Segundo uma notícia da VisãoNews:
«O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Fernando Neves, negou Segunda-feira qualquer possibilidade de uma adesão de Cabo Verde à União Europeia, num artigo publicado no Jornal de Notícias.
No texto intitulado “Cimeira União Europeia em 2007 sem adesão de Cabo Verde” pode-se ler e citamos: “Quanto à hipotética adesão de Cabo Verde à UE - ideia lançada, há meses, por Mário Soares e Adriano Moreira -, Fernando Neves é taxativo na recusa de tal pretensão.
Fernando Neves lembra que "no artigo 1 do Tratado (da União Europeia), é dito que qualquer país europeu que respeite os critérios de Copenhaga pode ser candidato. Não creio que Cabo Verde seja europeu...", disse o governante de Lisboa.»
Peguemos agora nesta notícia e vejamos o seguinte:
O artigo 1 do Tratado (da União Europeia) ao dizer que “qualquer país europeu que respeite os critérios de Copenhaga pode ser candidato” enuncia um direito desses países,
mas não exclui, explicita ou implicitamente, que outros países não possam ser candidatos à adesão.
Isso só se verificaria se nesse artigo 1 em vez da palavra “qualquer” estivesse escrita uma palavra que lá não está – a palavra “só”; então o artigo diria: “Só os países europeus que respeitem os critérios de Copenhaga podem ser candidatos”.
Aí então estaríamos conversados: Cabo Verde não é europeu, logo não pode candidatar-se.
Mas ao não estar lá a palavra “só” temos que concluir, no mínimo, que o senhor secretário de Estado precipitou-se e não interpretou correctamente o artigo em causa.
E no máximo teríamos que lhe chamar adepto da diarreica teoria da “parceria”.
Mas há mais uma coisa importante que ressalta dessa precipitação do senhor secretário de Estado: ao dizer o que disse, o senhor secretário Fernando Neves desautorizou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Diogo Freitas do Amaral, de que é ajudante (no dizer de Cavaco Silva). É que Freitas do Amaral, juntamente com Adriano Moreira e Mário Soares, é, ele também, um dos subscritores da proposta de adesão de Cabo Verde à União Europeia.
Ora, quem é que acredita que, sendo Freitas do Amaral um reputadíssimo Professor de Direito, ele fosse subscrever uma proposta que esbarra logo no primeiro artigo do Tratado da União Europeia?
Dá para acreditar? Francamente!...
Ou muito nos enganamos ou o secretário de Estado Fernando Neves tão cedo não voltará a abrir a boca sobre esta questão.
É que Freitas do Amaral deve ter-lhe dado um enormíssimo puxão de orelhas lembrando-lhe que o sapateiro não deve ir além da chinela.
Como pode o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros de Portugal negar a pretensão da proposta de adesão de Cabo Verde à União Europeia com base no tão estapafúrdio argumento de inidentidade territorial de Cabo Verde em relação à Europa quando as negociações para a entrada da Turquia (95% asiática) na Europa estão já oficializadas e vão começar?
O que esse homem fez não passa, portanto, quanto a nós, de uma declaração absurda a que se não deve dar qualquer crédito. Abriu a boca precipitadamente e saiu asneira. Tão só.