terça-feira, 8 de maio de 2007

DE PROFUNDIS

Hoje apetece-me homenagear Arnaldo Jabor, um dos meus gurus, publicando na íntegra um artigo dele saído no jornal O Globo, do Rio de Janeiro.

Eu já fiz filmes de amor. Talvez por isso, e também pela música de Rita Lee com texto que escrevi, pessoas que encontro na rua me agarram e perguntam: “Mas... afinal, o que é o amor?”. E esperam, de olho muito aberto, uma resposta “profunda”.

Eu penso, penso, e digo: “Sei lá...” Não sei, ninguém sabe, mas há no ar um lamento profundo pelo fim do sonho platônico de harmonia, de felicidade, de happy end. Sinto dizer, mas não há mais espaço para o happy end, nem no amor, nem na política, em nada.

Quando eu era jovem, nos anos 60/70, o amor era um desejo romântico. Depois, nos anos 80/90, foi ficando um amor de consumo, um amor de mercado. O ritmo do tempo acelerou o amor, o dinheiro contabilizou o amor, matando seu mistério impalpável. O amor, e tudo mais, está perdendo a transcendência.

Não existe mais o amante definhando de solidão, nem romeus nem julietas, nem pactos de morte, não existe mais o amor nos levando para uma galáxia remota, nem a sagrada simbiose que nos traria a eternidade feliz.

O amor não tem mais porto, não tem onde ancorar, não tem mais a família nuclear para se abrigar. O amor ficou pelas ruas, em busca de objeto, esfarrapado, sem rumo. Não temos mais músicas românticas, nem o lento perder-se dentro de “olhos de ressaca”, nem o formicida com guaraná. Mas, mesmo assim, continuamos ansiando por uma paixão impossível.

Existe o amor, claro. O que chamamos de “amor” vive dentro de nós como uma fome “celular”. Está entranhado no DNA, no fundo da matéria. É uma pulsão inevitável, é uma reprodução ampliada da cópula entre o espermatozóide e o óvulo, interpenetrando-se. Somos grandes células que querem se re-unir, separadas pelo sexo que as dividiu. O resto é literatura. Se bem que grandes poetas como John Donne sabiam que não viramos “anjos” com o amor; sabiam que o amor é uma demanda da Terra, para atingirmos a calma felicidade dos animais.

Mas, onde anda hoje em dia esta pulsão chamada “amor”? Bem... vamos lá: Uma das marcas do século XXI é o fim da crença na plenitude, na inteireza, seja no sexo, no amor e na política. Não adianta nos lamentarmos, pois estamos diante de um mundo afetivo e sexual muito novo, que muda veloz como a tecnologia.

Se isso é um bem ou um mal, não sei. Mas é inevitável.

Temos de parar de sofrer romanticamente porque “acabou o amor ” (ou mesmo o paraíso social...) ou, ao menos, o antigo amor.

O pensamento afetivo, amoroso, ou filosófico continua lamentando uma unidade perdida.

Continuamos — amantes ou filósofos — a sonhar como uma volta ao passado Harmónico

Temos uma nostalgia lírica por alguma coisa que pode voltar atrás. Não volta. Nada volta atrás. Há que perder esperanças antigas e talvez celebrar um sonho mais trágico, efêmero.

Em tudo.

Não adianta lamentar a impossibilidade do amor. Temos de celebrar o neo-amor. Cada vez mais só o parcial, o fortuito é gozoso. Só o parcial nos excita. Temos de parar de sofrer por uma plenitude que não chega nunca.

Hoje, há que assumir a incompletude talvez como única possibilidade humana. E achar isso bom. E gozar com isso.

Em todas as revistas, fotos, filmes, a imagerie do erotismo contemporâneo “esquarteja” o corpo humano. Vejam as artes gráficas, fotos de revistas de arte, como “Photo” (ou em Tarantino), onde tudo é (reparem) decepado, dividido, pés, sapatos escarpins negros, unhas pintadas, bocas vermelhas, paus, seios, corpos imitando coisas, tudo solto como num abstrato painel. Tudo evoca a impossibilidade saudosa de um “objeto total”, da pessoa inteira. À primeira vista parece uma louvação da perversão, do fetichismo, do erotismo das “partes”, do “amor em pedaços”. No entanto, estamos além do fetichismo, além da perversão — conceitos do século XIX.

