sexta-feira, 24 de junho de 2005

ELEIÇÕES E MORTOS (o habitual na Guiné)

Na Guiné é assim: se não há mortos a coisa não é normal.

Já estávamos a ficar admirados de os guineenses terem adoptado em tão curto espaço de dois meses uma postura da povo adulto, sereno, habituado à vivência em democracia, sendo, por isso, respeitador das decisões do eleitorado.

Mas eis que, mal ainda vai a meio a eleição do novo presidente, e nos chega uma notícia de algo que a ninguém causa admiração, algo que já esperávamos que acontecesse mais cedo do que tarde; vem nos jornais:

«A calma regressou à cidade de Bissau onde esta sexta-feira de manhã se registaram confrontos entre a polícia e manifestantes afectos a Kumba Ialá, de que resultaram três mortos, cinco feridos e 12 detidos.»

Resta só acrescentar que Kumba Ialá diz não aceitar o resultado da primeira volta das eleições de que ficou excluído. Aguardemos para ver como reagirá o perdedor da segunda volta; e sobretudo esperemos para ver como os militares tratarão o futuro presidente.

Estamos curiosos de o saber.

sábado, 18 de junho de 2005

UMA TERTÚLIA NO MINDELO


A tertúlia do Sassá

Aqui estamos nós de visita à tertúlia que se reúne quotidianamente na esplanada do bar do Sassá, no Mindelo, Em S. Vicente. A reunião deu-se no rescaldo das eleições presidenciais em Cabo Verde, ganhas pelo Comandante Pedro Pires. Nesta fotografia reconhece-se o actual embaixador de Cabo Verde em Lisboa, Dr. Onésimo Silveira (de casaco).

sexta-feira, 17 de junho de 2005

ALÔ, ALÔ, LUANDA. SERÁ ISTO VERDADE?

Esta ouvi eu, esta tarde, no Rossio, em Lisboa

- Então! fulano já regressou de Luanda?

- Era para vir agora em Junho mas o gajo diz que só em Dezembro. O gajo diz que está maluco com as “catorzinhas”.

- Que é isso das “catorzinhas”?

- São miúdas de 14 anos. Um gajo vai até Lubango, paga o “alambamento”, e traz uma miúda de 14 anos. Sem problemas.

Diga-me que é mentira, oh Luanda!

Ou então meta essa gente na cadeia.

Já!

quarta-feira, 15 de junho de 2005

DIZERES DE AMOR

Há textos cuja beleza se nos impõe com tal força que não podemos deixar de os exaltar e fazer com que outros os leiam para, de alguma forma, contribuirmos para o alargamento do universo daqueles que gostam intimamente de celebrar a graça dos momentos felizes que permitiram a concepção dos mesmos.

Tal é o caso deste pequeno texto "carta não assinada encontrada no espólio de um poeta" que nos foi enviado por email; certamente um fragmento de obra maior que infelizmente não nos foi dado identificar.

«Padeço, amor, porque me falta a sensualidade dos teus lábios carnudos nessa tua boca de romã onde cada beijo era uma aventura indescritível que acabava sempre em êxtase deixando-me no desejo louco de te possuir até à completa diluição de nossos corpos e seres.

Padeço porque me falta teu corpo de Afrodite, de mulher-cosmos, de mulher-sensualidade, corpo em que me perdia inebriado pela sinfonia de aromas exóticos que o povoam e do qual eu saía sempre renascido pois que, no dizer do poeta, tu és sol, ambrósia e mel.

Padeço, enfim, porque me falta a presença da tua doce e sedutora personalidade de Eva bíblica com quem cometi o pecado original que me estigmatizou definitivamente mas do qual nunca me arrependerei pois que sem ele o significado da Vida seria um equívoco histórico de aceitação impossível.

Padeço por não te ter, minha Mulher, minha Amiga, minha Amante.

Padeço.»

Pela beleza que encontrámos nele, este texto foi arquivado n’O Baú de Salmoura juntando-se lá a uma narrativa excelente e belíssima de Enrique Lanza, republicada há quase um ano naquele blogue-arquivo. Vá até O Baú e delicie-se com a escrita de Lanza.

domingo, 12 de junho de 2005

JUSTIFICAÇÃO

Regresado hoje de um fim-de-semana quase prolongado (trabalho amanhã, feriado), espero, ao dizer isso, ter justificada a ausência de postas nestes últimos dias.

Confesso que também a falta de "inspiração" contribuiu para o facto.

Queira a musa deixar de ser cometa a meus sentidos que logo a veia aparece.

Assim seja!

terça-feira, 7 de junho de 2005

O DR. BALTAZAR E O “TEMPO”



Este calor derrete a mioleira de qualquer um. E está derretendo a mioleira da malta da blogosfera. É ver a escassez de postas que há um pouco por todo o lado para constatar isso.

Aqui no "África Minha" não somos excepção: com os miolos entre o pouco-sólido e o líquido – quiçá o gasoso – estivemos uns dias parados e não há meio de dizermos coisa que se entenda.

Este fenómeno de falta de produtividade intelectual devida ao calor faz-me lembrar o que disse uma vez o Dr. Baltazar Lopes da Silva quando, no seu "escritório", à beira da (hoje) praia da Lajinha lhe perguntavam porque escrevia tão pouco (quase nada mesmo): «sabe, aqui em S. Vicente não há tempo psicológico».

E continuava pela tarde fora, na Lajinha, descansando sentado no lugar do condutor do seu carro verde (o tal "escritório" já falado) estacionado debaixo de uma árvore, com as portas abertas para que circulasse o ar e lhe permitisse dormitar um pouco ouvindo rádio. Às vezes lia a passagem de um livro ou simplesmente conversava com "visitas" ocasionais que por lá passavam e lhe davam dois dedos de conversa.

É isso! Que me desculpem os meus amigos que me costumam conceder algum tempo lendo este blogue: «não há tempo psicológico». Prometo voltar quando a meteorologia for mais favorável.

sábado, 28 de maio de 2005

CARTILHA DO VOTANTE

Primeira e única lição.

Em quaisquer eleições que hajam, até que o seu corpo esteja hirto e frio à espera do cangalheiro, faça com que o seu voto seja sempre um voto de protesto contra a mentira institucionalizada na política.

Sabendo embora que os bons de hoje serão os maus de amanhã,

tenha a inteligência de ler os sinais e prever as mutações, de forma a poder, quando for o caso, mudar o seu voto para o manter sempre como voto de protesto.

Não se importe que o acusem de incoerência, traição e o raio que os parta.

Neste mundo da Mentira Política Permanente, Institucionalizada, todos os pecados devem ser perdoados.

E mesmo quando o não sejam:

Queira sempre ser pecador.

sexta-feira, 27 de maio de 2005

ETERNA SAUDADE

Sita Vales

Encontrei hoje, no baú das recordações, esta fotografia de Sita Vales saída como capa da Revista do Expresso de 25 de Janeiro de 1992.

Amiga e contemporânea minha na Faculdade, Sita Vales teve a desdita de ser acusada de se associar a Nito Alves numa tentativa de golpe de Estado, em Angola, em 27 de Maio de 1977.

Presa e condenada à morte, ao que rezam as crónicas, por ordem de Agostinho Neto (por curiosidade um colega de profissão), Sita, corajosa como todos nós nos lembramos de ter sido, recusou ser vendada tendo enfrentado, olhos nos olhos, o pelotão de fuzilamento que o "democrata" Agostinho Neto mandou que a trespassasse de balas após um julgamento revolucionário em que não houve lugar a defesa.

- Até que nos voltemos a encontrar, Sita! Hoje, no 27º aniversário do teu assassinato, quero dizer-te que a tua memória perdurará para sempre entre aqueles de nós que te conhecemos a fibra de lutadora, a nobreza de carácter e o amor pelo povo angolano.

quinta-feira, 26 de maio de 2005

O FANTASMA DE RICARDO



Um fotógrafo espírita conseguiu documentar a razão pela qual Ricardo não tem tranquilidade na baliza; tem, até, medo de saltar às bolas altas; e está sempre desejoso de fugir de lá para fora.

terça-feira, 24 de maio de 2005

SALMOURA MILIONÁRIO

A Sra. Mónica Martinez, em nome de:

MR PEDRO WILLIAMS
DIRECTOR OF FOREIGN OPERATIONS
MEGA TRUST AGENCY MADRID SPAIN
E-Mail: contactmegatrust@netscape.net
TeL:0034-685-401-378
Fax:0034-685-401-378


teve a amabilidade de me comunicar, por email, que aquela Agência jogou, em meu nome (vajam lá que generosidade!?), a lotaria El Gordo, que saiu a 25 de Abril passado, em Espanha, e que após um sorteio na dita agência EU GANHEI, com o meu ticket number 085-12876077-09 with serial number 51390-0 that drew the lucky numbers of 03-05-12-14-28-38, a bonita soma de:

1.600.000.00 Euros
( ONE MILLION SIX HUNDRED THOUSAND EUROS )
in cash credited to file with REF: Nº.EGS/3662367114/13.

Pede-me a Sra. Mónica que eu não divulgue esta notícia até receber o meu dinheiro pois que, de contrário, pode alguém antecipar-me e reclamar o prémio para si.

Informa-me ainda a Sra. Mónica que eu terei que entregar à Agência 10% do meu prémio pois este montante foi estabelecido quando a Agência gastou o seu dinheiro para comprar uma lotaria em meu nome.

Tudo o que eu tenho que fazer para receber o meu prémio é contactar o Sr. Pedro Williams fornecendo-lhe a minha identificação completa mais alguns dados importantes (nome, residência, dados do passaporte e a identificação de uma conta bancária minha para onde o dinheiro será transferido).

Simples, não acham?

Pois bem: segundo rezam as crónicas, quando alguém cai neste conto do vigário podem acontecer-lhe várias coisas desagradáveis: com os seus dados verdadeiros mas fraudulentamente usados podem tentar e conseguir burlar instituições de crédito e empresas de variadas finalidades obtendo empréstimos e fazendo transacções em nome do burlado (no meu nome, por exemplo). Para além disso parece que ainda antes de fazerem a tal transferência que nunca se concretizará costumam pedir ao feliz contemplado com a lotaria uma soma insignificante em dinheiro (mil ou dois mil euros) para pagar as despesas inerentes à transferência da taluda para o seu banco.

Quem é que não paga mil ou dois mil euros para receber um milhão e seiscentos mil euros?

Eu pagaria. Se não tivesse já conhecimento deste esquema de burla e acreditasse ingenuamente que alguém joga por mim, sem eu saber, uma lotaria, e depois ainda tem a honestidade santa de me comunicar que o meu bilhete, por ele comprado, ganhou a taluda, que a taluda é minha, ficando essa pessoa contente em receber apenas 10% do bolo.

A magnanimidade do nosso benfeitor fica mais revelada quando constatamos que ele é capaz de jogar em nosso nome, com o seu dinheiro, e que quando não sai nada no bilhete a pessoa em causa perde alegremente o seu dinheiro sem nos dizer nada.

Belo e harmonioso mundo este, não é?

P.S. O engraçado é que compraram o bilhete em meu nome, mas não sabem o meu nome. Eu sou apenas e só "Salmoura".

domingo, 22 de maio de 2005

É MESMO OBRA!


(Foto retirada de "O Jumento")

O fabuloso José Peseiro, qual atrasado mental, acaba de conseguir um recorde inédito.

