Na sequência do texto "O EDUCADOR DO POVO" que publiquei mais abaixo (clique aqui e leia esse texto antes de continuar), Germano Almeida, como, aliás, eu já dissera, escreveu-me. Como ele insiste para que eu publique a correspondência que se gerou entre nós, é com alguma pena que me vejo forçado a fazer essa publicação pois, em primeiro lugar considero a correspondência pessoal confidencial, e por outro lado acho a publicação desta nossa "prosa" um acto um tanto ou quanto masoquista por parte de Germano.
Mas o que é que eu posso fazer quando é o próprio que insiste em ver aqui o que dissemos um ao outro?
Preparem-se então pois a coisa aqui vai.
Esclareço que o que está escrito em letras carregadas, a negrito, é o que escreveu Germano. E o que está em itálico e entre parêntesis rectos são as minhas respostas ao desvario de Germano.
PRIMEIRO E-MAIL
PARCERIA COM A EUROPA:
Caramba, salmoura, você justifica o seu nome à exaustão, levou consigo todo o sal das ilhas [mais uma boa quantidade do enxofre do vulcão do Fogo]. Mas é um erro ser tão fascistamente intolerante [aqui está um insulto gratuito e um claro sinal de intolerância] com nós outros que preferimos "PARCERIA" com a União Europeia em vez de "INTEGRAÇÃO". Você gosta mais desta que da outra? [Eu “gosto” do que o povo de Cabo Verde vier a escolher em referendo não viciado que almejo haja]. Terá as suas razões [claro, o senhor de La Palice não diria melhor], até porque tudo leva a crer que está por lá, com tempo até para blogar! [Lá porque sou imigrante aqui em Portugal acha que os portugueses me deveriam tratar abaixo da cão, isto é, diferentemente do tratamento que lhe dão a si, e que pelos vistos não deprecia, a ponto de eu não ter tempo para blogar?] Explica-as, pois, para nós coitados que somos ignorantes. Mas sem insultar, sem nome feios [olha quem fala: não começou logo por me apelidar de fascista?], deve ser um defeito que lhe ficou do passado [não se fie em palpites. Se está a referir-se ao meu passado pessoal engana-se rotundamente: pergunte por aí que há muito quem me conheça em S. Vicente, Praia e Fogo -, a começar por quem pelos vistos quer apoiar em futuras eleições e passando depois pelos mais velhos do seu partido] mas terá que ser combatido [desde que democraticamente, tudo bem], de contrário não convence nem o pessoal que está entre o sim e o não quanto mais os outros [o seu erro é pensar que se deve debater ideias para “convencer” A ou B. Deixe a quem ouve e lê a liberdade de escolher o que quer - não tente “convencer” ninguém - o cabo-verdiano não é burro. Seria um exercício mal recebido em democracia o de “convencer” as pessoas; isso faz parte do arsenal de acção política dos regimes autoritários], então não vai já para 30 anos que acabou essa estória de que quem não é por nós é contra nós? [já, já, e espero que tenha isso sempre bem presente]. Olhe, venha até Cabo Verde, promova debates para os quais terá todo o apoio, cada um defenderá as suas razões e depois veremos quem melhor convence [continua com a mania de “convencer”. Aí em Cabo Verde compete a vós promover debates; eu fá-los-ei aqui em Portugal onde vivo – ou quer retirar aos cabo-verdianos emigrados o direito ao debate a à opinião em referendo sobre essa proposta? Nem pense nisso! Senão não há como evitar que alguém lhe chame o nome feio que me chamou de início]. Mas, cuidado!, aqui em Cabo Verde não se insulta nos debates, só nos comícios [mais uma vez lhe digo: bem prega frei Tomás].
Mantenhas [para si também].
