços gratuitos. De feito, a gratuitidade não cessa de se estender, sem mesmo, que os internautas possuam recurso à pirataria. Eis porque, os jornais, tais como, o New York Times ou El País, experimentaram fazer pagar uma parcela dos seus respectivos conteúdos em linha, acabaram, quase todos, por renunciar a esta ideia.
Assim, apenas títulos económicos e financeiros, cujas as assinaturas, pagas, frequentemente, pelas empresas aos seus assalariados, continuam a manter uma pequena parcela da sua oferta pagante. Donde, temos então:
---Google, Yahoo! Orange e a maior parte dos fornecedores de acesso e dos motores de pesquisa na Internet propõem sistemas de recovagem, possibilidades de stockage dos dados, planos e cartas geográficas (Google Earth) e dezenas de demais outros serviços… para nada.
---Cada vez mais e mais, os softwares e serviços informáticos (sistemas de exploração, tratamentos de textos, espátulas/paletas gráficas, softwares de retoque de fotografia, tableurs, etc.) estão disponíveis gratuitamente no mundo do open source, em que o célebre Linux é o sistema de exploração, o mais temível para a supremacia do império Microsoft.

Segundo estudiosos conceituados, no âmbito desta problemática, em análise e estudo, os custos na Internet tendem para zero, ou seja: “tudo que toca o numérico evolui para a gratuitidade”. Explicitando, adequadamente, na realidade, cada vez mais e mais, produtos e serviços serão gratuitos, porquanto com a Internet se passa da escassez à fartura/superabundância e se reduz radicalmente os custos marginais de fabrico e de distribuição. Feito que leva as empresas a oferecer gratuitamente uma enorme parcela dos seus bens e serviços e a encontrar algures (noutro lugar/noutra parte) fontes de provento/proveito.
No fundo, no fundo, numa economia do mercado, alguém acaba sempre por saldar a posse. Eis porque, primeiro que desenhar um porvir, se assemelhando a um Natal permanente, onde só haveria presentes para toda a gente – aliás, quem poderia acreditar neste milagre humano? -melhor vale, sem dúvida nenhuma, se lembrar que o lucro permanece a finalidade das empresas.

E, em jeito de ilação assertiva, na verdade, a tese, ora enunciada, nos ajuda a compreender que o universo numérico abriu uma reconfiguração profunda do mundo do marketing. Por outro, o efeito Gillette se encontra enormemente desmultiplicado, porém, afinal de contas, se afigura, sobremaneira necessário que alguém pague e, que algum outro ganhe dinheiro, evidentemente.
Enfim e, em suma: Opostamente, às canções de
Embalar, afáveis, de alguns sonhadores/irrealistas, não reconstroem, um certo sonho, deveras utópico e, outrossim, não constitui, de molde nenhum, o universo, onde cada qual dispõe de tudo, a título gracioso, quiçá, “consoante as suas reais necessidades”. Todavia, de consignar, com ênfase, que a Internet, tendo em conta o modelo de sociedade vigente, que, numa assunção, a mais estulta possível, privilegia o ter em detrimento do Ser é, de feito, um outro modo de ganhar dinheiro (fresco), muito, muito dinheiro mesmo, absolutamente.

Lisboa, 30 Maio 2009
KWAME KONDÉ
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