Com a humilhante derrota de hoje, do Sporting, no seu próprio estádio, perante o Nacional da Madeira - que só este ano, e em apenas dois jogos, afinfou 8-2 ao Sporting -, José Peseiro consegue levar os leões a perder, em oito dias, três oportunidades de ouro, a saber:

a) no estádio da Luz, frente ao Benfica, disse adeus ao título ao perder por 1-0;
b) perdeu a seguir a final da Taça UEFA, no seu próprio estádio, contra uma equipa que estava perfeitamente ao alcance do Sporting;
c) e perdeu hoje o segundo lugar na classificação do campeonato português, que dava acesso directo à Liga dos Campeões, valendo, logo à partida, oito milhões de euros apenas pela participação na prova.

O que esperam os dirigentes do Sporting para despedirem esse incompetente de falinhas mansas e vistas curtas?

Será que os adeptos leoninos vão continuar a chorar as oportunidades ingloriamente desbaratadas em campo por causa deste incompetente?

sexta-feira, 20 de maio de 2005

MEMÓRIAS


1968. Festa da passagem do ano, no Grémio, em S. Vicente.

Toca o conjunto "West Side", o primeiro agrupamento musical residente em Cabo Verde a possuir instrumentos electrónicos (importados, ao tempo, directamente do Japão, pela Casa Serradas) que custaram então um dinheirão: cerca de quarenta e seis mil escudos.

Que fique para a história da música em Cabo verde.

quinta-feira, 19 de maio de 2005

ASSIM NÃO PODIA DAR MESMO


A dupla infernal, Ricardo & Peseiro Lda.

Deixei passar a raiva. Deixei atenuar a dor. Tentei sublimar a frustração. Mas não consegui esquecer que as derrotas do Sporting contra o Benfica e o SCKA (bem como muitas outras no campeonato e taça de Portugal) se ficaram a dever, em grande parte, a uma dupla terrivelmente ineficaz: a dupla Ricardo & Peseiro, Lda.

Ricardo porque ele tem uma relação complicadíssima com as bolas altas: contra o CSKA comeu o primeiro golo porque "não foi lá"; contra o Benfica comeu o golo porque "foi lá", mas em vez de socar tentou agarrar a bola – ele que não há memória de ter alguma vez na vida agarrado uma bola alta em disputa directa com qualquer adversário.

Peseiro porque ele é um treinador que "inventa uma equipa nova" sempre que é preciso apostar na rotina da "equipa velha"; e porque é um treinador que não sabe armar uma defesa (à Mourinho, por exemplo – custa muito copiar isso?) e faz da retaguarda do Sporting um autêntico passador onde mor das vezes não mora um único defesa para cobrir os adversários.

quarta-feira, 18 de maio de 2005

OFICIALIZAÇÃO DO CRIOULO

(Surge o primeiro problema: que fazer com a palavra "ranjo"?)

Não há ainda duas semanas, na tertúlia do Djica, que se reúne no pátio da casa que era "di nhô Lion di Custódia", o Manuel di Nininha contou, com nomes e tudo, o seguinte episódio verídico:

Um homem do Fogo foi a casa de uma senhora da Brava pedir-lhe a filha em casamento. Submetido pela senhora a um pequeno interrogatório destinado a apurar as suas condições económicas e algumas virtudes, a senhora pergunta-lhe:

- A lá nhô cu ranjo?

- N’ná cumó, n’têl própi más grandi qui di burro.

- Nhô poi ná rua. Ê cá êsse q’in praguntá nhô. Rua! Hómi di áje di nhô cá marêcê cásâ cu nhá fidja.

Nota: "ranjo", na Brava, significa teres e haveres domésticos (mobília sobretudo); no Fogo "ranjo" é o órgão sexual.

E cremos que em S. Vicente a palavra (que seria, talvez, "rónje") não existe. Ou existirá?

Cremos que não.

terça-feira, 17 de maio de 2005

AS TERTÚLIAS DO FOGO


Tertúlia do Viagra

O hábito é de antanho e perdura até hoje:

Na ilha do Fogo, todas as manhãs, há grupos de núcleos perfeitamente fixos que se formam num mesmo local público para passarem um bom bocado do dia discutindo invariavelmente os mesmo temas mas sempre com novas variantes, historietas e condimentos adicionais que vão fazendo com que a tertúlia seja sempre agradável de se viver, fortaleça os laços de amizade e solidariedade dos seus elementos e dê algum sentido à existência de cada um deles.

Esta é a tertúlia capitaneada pelo Totóni Filáiba, que se reúne, religiosamente, todos os santos dias, à porta de "cá Péléti".

Um abraço a cada um deles.

TALVEZ FASCISTA SURREAL

Fiz este teste que vi “publicitado” no Barnabé e concluí que sou de esquerda e estou situado, em França, entre o Partido Socialista Francês e o Partido da Esquerda Radical.

Não sei se isto é bom ou mau para mim. Mas descansou-me quanto a um pormenor: conhecendo-me, só mesmo um louco me acharia fascista.

CRIOULO LÍNGUA OFICIAL

De Macau, um amigo e colega (não sei se gostaria que eu pusesse aqui o seu nome) mandou-me um email dizendo-me que algumas pessoas lhe pediram que me dissesse que gostariam de saber a minha opinião sobre a problemática da “oficialização do Crioulo” em Cabo Verde.

Da resposta que lhe dei respigo esta parte que com uma pequena nuance que lhe introduzi creio responder de alguma forma aos que gostariam de me ler sobre o assunto em causa:

«Sobre a oficialização do Crioulo eu só poderia emitir uma opinião muito leiga cujo importância seria ridícula: a de que vejo imensas dificuldades na escolha da variante do Crioulo que se oficializaria (o de Santiago – creio que tem mais hipóteses – ou o de Santo Antão, do Fogo, da Brava, etc.?). Penso que é um assunto demasiado complexo, e fundamentalmente destinado aos linguistas, para me meter nele sem sair totalmente chamuscado e reduzido a uma extrema insignificância. Nisso, e ao contrário de alguns conhecidos sabichões encartados da nossa praça a quem só falta opinar sobre medicina, astronáutica e mecânica quântica, penso conhecer as minhas limitações pelo que me abstenho de pronunciar. É que essa questão é muito mais técnica que política ou social. E eu só poderia opinar sobre estas duas últimas vertentes, o que, não sendo, contudo, pouco, é, no entanto, manifestamente insuficiente por passar ao lado do âmago dessa problemática – sendo que o que interessa mesmo é saber como oficializar um Crioulo que todos percebam em Cabo Verde e que todos possam saber ler e escrever sem lhes parecer uma coisa “estranha” face ao Crioulo que falam e que sempre souberam falar os seus ancestrais e ouvem hoje aos seus contemporâneos.

Não é coisa fácil.»

segunda-feira, 16 de maio de 2005

A CHACOTA CONTINUA

Na Guiné, nessa chacota pegada que alguns ainda teimam em chamar Estado, aconteceu ontem mais um episódio caricato protagonizado pelo impagável doido e bêbado Kumba Ialá. Que convocou uma manifestação ou lá o que foi e se declarou Presidente da República.

Não há fome que não dê em fartura. Agora já são dois presidentes: o Kumba Ialá por um lado e o presidente interino, Henrique Rosa, por outro. E no meio da balbúrdia instalada ninguém se entende e as autoridades e os tribunais não funcionam.

Os militares, maioritariamente da etnia balanta (a etnia de Kumba Ialá), estão calados que nem ratos. E nesse quintalão enorme que ainda alguns chamam Estado da Guiné-Bissau vai fermentando o ódio e a irresponsabilidade temendo-se o pior, ou seja: o habitual – mais um golpe de Estado.

Lembram-se que eu já tinha dito que o chefe dos militares prometera em tempos matar Nino? Pois bem, com este cenário, teme-se o cumprimento da promessa.

Tudo em nome da democracia e do desenvolvimento da Guiné.

Leia parte dessa história aqui; leia para crer.

Não é mentira, não. A Guiné existe mesmo. É o Estado da Chacota pegada.

sábado, 14 de maio de 2005

INCONFIDÊNCIA

Meu amigo e cunhado, entre o incrédulo e o gozão, pergunta-me num email:

«Joyce nas férias? Em Cabo Verde?»

E eu respondi-lhe:

«Não te admires. Eu sou assim: capaz de comer chicharro e fazer sobremesa com profiteroles; de comer caviar e depois mascar cana de açúcar.

O Joyce, para mim, é o druida da poção mágica para a alma. Indispensável até no deserto. Ou mesmo em pleno inferno.»


Nota: E para que não me interpretem mal... acrescento em jeito de esclarecimento: e mesmo em Cabo Verde onde os santos diabos dos meus amigos não me dão tempo para nada e me metem constantemente no pecado.

sexta-feira, 13 de maio de 2005

O SAPATEIRO ALÉM DA CHINELA

Segundo uma notícia da VisãoNews:

«O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Fernando Neves, negou Segunda-feira qualquer possibilidade de uma adesão de Cabo Verde à União Europeia, num artigo publicado no Jornal de Notícias.

No texto intitulado “Cimeira União Europeia em 2007 sem adesão de Cabo Verde” pode-se ler e citamos: “Quanto à hipotética adesão de Cabo Verde à UE - ideia lançada, há meses, por Mário Soares e Adriano Moreira -, Fernando Neves é taxativo na recusa de tal pretensão.
Fernando Neves lembra que "no artigo 1 do Tratado (da União Europeia), é dito que qualquer país europeu que respeite os critérios de Copenhaga pode ser candidato. Não creio que Cabo Verde seja europeu...", disse o governante de Lisboa.»


Peguemos agora nesta notícia e vejamos o seguinte:

O artigo 1 do Tratado (da União Europeia) ao dizer que “qualquer país europeu que respeite os critérios de Copenhaga pode ser candidato” enuncia um direito desses países,

mas não exclui, explicita ou implicitamente, que outros países não possam ser candidatos à adesão.

Isso só se verificaria se nesse artigo 1 em vez da palavra “qualquer” estivesse escrita uma palavra que lá não está – a palavra “só”; então o artigo diria: “ os países europeus que respeitem os critérios de Copenhaga podem ser candidatos”.

Aí então estaríamos conversados: Cabo Verde não é europeu, logo não pode candidatar-se.

Mas ao não estar lá a palavra “só” temos que concluir, no mínimo, que o senhor secretário de Estado precipitou-se e não interpretou correctamente o artigo em causa.

E no máximo teríamos que lhe chamar adepto da diarreica teoria da “parceria”.

Mas há mais uma coisa importante que ressalta dessa precipitação do senhor secretário de Estado: ao dizer o que disse, o senhor secretário Fernando Neves desautorizou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Diogo Freitas do Amaral, de que é ajudante (no dizer de Cavaco Silva). É que Freitas do Amaral, juntamente com Adriano Moreira e Mário Soares, é, ele também, um dos subscritores da proposta de adesão de Cabo Verde à União Europeia.

Ora, quem é que acredita que, sendo Freitas do Amaral um reputadíssimo Professor de Direito, ele fosse subscrever uma proposta que esbarra logo no primeiro artigo do Tratado da União Europeia?

Dá para acreditar? Francamente!...

Ou muito nos enganamos ou o secretário de Estado Fernando Neves tão cedo não voltará a abrir a boca sobre esta questão.

É que Freitas do Amaral deve ter-lhe dado um enormíssimo puxão de orelhas lembrando-lhe que o sapateiro não deve ir além da chinela.

Como pode o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros de Portugal negar a pretensão da proposta de adesão de Cabo Verde à União Europeia com base no tão estapafúrdio argumento de inidentidade territorial de Cabo Verde em relação à Europa quando as negociações para a entrada da Turquia (95% asiática) na Europa estão já oficializadas e vão começar?