PS: Ponha o seu nome completo [Agnelo do Sacramento Monteiro], as pessoas estão a telefonar-me a perguntar quem é que me insultou [que exagero! mas se se acha insultado peço desculpas] e só sei dizer que é um anónimo que se esconde debaixo de um ASM [agora já pode dizer quem sou]. Germano Almeida
PS2: Se vier até cá [vou muitas vezes. Passarei o próximo 1º de Maio no Fogo] terei todo o prazer em oferecer-lhe uma colecção dos meus livros [aceito-a desde já e espero que cumpra a sua palavra], vai (ver) que nem todos são assim tão maus como ouviu dizer [não seja presunçoso e leviano no julgamento dos outros: de três livros seus que li, “Estórias de Dentro de Casa”, “As Memórias de Um Espírito” e “O Testamento do Senhor Napumoceno da Silva Araújo”, achei os dois primeiros medíocres. Não falei em “mau”. É uma opinião pessoal que tenho todo o direito de ter como leitor – até porque comprei os livros com dinheiro proveniente do meu trabalho. E se quer que lhe diga achei interessante o “Testamento” pela intriga]. GA
Até sempre
ASM
SEGUNDO E-MAIL
(Germano achou que tinha erros de concordância e então substituiu-o por um terceiro email).
TERCEIRO E-MAIL
PARCERIA COM A EUROPA:
Desculpe o reenvio (do e-mail), mas como homem atento deve ter reparado em pelo menos 2 erros de concordância. GA [Já tinha dado por isso mas não ia ligar. É que segundo julgo saber a “gramática portuguesa” que você costuma usar nem sempre está disponível. Por isso esteja à vontade. Pode escrever com erros que não há problema. Já agora sempre lhe digo que também já tinha reparado que tem dificuldades em usar a pontuação. Leia Eça e Camilo que eles são excelentes exemplos de bem-escrever o Português (mais o Camilo que o Eça) e vai ver que com o tempo melhorará a sua performance. Evite ler Saramago pois que com isso pode piorar a coisa. Mas se preferir pode fazer como o outro: escreva sem pontuação, mande a pontuação toda à parte que eu depois encarrego-me de a colocar correctamente no texto; talvez assim seja melhor] Já estava a pensar, afinal o fulano é cobarde, não honra o nome da sua ilha (espreitei o blog, claro!), atira a pedrada e esconde-se sob uma sigla [esse é um defeito que tem: é preconceituoso]. Mas eis que me diz ser Agnelo Sacramento Monteiro. Muito bem, já estamos conversados e já entendo melhor a sua posição europeísta... [lá vem de novo o preconceito: como sou Sacramento Monteiro só posso ser fascista e “europeista”. Para si o apelido gera a ideologia - esta é nova e digna de um novo manual político de sua autoria que esperemos saia em breve.] Sem ofensa, palavra d'honra! Devo o meu primeiro emprego a Leão Sacramento Monteiro, governador em 65/66 [pelos vistos naquele tempo não se importava de ter «laços comestíveis com o Estado». Fico satisfeito por saber que o meu primo fascista o ajudou no passado]. E também esclareço: quando digo "fascista" não pretendo de forma alguma ofender. Infelizmente essa palavra perdeu o seu significado ideológico para passar a pejorativo, mas (pode continuar a chamar-me "leviano" e "presunçoso") tenho formação jurídica e política suficiente para saber usá-la correctamente [bom dia, senhor doutor, eu sou um antigo guarda-redes]. A sua atitude foi fascista, não aceita que outrem possa ter posição diferente da sua que considera a mais acertada de todas as outras [esta afirmação é gratuita. Não há uma única passagem do meu texto onde você pode encontrar justificação para dizer isso. Não nego a ninguém o direito à opinião. O que aconteceu foi que, estribando-se em incoerências e argumentos falsos, você construiu inevitavelmente uma falácia que eu não quis deixar passar em claro. É que ainda por cima apresentou-a ao público como se fosse uma máxima filosófica saída da mais fina e arguta elucubração. O que eu fiz foi dizer: atenção que alí há incoerência grossa. Mais nada] Aliás, conta isso sobre os seus amigos que dizem "não" quanto ao euro (?). E afirmou-o abertamente quando achou que eu deveria sentir-me grato por alguns portugueses me honrarem com a sua companhia nas mesas e fotografias [não falei em “honrar”. O que fiz foi admirar-me do facto de, recorrendo você à xenofobia dos portugueses para rejeitar a “proposta de integração”, esses xenófobos portugueses, sabendo isso, se sentem à mesa consigo e você com eles - é que aqui há qualquer coisa que não bate certo, não acha?]