sexta-feira, 29 de abril de 2005

FÉRIAS

Por motivo de férias este blogue não terá postas novas até daqui a duas semanas.

Passar bem.

quinta-feira, 28 de abril de 2005

PACIÊNCIA

Pedro Pires passou ontem por Lisboa onde foi instado a falar sobre a proposta de integração de Cabo Verde na União Europeia. E falou. Mas não falou. Porque não disse qual era a sua posição sobre essa proposta.

E o importante era saber isso e não outra coisa.

Interrogado sobre a questão, a única coisa que conseguiu fazer foi dar uma notícia: a de que o Governo de Cabo Verde está a negociar uma parceria especial com a União Europeia, na senda, aliás, – acrescentamos nós – de outras parcerias já negociadas com o Governo português e com grupos empresariais portugueses. Sem que isso signifique mais nada senão negócios, pois, segundo o jornal Voz di Povo o Presidente terá dito que Cabo Verde «está a trabalhar para "estabelecer com a UE uma parceria especial que permita ao país financiar o seu desenvolvimento».

À Pergunta concreta sobre a proposta de integração, acreditando no que escreve o mesmo jornal, Pires terá considerado essa proposta um elogio para o seu país, mas observou que «até lá muita água vai passar por baixo da ponte».

Isso todos nós estamos mais que fartos de saber: a proposta de Adriano Moreira, como, aliás, escrevemos mais abaixo, em 12 de Fevereiro de 2005, constitui «um tema de grandíssima importância e bastante melindre - tema para mais que uma geração discutir, interiorizar, promover, decidir, negociar e concretizar - cabe, sem a mais pequena dúvida, ao Presidente da República falar à nação e marcar a agenda da sua discussão pública.»

O que seria necessário, portanto, era que Pedro Pires tivesse alguma coisa a ver com essa "água". Mas ao que parece quer apenas vê-la passar debaixo da "ponte". É, sem dúvida, uma posição cómoda que não esperávamos dele.

Paciência!...

Nota: Tínhamos já dito que não voltaríamos a falar de Pedro Pires quanto a esta questão. Mas não podíamos deixar de quebrar essa promessa quando constatámos que a sua posição, para já, não é nenhuma.

quarta-feira, 27 de abril de 2005

AI DJARFOGO, DJARFOGO

Na Ilha do Fogo há noites magníficas iluminadas apenas pela luz das estrelas. Vou lá estar a partir do dia 30 deste mês para, olhando o céu estrelado e conversando com minha mãe, relembrar as noites em que ela, passeando-me ao colo pelo pátio da nossa casa, cantando baixinho uma canção de embalar, me ajudava a conciliar o sono enquanto lá em cima as estrelas me fascinavam com o seu brilho.

– Xô, piegas! Pára lá com esta redacção da quarta classe! Não seria melhor falares dos amigalhaços que lá te esperam para juntos beberem um bom copázio e curtirem uma boa paródia, em vez de andares por aqui a relembrar essas coisas?

– Pois é: talvez fosse melhor falar desses amigos. Mas o fascínio daquele céu… o calor daquelas noites… o silêncio, o silêncio daquela terra austera e mãe de todos nós… Como não relembrar isso com saudade?

domingo, 24 de abril de 2005

MAIS DESCRÉDITO PARA A GUINÉ

Na Guiné-Bissau, ao que parece, qualquer bicho-careta pode ser Presidente da República.

Se assim não fosse como se entenderia que já hajam 21 candidatos – vinte e um – com candidaturas regularizadas para as próximas eleições presidenciais?

É o que eu digo: como pode um território desses aspirar a ser tratado como País pela comunidade internacional?

Enquanto não acabarem com essa chacota pegada que é “a política à moda da Guiné” não sairão da cepa torta e não abandonarão o lugar de País mais atrasado do mundo.

Ao que tudo leva a crer há dois candidatos que discutirão entre si o lugar de Presidente: o doido e bêbado Kumba Ialá, por um lado, e o acusado de assassínio e corrupção, Nino Vieira, por outro.

Parece que Kumba Ialá tem mais hipóteses de ser eleito por pertencer à etnia balanta que é aquela que predomina no e domina o exército local; Nino é pepel (ou papel, como se diz em português) mas também conta com apoios numa facção do mesmo exército. Mas o comandante supremo do exército é um antigo companheiro de armas de Nino a quem Nino mandara em tempos condenar à morte e o qual jurara, após ter-se escapado ao fuzilamento, que um dia haveria de matar Nino Vieira.

Como se pode antever, o futuro da Guiné será radiante.

sábado, 23 de abril de 2005

quinta-feira, 21 de abril de 2005

EURO CABO VERDE?

Porque este blolgue passou a ter um número significativo de leitores em Cabo Verde, publico o seguinte convite cuja divulgação me foi pedida:

«Convite

É convidado para a tertúlia "Adesão de Cabo Verde à União Europeia – Que Alternativas?", no dia 25 de Abril de 2005 (2ª Feira!), às 19:00 Horas, na sede da AMARCV -Associação dos Marítimos de Cabo Verde (na Laginha, no edifício onde funcionava a EMPA, ao lado da Alfândega)

De entre os objectivos desta reflexão pela causa da cidadania: 1. Contribuir para a elucidação e o posicionamento inteligente, racional, idóneo e descomplexado do cidadão. 2. Envolver os cidadãos na tomada de decisão sobre o destino de TODOS e de cada um de nós. 3. Contribuir para o envolvimento de todos os cidadãos interessados sobre o tema.4. Contribuir para desmistificação de “tabus” e a consequente “desdogmatização” e a libertação de “consciências”!