O que esse homem fez não passa, portanto, quanto a nós, de uma declaração absurda a que se não deve dar qualquer crédito. Abriu a boca precipitadamente e saiu asneira. Tão só.

terça-feira, 10 de maio de 2005

O PRAZER DO BELO

(Ou quando a prosa é pura poesia)

Há dias assim. Em que um homem se sente feliz com um bocado de um livro que tenha entre mãos.

Aconteceu-me nestas últimas férias.

Entre muitas passagens belas do Ulisses de Joyce, deliciei-me especialmente com esta:

«Esposa e companheira de Adão Kadmon: Heva, Eva nua. Ela não teve embigo. Contempla. Ventre sem jaça bojando-se ancho, broquel de velino reteso, não, alvicúmulo trítico, oriente e imortal, elevando-se de pereternidade em pereternidade. Matriz do pecado.»

REGRESSO DE FÉRIAS


Fritz
Encontrado doente e quase a morrer
foi salvo dos bichos que o comiam


Regressei doente. Com uma mão entrapada por causa de um gato.

Por causa de um gato bati violentamente com o dorso de uma mão na quina de um móvel e caí desamparado, de costas, dentro de uma mala aberta.

– A tampa deveria ter-se fechado e ter-te guardado para a eternidade – ouvi alguém murmurar lá de bem longe, do outro lado do mar.

Eram quatro horas da madrugada do dia cinco deste mês de Maio quando o acidente se deu. Mas com aquele meu gesto trapalhão salvei o Fritz de ser de novo levado por sua mãe lá para o ninho espinhoso de onde viera – todo ele feridas, todo ele magreza, todo ele larvas, infecção e infestação –.

Se mais nada justificasse a minha presença no Fogo, este salvamento bastaria para o fazer e autorizar-me a falar cada vez mais na integração de Cabo verde na União Europeia.

– Ouve lá, oh paspalhão, o que tem esse c. a ver com as calças?

– Tem, tem muito a ver: permitiu-me conversar com muita gente a quem contei a história do gato e fiz perguntas outras. Fiquei contente com respostas populares à “famosa proposta” e esbocei vários sorrisos quando falei com alguns políticos. Estes, contrariados, vão ter que fazer uma ginástica do “escataralho” para mudarem o discurso e poderem assim acompanhar a opinião de quem realmente manda. Aliás, o Primeiro Ministro já começou a dar a volta ao texto.

Vai ser bonito de se ver.

A diarreia ora intitulada “parceria” vai ter que dar lugar a outra palavra – mais bonita, mais concreta, mais substantiva e mais consentânea com a realidade.

E lá deixei o Fritz aos cuidados da Lígia, uma apoiante convicta da ideia de integração, para me ir relatando o que dizem os indígenas sobre o assunto.

sexta-feira, 29 de abril de 2005

FÉRIAS

Por motivo de férias este blogue não terá postas novas até daqui a duas semanas.

Passar bem.

quinta-feira, 28 de abril de 2005

PACIÊNCIA

Pedro Pires passou ontem por Lisboa onde foi instado a falar sobre a proposta de integração de Cabo Verde na União Europeia. E falou. Mas não falou. Porque não disse qual era a sua posição sobre essa proposta.

E o importante era saber isso e não outra coisa.

Interrogado sobre a questão, a única coisa que conseguiu fazer foi dar uma notícia: a de que o Governo de Cabo Verde está a negociar uma parceria especial com a União Europeia, na senda, aliás, – acrescentamos nós – de outras parcerias já negociadas com o Governo português e com grupos empresariais portugueses. Sem que isso signifique mais nada senão negócios, pois, segundo o jornal Voz di Povo o Presidente terá dito que Cabo Verde «está a trabalhar para "estabelecer com a UE uma parceria especial que permita ao país financiar o seu desenvolvimento».

À Pergunta concreta sobre a proposta de integração, acreditando no que escreve o mesmo jornal, Pires terá considerado essa proposta um elogio para o seu país, mas observou que «até lá muita água vai passar por baixo da ponte».

Isso todos nós estamos mais que fartos de saber: a proposta de Adriano Moreira, como, aliás, escrevemos mais abaixo, em 12 de Fevereiro de 2005, constitui «um tema de grandíssima importância e bastante melindre - tema para mais que uma geração discutir, interiorizar, promover, decidir, negociar e concretizar - cabe, sem a mais pequena dúvida, ao Presidente da República falar à nação e marcar a agenda da sua discussão pública.»

O que seria necessário, portanto, era que Pedro Pires tivesse alguma coisa a ver com essa "água". Mas ao que parece quer apenas vê-la passar debaixo da "ponte". É, sem dúvida, uma posição cómoda que não esperávamos dele.

Paciência!...

Nota: Tínhamos já dito que não voltaríamos a falar de Pedro Pires quanto a esta questão. Mas não podíamos deixar de quebrar essa promessa quando constatámos que a sua posição, para já, não é nenhuma.

quarta-feira, 27 de abril de 2005

AI DJARFOGO, DJARFOGO

Na Ilha do Fogo há noites magníficas iluminadas apenas pela luz das estrelas. Vou lá estar a partir do dia 30 deste mês para, olhando o céu estrelado e conversando com minha mãe, relembrar as noites em que ela, passeando-me ao colo pelo pátio da nossa casa, cantando baixinho uma canção de embalar, me ajudava a conciliar o sono enquanto lá em cima as estrelas me fascinavam com o seu brilho.

– Xô, piegas! Pára lá com esta redacção da quarta classe! Não seria melhor falares dos amigalhaços que lá te esperam para juntos beberem um bom copázio e curtirem uma boa paródia, em vez de andares por aqui a relembrar essas coisas?

– Pois é: talvez fosse melhor falar desses amigos. Mas o fascínio daquele céu… o calor daquelas noites… o silêncio, o silêncio daquela terra austera e mãe de todos nós… Como não relembrar isso com saudade?

domingo, 24 de abril de 2005

MAIS DESCRÉDITO PARA A GUINÉ

Na Guiné-Bissau, ao que parece, qualquer bicho-careta pode ser Presidente da República.

Se assim não fosse como se entenderia que já hajam 21 candidatos – vinte e um – com candidaturas regularizadas para as próximas eleições presidenciais?

É o que eu digo: como pode um território desses aspirar a ser tratado como País pela comunidade internacional?

Enquanto não acabarem com essa chacota pegada que é “a política à moda da Guiné” não sairão da cepa torta e não abandonarão o lugar de País mais atrasado do mundo.

Ao que tudo leva a crer há dois candidatos que discutirão entre si o lugar de Presidente: o doido e bêbado Kumba Ialá, por um lado, e o acusado de assassínio e corrupção, Nino Vieira, por outro.

Parece que Kumba Ialá tem mais hipóteses de ser eleito por pertencer à etnia balanta que é aquela que predomina no e domina o exército local; Nino é pepel (ou papel, como se diz em português) mas também conta com apoios numa facção do mesmo exército. Mas o comandante supremo do exército é um antigo companheiro de armas de Nino a quem Nino mandara em tempos condenar à morte e o qual jurara, após ter-se escapado ao fuzilamento, que um dia haveria de matar Nino Vieira.

Como se pode antever, o futuro da Guiné será radiante.

sábado, 23 de abril de 2005

quinta-feira, 21 de abril de 2005

EURO CABO VERDE?

Porque este blolgue passou a ter um número significativo de leitores em Cabo Verde, publico o seguinte convite cuja divulgação me foi pedida:

«Convite

É convidado para a tertúlia "Adesão de Cabo Verde à União Europeia – Que Alternativas?", no dia 25 de Abril de 2005 (2ª Feira!), às 19:00 Horas, na sede da AMARCV -Associação dos Marítimos de Cabo Verde (na Laginha, no edifício onde funcionava a EMPA, ao lado da Alfândega)

De entre os objectivos desta reflexão pela causa da cidadania: 1. Contribuir para a elucidação e o posicionamento inteligente, racional, idóneo e descomplexado do cidadão. 2. Envolver os cidadãos na tomada de decisão sobre o destino de TODOS e de cada um de nós. 3. Contribuir para o envolvimento de todos os cidadãos interessados sobre o tema.4. Contribuir para desmistificação de “tabus” e a consequente “desdogmatização” e a libertação de “consciências”!

Organização: Uma série de curtas comunicações de conceituados de intelectuais, seguidas de debate!

Antecedentes: Há cerca de dois meses cidadãos portugueses proeminentes promoveram uma petição cuja finalidade é a adesão de Cabo Verde à União Europeia. A reacção da comunidade cabo-verdiana à esta petição, no geral, tem sido de expectativa do posicionamento do Presidente da República ou do Governo. Alguns avançavam a necessidade de um referendo.

Motivação: Mas onde fica a sociedade cabo-verdiana? Será que a capacidade de pensar e de agir de vários milhares de quadros superiores e intelectuais, é ofuscada e inibida pela sapiência e o “saber fazer” dos governantes? Salve um ou outro posicionamento individual, quer para apoiar ou para contrariar, no geral argumentando-se mais na paixão e menos na razão, algumas vezes com uma fundamentação discutível, não devem ser tomadas como o posicionamento desta sociedade. Fica claro que a comunidade cabo-verdiana no geral, parece não querer a “chatice” de se assumir “crescida”. Os “outros” que resolvam o seu problema: ela faz-se passar de “coitada” que precisa de “apoio”! (Duas palavras malditas que precisam ser banidas do vocabulário das ilhas)!

O destino de Cabo Verde (o isolamento, as alianças, a integração, a adesão ou não em zonas ou regiões, económicas ou políticas, é um assunto primariamente dos cidadãos e não devia ser deixado ao critério de alguns governantes ou figuras políticas… que normalmente funcionam na lógica da conveniência “partidária” ou, posto de outro forma, no “assalto” ou na “manutenção” do volante da máquina do Estado.

A sociedade cabo-verdiana não pode continuar no absentismo da cidadania. A cidadania, como a democracia, carece de ser exercida continuamente e nos assuntos maiores: chega dessa dita democracia exercida esporadicamente e em regime “part time” …que muito convêm a nobreza partidária e a realeza governamental!

A sua acção!

· Venha e Traga as suas certezas, dúvidas, opiniões, sugestões. Compartilhe com outros para construir uma sociedade mais esclarecida, actuante e saudável!

· Reenvie "Faça forward" para eventuais interessados. Convide outras pessoas.

· Agradecia que informasse o seu interesse (ou a sua indisponibilidade) em participar nesta iniciativa.

· Caso pense que esta iniciativa é pertinente mas pode estar fisicamente presente, favor envie os seus comentários e sugestões para um dos seguintes endereços: antoniosilva_cv@homail.com, antoniopsilva_cv@yahoo.com, silvapedro@hotmail.com, Fax: 2324584, Telefone: 2324148.


António Pedro Silva»

terça-feira, 19 de abril de 2005

NOTÍCIAS

Eis uma notícia saída no jornal “VozdiPovo-Online”:

«O presidente da Associação Nacional dos Municípios de Cabo Verde (ANMCV), Américo Silva, advogou quarta-feira a integração plena e não um mero estatuto especial do seu país junto da União Europeia (UE) como pretendido pelo governo do arquipélago.

"Hoje a Europa tem um desenvolvimento bastante bom a todos os níveis, e Cabo Verde pode aspirar a esse nível de desenvolvimento", declarou Américo Silva que igualmente preside à Câmara Municipal do Paul, na ilha de Santo Antão.

O autarca falava momentos antes de deixar o país à frente de uma delegação da ANMCV com destino ao arquipélago português dos Açores, para participar nas jornadas autárquicas das Regiões Ultra-Periféricas da União Europeia, de Portugal e de Cabo Verde.