Não há mais “todo”; só partes. O verdadeiro amor total fica cada vez mais impossível, como as narrativas romanescas.

Hoje em dia, não há mais noção do que seria a felicidade, como antigamente. O que é ser feliz? Onde está a felicidade no amor e sexo? No casamento? Sem a promessa de amor eterno, tudo vira uma aventura. Em vez da felicidade, o gozo rápido do sexo ou o longo sofrimento gozoso do amor, só as fortes emoções, a deliciosa dor, as lágrimas, hotéis, motéis, perdas, retornos, desertos, luzes brilhantes ou mortiças, a chuva, o sol, o nada.

O amor hoje é um cultivo da “intensidade” contra a “eternidade”. É o fim do happy end. É bom que acabe esta mentira do idealismo romântico americano, para legitimar a família e a produção, pois, na verdade, tudo acaba mal na vida. Não se chega a lugar nenhum porque não há onde chegar. O amor, para ser eterno, tem de ficar eternamente irrealizado. A droga não pode parar de fazer efeito e, para isso, a prise não pode passar. Aí, a dor vem como prazer, a saudade como excitação, a parte como o todo, o instante como eterno. E, atenção, não falo de masoquismo; falo de um espírito do tempo. É bom sofrer numa metafísica passional, é bom a saudade, a perda, tudo, menos a insuportável felicidade.

Tudo bem, buscarmos paz e sossego. Tudo bem nos contentarmos com o calmo amor, com um “agapê”, uma doce amizade dolorida e nostálgica do tesão, tudo bem... Mas a chama emocionante só vem com a droga pesada do século XXI: a paixão. E isso é bom. Temos que acabar com a idéia de felicidade fácil. Enquanto sonharmos com a plenitude seremos infelizes. A felicidade não é sair do mundo, como privilegiados seres, como estrelas de cinema, mas é entrar em contato com a trágica substância de tudo, com o não-sentido, das galáxias até o orgasmo. Temos de ser felizes sem esperanças.

E tem mais: este artigo não é pessimista.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

MAIS UM «De consciência tranquila»


Carmona Rodrigues declarou-se hoje
«de consciência tranquila».

Está bem!...

Já tínnhamos ouvido isto de algum lado. E já vamos ficando habituados.

terça-feira, 1 de maio de 2007

THE DEFINITIVE SPELL

Diga-se o que se disser, acho que não há hoje em dia um único português que olhe para José Sócrates da mesma maneira que olhava antes da polémica sobre a sua carreira académica e das trapalhadas com os seus “papéis”.

E, no meu entender, quem teve uma frase certeira e feliz para sintetizar tudo isso foi Pacheco Pereira ao escrever:

«Ele parece ter um toque de Midas especial: qualquer documento que lhe diz respeito tem alguma coisa de errado

GRAÇAS A DEUS

A LUCIDEZ NÃO É SEQUESTRÁVEL

Pouco me interessa neste caso que o João Miranda seja da direita, do centro, ou de qualquer outra orientação política.

A verdade é que eu gostaria de ter escrito isto que ele escreveu:

«Alguém se lembraria de limitar o número de jornais diários nacionais a 7 por se entender que o 8º não é economicamente viável? Então porque é que se usa esse argumento para limitar o número de televisões de sinal aberto a duas? Três televisões privadas de sinal aberto não são viáveis? Who cares? O Estado não tem obrigação de garantir o sucesso comercial de projectos televisivos. Quem tem que se preocupar com isso são os empreendedores privados. Mas acho interessante que seja a esquerda a defender o Estado como garante do lucro.»