Organização: Uma série de curtas comunicações de conceituados de intelectuais, seguidas de debate!

Antecedentes: Há cerca de dois meses cidadãos portugueses proeminentes promoveram uma petição cuja finalidade é a adesão de Cabo Verde à União Europeia. A reacção da comunidade cabo-verdiana à esta petição, no geral, tem sido de expectativa do posicionamento do Presidente da República ou do Governo. Alguns avançavam a necessidade de um referendo.

Motivação: Mas onde fica a sociedade cabo-verdiana? Será que a capacidade de pensar e de agir de vários milhares de quadros superiores e intelectuais, é ofuscada e inibida pela sapiência e o “saber fazer” dos governantes? Salve um ou outro posicionamento individual, quer para apoiar ou para contrariar, no geral argumentando-se mais na paixão e menos na razão, algumas vezes com uma fundamentação discutível, não devem ser tomadas como o posicionamento desta sociedade. Fica claro que a comunidade cabo-verdiana no geral, parece não querer a “chatice” de se assumir “crescida”. Os “outros” que resolvam o seu problema: ela faz-se passar de “coitada” que precisa de “apoio”! (Duas palavras malditas que precisam ser banidas do vocabulário das ilhas)!

O destino de Cabo Verde (o isolamento, as alianças, a integração, a adesão ou não em zonas ou regiões, económicas ou políticas, é um assunto primariamente dos cidadãos e não devia ser deixado ao critério de alguns governantes ou figuras políticas… que normalmente funcionam na lógica da conveniência “partidária” ou, posto de outro forma, no “assalto” ou na “manutenção” do volante da máquina do Estado.

A sociedade cabo-verdiana não pode continuar no absentismo da cidadania. A cidadania, como a democracia, carece de ser exercida continuamente e nos assuntos maiores: chega dessa dita democracia exercida esporadicamente e em regime “part time” …que muito convêm a nobreza partidária e a realeza governamental!

A sua acção!

· Venha e Traga as suas certezas, dúvidas, opiniões, sugestões. Compartilhe com outros para construir uma sociedade mais esclarecida, actuante e saudável!

· Reenvie "Faça forward" para eventuais interessados. Convide outras pessoas.

· Agradecia que informasse o seu interesse (ou a sua indisponibilidade) em participar nesta iniciativa.

· Caso pense que esta iniciativa é pertinente mas pode estar fisicamente presente, favor envie os seus comentários e sugestões para um dos seguintes endereços: antoniosilva_cv@homail.com, antoniopsilva_cv@yahoo.com, silvapedro@hotmail.com, Fax: 2324584, Telefone: 2324148.


António Pedro Silva»

terça-feira, 19 de abril de 2005

NOTÍCIAS

Eis uma notícia saída no jornal “VozdiPovo-Online”:

«O presidente da Associação Nacional dos Municípios de Cabo Verde (ANMCV), Américo Silva, advogou quarta-feira a integração plena e não um mero estatuto especial do seu país junto da União Europeia (UE) como pretendido pelo governo do arquipélago.

"Hoje a Europa tem um desenvolvimento bastante bom a todos os níveis, e Cabo Verde pode aspirar a esse nível de desenvolvimento", declarou Américo Silva que igualmente preside à Câmara Municipal do Paul, na ilha de Santo Antão.

O autarca falava momentos antes de deixar o país à frente de uma delegação da ANMCV com destino ao arquipélago português dos Açores, para participar nas jornadas autárquicas das Regiões Ultra-Periféricas da União Europeia, de Portugal e de Cabo Verde.

Neste momento, disse, há um ambiente favorável à integração de Cabo Verde na UE pelo que os autarcas cabo-verdianos esperam conseguir a influência e o apoio das suas congéneres dos outros arquipélagos.

Segundo ele, a Associação dos Municípios Portugueses já manifestou publicamente esse apoio. "Nós queremos que Cabo Verde esteja cada vez mais em condições de usufruir também daquilo que são as vantagens da União Europeia", precisou.

Para o autarca, a grande preocupação que a ANMCV leva para o encontro dos Açores é o acesso de Cabo Verde aos fundos europeus, uma vez que até agora o arquipélago "tem estado a beneficiar sobretudo de acções de formação, de estudos, de projectos, mas não de obras físicas".

A possibilidade de Cabo Verde aderir à UE foi avançada em Lisboa, há cerca de um mês, numa iniciativa do ex-Presidente português Mário Soares e do académico Adriano Moreira, quatro anos depois de o governo cabo-verdiano ter adoptado como sua prioridade a obtenção do estatuto de parceiro especial da organização comunitária.»

