domingo, 29 de abril de 2007

DESCULPEM A GRANDEZA DA POSTA

Hoje apeteceu-me homenagear o escritor Luiz Pacheco. Um escritor de que gosto muito. Uma inteligência viva. Uma independência a toda a prova. Um amante desconcertante da verdade. Um génio.

Como não tenho outra forma de o homenagear, reproduzo aqui, integralmente, uma entrevista que lhe fez Miriam Assor e que foi publicada no Correio da Manhã de 8 deste mês de Abril.

Os óculos pesam nos olhos que cegaram. À cabeceira, o jornal ‘Avante’ e um livro de José Gomes Ferreira não são bibelôs, mas companhias. Luiz Pacheco, criatura de inteligência rigorosa, de lucidez sobrenatural, um livre-pensador que disse e diz coisas que não são fáceis de serem ditas, está preso a um cadeirão, tem o robe vestido, o aquecedor ligado e uma manta para o frio não lhe magoar o esqueleto. Nasceu em Lisboa, na Rua da Estefânia, a 7 de Maio de 1925, pai de oito filhos – frutos de muitos amores, na vida escolhida, que foi dura por prazer, só fez o que bem entendeu.

O Estado Novo prendeu-o por politiquices e por ter amado menores. Frequentou o curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras e a meio mandou o curso dar uma curva ao bilhar russo. Entretanto, a Inspecção de Espectáculos admitiu-o como agente fiscal, mas sedentarismo não combinava com o seu feitio. Preferiu a situação que considera invejável: desempregado. Depois, funda a editora Contraponto onde a corrente surrealista viu muitos dos seus autores publicados. Crítico literário e cultural, tradutor, colaborou em diversos jornais e revistas, ‘O Globo’, ‘Afinidades’, ‘Seara Nova’, ‘Diário Popular’. A sua escrita caracterizada de irreverência e de poesia esbofeteou a torpeza intelectual e desafiou o lápis azul da censura salazarista. Luiz Pacheco, que, em tempos, se fez sócio do Benfica para ir aos bailes e do Sporting para ir à natação, já não dança e não aprendeu a nadar. Apesar de ter andado perto do fundo, acaba por vir sempre à tona e ao seu ritmo.


Tinha dito que não saía do lar do Príncipe Real. Afinal, enganou-se. Vive com o seu filho.

Um gajo também se engana! A vida nos lares é uma espécie de regimento. Horários. E mais horários. E eu estive em três. O pior era a convivência com os moribundos e as moribundas. Deprimente. Os tipos iam buscar os velhos às camas e espetavam com eles num buraco a que chamavam sala do convívio. Qual convívio? Convívio nenhum! Velhotes com os olhos fechados e outros que estavam nas últimas. Ah... e havia um animador que se punha a contar de um até ao número dez. Quando a gente pensava que o tipo ia fechar a goela, desatava a dizer a numeração em forma decrescente. Ele fazia coisas incríveis! Mandava pôr a mão para cima, para trás, para os lados. Eu sei lá. O último lar era muito mau. Tinha lá uma mulata que era cleptomaníaca. Roubou uma velha muito afanada e eu também fui roubado.

O Luiz é que não está nada afanado...

Eu não estou afanado? A miúda deve estar a brincar! Eu não estou nada bem. Tenho muitas doenças, talvez umas vinte e três. Agora tenho uma m. chamada incontinência. Para um gajo é muito mau andar de fraldas. Mas a vista é a pior das mazelas.

Se fosse menos teimoso já tinha sido operado.


Não conte com isso! Tenho medo. E não é da anestesia. Medo das consequências. A merda da operação pode provocar um acidente cardiovascular e já viu o que era? Dizem que é coisa muito simples, mas isso são conversas. Nessa eu não caio!

Voltar a ler não é um estímulo?

Oh miúda, eu já li muito. Nem queira saber o que eu já li. Agora é a minha filha que me lê os artigos de jornais e algum livro que eu queira ler. Ocupo o raio do tempo a ver a RTP Memória. Estou a ver coisas que nunca tinha visto. Como por exemplo, o Júlio Isidro, o Zip-Zip. Gosto de ver velhadas. Entretenho-me com o humor fabuloso do Vasco Santana, do António Silva. O Solnado é uma merda. Uma invenção. Um disparate. O Herman José é diferente. Basta ser de origem alemã para saber o que está a fazer .