Neste momento, disse, há um ambiente favorável à integração de Cabo Verde na UE pelo que os autarcas cabo-verdianos esperam conseguir a influência e o apoio das suas congéneres dos outros arquipélagos.

Segundo ele, a Associação dos Municípios Portugueses já manifestou publicamente esse apoio. "Nós queremos que Cabo Verde esteja cada vez mais em condições de usufruir também daquilo que são as vantagens da União Europeia", precisou.

Para o autarca, a grande preocupação que a ANMCV leva para o encontro dos Açores é o acesso de Cabo Verde aos fundos europeus, uma vez que até agora o arquipélago "tem estado a beneficiar sobretudo de acções de formação, de estudos, de projectos, mas não de obras físicas".

A possibilidade de Cabo Verde aderir à UE foi avançada em Lisboa, há cerca de um mês, numa iniciativa do ex-Presidente português Mário Soares e do académico Adriano Moreira, quatro anos depois de o governo cabo-verdiano ter adoptado como sua prioridade a obtenção do estatuto de parceiro especial da organização comunitária.»

Fonte/Nota: PANAPRESS - www.panapress.com

Nota: O meu obrigado a Carlos Pires pela chamada de atenção para esta notícia.

domingo, 17 de abril de 2005

CHEGOU POR FIM A AMEAÇA

Acabo de receber, por e-mail, esta ameaça de Germano Almeida.


«Sei que será lamentável, mas foi você que começou. Mantenhas GA»

LÁ VAI PUBLICAÇÃO

Na sequência do texto "O EDUCADOR DO POVO" que publiquei mais abaixo (clique aqui e leia esse texto antes de continuar), Germano Almeida, como, aliás, eu já dissera, escreveu-me. Como ele insiste para que eu publique a correspondência que se gerou entre nós, é com alguma pena que me vejo forçado a fazer essa publicação pois, em primeiro lugar considero a correspondência pessoal confidencial, e por outro lado acho a publicação desta nossa "prosa" um acto um tanto ou quanto masoquista por parte de Germano.

Mas o que é que eu posso fazer quando é o próprio que insiste em ver aqui o que dissemos um ao outro?

Preparem-se então pois a coisa aqui vai.

Esclareço que o que está escrito em letras carregadas, a negrito, é o que escreveu Germano. E o que está em itálico e entre parêntesis rectos são as minhas respostas ao desvario de Germano.


PRIMEIRO E-MAIL

PARCERIA COM A EUROPA:

Caramba, salmoura, você justifica o seu nome à exaustão, levou consigo todo o sal das ilhas [mais uma boa quantidade do enxofre do vulcão do Fogo]. Mas é um erro ser tão fascistamente intolerante [aqui está um insulto gratuito e um claro sinal de intolerância] com nós outros que preferimos "PARCERIA" com a União Europeia em vez de "INTEGRAÇÃO". Você gosta mais desta que da outra? [Eu “gosto” do que o povo de Cabo Verde vier a escolher em referendo não viciado que almejo haja]. Terá as suas razões [claro, o senhor de La Palice não diria melhor], até porque tudo leva a crer que está por lá, com tempo até para blogar! [Lá porque sou imigrante aqui em Portugal acha que os portugueses me deveriam tratar abaixo da cão, isto é, diferentemente do tratamento que lhe dão a si, e que pelos vistos não deprecia, a ponto de eu não ter tempo para blogar?] Explica-as, pois, para nós coitados que somos ignorantes. Mas sem insultar, sem nome feios [olha quem fala: não começou logo por me apelidar de fascista?], deve ser um defeito que lhe ficou do passado [não se fie em palpites. Se está a referir-se ao meu passado pessoal engana-se rotundamente: pergunte por aí que há muito quem me conheça em S. Vicente, Praia e Fogo -, a começar por quem pelos vistos quer apoiar em futuras eleições e passando depois pelos mais velhos do seu partido] mas terá que ser combatido [desde que democraticamente, tudo bem], de contrário não convence nem o pessoal que está entre o sim e o não quanto mais os outros [o seu erro é pensar que se deve debater ideias para “convencer” A ou B. Deixe a quem ouve e lê a liberdade de escolher o que quer - não tente “convencer” ninguém - o cabo-verdiano não é burro. Seria um exercício mal recebido em democracia o de “convencer” as pessoas; isso faz parte do arsenal de acção política dos regimes autoritários], então não vai já para 30 anos que acabou essa estória de que quem não é por nós é contra nós? [já, já, e espero que tenha isso sempre bem presente]. Olhe, venha até Cabo Verde, promova debates para os quais terá todo o apoio, cada um defenderá as suas razões e depois veremos quem melhor convence [continua com a mania de “convencer”. Aí em Cabo Verde compete a vós promover debates; eu fá-los-ei aqui em Portugal onde vivo – ou quer retirar aos cabo-verdianos emigrados o direito ao debate a à opinião em referendo sobre essa proposta? Nem pense nisso! Senão não há como evitar que alguém lhe chame o nome feio que me chamou de início]. Mas, cuidado!, aqui em Cabo Verde não se insulta nos debates, só nos comícios [mais uma vez lhe digo: bem prega frei Tomás].

Mantenhas [para si também].

PS: Ponha o seu nome completo [Agnelo do Sacramento Monteiro], as pessoas estão a telefonar-me a perguntar quem é que me insultou [que exagero! mas se se acha insultado peço desculpas] e só sei dizer que é um anónimo que se esconde debaixo de um ASM [agora já pode dizer quem sou]. Germano Almeida

PS2: Se vier até cá [vou muitas vezes. Passarei o próximo 1º de Maio no Fogo] terei todo o prazer em oferecer-lhe uma colecção dos meus livros [aceito-a desde já e espero que cumpra a sua palavra], vai (ver) que nem todos são assim tão maus como ouviu dizer [não seja presunçoso e leviano no julgamento dos outros: de três livros seus que li, “Estórias de Dentro de Casa”, “As Memórias de Um Espírito” e “O Testamento do Senhor Napumoceno da Silva Araújo”, achei os dois primeiros medíocres. Não falei em “mau”. É uma opinião pessoal que tenho todo o direito de ter como leitor – até porque comprei os livros com dinheiro proveniente do meu trabalho. E se quer que lhe diga achei interessante o “Testamento” pela intriga]. GA 

Até sempre

ASM



SEGUNDO E-MAIL

(Germano achou que tinha erros de concordância e então substituiu-o por um terceiro email).


TERCEIRO E-MAIL

PARCERIA COM A EUROPA:

Desculpe o reenvio (do e-mail), mas como homem atento deve ter reparado em pelo menos 2 erros de concordância. GA [Já tinha dado por isso mas não ia ligar. É que segundo julgo saber a “gramática portuguesa” que você costuma usar nem sempre está disponível. Por isso esteja à vontade. Pode escrever com erros que não há problema. Já agora sempre lhe digo que também já tinha reparado que tem dificuldades em usar a pontuação. Leia Eça e Camilo que eles são excelentes exemplos de bem-escrever o Português (mais o Camilo que o Eça) e vai ver que com o tempo melhorará a sua performance. Evite ler Saramago pois que com isso pode piorar a coisa. Mas se preferir pode fazer como o outro: escreva sem pontuação, mande a pontuação toda à parte que eu depois encarrego-me de a colocar correctamente no texto; talvez assim seja melhor] Já estava a pensar, afinal o fulano é cobarde, não honra o nome da sua ilha (espreitei o blog, claro!), atira a pedrada e esconde-se sob uma sigla [esse é um defeito que tem: é preconceituoso]. Mas eis que me diz ser Agnelo Sacramento Monteiro. Muito bem, já estamos conversados e já entendo melhor a sua posição europeísta... [lá vem de novo o preconceito: como sou Sacramento Monteiro só posso ser fascista e “europeista”. Para si o apelido gera a ideologia - esta é nova e digna de um novo manual político de sua autoria que esperemos saia em breve.] Sem ofensa, palavra d'honra! Devo o meu primeiro emprego a Leão Sacramento Monteiro, governador em 65/66 [pelos vistos naquele tempo não se importava de ter «laços comestíveis com o Estado». Fico satisfeito por saber que o meu primo fascista o ajudou no passado]. E também esclareço: quando digo "fascista" não pretendo de forma alguma ofender. Infelizmente essa palavra perdeu o seu significado ideológico para passar a pejorativo, mas (pode continuar a chamar-me "leviano" e "presunçoso") tenho formação jurídica e política suficiente para saber usá-la correctamente [bom dia, senhor doutor, eu sou um antigo guarda-redes]. A sua atitude foi fascista, não aceita que outrem possa ter posição diferente da sua que considera a mais acertada de todas as outras [esta afirmação é gratuita. Não há uma única passagem do meu texto onde você pode encontrar justificação para dizer isso. Não nego a ninguém o direito à opinião. O que aconteceu foi que, estribando-se em incoerências e argumentos falsos, você construiu inevitavelmente uma falácia que eu não quis deixar passar em claro. É que ainda por cima apresentou-a ao público como se fosse uma máxima filosófica saída da mais fina e arguta elucubração. O que eu fiz foi dizer: atenção que alí há incoerência grossa. Mais nada] Aliás, conta isso sobre os seus amigos que dizem "não" quanto ao euro (?). E afirmou-o abertamente quando achou que eu deveria sentir-me grato por alguns portugueses me honrarem com a sua companhia nas mesas e fotografias [não falei em “honrar”. O que fiz foi admirar-me do facto de, recorrendo você à xenofobia dos portugueses para rejeitar a “proposta de integração”, esses xenófobos portugueses, sabendo isso, se sentem à mesa consigo e você com eles - é que aqui há qualquer coisa que não bate certo, não acha?]. Olhe que nem Salazar teria ido tão longe na afirmação da superioridade de um povo sobre outro [eu já tinha reparado que você anda a ver fantasmas por todo o lado. Espero que não seja um caso sério de delírio persecutório ou de outra patologia afim], porém, descanse que não é um exclusivo seu. Nós que nascemos e crescemos sob esse regime temos que estar permanentemente a nos vigiarmos se queremos evitar sermos surpreendidos por comportamentos do tipo: é que saem sem a gente se dar conta [confesso-lhe que eu não vivo nesse pesadelo permanente de me “vigiar”, e nisso tenho pena de si: essa “vigilância” permanente deve levar a um estado de extrema exaustão mental capaz de perturbar o raciocínio e determinar comportamentos anómalos]. Por isso discordo de si quando recusa os debates... Aliás essa é mesmo uma atitude leviana (de "leve", nada de ofensas, começamos a comportarmo-nos como se fóssemos ["fóssemos"? isto é mesmo erro de Português, não é lapsus calami] civilizados!), então ainda há dias não saiu de uma campanha em Portugal? Ou acha que o PS ganhou porque as pessoas acordaram naquele domingo e pensaram, São bons rapazes, vamos votar neles! [o que é que tem este cu a ver com as calças, sabe dizer-me? Mas deixe-me dizer-lhe o seguinte: eu fiz campanha pelo PS e votei PS – nada mau para um fascista, não é?] Debate-se para "convencer" e depois "vencer", a pequena conquista relativamente ao passado é que em democracia os inimigos são tratados por adversários [então seja coerente e trate-me como adversário em vez de andar por aí a berrar tresloucadamente que sou fascista, fascista, fascista sem saber que mais dizer].