Fonte/Nota: PANAPRESS - www.panapress.com

Nota: O meu obrigado a Carlos Pires pela chamada de atenção para esta notícia.

domingo, 17 de abril de 2005

CHEGOU POR FIM A AMEAÇA

Acabo de receber, por e-mail, esta ameaça de Germano Almeida.


«Sei que será lamentável, mas foi você que começou. Mantenhas GA»

LÁ VAI PUBLICAÇÃO

Na sequência do texto "O EDUCADOR DO POVO" que publiquei mais abaixo (clique aqui e leia esse texto antes de continuar), Germano Almeida, como, aliás, eu já dissera, escreveu-me. Como ele insiste para que eu publique a correspondência que se gerou entre nós, é com alguma pena que me vejo forçado a fazer essa publicação pois, em primeiro lugar considero a correspondência pessoal confidencial, e por outro lado acho a publicação desta nossa "prosa" um acto um tanto ou quanto masoquista por parte de Germano.

Mas o que é que eu posso fazer quando é o próprio que insiste em ver aqui o que dissemos um ao outro?

Preparem-se então pois a coisa aqui vai.

Esclareço que o que está escrito em letras carregadas, a negrito, é o que escreveu Germano. E o que está em itálico e entre parêntesis rectos são as minhas respostas ao desvario de Germano.


PRIMEIRO E-MAIL

PARCERIA COM A EUROPA:

Caramba, salmoura, você justifica o seu nome à exaustão, levou consigo todo o sal das ilhas [mais uma boa quantidade do enxofre do vulcão do Fogo]. Mas é um erro ser tão fascistamente intolerante [aqui está um insulto gratuito e um claro sinal de intolerância] com nós outros que preferimos "PARCERIA" com a União Europeia em vez de "INTEGRAÇÃO". Você gosta mais desta que da outra? [Eu “gosto” do que o povo de Cabo Verde vier a escolher em referendo não viciado que almejo haja]. Terá as suas razões [claro, o senhor de La Palice não diria melhor], até porque tudo leva a crer que está por lá, com tempo até para blogar! [Lá porque sou imigrante aqui em Portugal acha que os portugueses me deveriam tratar abaixo da cão, isto é, diferentemente do tratamento que lhe dão a si, e que pelos vistos não deprecia, a ponto de eu não ter tempo para blogar?] Explica-as, pois, para nós coitados que somos ignorantes. Mas sem insultar, sem nome feios [olha quem fala: não começou logo por me apelidar de fascista?], deve ser um defeito que lhe ficou do passado [não se fie em palpites. Se está a referir-se ao meu passado pessoal engana-se rotundamente: pergunte por aí que há muito quem me conheça em S. Vicente, Praia e Fogo -, a começar por quem pelos vistos quer apoiar em futuras eleições e passando depois pelos mais velhos do seu partido] mas terá que ser combatido [desde que democraticamente, tudo bem], de contrário não convence nem o pessoal que está entre o sim e o não quanto mais os outros [o seu erro é pensar que se deve debater ideias para “convencer” A ou B. Deixe a quem ouve e lê a liberdade de escolher o que quer - não tente “convencer” ninguém - o cabo-verdiano não é burro. Seria um exercício mal recebido em democracia o de “convencer” as pessoas; isso faz parte do arsenal de acção política dos regimes autoritários], então não vai já para 30 anos que acabou essa estória de que quem não é por nós é contra nós? [já, já, e espero que tenha isso sempre bem presente]. Olhe, venha até Cabo Verde, promova debates para os quais terá todo o apoio, cada um defenderá as suas razões e depois veremos quem melhor convence [continua com a mania de “convencer”. Aí em Cabo Verde compete a vós promover debates; eu fá-los-ei aqui em Portugal onde vivo – ou quer retirar aos cabo-verdianos emigrados o direito ao debate a à opinião em referendo sobre essa proposta? Nem pense nisso! Senão não há como evitar que alguém lhe chame o nome feio que me chamou de início]. Mas, cuidado!, aqui em Cabo Verde não se insulta nos debates, só nos comícios [mais uma vez lhe digo: bem prega frei Tomás].

Mantenhas [para si também].

PS: Ponha o seu nome completo [Agnelo do Sacramento Monteiro], as pessoas estão a telefonar-me a perguntar quem é que me insultou [que exagero! mas se se acha insultado peço desculpas] e só sei dizer que é um anónimo que se esconde debaixo de um ASM [agora já pode dizer quem sou]. Germano Almeida

PS2: Se vier até cá [vou muitas vezes. Passarei o próximo 1º de Maio no Fogo] terei todo o prazer em oferecer-lhe uma colecção dos meus livros [aceito-a desde já e espero que cumpra a sua palavra], vai (ver) que nem todos são assim tão maus como ouviu dizer [não seja presunçoso e leviano no julgamento dos outros: de três livros seus que li, “Estórias de Dentro de Casa”, “As Memórias de Um Espírito” e “O Testamento do Senhor Napumoceno da Silva Araújo”, achei os dois primeiros medíocres. Não falei em “mau”. É uma opinião pessoal que tenho todo o direito de ter como leitor – até porque comprei os livros com dinheiro proveniente do meu trabalho. E se quer que lhe diga achei interessante o “Testamento” pela intriga]. GA 

Até sempre

ASM



SEGUNDO E-MAIL

(Germano achou que tinha erros de concordância e então substituiu-o por um terceiro email).