. Olhe que nem Salazar teria ido tão longe na afirmação da superioridade de um povo sobre outro [eu já tinha reparado que você anda a ver fantasmas por todo o lado. Espero que não seja um caso sério de delírio persecutório ou de outra patologia afim], porém, descanse que não é um exclusivo seu. Nós que nascemos e crescemos sob esse regime temos que estar permanentemente a nos vigiarmos se queremos evitar sermos surpreendidos por comportamentos do tipo: é que saem sem a gente se dar conta [confesso-lhe que eu não vivo nesse pesadelo permanente de me “vigiar”, e nisso tenho pena de si: essa “vigilância” permanente deve levar a um estado de extrema exaustão mental capaz de perturbar o raciocínio e determinar comportamentos anómalos]. Por isso discordo de si quando recusa os debates... Aliás essa é mesmo uma atitude leviana (de "leve", nada de ofensas, começamos a comportarmo-nos como se fóssemos ["fóssemos"? isto é mesmo erro de Português, não é lapsus calami] civilizados!), então ainda há dias não saiu de uma campanha em Portugal? Ou acha que o PS ganhou porque as pessoas acordaram naquele domingo e pensaram, São bons rapazes, vamos votar neles! [o que é que tem este cu a ver com as calças, sabe dizer-me? Mas deixe-me dizer-lhe o seguinte: eu fiz campanha pelo PS e votei PS – nada mau para um fascista, não é?] Debate-se para "convencer" e depois "vencer", a pequena conquista relativamente ao passado é que em democracia os inimigos são tratados por adversários [então seja coerente e trate-me como adversário em vez de andar por aí a berrar tresloucadamente que sou fascista, fascista, fascista sem saber que mais dizer].
Eu direi que uma parceria é mais vantajosa para nós, darei as minhas razões, você defende a adesão e justificará e depois as pessoas escolhem [assim já está um bocadinho melhor: «as pessoas escolhem». Mas deixe-me que lhe aponte agora qual o seu ERRO MONUMENTAL. Havendo uma “Proposta de Integração de Cabo Verde na União Europeia”, proposta formulada por personalidades portuguesas do mais alto gabarito, a qual poderá levar a um referendo em Cabo Verde, o meu amigo (posso tratar-lhe assim ou é ofensa?), na pressa de se fazer ouvir sobre essa proposta, não pensou duas vezes naquilo que ia dizer. Com efeito, falar como faz em “Parceria com a Europa”, quando o que se propõe é “Integração”, é um perfeito disparate. É que a única proposta que existe é de “Integração”. Não há proposta de “Parceria”. Portanto, se quer propor “Parceria” a referendo, terá, em primeiro lugar, que conceber, fundamentar e apresentar ao Governo de Cabo Verde e à União Europeia uma proposta nesse sentido (e sempre eu queria ver que “compagnons de route” arranjaria para assinarem consigo uma pepineira desse jaez). Andar a falar em “Parceria” antes de fazer isso é simplesmente patético, nada mais. É que não faz qualquer sentido, percebeu? A haver referendo sobre “Integração” os cidadãos só terão que responder “sim” ou “não” ao que lhes é perguntado; não podem ir para lá dizer que querem outra coisa que não lhes é proposta. De contrário seria o mesmo que alguém lhe perguntar (a si, Germano) “quer ou não casar com a Maria?” e você responder: quero casar com a Genoveva”. Percebeu? É que não bate a bota com a perdigota] E digo-lhe mais e sem paixão, até porque eu daqui nunca sairei: mesmo para os emigrantes ganharemos mais com a parceria. Leu por acaso as entrevistas do prof. Adriano Moreira e do Dr. Mário Soares? Para este último somos porta-aviões no meio do Atlântico, para o outro a Europa precisa crescer para o Atlântico. E nós caboverdianos? [trabalharemos e cresceremos no nosso porta-aviões] Você acusa-me de ter a sobrevivência garantida (por acaso não à custa dos livros vendidos em Portugal) e por isso estar contra a "integração", mas deve saber (para alguma coisa tem lhe servir ser do Fogo!) como a dignidade é importante para o nosso povo. Foi, mesmo nos tempos das grandes fomes [alto aí e pára o baile! Sobre dignidade, a mim não me dá lições. Fique com esta: o meu avô materno, Agnelo Adolfo