Eu direi que uma parceria é mais vantajosa para nós, darei as minhas razões, você defende a adesão e justificará e depois as pessoas escolhem [assim já está um bocadinho melhor: «as pessoas escolhem». Mas deixe-me que lhe aponte agora qual o seu ERRO MONUMENTAL. Havendo uma “Proposta de Integração de Cabo Verde na União Europeia”, proposta formulada por personalidades portuguesas do mais alto gabarito, a qual poderá levar a um referendo em Cabo Verde, o meu amigo (posso tratar-lhe assim ou é ofensa?), na pressa de se fazer ouvir sobre essa proposta, não pensou duas vezes naquilo que ia dizer. Com efeito, falar como faz em “Parceria com a Europa”, quando o que se propõe é “Integração”, é um perfeito disparate. É que a única proposta que existe é de “Integração”. Não há proposta de “Parceria”. Portanto, se quer propor “Parceria” a referendo, terá, em primeiro lugar, que conceber, fundamentar e apresentar ao Governo de Cabo Verde e à União Europeia uma proposta nesse sentido (e sempre eu queria ver que “compagnons de route” arranjaria para assinarem consigo uma pepineira desse jaez). Andar a falar em “Parceria” antes de fazer isso é simplesmente patético, nada mais. É que não faz qualquer sentido, percebeu? A haver referendo sobre “Integração” os cidadãos só terão que responder “sim” ou “não” ao que lhes é perguntado; não podem ir para lá dizer que querem outra coisa que não lhes é proposta. De contrário seria o mesmo que alguém lhe perguntar (a si, Germano) “quer ou não casar com a Maria?” e você responder: quero casar com a Genoveva”. Percebeu? É que não bate a bota com a perdigota] E digo-lhe mais e sem paixão, até porque eu daqui nunca sairei: mesmo para os emigrantes ganharemos mais com a parceria. Leu por acaso as entrevistas do prof. Adriano Moreira e do Dr. Mário Soares? Para este último somos porta-aviões no meio do Atlântico, para o outro a Europa precisa crescer para o Atlântico. E nós caboverdianos? [trabalharemos e cresceremos no nosso porta-aviões] Você acusa-me de ter a sobrevivência garantida (por acaso não à custa dos livros vendidos em Portugal) e por isso estar contra a "integração", mas deve saber (para alguma coisa tem lhe servir ser do Fogo!) como a dignidade é importante para o nosso povo. Foi, mesmo nos tempos das grandes fomes [alto aí e pára o baile! Sobre dignidade, a mim não me dá lições. Fique com esta: o meu avô materno, Agnelo Adolfo Avelino Henriques, Administrador do Concelho do Fogo, nos anos trinta, foi mandado prender pelo Governo Colonial de então, juntamente com o meu tio avô, António Avelino Henriques, por, juntos, terem publicamente declarado a populares desesperados que aos milhares acorreram a S. Filipe clamando por uma solução para a fome: «damos um prazo de x dias ao Governo de Cabo verde para resolver a situação, findo este prazo, se nenhuma solução for encontrada, pediremos intervenção estrangeira». Na sequência dessas declarações o Governo Colonial mandou ao Fogo uma canhoneira que desembarcou um pequeno destacamento da marinha, comandado por Henrique Galvão (esse mesmo que desviou o paquete Santa Maria), o qual prendeu os dois irmãos, os encarcerou no Fortim em S. Vicente e os fez julgar em tribunal especial que os condenou: meu tio avô António cumpriu degredo em S. Tomé, e meu avô Agnelo perdeu todos os direitos políticos sendo banido definitivamente da Administração Pública e tendo sobrevivido até aos noventa e sete anos de idade sem nunca se ter curvado perante qualquer “autoridade”. Morreu em 1983 com um passaporte cabo-verdiano no bolso. Como pode ver, fui formado numa “escola” de valores que dispensa lições de quem quer que seja. Mais cabo-verdiano do que nós não há!] Reafirmo: O caboverdiano não tem condições para ser inferior! Ou pelo menos a grande maioria [na qual tem forçosamente de me incluir].
Quanto à oferta dos livros, as pessoas que me conhecem sabem que sou homem de palavra. Mas lembre-se: Se vier até cá, a S.Vicente! E já que vem para o 1º de Maio no Fogo, dê um salto a SV, não só lhe entrego os livros como promoveremos um debate público sobre adesão ou integração europeia. Claro que estaremos em posições adversas, mas é como com os meus livros, gosto de "Estórias de dentro de casa" e nem por isso do "Testamento".
Enfim, esta já vai longa, mas não posso deixar de dizer (e esperar) que seria um acto democrático publicar essa nossa correspondência no seu blog, mesmo permeado de comentários em itálico [aproveito esta “autorização” pois é assim que costumo responder aos e-mail que me mandam]. Parece-me mais justo, tendo em atenção as pessoas que leram a sua catilinária contra mim, a menos que queira ser considerado totalitário [como já deve ter reparado, esta não pega]. Ah, esquecia-me já: não tenho filiação partidária. Tenho estado do lado daqueles que acho que defendem os interesses de Cabo Verde [eu sei: ora com uns, ora com outros, ora de novo com os anteriores - é problema seu] e dos caboverdianos, vivo da advocacia, não tenho laços comestíveis com o Estado. Tenho-os recusado sempre porque quero continuar um homem livre. [Felicito-o por isso. Sem qualquer ponta de ironia]
PS: Se lhe agrada a ideia do debate, pode escolher um dia da primeira semana de Maio. Na seguinte estarei ausente [não me parece de utilidade um debate consigo nesta fase do processo. Decante as ideias, arrume-as melhor e depois debateremos se for caso disso].

Continuação de mantenhas, [para si também]. Germano Almeida

Até sempre

ASM (Antigo guarda-redes do Derby)



QUARTO E-MAIL

Acabo de abrir o seu blog. Posso confessar a minha desilusão de si? Francamente, de um desportista esperava mais. Então recusa-me o elementar direito de resposta? E quer ser democrata? Afinal terei que o considerar fascista, agora no sentido pejorativo da palavra.Terá que vir buscar os livros a minha casa. GA

[Se calhar julga que eu não tenho mais que fazer e passo por isso a vida sentado ao computador à espera dos seus e-mails para ir logo publicá-los no meu blogue.

Sei que está nervoso e impaciente por corrigir as asneiras que disse. Mas olhe que cada vez que cava mais fundo sai mais minhoca fedorenta.

Agora sim: chama-me fascista mesmo para ofender. É esta a alta noção que tem de dignidade.

Não vê a figura ridícula que faz com isso?

Chamar-me “fascista” é a mesma coisa que eu chamar-lhe (a si) galã ou bonitão – vê-se logo a desadequação do termo à personagem.

Tenha mas é juizo!

Agora uma informação: não pense que vou continuar a dar-lhe tempo de antena aqui no blogue. Eu sei que você é viciado em protagonismo. Não conte comigo para lho dar.

É que este blogue é meu.

Não é da Joana!]

sábado, 16 de abril de 2005

MEMÓRIAS DO FUTEBOL (1)


Campo da Várzea, na Praia.

O Derby tinha ido jogar com o Boavista da Praia a primeira-mão da final da Taça Casa do Leão (perdemos na Praia por 1-0 e ganhámos depois em S. Vicente por 2-0 ficando a taça em nosso poder).


(2)

Eis a Taça Casa do Leão ganha ao Boavista.
(Foto by Djibla)

(3)

Estádio da Fontinha, S. Vicente. (Foto by Djibla)

Mais um jogo do Derby com o Mindelense.

Nota: A Taça Casa do Leão era, ao tempo (anos 60), como que uma Supertaça de Cabo Verde.

quinta-feira, 14 de abril de 2005

O EDUCADOR DO POVO

Costuma se dizer que «há dias em que um homem não deve sair de casa». Pois. Também se pode dizer que "há dias em que um homem não deve abrir a boca". É precisamente isto que se pode dizer de Germano Almeida quando se lê o que ele declarou ao jornal "Expresso" e também fez publicar em Cabo Verde para rejeitar a ideia da integração de Cabo Verde na União Europeia. Aliás, Germano não disse nada. O que ele fez foi produzir argumentação coxa onde mistura o disparate puro e simples, ao ressábio e ressentimento do "preto" (a palavra é dele) a quem controlam a bagagem à chegada ao aeroporto internacional de Lisboa.

Não contente com o disparate e o ressábio acrescentou a isso uma pitada de soberba ao dizer que aquando de um futuro referendo fará campanha aconselhando o "não" à integração julgando-se assim um grande e respeitado senador cabo-verdiano a quem o povo não deixará de seguir com devoção e confiança. Rejeita a integração porque os portugueses (entenda-se os europeus) serão xenófobos. Isto é: usa a xenofobia para combater a xenofobia dos portugueses e europeus. E faz a mesma confusão que outros já fizeram: confunde Portugal com União Europeia. Fala como se o que está em jogo é a integração de Cabo verde em Portugal e não na Europa da União. É por isso que ele trouxe à baila a história das «adjacências» num exercício sem nexo e destituído de qualquer razão de ser nesta altura.

Eu não desconheço, e até já o escrevi, que há xenofobia e racismo em Portugal. Isto é um dado adquirido. Mas também há xenofobia e racismo na China, nos Estados Unidos, na Holanda, no resto do mundo.

Vamos por isso isolarmo-nos ou vamos combater a xenofobia e o racismo com as únicas armas possíveis e necessárias? - a educação, a instrução, a cultura e a convivência e cooperação entre os povos.

O que se passa é que Germano tem o seu problema de sobrevivência resolvido (pelos vistos bem resolvido) em parte graças à sua colaboração com os xenófobos portugueses. Que lhe dão notoriedade fazendo-lhe entrevistas e deixando-se fotografar à mesa com ele; que lhe publicam e vendem alguns livros medíocres que tem escrito; que reproduzem (como fez o Expresso) as sua asneiras sobre a integração de Cabo Verde na União Europeia, etc., etc.

Germano aceita que ele próprio pode conviver e tirar proveito do convívio com os portugueses xenófobos. O que Germano não aceita é que os cabo-verdianos convivam com os portugueses e tirem proveito dessa convivência. Aqui Germano age como o outro: façam o que eu digo, não façam o que eu faço.

É ridículo que alguém (nesse caso Germano Almeida) ignore o relativamente vastíssimo número de emigrantes cabo-verdianos integrados nos países de acolhimento nos mais variados cantos do mundo e defenda a teoria absurda do isolamento de Cabo Verde em relação à União Europeia. Isto não tem pés nem cabeça. É uma parvoíce como outra qualquer. E até o "preto" (a palavra continua a ser de Germano) cabo-verdiano mais imbecil será capaz de ver isso e votar pela integração de Cabo verde na União Europeia caso venha a haver (e eu sou dos que defendem que deverá haver) um referendo em Cabo verde sobre essa possibilidade.

Para finalizar quero deixar aqui uma nota de humor e dizer a Germano Almeida o seguinte: ele sabe muito bem o que quer dizer a palavra "preto" em Cabo Verde (sabe mas finge esquecer que sabe). E sabe que o cabo-verdiano, qualquer que ele seja, não se considera "preto". E é engraçado que quem se considere "preto" seja precisamente Germano, ele próprio um "moreno pintado". Ele há cada coisa que às vezes até apetece mandar certas pessoas àquela parte.

Germano andou toda uma vida de estudante a gozar as delícias de viver em Portugal; continua a gozar as delícias de ser tratado em Portugal como se fosse um escritor de verdade; e dá-lhe agora (terá bebido alguma coisa?) para cuspir na sopa. Ou pior: para c.... à saída.

Germano nunca usou o argumento da xenofobia dos portugueses para recusar uma entrevista a um jornal português, editar e vender um livro em Portugal, dizer umas larachas numa mesa-redonda ou num colóquio em Portugal. É que sempre esteve "integrado" em Portugal. Mas o que ele não quer mesmo é que os outros cabo-verdianos se integrem também. Não somente em Portugal, como ele afinal está integrado, mas na Europa.