TERCEIRO E-MAIL

PARCERIA COM A EUROPA:

Desculpe o reenvio (do e-mail), mas como homem atento deve ter reparado em pelo menos 2 erros de concordância. GA [Já tinha dado por isso mas não ia ligar. É que segundo julgo saber a “gramática portuguesa” que você costuma usar nem sempre está disponível. Por isso esteja à vontade. Pode escrever com erros que não há problema. Já agora sempre lhe digo que também já tinha reparado que tem dificuldades em usar a pontuação. Leia Eça e Camilo que eles são excelentes exemplos de bem-escrever o Português (mais o Camilo que o Eça) e vai ver que com o tempo melhorará a sua performance. Evite ler Saramago pois que com isso pode piorar a coisa. Mas se preferir pode fazer como o outro: escreva sem pontuação, mande a pontuação toda à parte que eu depois encarrego-me de a colocar correctamente no texto; talvez assim seja melhor] Já estava a pensar, afinal o fulano é cobarde, não honra o nome da sua ilha (espreitei o blog, claro!), atira a pedrada e esconde-se sob uma sigla [esse é um defeito que tem: é preconceituoso]. Mas eis que me diz ser Agnelo Sacramento Monteiro. Muito bem, já estamos conversados e já entendo melhor a sua posição europeísta... [lá vem de novo o preconceito: como sou Sacramento Monteiro só posso ser fascista e “europeista”. Para si o apelido gera a ideologia - esta é nova e digna de um novo manual político de sua autoria que esperemos saia em breve.] Sem ofensa, palavra d'honra! Devo o meu primeiro emprego a Leão Sacramento Monteiro, governador em 65/66 [pelos vistos naquele tempo não se importava de ter «laços comestíveis com o Estado». Fico satisfeito por saber que o meu primo fascista o ajudou no passado]. E também esclareço: quando digo "fascista" não pretendo de forma alguma ofender. Infelizmente essa palavra perdeu o seu significado ideológico para passar a pejorativo, mas (pode continuar a chamar-me "leviano" e "presunçoso") tenho formação jurídica e política suficiente para saber usá-la correctamente [bom dia, senhor doutor, eu sou um antigo guarda-redes]. A sua atitude foi fascista, não aceita que outrem possa ter posição diferente da sua que considera a mais acertada de todas as outras [esta afirmação é gratuita. Não há uma única passagem do meu texto onde você pode encontrar justificação para dizer isso. Não nego a ninguém o direito à opinião. O que aconteceu foi que, estribando-se em incoerências e argumentos falsos, você construiu inevitavelmente uma falácia que eu não quis deixar passar em claro. É que ainda por cima apresentou-a ao público como se fosse uma máxima filosófica saída da mais fina e arguta elucubração. O que eu fiz foi dizer: atenção que alí há incoerência grossa. Mais nada] Aliás, conta isso sobre os seus amigos que dizem "não" quanto ao euro (?). E afirmou-o abertamente quando achou que eu deveria sentir-me grato por alguns portugueses me honrarem com a sua companhia nas mesas e fotografias [não falei em “honrar”. O que fiz foi admirar-me do facto de, recorrendo você à xenofobia dos portugueses para rejeitar a “proposta de integração”, esses xenófobos portugueses, sabendo isso, se sentem à mesa consigo e você com eles - é que aqui há qualquer coisa que não bate certo, não acha?]. Olhe que nem Salazar teria ido tão longe na afirmação da superioridade de um povo sobre outro [eu já tinha reparado que você anda a ver fantasmas por todo o lado. Espero que não seja um caso sério de delírio persecutório ou de outra patologia afim], porém, descanse que não é um exclusivo seu. Nós que nascemos e crescemos sob esse regime temos que estar permanentemente a nos vigiarmos se queremos evitar sermos surpreendidos por comportamentos do tipo: é que saem sem a gente se dar conta [confesso-lhe que eu não vivo nesse pesadelo permanente de me “vigiar”, e nisso tenho pena de si: essa “vigilância” permanente deve levar a um estado de extrema exaustão mental capaz de perturbar o raciocínio e determinar comportamentos anómalos]. Por isso discordo de si quando recusa os debates... Aliás essa é mesmo uma atitude leviana (de "leve", nada de ofensas, começamos a comportarmo-nos como se fóssemos ["fóssemos"? isto é mesmo erro de Português, não é lapsus calami] civilizados!), então ainda há dias não saiu de uma campanha em Portugal? Ou acha que o PS ganhou porque as pessoas acordaram naquele domingo e pensaram, São bons rapazes, vamos votar neles! [o que é que tem este cu a ver com as calças, sabe dizer-me? Mas deixe-me dizer-lhe o seguinte: eu fiz campanha pelo PS e votei PS – nada mau para um fascista, não é?] Debate-se para "convencer" e depois "vencer", a pequena conquista relativamente ao passado é que em democracia os inimigos são tratados por adversários [então seja coerente e trate-me como adversário em vez de andar por aí a berrar tresloucadamente que sou fascista, fascista, fascista sem saber que mais dizer].