O melhor aluno do Liceu Camões gosta de velhadas...

Não me faça rir. Mas fui o melhor daquela malta toda. Entrei em 1936 e fiquei lá oito anos. Sentava-me sempre na carteira da frente, porque os meus olhos já eram dois sacanas. O avô desse tipo chamado Eduardo Prado Coelho foi meu professor. Nós cagávamo-nos no gajo.

Quem eram os seus colegas?


Lembro-me do José Manuel Serra, que foi director do Teatro Nacional de São Carlos, Lobo Saias, que chegou a ministro, e outros.

Os liceus não eram mistos, portanto, miúdas não eram peras doces...

Imagine que nem podíamos chegar ao pé de uma escola feminina. Quando chegou a altura da universidade, o convívio não foi fácil. Não estávamos habituados. Pedir um lápis emprestado era cá uma trabalheira. Só para não haver contacto, deixávamos cair o raio do lápis ao chão.

Entretanto, os contactos melhoram... esteve preso no Limoeiro devido a aventuras amorosas.

Prenderam-me por razões políticas e por ter desflorado umas garotas que eram menores. Mas atenção: eu também era menor! Uma ocasião foram duas irmãs ao mesmo tempo. Foi cá uma chatice... Antigamente, rapazes e raparigas faziam o que hoje fazem, mas com a diferença: não tinham o à-vontade que existe hoje. A pílula foi a estrondosa revolução. Ouvir dizer que, até, os homens já podem tomar essa m. Eu nunca tomei. E sou contra o aborto. Hoje em dia as garotas têm muitas facilidades...!

Um rol de contraceptivos e a pílula do dia seguinte.

O que é isso? O comprimido do dia a seguir à cegada?

Sim. É contra o aborto e a favor da despenalização?

É claro! Prender moças é um autêntico disparate. Mas há malta que diz que aborta porque rejeita ter filhos indesejados. Ouça cá uma coisa: uma rapariga que se deita com um rapaz sabe do risco. E há outra malta que diz que não consegue criar filhos. Mentira. É só conversa. Eu sem cheta, desempregado, tenho oito filhos. Uma vez, fui deixar um filho à Casa Pia. Se os ‘gansos’ eram bem tratados? Coitados. Aquilo era uma miséria.

Voltando à prisão. Como era no Limoeiro?

Uma prisão para os gajos que esperavam julgamento. Havia batota que não era a feijões, mas a dinheiro. Estava lá um enfermeiro tarado que vendia penicilina misturada com água. O refeitório era umas mesas corridas e havia um tipo que distribuía a comida. Os acordos davam direito ao prato ficar mais cheio. Naquela merda havia estratos sociais. A Sala dos Menores, a Sala dos Primários, para os estreantes, a Sala Comum, que era para a maralha, e a Sala dos Bacanos, onde estavam aqueles que tinham conhecimentos fora da prisão. Como eu. Da segunda vez que estive dentro, o Artur Ramos telefonou ao pai, que era director-geral da Penitenciária e pôs-me cá fora.

Um homem que nunca gostou de regras nasceu no seio de uma família de militares...

Não venha com as perguntas feitas de casa. O meu avô materno era capitão-de-mar-guerra, engenheiro maquinista, e o meu avô paterno, coronel da artilharia, dirigiu o Arquivo histórico-militar. Eram militares, mas pareciam ser outras pessoas. Tinham boa cara. O pai do meu pai, aquando da primeira incursão monárquica, comandada pelo Paiva Couceiro, foi a Chaves dar umas bombadas nos canhões e teve de fugir. O meu pai estava a tirar o curso na Faculdade de Letras para ser diplomata, mas como aconteceu a Primeira Grande Guerra, a diplomacia foi para o galheiro. Não acabou o curso. Nem eu.

Por razões diferentes?

