quinta-feira, 14 de abril de 2005

O EDUCADOR DO POVO

Costuma se dizer que «há dias em que um homem não deve sair de casa». Pois. Também se pode dizer que "há dias em que um homem não deve abrir a boca". É precisamente isto que se pode dizer de Germano Almeida quando se lê o que ele declarou ao jornal "Expresso" e também fez publicar em Cabo Verde para rejeitar a ideia da integração de Cabo Verde na União Europeia. Aliás, Germano não disse nada. O que ele fez foi produzir argumentação coxa onde mistura o disparate puro e simples, ao ressábio e ressentimento do "preto" (a palavra é dele) a quem controlam a bagagem à chegada ao aeroporto internacional de Lisboa.

Não contente com o disparate e o ressábio acrescentou a isso uma pitada de soberba ao dizer que aquando de um futuro referendo fará campanha aconselhando o "não" à integração julgando-se assim um grande e respeitado senador cabo-verdiano a quem o povo não deixará de seguir com devoção e confiança. Rejeita a integração porque os portugueses (entenda-se os europeus) serão xenófobos. Isto é: usa a xenofobia para combater a xenofobia dos portugueses e europeus. E faz a mesma confusão que outros já fizeram: confunde Portugal com União Europeia. Fala como se o que está em jogo é a integração de Cabo verde em Portugal e não na Europa da União. É por isso que ele trouxe à baila a história das «adjacências» num exercício sem nexo e destituído de qualquer razão de ser nesta altura.

Eu não desconheço, e até já o escrevi, que há xenofobia e racismo em Portugal. Isto é um dado adquirido. Mas também há xenofobia e racismo na China, nos Estados Unidos, na Holanda, no resto do mundo.

Vamos por isso isolarmo-nos ou vamos combater a xenofobia e o racismo com as únicas armas possíveis e necessárias? - a educação, a instrução, a cultura e a convivência e cooperação entre os povos.

O que se passa é que Germano tem o seu problema de sobrevivência resolvido (pelos vistos bem resolvido) em parte graças à sua colaboração com os xenófobos portugueses. Que lhe dão notoriedade fazendo-lhe entrevistas e deixando-se fotografar à mesa com ele; que lhe publicam e vendem alguns livros medíocres que tem escrito; que reproduzem (como fez o Expresso) as sua asneiras sobre a integração de Cabo Verde na União Europeia, etc., etc.

Germano aceita que ele próprio pode conviver e tirar proveito do convívio com os portugueses xenófobos. O que Germano não aceita é que os cabo-verdianos convivam com os portugueses e tirem proveito dessa convivência. Aqui Germano age como o outro: façam o que eu digo, não façam o que eu faço.

É ridículo que alguém (nesse caso Germano Almeida) ignore o relativamente vastíssimo número de emigrantes cabo-verdianos integrados nos países de acolhimento nos mais variados cantos do mundo e defenda a teoria absurda do isolamento de Cabo Verde em relação à União Europeia. Isto não tem pés nem cabeça. É uma parvoíce como outra qualquer. E até o "preto" (a palavra continua a ser de Germano) cabo-verdiano mais imbecil será capaz de ver isso e votar pela integração de Cabo verde na União Europeia caso venha a haver (e eu sou dos que defendem que deverá haver) um referendo em Cabo verde sobre essa possibilidade.

Para finalizar quero deixar aqui uma nota de humor e dizer a Germano Almeida o seguinte: ele sabe muito bem o que quer dizer a palavra "preto" em Cabo Verde (sabe mas finge esquecer que sabe). E sabe que o cabo-verdiano, qualquer que ele seja, não se considera "preto". E é engraçado que quem se considere "preto" seja precisamente Germano, ele próprio um "moreno pintado". Ele há cada coisa que às vezes até apetece mandar certas pessoas àquela parte.

Germano andou toda uma vida de estudante a gozar as delícias de viver em Portugal; continua a gozar as delícias de ser tratado em Portugal como se fosse um escritor de verdade; e dá-lhe agora (terá bebido alguma coisa?) para cuspir na sopa. Ou pior: para c.... à saída.

Germano nunca usou o argumento da xenofobia dos portugueses para recusar uma entrevista a um jornal português, editar e vender um livro em Portugal, dizer umas larachas numa mesa-redonda ou num colóquio em Portugal. É que sempre esteve "integrado" em Portugal. Mas o que ele não quer mesmo é que os outros cabo-verdianos se integrem também. Não somente em Portugal, como ele afinal está integrado, mas na Europa.

Francamente! não há pachorra para aturar esses «educadores do povo».

Editada às 9:52 AM do dia 16/04/2005 para acrescentar o seguinte:

Satisfazendo um pedido de Germano Almeida, esclareço os leitores que ASM são as inicias do meu nome (Agnelo do Sacramento Monteiro). Antigo guarda-redes do Club Sportivo Derby de S. Vicente.