Eu direi que uma parceria é mais vantajosa para nós, darei as minhas razões, você defende a adesão e justificará e depois as pessoas escolhem [assim já está um bocadinho melhor: «as pessoas escolhem». Mas deixe-me que lhe aponte agora qual o seu ERRO MONUMENTAL. Havendo uma “Proposta de Integração de Cabo Verde na União Europeia”, proposta formulada por personalidades portuguesas do mais alto gabarito, a qual poderá levar a um referendo em Cabo Verde, o meu amigo (posso tratar-lhe assim ou é ofensa?), na pressa de se fazer ouvir sobre essa proposta, não pensou duas vezes naquilo que ia dizer. Com efeito, falar como faz em “Parceria com a Europa”, quando o que se propõe é “Integração”, é um perfeito disparate. É que a única proposta que existe é de “Integração”. Não há proposta de “Parceria”. Portanto, se quer propor “Parceria” a referendo, terá, em primeiro lugar, que conceber, fundamentar e apresentar ao Governo de Cabo Verde e à União Europeia uma proposta nesse sentido (e sempre eu queria ver que “compagnons de route” arranjaria para assinarem consigo uma pepineira desse jaez). Andar a falar em “Parceria” antes de fazer isso é simplesmente patético, nada mais. É que não faz qualquer sentido, percebeu? A haver referendo sobre “Integração” os cidadãos só terão que responder “sim” ou “não” ao que lhes é perguntado; não podem ir para lá dizer que querem outra coisa que não lhes é proposta. De contrário seria o mesmo que alguém lhe perguntar (a si, Germano) “quer ou não casar com a Maria?” e você responder: quero casar com a Genoveva”. Percebeu? É que não bate a bota com a perdigota] E digo-lhe mais e sem paixão, até porque eu daqui nunca sairei: mesmo para os emigrantes ganharemos mais com a parceria. Leu por acaso as entrevistas do prof. Adriano Moreira e do Dr. Mário Soares? Para este último somos porta-aviões no meio do Atlântico, para o outro a Europa precisa crescer para o Atlântico. E nós caboverdianos? [trabalharemos e cresceremos no nosso porta-aviões] Você acusa-me de ter a sobrevivência garantida (por acaso não à custa dos livros vendidos em Portugal) e por isso estar contra a "integração", mas deve saber (para alguma coisa tem lhe servir ser do Fogo!) como a dignidade é importante para o nosso povo. Foi, mesmo nos tempos das grandes fomes [alto aí e pára o baile! Sobre dignidade, a mim não me dá lições. Fique com esta: o meu avô materno, Agnelo Adolfo Avelino Henriques, Administrador do Concelho do Fogo, nos anos trinta, foi mandado prender pelo Governo Colonial de então, juntamente com o meu tio avô, António Avelino Henriques, por, juntos, terem publicamente declarado a populares desesperados que aos milhares acorreram a S. Filipe clamando por uma solução para a fome: «damos um prazo de x dias ao Governo de Cabo verde para resolver a situação, findo este prazo, se nenhuma solução for encontrada, pediremos intervenção estrangeira». Na sequência dessas declarações o Governo Colonial mandou ao Fogo uma canhoneira que desembarcou um pequeno destacamento da marinha, comandado por Henrique Galvão (esse mesmo que desviou o paquete Santa Maria), o qual prendeu os dois irmãos, os encarcerou no Fortim em S. Vicente e os fez julgar em tribunal especial que os condenou: meu tio avô António cumpriu degredo em S. Tomé, e meu avô Agnelo perdeu todos os direitos políticos sendo banido definitivamente da Administração Pública e tendo sobrevivido até aos noventa e sete anos de idade sem nunca se ter curvado perante qualquer “autoridade”. Morreu em 1983 com um passaporte cabo-verdiano no bolso. Como pode ver, fui formado numa “escola” de valores que dispensa lições de quem quer que seja. Mais cabo-verdiano do que nós não há!] Reafirmo: O caboverdiano não tem condições para ser inferior! Ou pelo menos a grande maioria [na qual tem forçosamente de me incluir].
Quanto à oferta dos livros, as pessoas que me conhecem sabem que sou homem de palavra. Mas lembre-se: Se vier até cá, a S.Vicente! E já que vem para o 1º de Maio no Fogo, dê um salto a SV, não só lhe entrego os livros como promoveremos um debate público sobre adesão ou integração europeia. Claro que estaremos em posições adversas, mas é como com os meus livros, gosto de "Estórias de dentro de casa" e nem por isso do "Testamento".
Enfim, esta já vai longa, mas não posso deixar de dizer (e esperar) que seria um acto democrático publicar essa nossa correspondência no seu blog, mesmo permeado de comentários em itálico [aproveito esta “autorização” pois é assim que costumo responder aos e-mail que me mandam]. Parece-me mais justo, tendo em atenção as pessoas que leram a sua catilinária contra mim, a menos que queira ser considerado totalitário [como já deve ter reparado, esta não pega]. Ah, esquecia-me já: não tenho filiação partidária. Tenho estado do lado daqueles que acho que defendem os interesses de Cabo Verde [eu sei: ora com uns, ora com outros, ora de novo com os anteriores - é problema seu] e dos caboverdianos, vivo da advocacia, não tenho laços comestíveis com o Estado. Tenho-os recusado sempre porque quero continuar um homem livre. [Felicito-o por isso. Sem qualquer ponta de ironia]
PS: Se lhe agrada a ideia do debate, pode escolher um dia da primeira semana de Maio. Na seguinte estarei ausente [não me parece de utilidade um debate consigo nesta fase do processo. Decante as ideias, arrume-as melhor e depois debateremos se for caso disso].