Nota: No título eu louvo a Deus, mas é apenas como figura de estilo. Graças a Ele eu sou ateu.

domingo, 29 de abril de 2007

DESCULPEM A GRANDEZA DA POSTA

Hoje apeteceu-me homenagear o escritor Luiz Pacheco. Um escritor de que gosto muito. Uma inteligência viva. Uma independência a toda a prova. Um amante desconcertante da verdade. Um génio.

Como não tenho outra forma de o homenagear, reproduzo aqui, integralmente, uma entrevista que lhe fez Miriam Assor e que foi publicada no Correio da Manhã de 8 deste mês de Abril.

Os óculos pesam nos olhos que cegaram. À cabeceira, o jornal ‘Avante’ e um livro de José Gomes Ferreira não são bibelôs, mas companhias. Luiz Pacheco, criatura de inteligência rigorosa, de lucidez sobrenatural, um livre-pensador que disse e diz coisas que não são fáceis de serem ditas, está preso a um cadeirão, tem o robe vestido, o aquecedor ligado e uma manta para o frio não lhe magoar o esqueleto. Nasceu em Lisboa, na Rua da Estefânia, a 7 de Maio de 1925, pai de oito filhos – frutos de muitos amores, na vida escolhida, que foi dura por prazer, só fez o que bem entendeu.

O Estado Novo prendeu-o por politiquices e por ter amado menores. Frequentou o curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras e a meio mandou o curso dar uma curva ao bilhar russo. Entretanto, a Inspecção de Espectáculos admitiu-o como agente fiscal, mas sedentarismo não combinava com o seu feitio. Preferiu a situação que considera invejável: desempregado. Depois, funda a editora Contraponto onde a corrente surrealista viu muitos dos seus autores publicados. Crítico literário e cultural, tradutor, colaborou em diversos jornais e revistas, ‘O Globo’, ‘Afinidades’, ‘Seara Nova’, ‘Diário Popular’. A sua escrita caracterizada de irreverência e de poesia esbofeteou a torpeza intelectual e desafiou o lápis azul da censura salazarista. Luiz Pacheco, que, em tempos, se fez sócio do Benfica para ir aos bailes e do Sporting para ir à natação, já não dança e não aprendeu a nadar. Apesar de ter andado perto do fundo, acaba por vir sempre à tona e ao seu ritmo.


Tinha dito que não saía do lar do Príncipe Real. Afinal, enganou-se. Vive com o seu filho.

Um gajo também se engana! A vida nos lares é uma espécie de regimento. Horários. E mais horários. E eu estive em três. O pior era a convivência com os moribundos e as moribundas. Deprimente. Os tipos iam buscar os velhos às camas e espetavam com eles num buraco a que chamavam sala do convívio. Qual convívio? Convívio nenhum! Velhotes com os olhos fechados e outros que estavam nas últimas. Ah... e havia um animador que se punha a contar de um até ao número dez. Quando a gente pensava que o tipo ia fechar a goela, desatava a dizer a numeração em forma decrescente. Ele fazia coisas incríveis! Mandava pôr a mão para cima, para trás, para os lados. Eu sei lá. O último lar era muito mau. Tinha lá uma mulata que era cleptomaníaca. Roubou uma velha muito afanada e eu também fui roubado.

O Luiz é que não está nada afanado...

Eu não estou afanado? A miúda deve estar a brincar! Eu não estou nada bem. Tenho muitas doenças, talvez umas vinte e três. Agora tenho uma m. chamada incontinência. Para um gajo é muito mau andar de fraldas. Mas a vista é a pior das mazelas.

Se fosse menos teimoso já tinha sido operado.


Não conte com isso! Tenho medo. E não é da anestesia. Medo das consequências. A merda da operação pode provocar um acidente cardiovascular e já viu o que era? Dizem que é coisa muito simples, mas isso são conversas. Nessa eu não caio!

Voltar a ler não é um estímulo?

Oh miúda, eu já li muito. Nem queira saber o que eu já li. Agora é a minha filha que me lê os artigos de jornais e algum livro que eu queira ler. Ocupo o raio do tempo a ver a RTP Memória. Estou a ver coisas que nunca tinha visto. Como por exemplo, o Júlio Isidro, o Zip-Zip. Gosto de ver velhadas. Entretenho-me com o humor fabuloso do Vasco Santana, do António Silva. O Solnado é uma merda. Uma invenção. Um disparate. O Herman José é diferente. Basta ser de origem alemã para saber o que está a fazer .