Francamente! não há pachorra para aturar esses «educadores do povo».

Editada às 9:52 AM do dia 16/04/2005 para acrescentar o seguinte:

Satisfazendo um pedido de Germano Almeida, esclareço os leitores que ASM são as inicias do meu nome (Agnelo do Sacramento Monteiro). Antigo guarda-redes do Club Sportivo Derby de S. Vicente.

domingo, 10 de abril de 2005

NINO VIEIRA NA GUINÉ

Vou apresentar-vos a seguir uma notícia por mim comentada, com os meus comentários em itálico e entre parêntesis rectos [ ].

Regresso de Nino Vieira à Guiné Bissau

Do correspondente em Bissau da Agência Noticiosa Lusa, José Sousa Dias.

Nino Vieira foi transportado para Bissau a bordo de um helicóptero das Forças Armadas da Guiné-Conacri sem previamente ter pedido autorização para entrar no espaço aéreo guineense; daí o facto de ter optado pelo estádio e não pelo aeroporto de Bissau.

[Isto demonstra que consideração os países vizinhos têm pelas autoridades da Guiné-Bissau – ou seja: Nenhuma! Aquilo é chegar, entrar e descarregar o passageiro; não há controlo do espaço aéreo, não há fronteira, não há autoridades fronteiriças, não há alfândega, não há nada. É terra de ninguém onde a lei é feita pela vontade de cada um.]

O ministro dos Transportes e Comunicações da Guiné-Bissau, Rui Araújo, explicou ontem que ninguém pode entrar no espaço aéreo nacional sem, 48 horas antes, ter entregue um plano de voo e um pedido de autorização para aterrar à Direcção-Geral da Aviação Civil. Rui Araújo acrescentou que Nino violou o espaço aéreo guineense, o que dá ao Governo a possibilidade de apreender o helicóptero que o transportou.

[Mas ao que se sabe não houve qualquer apreensão tendo o helicóptero regressado a Conacri e tendo Nino ido pacificamente para casa de um familiar sem ter mostrado, ao menos, qualquer documento de identificação a quem quer que fosse].

Numa reunião as chefias militares guineenses voltaram ontem a manifestar a sua subordinação ao Governo, disse o ministro da Defesa, Daniel Gomes, no final de um encontro dos responsáveis das Forças Armadas com o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior.

[Que raio de País é este em que semana sim, semana não, as chefias militares têm que dizer se estão ou não subordinadas ao Governo? Sendo a Guiné um território governado (?) por um grupo de cidadãos sob tutela militar isto quer dizer que ainda os militares não estão suficientemente chateados para correr com os governantes (?) e pôr lá outros que mais lhes agradem.]

Gomes Júnior, também porta-voz do PAIGC [vejam só: o porta-voz de um partido político é também, ao mesmo tempo, Primeiro Ministro], garantiu aos jornalistas que a reunião tratou apenas de "questões da segurança geral do Estado". Recusando comentar o regresso de Nino Vieira, o ministro da Defesa afirmou que o Governo "não se preocupa" com essa questão porque "cada cidadão é responsável pelos seus actos". [E esqueceu de imediato a tal "violação do espaço aéreo"].

[Como podem ver é por esta e por outras que criticamos duramente o que se passa na Guiné-Bissau e dizemos que a (des)organização desse Estado é uma autêntica chacota. Foi também por isso que criticámos em tempo a visita do Presidente da República de Cabo Verde, Comandante Pedro Pires, àquele território. É que nenhuma autoridade máxima de qualquer País do mundo lá vai em visita oficial pois que os (ir)responáveis daquele território caíram em total descrédito internacional. - Não quero aqui lembrar que tudo isso se passa desde que correram com os cabo-verdianos da Guiné].

sábado, 9 de abril de 2005

EURO CABO VERDE (4)

Há poucos dias, numa daquelas "sondagens" que às vezes fazemos a amigos e colegas, eu "provocava-os" dizendo-lhes: «então, já sabes, qualquer dia Cabo Verde será Europa». Invariavelmente desaprovavam a ideia negando qualquer identidade a Cabo Verde para tal merecimento. Confrontados com o facto de a Turquia se preparar para fazer parte da União Europeia, todos diziam mais ou menos isto: «mas a Turquia é Europa» (!); tendo mesmo alguém dito: «a Turquia está mesmo aqui ao lado(?) e está "pegada" a nós».

Avaliem isto como quiserem.

O meu contra-argumento foi quase sempre este: olha que a Turquia fica na Ásia e está um pouco longe, mas se o argumento é esse de «estar pegado» então a China também está pegada a Portugal. E por baixo do mar - tudo está pegado a tudo afinal.

É isto: os argumentos de rejeição expendidos por aqueles cidadãos assumiam um carácter disparatado e revelavam não assentar em qualquer conhecimento minimamente aproximado da realidade.

Tenho para mim, até, que aqueles argumentos não valem por si. Que não são genuínos e verdadeiros. E que não querem exprimir o que literalmente exprimem.

Penso que aqueles argumentos escondem um outro argumento - o verdadeiro argumento - que não convém revelar: o que se baseia na xenofobia e no racismo larvar ainda há pouco tempo denunciado por alguns estudos sérios já divulgados.

Sendo importante a opinião de qualquer cidadão sobre propostas deste tipo é preciso, por isso mesmo, deixar bem claro que o que se propõe é a adesão de Cabo Verde à Europa e não apenas a Portugal. É que este ponto é muito importante e deve ficar bem claro: não se propõe a Portugal que "aceite" Cabo Verde como ilhas adjacentes (uma espécie de uns Açores situados um pouco mais a sul). A proposta é dirigida à União Europeia e exprime o desejo de Cabo Verde, integrando a Macaronésia (o conjunto das ilhas atlânticas dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde), contribuir para a consolidação desse espaço geoestratégico situado entre o bloco europeu e o bloco americano. É tão simples ou esquisito quanto isso.

Trata-se da proposição de um negócio político arriscado que pode beneficiar a Europa e Cabo Verde. Não se trata de um pedido de esmola ou da colocação de Cabo Verde em saldo.

Estou em crer que a adesão, a fazer-se num futuro ainda longe dos nossos dias, se fará mais por pragmatismo político, por geoestratégia de blocos político-militares, por interesses comerciais ou qualquer outro motivo ou razão de Estado do que por identidade cultural, por amizade, por passado histórico comum, ou qualquer coisa similar.

Cabo Verde, ao pretender aderir à Europa, terá bem presente que essa adesão será uma adesão de conveniência mútua: uma adesão que à Europa convirá na perspectiva da formação futura de um bloco político-económico-militar que se diferencie dos Estados Unidos; e que a Cabo Verde convirá na perspectiva do desenvolvimento industrial, social e humano que inevitavelmente lhe acontecerá.

É um assunto que os políticos da ambos os lados (Cabo Verde e União Europeia) saberão tratar com o pragmatismo habitual que se põe na abordagem dessas questões relegando para o baú das tralhas os maus humores, as xenofobias e os racismos vários dos povos.

E faço aqui um parêntesis para dizer que até hoje conheci apenas dois povos que na sua grande maioria não são xenófobos ou racistas. São eles: o povo brasileiro e o povo cabo-verdiano.

Mas arrumar o racismo e a xenofobia no baú das tralhas não significa esquecer que existem. É bom que esta realidade escondida seja sempre tida em conta quando lidamos uns com os outros, quando pedimos opinião, discutimos assuntos de algum melindre ou propomos reflexões sobre temas, como por exemplo o da integração de Cabo Verde na Europa, para, ao mesmo tempo que discutimos, podermos combatê-la e tentar eliminá-la pois é um cancro que rói os espíritos e os diminui significativamente.

Porque sabemos que os políticos de topo europeus dão lugar ao pragmatismo político e livram-se de preconceitos quando negoceiam;

porque sabemos que os verdadeiros intelectuais europeus ultrapassaram de há muito a fase da "superioridade ocidental" sobre os outros povos (e tem piada que Cabo Verde é ocidente e pertence ao hemisfério norte) e olham para o resto do mundo com natural espírito de equidade;

achamos que vale a pena levar avante este discussão, tentando envolver nela os políticos e os intelectuais de ambos os lados (Europa e Cabo Verde) pois só com os contributos destes dois mundos será possível fazer ver a todos o interesse mútuo da adesão de Cabo Verde à União Europeia.

quinta-feira, 31 de março de 2005

PONTO FINAL NESTE PORMENOR

Já nos questionaram algumas vezes porque é que insistimos tanto que o Presidente da República de Cabo Verde deve dizer alguma coisa sobre a proposta de integração de Cabo Verde na Europa.

Ora bem, o motivo por que insistimos neste ponto é considerarmos uma tomada de posição do Presidente como de muito interesse e de muita importância. Esse interesse e essa importância estribam no facto de uma palavra de um Presidente da República respeitado, como é Pedro Pires, servir - senão de farol - pelo menos como uma luz indicadora de que o assunto em questão é de grande relevância para o povo de Cabo Verde e merece ser encarado com toda a responsabilidade pelos cidadãos.

É que o não-envolvimento do Presidente nesta questão leva a que muitas pessoas pensem que se trata de mais uma questão política corriqueira e de mais um assunto para os opinantes habituais se entreterem a debater durante algum tempo.

Acresce que, como já dissemos antes aqui em baixo, trata-se de um assunto que implica, de forma incontornável, a Constituição da República de Cabo Verde - Constituição de que o Presidente da República é o primeiro e principal garante.

Daí a necessidade de sabermos a sua opinião.

Nós não temos dúvida de que essa opinião existe e está formada de há algum tempo a esta parte. E não ignoramos que a sua expressão pública levantará alguns demónios adormecidos na sociedade cabo-verdiana. Mas é bom que esses demónios se levantem para ficarmos a saber com clareza de que lado está o povo cabo-verdiano. Porque o mais importante é isto: saber de que lado está o povo.

É que os Governos e os Presidentes passam. Mas o povo fica sempre. E ele é que é o único e verdadeiro soberano.

Acresce ainda que um adiamento da tomada de posição do Presidente da República sobre o assunto enfraquecerá a expressão dessa mesma tomada de posição parecendo, depois, que vem a reboque desta ou daquela corrente de opinião dentre pelo menos duas que por certo se afirmarão futuramente.

Nós quereríamos ver em Pedro Pires um Presidente pautador da discussão e suscitador do debate e não um Presidente espectador e interveniente tardio.

Mas estes são os nossos desejos e as nossas opiniões. Infelizmente não influenciamos em nada o Comandante Pedro Pires. Ele tem os seus assessores e conselheiros. Por certo pessoas do mais alto gabarito que, com a sua importante opinião, o ajudam a agir ou a não agir – sempre nos supremos interesses da nação.

E por aqui nos ficamos, em definitivo, quanto a este pormenor de grande importância: não voltaremos a falar mais do Presidente da República de Cabo Verde no que diz respeito à proposta da integração do País na União Europeia.

Colocamos aqui um ponto final neste pormenor.

A COISA JÁ MEXE. ALELUIA

Afinal sempre vamos tendo cada vez mais ecos e opiniões sobre a proposta de integração de Cabo verde na União Europeia.

Para já ficámos a saber que a presença do embaixador de Cabo Verde, Onésimo Silveira, na conferência em que Adriano Moreira apresentou publicamente a proposta é lida como um sinal do agrado com que o Governo de Cabo Verde recebeu aquela iniciativa.

Mas bom seria que, em vez de apenas “sinais” cuja leitura fica à responsabilidade de cada um, as autoridades de Cabo-verdianas assumissem uma posição clara que dissesse aos cidadãos o que realmente acham do que é proposto.