Continuação de mantenhas, [para si também]. Germano Almeida

Até sempre

ASM (Antigo guarda-redes do Derby)



QUARTO E-MAIL

Acabo de abrir o seu blog. Posso confessar a minha desilusão de si? Francamente, de um desportista esperava mais. Então recusa-me o elementar direito de resposta? E quer ser democrata? Afinal terei que o considerar fascista, agora no sentido pejorativo da palavra.Terá que vir buscar os livros a minha casa. GA

[Se calhar julga que eu não tenho mais que fazer e passo por isso a vida sentado ao computador à espera dos seus e-mails para ir logo publicá-los no meu blogue.

Sei que está nervoso e impaciente por corrigir as asneiras que disse. Mas olhe que cada vez que cava mais fundo sai mais minhoca fedorenta.

Agora sim: chama-me fascista mesmo para ofender. É esta a alta noção que tem de dignidade.

Não vê a figura ridícula que faz com isso?

Chamar-me “fascista” é a mesma coisa que eu chamar-lhe (a si) galã ou bonitão – vê-se logo a desadequação do termo à personagem.

Tenha mas é juizo!

Agora uma informação: não pense que vou continuar a dar-lhe tempo de antena aqui no blogue. Eu sei que você é viciado em protagonismo. Não conte comigo para lho dar.

É que este blogue é meu.

Não é da Joana!]

sábado, 16 de abril de 2005

MEMÓRIAS DO FUTEBOL (1)


Campo da Várzea, na Praia.

O Derby tinha ido jogar com o Boavista da Praia a primeira-mão da final da Taça Casa do Leão (perdemos na Praia por 1-0 e ganhámos depois em S. Vicente por 2-0 ficando a taça em nosso poder).


(2)

Eis a Taça Casa do Leão ganha ao Boavista.
(Foto by Djibla)

(3)

Estádio da Fontinha, S. Vicente. (Foto by Djibla)

Mais um jogo do Derby com o Mindelense.

Nota: A Taça Casa do Leão era, ao tempo (anos 60), como que uma Supertaça de Cabo Verde.

quinta-feira, 14 de abril de 2005

O EDUCADOR DO POVO

Costuma se dizer que «há dias em que um homem não deve sair de casa». Pois. Também se pode dizer que "há dias em que um homem não deve abrir a boca". É precisamente isto que se pode dizer de Germano Almeida quando se lê o que ele declarou ao jornal "Expresso" e também fez publicar em Cabo Verde para rejeitar a ideia da integração de Cabo Verde na União Europeia. Aliás, Germano não disse nada. O que ele fez foi produzir argumentação coxa onde mistura o disparate puro e simples, ao ressábio e ressentimento do "preto" (a palavra é dele) a quem controlam a bagagem à chegada ao aeroporto internacional de Lisboa.

Não contente com o disparate e o ressábio acrescentou a isso uma pitada de soberba ao dizer que aquando de um futuro referendo fará campanha aconselhando o "não" à integração julgando-se assim um grande e respeitado senador cabo-verdiano a quem o povo não deixará de seguir com devoção e confiança. Rejeita a integração porque os portugueses (entenda-se os europeus) serão xenófobos. Isto é: usa a xenofobia para combater a xenofobia dos portugueses e europeus. E faz a mesma confusão que outros já fizeram: confunde Portugal com União Europeia. Fala como se o que está em jogo é a integração de Cabo verde em Portugal e não na Europa da União. É por isso que ele trouxe à baila a história das «adjacências» num exercício sem nexo e destituído de qualquer razão de ser nesta altura.

Eu não desconheço, e até já o escrevi, que há xenofobia e racismo em Portugal. Isto é um dado adquirido. Mas também há xenofobia e racismo na China, nos Estados Unidos, na Holanda, no resto do mundo.

Vamos por isso isolarmo-nos ou vamos combater a xenofobia e o racismo com as únicas armas possíveis e necessárias? - a educação, a instrução, a cultura e a convivência e cooperação entre os povos.

O que se passa é que Germano tem o seu problema de sobrevivência resolvido (pelos vistos bem resolvido) em parte graças à sua colaboração com os xenófobos portugueses. Que lhe dão notoriedade fazendo-lhe entrevistas e deixando-se fotografar à mesa com ele; que lhe publicam e vendem alguns livros medíocres que tem escrito; que reproduzem (como fez o Expresso) as sua asneiras sobre a integração de Cabo Verde na União Europeia, etc., etc.

Germano aceita que ele próprio pode conviver e tirar proveito do convívio com os portugueses xenófobos. O que Germano não aceita é que os cabo-verdianos convivam com os portugueses e tirem proveito dessa convivência. Aqui Germano age como o outro: façam o que eu digo, não façam o que eu faço.