Sim. Os professores na Faculdade de Letras eram uns chatos. Excepto o Vitorino Nemésio (que me deu 18 valores) e o Delfim Santos. Nunca engraxei o Nemésio, eu não era igual ao Urbano e ao David. Mas espere aí, deixe-me falar do ano que antecedeu a faculdade. Em 1943, quando acabei o liceu, o meu pai disse que não tinha dinheiro para eu estudar na Faculdade. Falou com o professor João de Brito, que me deixou assistir às aulas. Eu era um aluno fantasma. Não me perguntavam nada, o que era maravilhoso. Nos intervalos ia para a biblioteca. Devorei Gil Vicente, Garcia de Resende, Fernão Lopes e outros. Por essa altura comecei a dar explicações. Portanto, aprendia e ensinava. Foi um ano em cheio! No final, fiquei muitíssimo bem classificado no exame de admissão à Faculdade de Letras de Lisboa, no Curso de Filologia Romântica, e consegui ficar isento das propinas.

Saiu da faculdade e, em 1946, foi admitido como agente fiscal da Inspecção de Espectáculos.

Aquilo era uma treta. Não inspeccionávamos nada.

Quando é que funda a editora Contraponto?


A editora começou a funcionar em 1951, logo depois do primeiro número da revista. Nasceu no ensaio de uma terceira via e só tinha um critério: os gajos do Estado Novo não podiam entrar. Vivia um bocado à mercê do facto de eu e o Jaime Salazar sermos amigos. Quando foi publicado o ‘Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano’, de Mário Cesariny, o Jaime ficou f. Pensava que a editora era só para ele. Mais tarde, o mesmo aconteceu com Cesariny, quando Herberto apareceu. Razão tinha o Gaspar Simões em chamar- -me ‘O sacristão do Surrealismo’, por publicar aquela gajada. Não faz muito tempo, vendi a editora à irmã do Manuel Alegre por um preço de m..

Era amigo de Cesariny?

Essa pergunta traz água no bico. Dizem que nós éramos amantes. Um disparate. O gajo não fazia o meu género. Eu nunca tive a mania de Paris. Ele tinha.

A sua colaboração nos jornais começou no ‘O Globo’, em 1945, e ainda há dez anos escrevia na imprensa.

O Nicolau Santos, que na altura era director do jornal ‘O Público’, convidou-me para escrever uma crónica. Os gajos até pagavam bem. Mas tiveram o azar de anunciar Luiz Pacheco escritor polemista. Dava-lhes jeito que eu desse porrada. Mas durante meses não lhes fiz a vontade. Podem contar comigo para dar porrada, mas jamais por incumbência.

É verdade que, uma vez, enquanto traduzia um livro, esteve quase para ser publicado um palavrão?


Publicado não digo, mas aquilo fez-me correr. Eu estava a traduzir um livro para crianças e havia uma palavra cujo significado em Português eu não encontrava. Para não me esquecer escrevi a vermelho c. Quando me lembrei... falei à editora, que me disse que o livro já estava nas mãos do revisor. Corri para a casa do gajo. E lá estava o c. marcado a vermelho, mas fui a tempo. O c. foi substituído por penacho.

É autor de muitos livros, mas nunca escreveu romances.


Porque é preciso ter disciplina. Mas não é como escritor que posso ser importante. Se me perguntarem da minha importância é como editor. Editei muitos livros que eram muito baratos. Tinha bons autores, Raul Leal, Natália Correia, António Maria Lisboa, Herberto Hélder, Vergílio Ferreira, Mário Cesariny. Jamais editaria, por exemplo, o Fernando Namora. Ele era um aldrabão. Ou o José Agualusa, que não escreve nada. É um pateta alegre.

O que é preciso para escrever bem?


Ler muita coisa. Estar atento. E há gajos que escrevem sem nunca terem lido uma frase.

Gosta da escrita de António Lobo Antunes?


Muito. Gosto quando ele fala do bairro onde nasceu, Benfica. Tem muitas qualidades e anos de escrita. Mas é um bocado apanhado da pinha. Também tem a maluqueira de dizer que não consegue viver sem escrever. E tem razão. Ele é o escritor mais internacional de Portugal.

E José Saramago?