Ficam aqui alguns links para quem queira tomar conhecimento de uma parte do que se tem dito e escrito sobre este assunto – quer em Portugal, quer ainda em Cabo Verde.

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E este link que o Carlos Pires me mandou

terça-feira, 29 de março de 2005

EURO CABO VERDE (3)

Afinal desde o dia 16 passado já há quem tenha produzido ao menos um comentário (nesse caso, de apoio) sobre a proposta de Adriano Moreira. Trata-se de Ricardo Alves, no blogue Esquerda Republicana.

Isto significa que a roda já começou a mover-se. Pelo Menos aqui em Portugal.

sexta-feira, 25 de março de 2005

DI BERBUM CADO FATUSÉS

Chegados que estamos a esta quadra da Páscoa lembro-me de quando ainda era criança e minha mãe me levava pela mão, no "Sábado de Aleluia", para assistir à "missa da ressurreição" de Cristo que se realizava na Igreja Matriz de S. Filipe, às 11 horas da manhã.

Lembro-me que me impressionava bastante todo aquele ambiente de luto em que se celebrava a missa; da semi-obscuridade da igreja imposta pelas portas fechadas e pelas janelas tapadas com cortinas pretas impenetráveis à luz.

Chegada a hora da ressurreição de Cristo caíam as cortinas das janelas e abriam-se as portas da igreja que era então completamente inundada, de repente, por faiscantes raios do radioso sol de Cabo Verde; soltavam-se pombas brancas que esvoaçavam pela nave da igreja pousando, instáveis, em qualquer saliência que encontrassem nas paredes. O coro entoava com alegria e fervor religioso o "Aleluia" e os corações dos fiéis enchiam-se de alegria.

Mas para mim esses tempos foram sol de pouca dura: poucos anos depois todo aquele encanto se perdeu pois a "missa da ressurreição" passou a ser celebrada à meia noite de sábado para domingo.

Ainda fui obrigado por minha mãe a assistir a essa missa durante os dois anos seguintes à sua passagem para missa nocturna. Minha mãe obrigava-me então a fazer um estágio pré-missa dormindo entre as nove as onze horas da noite. Às onze horas em ponto começava o meu suplício: era acordado por minha mãe que me conduzia, amparado, à casa de banho para que lavasse a cara com água fria e assim acordasse de vez; vestido a preceito eu era então arrastado pelas ruas até à Igreja Matriz; depois vinha a missa à qual eu assistia(?) cabeceando de sono, e às vezes dormitando mesmo, encostado a minha mãe. Quando chegava o momento da "ressurreição de Cristo" minha mãe sacudia-me para ter a certeza de que eu estava acordado e então assistíamos àquela cena triste do cair dos panos das janelas, continuando tudo às escuras como já estava, e assistindo ao voo desorientado de pombos assustados que batiam nas paredes sem saberem bem o que haviam de fazer nem onde poisar e muito menos porque haviam de voar àquela hora da noite. Cantava-se o "Aleluia" mas aquele cântico não jogava lá muito bem com aquele ambiente tão triste e deprimente.

Creio que esta foi a primeira razão por que eu me afastei da Igreja Católica. Outra razão para mim muito importante era a obrigatoriedade que havia de eu me confessar a padres mais pecadores do que eu, padres a quem eu já não reconhecia o direito de me perdoar, ainda por cima «em nome de Deus».

Depois também havia toda aquela história de a missa ser rezada em Latim e eu não perceber patavina daquela lengalenga enfadonha que durava a eternidade de uma hora ou mais. Às vezes a missa durava quase duas horas quando era "missa cantada" (havia então quem brincasse dizendo que se fosse missa assobiada talvez durasse menos).

E por falar em "Latim" - lembro-me de uma frase que o povo usava às vezes para fazer esconjuros: "Di Berbum cado fatusés". Só depois de já muito adulto vim a saber a origem dessa frase: "Et Verbum caro factum est" ("E o Verbo se fez carne").

Pois é! Se me perguntarem se amanhã vou à missa da ressurreição levam com esta resposta: Di Berbum cado fatusés!

quarta-feira, 23 de março de 2005

DE OLHOS POSTOS NO PASSADO

Enquanto os Ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Angola e São Tomé, logo a seguir à posse do novo Governo de Portugal, se apressaram a convidar o seu homólogo português, Diogo Freitas do Amaral, a visitar os seus países;

enquanto em Portugal Adriano Moreira, Mário Soares, Silvino Silvério Marques, Diogo Freitas do Amaral e mais uns quantos portugueses se preocupam em discutir e propor a Integração de Cabo Verde na Europa;

o nosso Presidente da República, Comandante Pedro Pires, anda em visita à Guiné-Bissau a apoiar as folclóricas "autoridades" guineenses que subsistem sob a "protecção" dos militares fratricidas que chefiam o sanguinário exército local.

É caso para perguntar a Pedro Pires se num pequeno intervalo dessa visita à Guiné-Bissau, visita que parece ser para ele transcendente para o futuro de Cabo Verde, não poderia dizer alguma coisa sobre este tema que cada vez mais vai parecendo tão insignificante para o País de que é Presidente - a proposta da sua integração na União Europeia.

Há alturas que um simples silêncio diz tudo o que não sabíamos sobre uma pessoa. Esta parece ser a altura de conhecermos melhor o Comandante Pedro Pires. E confessamos que não estamos a gostar nada de ter esse conhecimento.

quarta-feira, 16 de março de 2005

EURO CABO VERDE (2)

Em 12/02/2005 abordámos, aqui mais abaixo, a proposta do Professor Adriano Moreira para a integração de Cabo Verde na União Europeia. Sobre a mesma nos pronunciámos então concordantemente uma primeira vez e instámos as autoridades de Cabo Verde - mas sobretudo o Presidente da República, Comandante Pedro Pires - bem como a sociedade civil e os partidos políticos cabo-verdianos a pronunciarem-se sobre o que então chamámos de «uma proposta muito importante que não podemos deixar cair em saco roto».

Escrevemos então e-mails a algumas personalidades de relevo da política e cultura portuguesas e ficámos à espera de ouvir uma só voz que fosse a abordar o assunto. Para bem de Cabo Verde e do seu povo, no nosso entender.

Até agora, se as pedras da calçada se pronunciaram sobre o assunto, também se pronunciaram aquelas personalidades. Um dos instados foi o Professor Vital Moreira, jurista e constitucionalista que dispensa quaisquer apresentações, blogueiro activo no Causa Nossa, que se no passado nos respondeu a um e-mail solicitando tomada pública de posição sobre um tema (coisa que fez de pronto, então, no blogue em causa) agora achou por bem nada dizer, nem sequer acusar a recepção do e-mail falando no caso.

Mas eis que ontem o Dr. Mário Soares falou sobre o tema no programa Sociedade Aberta que foi transmitido pela SIC Notícias. E eis que hoje, na Sociedade de Geografia, em Lisboa, o Professor Adriano Moreira, o Dr. Mário Soares e o General Silvino Silvério Marques (este um dos mais ilustres Governadores que Cabo Verde teve durante o colonialismo e um grande amigo de Cabo Verde), com o apoio, por escrito, do Professor Diogo Freitas do Amaral, abordaram de novo o tema, em colóquio, e produziram um documento que levarão à apreciação do Governo Português, do Governo de Cabo Verde e da Comissão Europeia.

Tal como há dois anos pregámos, aqui na blogosfera, sozinhos, pedindo a quem pudesse, mas sobretudo aos senhores jornalistas, para que acordassem, verificassem e contassem o que se estava a passar na Saúde em Portugal, quando o Governo Barroso iniciou o desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde - tal como naquela altura em que todos dormiam e pareciam cúmplices com aquela missão criminosa do Governo -, hoje também aqui estamos, sozinhos (esperamos que só por enquanto), a pedir aos políticos, aos intelectuais, às pessoas interessadas - que felizmente há muitas na blogosfera - que se pronunciem sobre esta proposta de integração de Cabo Verde na União Europeia para que haja uma ampla e profícua discussão do problema pois, interessa de alguma forma a todos nós (portugueses, europeus e cabo-verdianos) o destino futuro daquele arquipélago «com os pés em África e a cabeça na Europa».

Até que o tema seja "pegado" por aí e entre em discussão, aqui estaremos a pregar.

Até que a voz nos doa.

Água mole em pedra dura...

sábado, 12 de fevereiro de 2005

EURO CABO VERDE (*)

Num artigo de opinião intitulado "A integração de Cabo Verde na Europa", saído em Lisboa, no Diário de Notícias, no dia 08/02/2005, o Professor Adriano Moreira alerta-nos a todos, mas sobretudo a Portugal, a Cabo verde e à União Europeia, para a importância de se começar a pensar já na possibilidade da integração de Cabo Verde na Europa.

Porque - e vamos citar Adriano Moreira:

«Talvez seja oportuno, e necessário, [a Europa] olhar criticamente para o Atlântico de onde partiu o movimento [do alargamento da União Europeia], dando atenção ao risco de afastamento entre o europeísmo e o americanismo, considerar a necessidade de continuar a tentar modelar a articulação entre a segurança do Atlântico Norte e a do Atlântico Sul, e repensar o estatuto dos arquipélagos que pontuam a linha divisória.»

«Mas, por outro lado, e voltando às questões da segurança, não é possível sugerir qualquer modelo de organização do Atlântico Sul, e de articulação entre a sua segurança e a do Atlântico Norte, sem incluir Cabo Verde no processo, supondo que não recusará o consentimento e a colaboração.»


Trata-se de um alerta importantíssimo - este que o Professor Adriano Moreira nos faz -. Trata-se de uma análise/proposta de integração que o Professor faz, ao mesmo tempo: a Portugal, à União Europeia e a Cabo Verde.

Nós não sabemos o que pensam as actuais autoridades de Cabo Verde sobre este assunto e gostaríamos que se pronunciassem com alguma brevidade sobre o mesmo. Mas pensamos que o que interessa mesmo é sabermos desde já o que pensa o Presidente da República de Cabo Verde sobre tão importante questão.

Tratando-se de um tema relativo à soberania de Cabo Verde e, portanto, de um tema constitucional (que implica a Constituição da República de Cabo Verde), cremos que é exigível que o Presidente da República diga aos nacionais de Cabo Verde (os que vivem dentro e os que vivem fora de Cabo Verde) qual o seu entendimento desta proposta/análise de Adriano Moreira.

Esta é uma oportunidade excepcional que Pedro Pires tem, desde que tomou posse, até hoje, para dizer algo de muito válido aos cabo-verdianos.

Sem pretender recriminar a postura demasiado low profile que Pedro Pires adoptou desde que assumiu o cargo de Presidente da República de Cabo Verde, achamos, muito sinceramente, que este assunto de uma possível integração de Cabo Verde na União Europeia - que é disso que se trata quando Adriano Moreira diz "Europa" - deve despertá-lo para falar à nação e ser ele a marcar o compasso do debate público que sobre este tema por certo se não deixará de fazer. Quer em Cabo Verde, quer fora dele.