É ridículo que alguém (nesse caso Germano Almeida) ignore o relativamente vastíssimo número de emigrantes cabo-verdianos integrados nos países de acolhimento nos mais variados cantos do mundo e defenda a teoria absurda do isolamento de Cabo Verde em relação à União Europeia. Isto não tem pés nem cabeça. É uma parvoíce como outra qualquer. E até o "preto" (a palavra continua a ser de Germano) cabo-verdiano mais imbecil será capaz de ver isso e votar pela integração de Cabo verde na União Europeia caso venha a haver (e eu sou dos que defendem que deverá haver) um referendo em Cabo verde sobre essa possibilidade.

Para finalizar quero deixar aqui uma nota de humor e dizer a Germano Almeida o seguinte: ele sabe muito bem o que quer dizer a palavra "preto" em Cabo Verde (sabe mas finge esquecer que sabe). E sabe que o cabo-verdiano, qualquer que ele seja, não se considera "preto". E é engraçado que quem se considere "preto" seja precisamente Germano, ele próprio um "moreno pintado". Ele há cada coisa que às vezes até apetece mandar certas pessoas àquela parte.

Germano andou toda uma vida de estudante a gozar as delícias de viver em Portugal; continua a gozar as delícias de ser tratado em Portugal como se fosse um escritor de verdade; e dá-lhe agora (terá bebido alguma coisa?) para cuspir na sopa. Ou pior: para c.... à saída.

Germano nunca usou o argumento da xenofobia dos portugueses para recusar uma entrevista a um jornal português, editar e vender um livro em Portugal, dizer umas larachas numa mesa-redonda ou num colóquio em Portugal. É que sempre esteve "integrado" em Portugal. Mas o que ele não quer mesmo é que os outros cabo-verdianos se integrem também. Não somente em Portugal, como ele afinal está integrado, mas na Europa.

Francamente! não há pachorra para aturar esses «educadores do povo».

Editada às 9:52 AM do dia 16/04/2005 para acrescentar o seguinte:

Satisfazendo um pedido de Germano Almeida, esclareço os leitores que ASM são as inicias do meu nome (Agnelo do Sacramento Monteiro). Antigo guarda-redes do Club Sportivo Derby de S. Vicente.

domingo, 10 de abril de 2005

NINO VIEIRA NA GUINÉ

Vou apresentar-vos a seguir uma notícia por mim comentada, com os meus comentários em itálico e entre parêntesis rectos [ ].

Regresso de Nino Vieira à Guiné Bissau

Do correspondente em Bissau da Agência Noticiosa Lusa, José Sousa Dias.

Nino Vieira foi transportado para Bissau a bordo de um helicóptero das Forças Armadas da Guiné-Conacri sem previamente ter pedido autorização para entrar no espaço aéreo guineense; daí o facto de ter optado pelo estádio e não pelo aeroporto de Bissau.

[Isto demonstra que consideração os países vizinhos têm pelas autoridades da Guiné-Bissau – ou seja: Nenhuma! Aquilo é chegar, entrar e descarregar o passageiro; não há controlo do espaço aéreo, não há fronteira, não há autoridades fronteiriças, não há alfândega, não há nada. É terra de ninguém onde a lei é feita pela vontade de cada um.]

O ministro dos Transportes e Comunicações da Guiné-Bissau, Rui Araújo, explicou ontem que ninguém pode entrar no espaço aéreo nacional sem, 48 horas antes, ter entregue um plano de voo e um pedido de autorização para aterrar à Direcção-Geral da Aviação Civil. Rui Araújo acrescentou que Nino violou o espaço aéreo guineense, o que dá ao Governo a possibilidade de apreender o helicóptero que o transportou.

[Mas ao que se sabe não houve qualquer apreensão tendo o helicóptero regressado a Conacri e tendo Nino ido pacificamente para casa de um familiar sem ter mostrado, ao menos, qualquer documento de identificação a quem quer que fosse].

Numa reunião as chefias militares guineenses voltaram ontem a manifestar a sua subordinação ao Governo, disse o ministro da Defesa, Daniel Gomes, no final de um encontro dos responsáveis das Forças Armadas com o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior.

[Que raio de País é este em que semana sim, semana não, as chefias militares têm que dizer se estão ou não subordinadas ao Governo? Sendo a Guiné um território governado (?) por um grupo de cidadãos sob tutela militar isto quer dizer que ainda os militares não estão suficientemente chateados para correr com os governantes (?) e pôr lá outros que mais lhes agradem.]

Gomes Júnior, também porta-voz do PAIGC [vejam só: o porta-voz de um partido político é também, ao mesmo tempo, Primeiro Ministro], garantiu aos jornalistas que a reunião tratou apenas de "questões da segurança geral do Estado". Recusando comentar o regresso de Nino Vieira, o ministro da Defesa afirmou que o Governo "não se preocupa" com essa questão porque "cada cidadão é responsável pelos seus actos". [E esqueceu de imediato a tal "violação do espaço aéreo"].