Também, embora de maneira diferente. Mereceu o Nobel. Saramago e o Lobo Antunes têm uma coisa em comum: são escritores que já só escrevem para o estrangeiro.

O que nos diz dos políticos?


São uns m. Comparados com eles próprios. Aquela que foi ministra das Finanças era uma tipa séria, mas era cá um camafeu.

Gosta do José Sócrates?

Quem é? Não o conheço.

Mas gosta de Pedro Santana Lopes?

É um ‘bom vivan’. Não deixou obra nenhuma, mas sabe viver. Andava nas discotecas e estes gajos – o pequeno, o gajo que é quase anão – fez-lhe a folha. O Santana é um senhor. Gosta das noites. E bebe o seu copinho. Eu deixei de beber há uma semana. Ao almoço bebia vinho – tinto, pois está claro. Quando se fala em vinho fala-se em tinto.

João Soares, quando era presidente da Câmara Municipal de Lisboa, fez-lhe uma visita e trouxe-lhe umas garrafas de tinto.

E que belo tintol! Apareceu no Natal, com um funcionário. Trouxe-me vinho, um belo presunto e livros. Vinha com a ideia maluca de eu fazer um artigo sobre o governador do Costa do Castelo.

O País reconhece as pessoas?


Não podemos falar de um só País. De Lisboa ao Porto existem dois países ou, talvez, existam quatro países em Portugal. Por exemplo, o Mário Soares, quando era Presidente da República, deu-me 650 contos. Uma vez, no Chiado pedi-lhe 20 paus emprestados. E ele deu-mos. Este presidente, o actual, que tem aquela cara, não me deu nada.

Vive de alguma pensão?

Tenho um subsídio de 120 contos, graças ao Alçada Batista. E também ao Balsemão, que teve a feliz ideia de inventar o decreto do mérito cultural. O Santana despachou um decreto que favorece pessoas que estão na minha situação. Mas não é por isso que gosto do rapaz. O tipo sabe o que é bom. O que é bom para mim são umas garotas, que vêm cá de manhã para me fazerem a higiene. Não é mau.

QUESTIONÁRIO
Um País... Montijo
Uma pessoa... D. Afonso Henriques
Um livro... ‘Gustavo, o Estroina’, de Paulo Koque
Uma música... ‘Variações’ de Golberg
Um lema... Não me lixem. Não me chateiem
Um clube... Clube Jardinense, o clube do Montijo

[Miriam Assor]

Nota: Escrevi conscientemente a palavra "Grandeza" no título da posta.

NETCABO TURBO... LENTO

A TVCabo mandou-me um email dizendo que a minha ligação à Internet já beneficiava da velocidade de 10 Mega Bits em download e 512 K Bits em upload.

Fiz todos os procedimentos que me recomendaram para beneficiar destas velocidades de comunicação, mas mesmo assim as minhas medições ficam-se pela metade.

Não é mau de todo; mas estar a pagar por aquilo que não se tem, tem um nome.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

DECLARO SOLENEMENTE

NÃO ESTOU «DE CONSCIÊNCIA TRANQUILA»

NÃO ESTOU E NÃO QUERO ESTAR!

É que eu não quero pertencer a esse importante grupo de portugueses que se têm declarado publicamente, ao longo dos meses, estar «de consciência tranquila».

Não quero estar naquelas companhias.

Julgo ter este direito.

Editado às 23:17 de 27/04/2007.
Há pouco estava eu a digerir esta minha decisão quando li este contundente e lapidar retrato da classe política feito pelo Prof. Henrique Silveira no blogue Crítico Musical. Mais convencido ainda fiquei da certeza da minha decisão: não estou e não quero estar «de consciência tranquila».

RIDÍCULO E LOUCO

No debate ontem realizado entre os oito candidatos à nomeação democrata para disputar as eleições presidenciais americanas de 2008, ficou patente a unanimidade de opinião quanto à criação de um «Sistema de Saúde UNIVERSAL», isto é, que abranja todos os cidadãos americanos e não apenas aqueles que podem pagar. Nenhum dos candidatos destoou neste propósito. Lembre-se que actualmente está em vigor nos Estados Unidos um sistema iminentemente privado de saúde que deixa de fora (sem qualquer protecção social) cerca de 56 milhões de cidadãos americanos.