Avelino Henriques, Administrador do Concelho do Fogo, nos anos trinta, foi mandado prender pelo Governo Colonial de então, juntamente com o meu tio avô, António Avelino Henriques, por, juntos, terem publicamente declarado a populares desesperados que aos milhares acorreram a S. Filipe clamando por uma solução para a fome: «damos um prazo de x dias ao Governo de Cabo verde para resolver a situação, findo este prazo, se nenhuma solução for encontrada, pediremos intervenção estrangeira». Na sequência dessas declarações o Governo Colonial mandou ao Fogo uma canhoneira que desembarcou um pequeno destacamento da marinha, comandado por Henrique Galvão (esse mesmo que desviou o paquete Santa Maria), o qual prendeu os dois irmãos, os encarcerou no Fortim em S. Vicente e os fez julgar em tribunal especial que os condenou: meu tio avô António cumpriu degredo em S. Tomé, e meu avô Agnelo perdeu todos os direitos políticos sendo banido definitivamente da Administração Pública e tendo sobrevivido até aos noventa e sete anos de idade sem nunca se ter curvado perante qualquer “autoridade”. Morreu em 1983 com um passaporte cabo-verdiano no bolso. Como pode ver, fui formado numa “escola” de valores que dispensa lições de quem quer que seja. Mais cabo-verdiano do que nós não há!] Reafirmo: O caboverdiano não tem condições para ser inferior! Ou pelo menos a grande maioria [na qual tem forçosamente de me incluir].
Quanto à oferta dos livros, as pessoas que me conhecem sabem que sou homem de palavra. Mas lembre-se: Se vier até cá, a S.Vicente! E já que vem para o 1º de Maio no Fogo, dê um salto a SV, não só lhe entrego os livros como promoveremos um debate público sobre adesão ou integração europeia. Claro que estaremos em posições adversas, mas é como com os meus livros, gosto de "Estórias de dentro de casa" e nem por isso do "Testamento".
Enfim, esta já vai longa, mas não posso deixar de dizer (e esperar) que seria um acto democrático publicar essa nossa correspondência no seu blog, mesmo permeado de comentários em itálico [aproveito esta “autorização” pois é assim que costumo responder aos e-mail que me mandam]. Parece-me mais justo, tendo em atenção as pessoas que leram a sua catilinária contra mim, a menos que queira ser considerado totalitário [como já deve ter reparado, esta não pega]. Ah, esquecia-me já: não tenho filiação partidária. Tenho estado do lado daqueles que acho que defendem os interesses de Cabo Verde [eu sei: ora com uns, ora com outros, ora de novo com os anteriores - é problema seu] e dos caboverdianos, vivo da advocacia, não tenho laços comestíveis com o Estado. Tenho-os recusado sempre porque quero continuar um homem livre. [Felicito-o por isso. Sem qualquer ponta de ironia]
PS: Se lhe agrada a ideia do debate, pode escolher um dia da primeira semana de Maio. Na seguinte estarei ausente [não me parece de utilidade um debate consigo nesta fase do processo. Decante as ideias, arrume-as melhor e depois debateremos se for caso disso].
Continuação de mantenhas, [para si também]. Germano Almeida
Até sempre
ASM (Antigo guarda-redes do Derby)
QUARTO E-MAIL
Acabo de abrir o seu blog. Posso confessar a minha desilusão de si? Francamente, de um desportista esperava mais. Então recusa-me o elementar direito de resposta? E quer ser democrata? Afinal terei que o considerar fascista, agora no sentido pejorativo da palavra.Terá que vir buscar os livros a minha casa. GA
[Se calhar julga que eu não tenho mais que fazer e passo por isso a vida sentado ao computador à espera dos seus e-mails para ir logo publicá-los no meu blogue.
Sei que está nervoso e impaciente por corrigir as asneiras que disse. Mas olhe que cada vez que cava mais fundo sai mais minhoca fedorenta.
Agora sim: chama-me fascista mesmo para ofender. É esta a alta noção que tem de dignidade.
Não vê a figura ridícula que faz com isso?
Chamar-me “fascista” é a mesma coisa que eu chamar-lhe (a si) galã ou bonitão – vê-se logo a desadequação do termo à personagem.
Tenha mas é juizo!
Agora uma informação: não pense que vou continuar a dar-lhe tempo de antena aqui no blogue. Eu sei que você é viciado em protagonismo. Não conte comigo para lho dar.
É que este blogue é meu.
Não é da Joana!]