[Como podem ver é por esta e por outras que criticamos duramente o que se passa na Guiné-Bissau e dizemos que a (des)organização desse Estado é uma autêntica chacota. Foi também por isso que criticámos em tempo a visita do Presidente da República de Cabo Verde, Comandante Pedro Pires, àquele território. É que nenhuma autoridade máxima de qualquer País do mundo lá vai em visita oficial pois que os (ir)responáveis daquele território caíram em total descrédito internacional. - Não quero aqui lembrar que tudo isso se passa desde que correram com os cabo-verdianos da Guiné].

sábado, 9 de abril de 2005

EURO CABO VERDE (4)

Há poucos dias, numa daquelas "sondagens" que às vezes fazemos a amigos e colegas, eu "provocava-os" dizendo-lhes: «então, já sabes, qualquer dia Cabo Verde será Europa». Invariavelmente desaprovavam a ideia negando qualquer identidade a Cabo Verde para tal merecimento. Confrontados com o facto de a Turquia se preparar para fazer parte da União Europeia, todos diziam mais ou menos isto: «mas a Turquia é Europa» (!); tendo mesmo alguém dito: «a Turquia está mesmo aqui ao lado(?) e está "pegada" a nós».

Avaliem isto como quiserem.

O meu contra-argumento foi quase sempre este: olha que a Turquia fica na Ásia e está um pouco longe, mas se o argumento é esse de «estar pegado» então a China também está pegada a Portugal. E por baixo do mar - tudo está pegado a tudo afinal.

É isto: os argumentos de rejeição expendidos por aqueles cidadãos assumiam um carácter disparatado e revelavam não assentar em qualquer conhecimento minimamente aproximado da realidade.

Tenho para mim, até, que aqueles argumentos não valem por si. Que não são genuínos e verdadeiros. E que não querem exprimir o que literalmente exprimem.

Penso que aqueles argumentos escondem um outro argumento - o verdadeiro argumento - que não convém revelar: o que se baseia na xenofobia e no racismo larvar ainda há pouco tempo denunciado por alguns estudos sérios já divulgados.

Sendo importante a opinião de qualquer cidadão sobre propostas deste tipo é preciso, por isso mesmo, deixar bem claro que o que se propõe é a adesão de Cabo Verde à Europa e não apenas a Portugal. É que este ponto é muito importante e deve ficar bem claro: não se propõe a Portugal que "aceite" Cabo Verde como ilhas adjacentes (uma espécie de uns Açores situados um pouco mais a sul). A proposta é dirigida à União Europeia e exprime o desejo de Cabo Verde, integrando a Macaronésia (o conjunto das ilhas atlânticas dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde), contribuir para a consolidação desse espaço geoestratégico situado entre o bloco europeu e o bloco americano. É tão simples ou esquisito quanto isso.

Trata-se da proposição de um negócio político arriscado que pode beneficiar a Europa e Cabo Verde. Não se trata de um pedido de esmola ou da colocação de Cabo Verde em saldo.

Estou em crer que a adesão, a fazer-se num futuro ainda longe dos nossos dias, se fará mais por pragmatismo político, por geoestratégia de blocos político-militares, por interesses comerciais ou qualquer outro motivo ou razão de Estado do que por identidade cultural, por amizade, por passado histórico comum, ou qualquer coisa similar.

Cabo Verde, ao pretender aderir à Europa, terá bem presente que essa adesão será uma adesão de conveniência mútua: uma adesão que à Europa convirá na perspectiva da formação futura de um bloco político-económico-militar que se diferencie dos Estados Unidos; e que a Cabo Verde convirá na perspectiva do desenvolvimento industrial, social e humano que inevitavelmente lhe acontecerá.

É um assunto que os políticos da ambos os lados (Cabo Verde e União Europeia) saberão tratar com o pragmatismo habitual que se põe na abordagem dessas questões relegando para o baú das tralhas os maus humores, as xenofobias e os racismos vários dos povos.

E faço aqui um parêntesis para dizer que até hoje conheci apenas dois povos que na sua grande maioria não são xenófobos ou racistas. São eles: o povo brasileiro e o povo cabo-verdiano.

Mas arrumar o racismo e a xenofobia no baú das tralhas não significa esquecer que existem. É bom que esta realidade escondida seja sempre tida em conta quando lidamos uns com os outros, quando pedimos opinião, discutimos assuntos de algum melindre ou propomos reflexões sobre temas, como por exemplo o da integração de Cabo Verde na Europa, para, ao mesmo tempo que discutimos, podermos combatê-la e tentar eliminá-la pois é um cancro que rói os espíritos e os diminui significativamente.

Porque sabemos que os políticos de topo europeus dão lugar ao pragmatismo político e livram-se de preconceitos quando negoceiam;

porque sabemos que os verdadeiros intelectuais europeus ultrapassaram de há muito a fase da "superioridade ocidental" sobre os outros povos (e tem piada que Cabo Verde é ocidente e pertence ao hemisfério norte) e olham para o resto do mundo com natural espírito de equidade;

achamos que vale a pena levar avante este discussão, tentando envolver nela os políticos e os intelectuais de ambos os lados (Europa e Cabo Verde) pois só com os contributos destes dois mundos será possível fazer ver a todos o interesse mútuo da adesão de Cabo Verde à União Europeia.