É nesta precisa altura em que na América rica ― na pátria do capitalismo ― se pugna por fazer chegar a saúde a todos os cidadãos, que se verifica, neste cantinho pobre e fedorento, uma louca e desenfreada corrida à privatização da Saúde.

É caso para chamar a polícia.

A NÁUSEA

«O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carmona Rodrigues, foi notificado para ser ouvido pelo Ministério Público na qualidade de arguido, no âmbito do processo Bragaparques, disse hoje à agência Lusa fonte judicial».

Acabei e ler esta notícia e... vomitei.


E lembrei-me de outros casos semelhantes noticiados no passado bem recente e voltei a vomitar...

Depois Veio-me à memória o romance “A Náusea”, de Jean Paul Sartre.


Vomitemos, pois!


Já que só nos resta fazer isso. E existir, claro.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

UMA PEQUENA MARAVILHA

Equipado com um disco duro de 80 Giga Byte, o iPOD da Apple é capaz de conter:

90 DVDs de filmes
2.000 músicas (± 200 CDs)
3.000 fotografias
Para além de jogos e a lista dos seus contactos (telefones, moradas, etc.).

Tudo isto na ponta dos seus dedos. E é só ligar a um televisor ou a uma aparelhagem de alta-fidelidade para usufruir facilmente do som soberbo e das nítidas imagens destes conteúdos. Em alternativa pode usar apenas o iPOD com os auscultadores ligados.

Ah, já me esquecia: pode meter tudo isso no seu bolso e levar de viagem ― em casa, na arrecadação, ficarão os caixotes com os DVDs e os CDs copiados; e as fotos dispersas já não constituirão um trabalho a fazer no futuro: podem dormir descansadas ―.

Bill Gates tem todas as razões para estar preocupado com a Apple. Que continua a gozar com a Microsoft colocando no Youtube este vídeo protagonizado por um actor que é a cara chapada de Bill Gates.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

HISTÓRIAS CABOVERDIANAS

O saudoso poeta, Jorge Barbosa, contou um dia uma deliciosa história passada na ilha da Brava entre o poeta Eugénio Tavares e um presidente da Câmara Municipal conhecido por “nhô Lepéu” (senhor Lepéu).

Contava Jorge Barbosa:

Nhô Lepéu era um homem simples e muito limitado intelectual e culturalmente; mas era um homem bom e honesto, características estas que certamente levaram o governador da província a nomeá-lo presidente da câmara [é assim mesmo: até ao 25 de Abril de 1974, os presidentes de câmara eram nomeados pelo governador. Não havia eleições]. Ora bem, certo dia nhô Lepéu aparece em casa de Eugénio Tavares e tem com o poeta mais ou menos esta conversa:

― Senhor Eugénio, venho cá porque estou numa grande aflição. Depois de muito pensar achei que só o senhor Eugénio é que me pode valer. Acontece que o governador vem visitar a Brava e eu tenho que fazer um discurso de boas-vindas. Mas como o senhor Eugénio sabe, eu não tenho capacidade para fazer um bom discurso. E como o senhor Eugénio me conhece muito bem, e conhece ainda melhor a Brava e os seus habitantes, eu venho pedir-lhe que me salve nesta situação. Venho pedir-lhe que me escreva um bom discurso para eu ler.

― Oh... nhô Lepéu, se eu lhe escrevesse um bom discurso, toda a gente iria ver que não era o senhor o seu autor; é melhor que seja o senhor a escrevê-lo como souber que o governador não se vai importar com isso.

― Não, não, senhor Eugénio. Eu não quero passar por vergonhas. O senhor é um homem inteligente e sei que é capaz de escrever um discurso que pareça a toda a gente que tenha sido escrito por mim. Um discurso que contenha coisas que toda a gente possa ver que saem de dentro de mim. O senhor conhece-me e sei que o senhor é capaz, senhor Eugénio.

― Ó nhô Lepéu, «déntu di nhô, só si for um pêdi».(*)


(*) Dentro de si, só se for um peido.
.