De outro modo estaria a faltar, no nosso entender, a um dos seus deveres principais: o de ter e de emitir opinião sobre temas tão importantes como são os que se referem à Constituição da República, à Soberania e, no fim e em resumo, ao destino colectivo dos cidadãos: o destino da nação. Nesse caso seria legítimo, então, pedirmos-lhe que se não recandidate e abra espaço, dentro da área política a que pertence, para que surjam outros candidatos que disputem com os de outras áreas o lugar de quem deve, para além de representar o Estado, pronunciar-se dirigindo-se aos cidadãos, sobre matérias de interesse colectivo, sobretudo quando está em causa (como neste caso está) a Soberania do País. Porque, sendo este um tema de grandíssima importância e bastante melindre - tema para mais que uma geração discutir, interiorizar, promover, decidir, negociar e concretizar - cabe, sem a mais pequena dúvida, ao Presidente da República falar à nação e marcar a agenda da sua discussão pública. E durante todo o tempo que isso se vier a passar, a batuta do Presidente da República terá que estar activa na direcção da orquestra - sabendo nós bem que a partitura será composta pelos cidadãos cabendo ao maestro (Presidente) apenas fazer interpretá-la -.

É que, que nos lembremos, desde a sua posse no alto cargo de Presidente da República, até hoje, Pedro Pires, ao contrário do que seria desejável, não fez comunicações ao país nas quais focasse de forma clara os grandes temas estruturantes da sociedade: organização da família; educação dos jovens; formulação de desígnios nacionais que mobilizassem a nação e lhe dessem um rumo face às grandes dificuldades que se levantam à afirmação da identidade pátria de um país tão pequeno e com tantos cidadãos dispersos pelos quatro cantos do mundo, como é Cabo Verde; no fundo, dizer, ao menos, aos cabo-verdianos, o que pensa o Presidente da República acerca dos caminhos (e quais são esses caminhos possíveis) que Cabo Verde pode trilhar para sobreviver e prosperar no mundo globalizado e cada vez menos solidário em que vivemos hoje. Por tudo isso esta é a oportunidade de ouro de o Comandante Pedro Pires, Presidente da República de Cabo Verde, vir a terreiro comunicar com a nação.

Não nos esqueçamos também que cabe aos principais partidos políticos cabo-verdianos e aos grupos organizados de cidadãos (aos grupos existentes e aos em formação) uma quota-parte importante de responsabilidade na dinamização do debate e no contributo para o seu enriquecimento e clarificação.

Todos seremos poucos para uma definição clara de objectivos e uma escolha acertada do caminho do futuro para a nação cabo-verdiana. Um caminho que nos afaste de vez da dependência da "ajuda" alheia nos moldes actuais (das geminações de municípios, das ofertas materiais de equipamentos quantas vezes obsoletos, das bolsas de estudo e de formação, dos projectos de cooperação em que a fatia de leão muitas vezes fica em casa de quem "oferece", etc.). Não é que essas geminações, essas ofertas, essas bolsas, esses projectos de cooperação sejam coisas sem importância e de desprezar - nada disso -. Reconhecemos-lhes a sua importância e estamos agradecidos por eles. Mas o que queremos mesmo é que um dia possamos conviver com outros povos num espaço em que os nossos proventos advenham da importância do nosso trabalho e do nosso esforço, integrados que estejamos num colectivo harmonioso de nações que nos reconheça o lugar de parceiro eficiente e de plenos direitos. Não mais parceiro menor; amigo em dificuldades; por vezes pedinte envergonhado da sua pobreza material. Não mais a situação de condenados, sobretudo pelo isolamento geográfico, ao destino de povo solitário, eterno produtor de diásporas-âncora, sobrevivente de todas as tempestades e, parafraseando o poeta, «comendo pedras para não perecer».

Não ignorando que a proposta de Adriano Moreira é uma proposta incómoda para certos espíritos cujas opiniões conhecemos bem, ela é, contudo, uma proposta suficientemente importante para merecer ser ponderada ao mais alto nível e merecer daí uma resposta pública clara. Sem subterfúgios ou meias palavras. Merece ainda toda a atenção por parte dos analistas políticos e demais fazedores de opinião, em Cabo Verde e no exterior; dos intelectuais que habitualmente evitam opinar politicamente; dos cidadãos em geral. É uma proposta muito importante que não podemos deixar cair em saco roto.

E não nos venham dizer que um Presidente da República não se pronuncia sobre problemas individualmente levantados por esta ou aquela pessoa (no caso Adriano Moreira). Porque o que deve mover um Presidente em casos semelhantes é a ideia em si e não apenas a fonte da ideia. Se bem que Adriano Moreira tem um currículo invejável e uma autoridade indesmentível como analista e teorizador de questões estratégicas globais, o que, por si só, faz com que deva ser escutado com toda a atenção por qualquer Chefe de Estado devendo por isso esta sua propostas de integração de Cabo Verde na Europa merecer toda a atenção por parte das autoridades cabo-verdianas, em particular do Chefe de Estado de Cabo Verde.

(*) O título é uma provocação que esperemos espevite a discussão.

Eis aqui o artigo de Adriano Moreira.

domingo, 6 de fevereiro de 2005

DJARFOGO PÂ RIBA TUDO

Confesso que quando publiquei aqui a fotografia do miúdo transportando peixe à cabeça (ver mais abaixo) para ganhar o suã para alimentação da família, eu pensava que essa prática se tinha extinto com a independência de Cabo Verde. Mas Rui Guilherme veio provar(-me) aqui que as dificuldades dos tempos idos de sessenta se mantiveram ainda até pelo menos 1999. Só espero que a contrapartida de tal tarefa já fosse outra nessa altura. Isto é o meu orgulho de cabo-verdiano a falar.

Quanto a barões trepadores, claro que sempre os houve e haverá em grandes quantidades na ilha do Fogo. Subir, mesmo que seja apenas a uma árvore, é o apelo irresistível de qualquer miúdo da ilha do vulcão: não nos contentamos em observar a humanidade ao nível rasteiro em que ela normalmente vive. Não é por acaso que existe a célebérrima frase «Djarfogo pâ riba tudo». E não foi por acaso que a fotografia de Bila Baxo (aqui em baixo) foi tirada de cima para baixo. É uma propensão quase genética: não há volta a dar-lhe.

SODADI DI DJARFOGO


Bila Baxo
Vista da varanda da casa de nhô Guinelo

domingo, 16 de janeiro de 2005

TRISTEZA


(Foto by Djibla)

Era de um guarda-redes desta categoria que o Sporting precisava hoje na sua deslocação à Madeira: o guarda-redes menos batido em rês campeonatos sucessivos em S. Vicente, nos finais dos anos sessenta; conhecido por defender grandes penalidades e que jogava sempre fora da baliza quando havia cruzamentos e cantos atrasados disputando com vantagem (porque com as mãos) os lances aéreos na grande área com os avançados adversários - tudo o que Ricardo hoje devia fazer e não fez. Enfim!...

Com efeito o Sporting acaba de perder com o Nacional da Madeira por três bolas a duas.

É no mínimo curioso constatar, desde há três anos (pelo menos) a esta parte, que o Sporting, de cada vez que tem a oportunidade de se distanciar do Porto e do Benfica na classificação, deixa-a perder-se ao realizar exibições medíocres (como a de hoje) em que a defesa é quase sempre a maior culpada.

Hoje Ricardo voltou a comprometer sendo culpado em todos os três golos do Nacional. É obra!

Se calhar não é ainda desta que lá vamos, oh caros amigos, Cau e Adalberto.

domingo, 9 de janeiro de 2005

FELICIDADE



Ontem nem um golo em posição de fora-de-jogo, nem uma expulsão injusta, nem o louco festival de amarelos oferecido pelo árbitro impediram o Sporting de dar uma coça à equipa dos enfermos e tontinhos do Benfica.

Fiquei contente. E só não fiquei mais porque tendo Liedson marcado os dois golos do Sporting, agora é que o rapaz já se acha no direito de passar a semana no Brasil e regressar só aos sábados para marcar golos, introduzindo assim a indisciplina no seio da equipa.

Lá na América estou a ver o Cau Pires e o Adalberto também eles contentes e a pensar numa churrascada para quando for a vitória no campeonato.

Um abraço, meus amigos! Prometo aí estar se for caso disso.

sábado, 1 de janeiro de 2005

UMA PAUSA DO BARÃO TREPADOR



No dia do meu segundo aniversário desci por instantes das árvores para ser imortalizado pela Leica manual do meu tio, Joaquim Monteiro de Macedo.

A pose inocente não disfarça, contudo, o olhar mortífero de um blogueiro potencial.

Com uma cabeçorra enorme para a idade - o artesão contratado por meu pai, para confecionar um capacete colonial de miolo de cana de milho, revestido de Kaki, falhara a estimativa do meu perímetro cefálico e perante o fracasso em contribuir para me abrigar do sol inclemente, pois o capacete ficava-me no cocuruto, só dizia: «esta cabeça afinal não é a de um miúdo, caramba» - eu sei o que todos pensavam: «ou ele sofre de hidrocefalia, ou então tem mesmo um cérebro grande demais para uma criança desta idade».

Para ser do Sporting; regressar de Macau quando podia lá continuar a trabalhar; suportar sem morrer um Governo Santana Lopes ; e dar em blogueiro… se calhar era mesmo hidrocefalia que eu tinha.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

A PROVA QUE FALTAVA



Como qualquer africano que se presa, em garoto vivia nas árvores qual Barão Trepador. Esta fotografia é da autoria de Augusto Monteiro, então gerente comercial da Casa Vasconcelos, no Fogo, e imortaliza o dia em que cometi a grossa asneira de descer das árvores para iniciar a vida entre os humanos.

terça-feira, 28 de dezembro de 2004

A LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA



Naquele tempo a luta pela sobrevivência era bem mais dura que nos dias de hoje, e assumia por vezes aspectos de todo em todo chocantes no contexto histórico em que tinha lugar - como no caso aqui retratado, datado da década de sessenta do século XX.

Durante décadas e décadas, nas praias da ilha do Fogo, à hora da chegada dos pequeninos botes de pesca, lá estava sempre um magote de crianças com idades entre os dez e os catorze anos, cujas, depois de ajudarem a arrastar o bote para areia seca, disputavam entre si, arduamente, o transporte do atum e da serra, à cabeça, desde a praia até ao mercado do peixe (uma longa e dura caminhada ao sol), subindo a íngreme estrada de Fonte Vila, de chão de basalto escaldante, ou palmilhando os quatro quilómetros da estrada da Praia de Nossa Senhora.

E todo esse trabalho para receberem o quê como pagamento?

Para receberem o suã do peixe transportado e garantirem assim que à noitinha haveria lá em casa uns fiapos de peixe na catchupa da única refeição do dia.

Para quem não sabe, suã de peixe é o esqueleto, a espinha, que resta depois de separada a cabeça do animal e cortados rente à espinha os dois filetes do mesmo.

Convenhamos que o heroísmo de um povo se constrói de milhentas formas, algumas quase impensáveis para o tempo em que ocorreram.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2004

SEMPRE COM OS MAIS VELHOS



Estes foram os primeiros e firmes passos como boémio. Na companhia do Lourenço (que até aí nem sequer podia sentir o cheiro do álcool), do João de Muná, Lili de Benvinda, Augusto de Gudjermina e do Ovídio Scróbia. Depois de passar por esta escola, já nada mais havia a aprender; agora era só ligar o piloto automático e deixar vogar o barco da boémia.
SEMPRE COM OS MAIS VELHOS



Era e é uma constante na minha vida - andar na companhia dos mais velhos.
Esta é uma fotografia tirada num dia de Natal da década de cinquenta, na Praceta Pedro Monteiro Cardoso, ao pé da casa de nhô Quirino, na companhia de dois grandes amigos, Roberto de Carolina e Xixino. Com o Roberto a amizade estreitar-se-ia ao longo do tempo e a aprendizagem da vida far-se-ia pelo lado mundano e boémio; com o Xixino (falecido há já quase vinte anos), manteve-se a amizade em velocidade de cruzeiro sendo a poesia e a música os dois temas dominantes dessa ligação.