O melhor aluno do Liceu Camões gosta de velhadas...

Não me faça rir. Mas fui o melhor daquela malta toda. Entrei em 1936 e fiquei lá oito anos. Sentava-me sempre na carteira da frente, porque os meus olhos já eram dois sacanas. O avô desse tipo chamado Eduardo Prado Coelho foi meu professor. Nós cagávamo-nos no gajo.

Quem eram os seus colegas?


Lembro-me do José Manuel Serra, que foi director do Teatro Nacional de São Carlos, Lobo Saias, que chegou a ministro, e outros.

Os liceus não eram mistos, portanto, miúdas não eram peras doces...

Imagine que nem podíamos chegar ao pé de uma escola feminina. Quando chegou a altura da universidade, o convívio não foi fácil. Não estávamos habituados. Pedir um lápis emprestado era cá uma trabalheira. Só para não haver contacto, deixávamos cair o raio do lápis ao chão.

Entretanto, os contactos melhoram... esteve preso no Limoeiro devido a aventuras amorosas.

Prenderam-me por razões políticas e por ter desflorado umas garotas que eram menores. Mas atenção: eu também era menor! Uma ocasião foram duas irmãs ao mesmo tempo. Foi cá uma chatice... Antigamente, rapazes e raparigas faziam o que hoje fazem, mas com a diferença: não tinham o à-vontade que existe hoje. A pílula foi a estrondosa revolução. Ouvir dizer que, até, os homens já podem tomar essa m. Eu nunca tomei. E sou contra o aborto. Hoje em dia as garotas têm muitas facilidades...!

Um rol de contraceptivos e a pílula do dia seguinte.

O que é isso? O comprimido do dia a seguir à cegada?

Sim. É contra o aborto e a favor da despenalização?

É claro! Prender moças é um autêntico disparate. Mas há malta que diz que aborta porque rejeita ter filhos indesejados. Ouça cá uma coisa: uma rapariga que se deita com um rapaz sabe do risco. E há outra malta que diz que não consegue criar filhos. Mentira. É só conversa. Eu sem cheta, desempregado, tenho oito filhos. Uma vez, fui deixar um filho à Casa Pia. Se os ‘gansos’ eram bem tratados? Coitados. Aquilo era uma miséria.

Voltando à prisão. Como era no Limoeiro?

Uma prisão para os gajos que esperavam julgamento. Havia batota que não era a feijões, mas a dinheiro. Estava lá um enfermeiro tarado que vendia penicilina misturada com água. O refeitório era umas mesas corridas e havia um tipo que distribuía a comida. Os acordos davam direito ao prato ficar mais cheio. Naquela merda havia estratos sociais. A Sala dos Menores, a Sala dos Primários, para os estreantes, a Sala Comum, que era para a maralha, e a Sala dos Bacanos, onde estavam aqueles que tinham conhecimentos fora da prisão. Como eu. Da segunda vez que estive dentro, o Artur Ramos telefonou ao pai, que era director-geral da Penitenciária e pôs-me cá fora.

Um homem que nunca gostou de regras nasceu no seio de uma família de militares...

Não venha com as perguntas feitas de casa. O meu avô materno era capitão-de-mar-guerra, engenheiro maquinista, e o meu avô paterno, coronel da artilharia, dirigiu o Arquivo histórico-militar. Eram militares, mas pareciam ser outras pessoas. Tinham boa cara. O pai do meu pai, aquando da primeira incursão monárquica, comandada pelo Paiva Couceiro, foi a Chaves dar umas bombadas nos canhões e teve de fugir. O meu pai estava a tirar o curso na Faculdade de Letras para ser diplomata, mas como aconteceu a Primeira Grande Guerra, a diplomacia foi para o galheiro. Não acabou o curso. Nem eu.

Por razões diferentes?