25 DE ABRIL SEMPRE


Saudação para aqueles que não gostam da data.

domingo, 22 de abril de 2007

A LUZ QUE ALUMIA


Se eu votasse nas eleições presidenciais francesas, claro que votaria Ségolène Royal.
Quereria lá saber o que diz e o que pensa a senhora?
Isso não interessa para nada.
Uma dama destas merece o meu voto mesmo que diga que é engenheira.
Quero lá saber!...

sábado, 21 de abril de 2007

GOSTARIA DE NÃO TER LIDO ISTO

«haverá alguma razão para temer que a TVI se torne politicamente mais suspeita ou mais enviesada do que a SIC, propriedade de um histórico e activo dirigente do PSD?»

Esta é uma tremendíssima injustiça que Vital Moreira faz a Pinto Balsemão. Que não é apenas “um histórico do PSD”; também é um histórico no que respeita (e que respeita) a liberdade e o pluralismo de informação.

Quem dera a Vital Moreira a capacidade de praticar no seu blogue a imparcialidade que Balsemão tem demonstrado (permitir) praticar, ao longo da sua vida, nos (aos) órgãos de comunicação social de que é proprietário (semanário “Expresso” e “SIC” tv).

terça-feira, 17 de abril de 2007

COISA BOA OU CHANTAGEM?

A UNI (Universidade Independente) convocou hoje uma conferência de imprensa onde, segundo afirmou uma sua porta-voz (?), serão feitas «revelações bombásticas». A porta-voz (?) disse que têm guardado «num cofre blindado e em lugar seguro» todos os documentos relativos aos ex-alunos que se tornaram posteriormente figuras públicas destacadas na sociedade.

Permitam-me então concluir que terão lá todos os documentos relativos aos ex-alunos José Sócrates e Armando Vara, pelo menos.

Esta afirmação da UNI pode ser lida pelo menos de dois ângulos:

Primeiro, é uma coisa boa: é uma afirmação tranquilizadora visto que os documentos existem ― não foram, afinal, “para o maneta” ― existem e estarão conformes com a lei atestando a legalidade, a lisura de processos, a conformidade das equivalências e dos exames, etc., quanto às licenciaturas feitas naquela universidade por «figuras públicas de destaque». Pelo que, logo mais, teremos o “caso Sócrates” encerrado. Óptimo! É preciso encerrá-lo porque não se vê por aí mais ninguém do PS ou da oposição com capacidade para ser primeiro-ministro nesta conjuntura, e Sócrates precisa de paz de espírito para governar. (Embora, no meu entender, esteja a governar com falhas graves na política da Saúde, por exemplo). Mas “há mais vida para além da Saúde” como diria o outro...

Segundo, é um recado, uma ameaça, ― se quiserem, uma chantagem ― às figuras públicas de destaque cujos documentos e percursos académicos, porventura, contenham irregularidades e não tenham estado nem estejam conformes com a lei; dizendo-lhes: se me fecham a universidade, denuncio-vos na praça pública.

Admito que a minha leitura esteja totalmente errada e que existirão certamente outras leituras bem diferentes daquelas declarações da porta-voz (?) da UNI. Mas ainda as não vi publicadas.

Entretanto confesso, com toda a sinceridade, que não percebo, não percebo e não percebo, por que razão a UNI terá convidado o primeiro-ministro, José Sócrates, e o ministro da Ciência e do Ensino Superior, Mariano Gago, para estarem presentes na tal conferência de imprensa. Para mim, pelo menos para já, isto é um autêntico mistério.

Ou será que aquela gente da UNI tem o rei na barriga?

domingo, 15 de abril de 2007

UFF!... CARAMBA!... ISTO NÃO PÁRA!

Nunca na minha vida conheci nenhum caso de alguém com tantos problemas nos documentos que certificam a sua licenciatura (um, dois, três) do que o cidadão e primeiro-ministro, José Sócrates.

E sempre, claro, por culpa dos outros que passaram anos a escrever disparates nos seus certificados mesmo quando a Universidade Independente «funcionava normalmente e era uma universidade de referência».

O santo homem não teve nada a ver com nada.

E nós temos que acreditar que sim. E acreditamos ― fica aqui solenemente dito.

