terça-feira, 10 de maio de 2005

REGRESSO DE FÉRIAS


Fritz
Encontrado doente e quase a morrer
foi salvo dos bichos que o comiam


Regressei doente. Com uma mão entrapada por causa de um gato.

Por causa de um gato bati violentamente com o dorso de uma mão na quina de um móvel e caí desamparado, de costas, dentro de uma mala aberta.

– A tampa deveria ter-se fechado e ter-te guardado para a eternidade – ouvi alguém murmurar lá de bem longe, do outro lado do mar.

Eram quatro horas da madrugada do dia cinco deste mês de Maio quando o acidente se deu. Mas com aquele meu gesto trapalhão salvei o Fritz de ser de novo levado por sua mãe lá para o ninho espinhoso de onde viera – todo ele feridas, todo ele magreza, todo ele larvas, infecção e infestação –.

Se mais nada justificasse a minha presença no Fogo, este salvamento bastaria para o fazer e autorizar-me a falar cada vez mais na integração de Cabo verde na União Europeia.

– Ouve lá, oh paspalhão, o que tem esse c. a ver com as calças?

– Tem, tem muito a ver: permitiu-me conversar com muita gente a quem contei a história do gato e fiz perguntas outras. Fiquei contente com respostas populares à “famosa proposta” e esbocei vários sorrisos quando falei com alguns políticos. Estes, contrariados, vão ter que fazer uma ginástica do “escataralho” para mudarem o discurso e poderem assim acompanhar a opinião de quem realmente manda. Aliás, o Primeiro Ministro já começou a dar a volta ao texto.

Vai ser bonito de se ver.

A diarreia ora intitulada “parceria” vai ter que dar lugar a outra palavra – mais bonita, mais concreta, mais substantiva e mais consentânea com a realidade.

E lá deixei o Fritz aos cuidados da Lígia, uma apoiante convicta da ideia de integração, para me ir relatando o que dizem os indígenas sobre o assunto.