Sim. Os professores na Faculdade de Letras eram uns chatos. Excepto o Vitorino Nemésio (que me deu 18 valores) e o Delfim Santos. Nunca engraxei o Nemésio, eu não era igual ao Urbano e ao David. Mas espere aí, deixe-me falar do ano que antecedeu a faculdade. Em 1943, quando acabei o liceu, o meu pai disse que não tinha dinheiro para eu estudar na Faculdade. Falou com o professor João de Brito, que me deixou assistir às aulas. Eu era um aluno fantasma. Não me perguntavam nada, o que era maravilhoso. Nos intervalos ia para a biblioteca. Devorei Gil Vicente, Garcia de Resende, Fernão Lopes e outros. Por essa altura comecei a dar explicações. Portanto, aprendia e ensinava. Foi um ano em cheio! No final, fiquei muitíssimo bem classificado no exame de admissão à Faculdade de Letras de Lisboa, no Curso de Filologia Romântica, e consegui ficar isento das propinas.

Saiu da faculdade e, em 1946, foi admitido como agente fiscal da Inspecção de Espectáculos.

Aquilo era uma treta. Não inspeccionávamos nada.

Quando é que funda a editora Contraponto?


A editora começou a funcionar em 1951, logo depois do primeiro número da revista. Nasceu no ensaio de uma terceira via e só tinha um critério: os gajos do Estado Novo não podiam entrar. Vivia um bocado à mercê do facto de eu e o Jaime Salazar sermos amigos. Quando foi publicado o ‘Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano’, de Mário Cesariny, o Jaime ficou f. Pensava que a editora era só para ele. Mais tarde, o mesmo aconteceu com Cesariny, quando Herberto apareceu. Razão tinha o Gaspar Simões em chamar- -me ‘O sacristão do Surrealismo’, por publicar aquela gajada. Não faz muito tempo, vendi a editora à irmã do Manuel Alegre por um preço de m..

Era amigo de Cesariny?

Essa pergunta traz água no bico. Dizem que nós éramos amantes. Um disparate. O gajo não fazia o meu género. Eu nunca tive a mania de Paris. Ele tinha.

A sua colaboração nos jornais começou no ‘O Globo’, em 1945, e ainda há dez anos escrevia na imprensa.

O Nicolau Santos, que na altura era director do jornal ‘O Público’, convidou-me para escrever uma crónica. Os gajos até pagavam bem. Mas tiveram o azar de anunciar Luiz Pacheco escritor polemista. Dava-lhes jeito que eu desse porrada. Mas durante meses não lhes fiz a vontade. Podem contar comigo para dar porrada, mas jamais por incumbência.

É verdade que, uma vez, enquanto traduzia um livro, esteve quase para ser publicado um palavrão?


Publicado não digo, mas aquilo fez-me correr. Eu estava a traduzir um livro para crianças e havia uma palavra cujo significado em Português eu não encontrava. Para não me esquecer escrevi a vermelho c. Quando me lembrei... falei à editora, que me disse que o livro já estava nas mãos do revisor. Corri para a casa do gajo. E lá estava o c. marcado a vermelho, mas fui a tempo. O c. foi substituído por penacho.

É autor de muitos livros, mas nunca escreveu romances.


Porque é preciso ter disciplina. Mas não é como escritor que posso ser importante. Se me perguntarem da minha importância é como editor. Editei muitos livros que eram muito baratos. Tinha bons autores, Raul Leal, Natália Correia, António Maria Lisboa, Herberto Hélder, Vergílio Ferreira, Mário Cesariny. Jamais editaria, por exemplo, o Fernando Namora. Ele era um aldrabão. Ou o José Agualusa, que não escreve nada. É um pateta alegre.

O que é preciso para escrever bem?


Ler muita coisa. Estar atento. E há gajos que escrevem sem nunca terem lido uma frase.

Gosta da escrita de António Lobo Antunes?