Mas, sinceramente! É um caso de enorme bizarria; digno do Guiness.

O azar é tanto que, se calhar, ganhará o euromilhões logo à primeira aposta: entrega um boletim à menina; esta faz confusão e troca o boletim por um outro de um grande sortudo... e lá vem o jackpot todo para Sócrates.

Não acreditam?

Bom domingo para vós todos.

P.S. Desculpem chover no molhado, mas as novas revelações são tantas que um indivíduo não pode deixar de o fazer.

sábado, 14 de abril de 2007

BOM DIA

Os Deuses vendem quando dão.
Compra-se a glória com desgraça.

Ai dos felizes, porque são
Só o que passa!

Baste a quem baste o que Ihe basta
O bastante de Ihe bastar!

A vida é breve, a alma é vasta:
Ter é tardar.

Foi com desgraça e com vileza
Que Deus ao Cristo definiu:

Assim o opôs à Natureza
E Filho o ungiu.


[Fernando Pessoa]

No Público de hoje:
«Os dois certificados de licenciatura de Sócrates.». Diferentes um do outro nas datas da licenciatura e nas notas de algumas cadeiras. Uma confusão mais.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

ACABOU

Para mim, como cidadão ― por incrível que pareça ― estou mais que esclarecido quanto ao essencial da polémica que envolve o primeiro-ministro.

Bastou-me para isso tomar hoje conhecimento da existência daquela ficha com os dados biográficos rasurados.

Ela disse-me tudo o que eu precisava saber.

Não quero saber mais nada. Não é preciso.

Entretanto, e como nota de fecho, dêem um passeio por aqui e por ali para ficarem com o epílogo desta tristíssima novela.

terça-feira, 10 de abril de 2007

ENA!... MAIS UMA MINHOCA!

Pacheco Pereira, «sem querer», por mero acaso, deu uma cavadela.
E querem saber o que encontrou?
Minhoca. Claro!
Vejam aqui a cara da minhoca.

Entretanto, no Jardim do Kaos a veia humorística continua irresistível.
.

ALMANAQUE BORDA D’ÁGUA


Como bem sabeis, em Abril águas mil.
Pois... mas este Abril de 07 não é só águas mil.
Também é: minhocas.
E o agricultor precisa ter cuidado.
Porque.
Neste Abril de 07.
Cada cavadela dá uma minhoca.

domingo, 8 de abril de 2007

ET POUR CAUSE

Pacheco Pereira, hoje, aqui no Abrupto, faz uma abordagem sucinta e magistral do imbróglio em que parece consistir as habilitações académicas de José Sócrates e a forma como este problema foi sendo ignorado pelos média desde Fevereiro de 2005; vivido pelo visado e pelo poder; e agora paulatinamente tratado por alguns órgãos de informação.

Importante é a parte em que Pacheco Pereira escalpeliza o comunicado do Ministério do Ensino Superior, de Mariano Gago, considerando que a investigação daquele ministério à Universidade Independente aponta já para uma conclusão mesmo antes de se fazer essa investigação. Porque, à partida, essa investigação ― escreve Pacheco Pereira ― «apresenta como seu objectivo "dissipar a inaceitável suspeição generalizada que foi lançada", ou seja, comprovar a validade dos seus [da Universidade] diplomas, já que tudo o resto é "inaceitável".»

Clique a ligação acima e vá ao Abrupto ler a posta.

POT- POURRI


Sobre a licenciatura ou não, de José Sócrates, caso os nossos leitores queiram ler alguma coisa, aqui têm uma ligação que vos conduzirá aonde poderão obter abundante material para reflexão.

Se estiverem de bom humor e quiserem rir um pouco com coisas sérias, dirijam-se a este sítio que hão-de passar um bom momento.

Ah! Já me esquecia: amanhã haverá eleições presidenciais em Timor Leste. Vamos ver se aquela gente saberá julgar o golpista Xanana Gusmão através do seu candidato golpista, o enxofrado Ramos Horta.

