quarta-feira, 15 de junho de 2005

DIZERES DE AMOR

Há textos cuja beleza se nos impõe com tal força que não podemos deixar de os exaltar e fazer com que outros os leiam para, de alguma forma, contribuirmos para o alargamento do universo daqueles que gostam intimamente de celebrar a graça dos momentos felizes que permitiram a concepção dos mesmos.

Tal é o caso deste pequeno texto "carta não assinada encontrada no espólio de um poeta" que nos foi enviado por email; certamente um fragmento de obra maior que infelizmente não nos foi dado identificar.

«Padeço, amor, porque me falta a sensualidade dos teus lábios carnudos nessa tua boca de romã onde cada beijo era uma aventura indescritível que acabava sempre em êxtase deixando-me no desejo louco de te possuir até à completa diluição de nossos corpos e seres.

Padeço porque me falta teu corpo de Afrodite, de mulher-cosmos, de mulher-sensualidade, corpo em que me perdia inebriado pela sinfonia de aromas exóticos que o povoam e do qual eu saía sempre renascido pois que, no dizer do poeta, tu és sol, ambrósia e mel.

Padeço, enfim, porque me falta a presença da tua doce e sedutora personalidade de Eva bíblica com quem cometi o pecado original que me estigmatizou definitivamente mas do qual nunca me arrependerei pois que sem ele o significado da Vida seria um equívoco histórico de aceitação impossível.

Padeço por não te ter, minha Mulher, minha Amiga, minha Amante.

Padeço.»

Pela beleza que encontrámos nele, este texto foi arquivado n’O Baú de Salmoura juntando-se lá a uma narrativa excelente e belíssima de Enrique Lanza, republicada há quase um ano naquele blogue-arquivo. Vá até O Baú e delicie-se com a escrita de Lanza.