Muito. Gosto quando ele fala do bairro onde nasceu, Benfica. Tem muitas qualidades e anos de escrita. Mas é um bocado apanhado da pinha. Também tem a maluqueira de dizer que não consegue viver sem escrever. E tem razão. Ele é o escritor mais internacional de Portugal.

E José Saramago?


Também, embora de maneira diferente. Mereceu o Nobel. Saramago e o Lobo Antunes têm uma coisa em comum: são escritores que já só escrevem para o estrangeiro.

O que nos diz dos políticos?


São uns m. Comparados com eles próprios. Aquela que foi ministra das Finanças era uma tipa séria, mas era cá um camafeu.

Gosta do José Sócrates?

Quem é? Não o conheço.

Mas gosta de Pedro Santana Lopes?

É um ‘bom vivan’. Não deixou obra nenhuma, mas sabe viver. Andava nas discotecas e estes gajos – o pequeno, o gajo que é quase anão – fez-lhe a folha. O Santana é um senhor. Gosta das noites. E bebe o seu copinho. Eu deixei de beber há uma semana. Ao almoço bebia vinho – tinto, pois está claro. Quando se fala em vinho fala-se em tinto.

João Soares, quando era presidente da Câmara Municipal de Lisboa, fez-lhe uma visita e trouxe-lhe umas garrafas de tinto.

E que belo tintol! Apareceu no Natal, com um funcionário. Trouxe-me vinho, um belo presunto e livros. Vinha com a ideia maluca de eu fazer um artigo sobre o governador do Costa do Castelo.

O País reconhece as pessoas?


Não podemos falar de um só País. De Lisboa ao Porto existem dois países ou, talvez, existam quatro países em Portugal. Por exemplo, o Mário Soares, quando era Presidente da República, deu-me 650 contos. Uma vez, no Chiado pedi-lhe 20 paus emprestados. E ele deu-mos. Este presidente, o actual, que tem aquela cara, não me deu nada.

Vive de alguma pensão?

Tenho um subsídio de 120 contos, graças ao Alçada Batista. E também ao Balsemão, que teve a feliz ideia de inventar o decreto do mérito cultural. O Santana despachou um decreto que favorece pessoas que estão na minha situação. Mas não é por isso que gosto do rapaz. O tipo sabe o que é bom. O que é bom para mim são umas garotas, que vêm cá de manhã para me fazerem a higiene. Não é mau.

QUESTIONÁRIO
Um País... Montijo
Uma pessoa... D. Afonso Henriques
Um livro... ‘Gustavo, o Estroina’, de Paulo Koque
Uma música... ‘Variações’ de Golberg
Um lema... Não me lixem. Não me chateiem
Um clube... Clube Jardinense, o clube do Montijo

[Miriam Assor]

Nota: Escrevi conscientemente a palavra "Grandeza" no título da posta.

NETCABO TURBO... LENTO

A TVCabo mandou-me um email dizendo que a minha ligação à Internet já beneficiava da velocidade de 10 Mega Bits em download e 512 K Bits em upload.

Fiz todos os procedimentos que me recomendaram para beneficiar destas velocidades de comunicação, mas mesmo assim as minhas medições ficam-se pela metade.

Não é mau de todo; mas estar a pagar por aquilo que não se tem, tem um nome.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

DECLARO SOLENEMENTE

NÃO ESTOU «DE CONSCIÊNCIA TRANQUILA»

NÃO ESTOU E NÃO QUERO ESTAR!

É que eu não quero pertencer a esse importante grupo de portugueses que se têm declarado publicamente, ao longo dos meses, estar «de consciência tranquila».

Não quero estar naquelas companhias.

Julgo ter este direito.

Editado às 23:17 de 27/04/2007.
Há pouco estava eu a digerir esta minha decisão quando li este contundente e lapidar retrato da classe política feito pelo Prof. Henrique Silveira no blogue Crítico Musical. Mais convencido ainda fiquei da certeza da minha decisão: não estou e não quero estar «de consciência tranquila».