Nota social: hoje vou almoçar em casa da D. Gigi. Vou matar saudades da comida caboverdiana, despedir-me da Ruth que vai para Macau, beber um copo e deixar-me ir na morabeza daquele ambiente familiar amigo.

sábado, 7 de abril de 2007

MAIS JOYCE

[...] «Ela estava com bela aparência. Trazia seu vestido, decotado, pertences à mostra. Cravo seu hálito recendia sempre no teatro quando se inclinava para fazer uma pergunta. Contei-lhe o que Espinosa diz naquele livro do pobre pai. Hipnotizada, ouvindo. Olhos deste tamanho. Ela se inclinava. O gajo do balcão, olhando com toda a gana para dentro dela com os binóculos. A beleza da música deve ser ouvida ao dobro. Mulher ao natural basta meia olhadela. Deus põe, o homem compõe.» [...]

[...] Lábio avulta. Corpo de branca mulher, uma flauta viva. Sopra doce. Forte. Deusa eu não vi. Elas querem isso: nada de rodeios em demasia. [...]

Boa noite.

terça-feira, 3 de abril de 2007

RITMOS CABOVERDIANOS


Do sempre fixe, Djibla, recebi esta fotografia de um dos primeiros grupos constuituídos em banda musical em Cabo Verde, nos anos 60, os "Ritmos Caboverdianos", que fica aqui para apreciação dos saudosistas destas coisas boas da vida em Cabo Verde.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

UMA HISTÓRIA ATÉ AGORA MAL CONTADA

Com as achas que o Expresso (ligação só disponível para assinantes) lançou no sábado para a fogueira em que já arde José Sócrates por via das dúvidas que estão sendo levantadas quanto à regularidade com que foram obtidas as suas habilitações académicas ― mais concretamente uma licenciatura em engenharia, pela Universidade Independente dos senhores Luís Arouca e Rui Verde ― cumpre ao gabinete do senhor primeiro-ministro, para acabar de vez com essas dúvidas, publicar o fac-simile dos documentos que sustentam a verdade dos factos. Ao não fazê-lo, vindo com comunicados e declarações à imprensa, as dúvidas acumular-se-ão e o lume brando para cozimento de Sócrates vai continuar a ser alimentado até que o primeiro-ministro atinja o ponto ideal de cozedura.

Para evitar isso, cabe também aos responsáveis da Universidade Independente esclarecer (pelo menos) quem leccionava o quê naquela universidade e com que competências científicas; como eram feitos os exames e quem escrevia as actas dos mesmos; e mostrar os livros dessas actas.

Os portugueses apreciam muito os que sobem a pulso aos lugares em que acabam alcandorados; mas depreciam também muito aqueles que aparecem lá em cima sem ser totalmente claro por que trilhos lá chegaram.

Segundo o Diário de Notícias de ontem, 1 de Abril, «Sócrates completou quatro anos do curso no Instituto Politécnico de Coimbra, frequentando depois durante um ano o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa. Mas só obteve o diploma na Independente, em 1996, após concluir cinco cadeiras. Uma delas - Inglês Técnico - terá sido ministrada pelo próprio reitor, Luís Arouca, agora detido no âmbito do inquérito judiciário à universidade. Mas, segundo o Expresso, "o regente da cadeira era outro docente". E o diploma foi emitido com data de 8 de Setembro de 1996, um domingo.» (sublinhados da nossa autoria).

Ora aqui há qualquer coisa que não soa bem e deve ser esclarecida também:

Nas universidades, as cadeiras são normalmente ministradas pelo regente e pelos seus assistentes. Como e por que razão, então, a cadeira de Inglês Técnico foi ministrada pelo reitor e não pelo regente da mesma ou por um dos seus assistentes? E será legal que assim seja?

Mas o Expresso (ligação só disponível para assinantes) já noticiara no sábado passado terem quatro das cadeiras sido ministradas por um único professor. Aqui então as perplexidades são enormes e sobram as perguntas. É que numa universidade, por norma, cada cadeira tem o seu regente e este os seus assistentes. E não se vê como é que numa universidade, um único professor pode ministrar cadeiras aos molhos.

Enfim, parece que a procissão ainda vai no adro. Mas seria bom que chegasse rapidamente ao seu destino com toda a gente esclarecida.