RIDÍCULO E LOUCO

No debate ontem realizado entre os oito candidatos à nomeação democrata para disputar as eleições presidenciais americanas de 2008, ficou patente a unanimidade de opinião quanto à criação de um «Sistema de Saúde UNIVERSAL», isto é, que abranja todos os cidadãos americanos e não apenas aqueles que podem pagar. Nenhum dos candidatos destoou neste propósito. Lembre-se que actualmente está em vigor nos Estados Unidos um sistema iminentemente privado de saúde que deixa de fora (sem qualquer protecção social) cerca de 56 milhões de cidadãos americanos.

É nesta precisa altura em que na América rica ― na pátria do capitalismo ― se pugna por fazer chegar a saúde a todos os cidadãos, que se verifica, neste cantinho pobre e fedorento, uma louca e desenfreada corrida à privatização da Saúde.

É caso para chamar a polícia.

A NÁUSEA

«O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carmona Rodrigues, foi notificado para ser ouvido pelo Ministério Público na qualidade de arguido, no âmbito do processo Bragaparques, disse hoje à agência Lusa fonte judicial».

Acabei e ler esta notícia e... vomitei.


E lembrei-me de outros casos semelhantes noticiados no passado bem recente e voltei a vomitar...

Depois Veio-me à memória o romance “A Náusea”, de Jean Paul Sartre.


Vomitemos, pois!


Já que só nos resta fazer isso. E existir, claro.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

UMA PEQUENA MARAVILHA

Equipado com um disco duro de 80 Giga Byte, o iPOD da Apple é capaz de conter:

90 DVDs de filmes
2.000 músicas (± 200 CDs)
3.000 fotografias
Para além de jogos e a lista dos seus contactos (telefones, moradas, etc.).

Tudo isto na ponta dos seus dedos. E é só ligar a um televisor ou a uma aparelhagem de alta-fidelidade para usufruir facilmente do som soberbo e das nítidas imagens destes conteúdos. Em alternativa pode usar apenas o iPOD com os auscultadores ligados.

Ah, já me esquecia: pode meter tudo isso no seu bolso e levar de viagem ― em casa, na arrecadação, ficarão os caixotes com os DVDs e os CDs copiados; e as fotos dispersas já não constituirão um trabalho a fazer no futuro: podem dormir descansadas ―.

Bill Gates tem todas as razões para estar preocupado com a Apple. Que continua a gozar com a Microsoft colocando no Youtube este vídeo protagonizado por um actor que é a cara chapada de Bill Gates.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

HISTÓRIAS CABOVERDIANAS

O saudoso poeta, Jorge Barbosa, contou um dia uma deliciosa história passada na ilha da Brava entre o poeta Eugénio Tavares e um presidente da Câmara Municipal conhecido por “nhô Lepéu” (senhor Lepéu).

Contava Jorge Barbosa:

Nhô Lepéu era um homem simples e muito limitado intelectual e culturalmente; mas era um homem bom e honesto, características estas que certamente levaram o governador da província a nomeá-lo presidente da câmara [é assim mesmo: até ao 25 de Abril de 1974, os presidentes de câmara eram nomeados pelo governador. Não havia eleições]. Ora bem, certo dia nhô Lepéu aparece em casa de Eugénio Tavares e tem com o poeta mais ou menos esta conversa:

― Senhor Eugénio, venho cá porque estou numa grande aflição. Depois de muito pensar achei que só o senhor Eugénio é que me pode valer. Acontece que o governador vem visitar a Brava e eu tenho que fazer um discurso de boas-vindas. Mas como o senhor Eugénio sabe, eu não tenho capacidade para fazer um bom discurso. E como o senhor Eugénio me conhece muito bem, e conhece ainda melhor a Brava e os seus habitantes, eu venho pedir-lhe que me salve nesta situação. Venho pedir-lhe que me escreva um bom discurso para eu ler.

― Oh... nhô Lepéu, se eu lhe escrevesse um bom discurso, toda a gente iria ver que não era o senhor o seu autor; é melhor que seja o senhor a escrevê-lo como souber que o governador não se vai importar com isso.

― Não, não, senhor Eugénio. Eu não quero passar por vergonhas. O senhor é um homem inteligente e sei que é capaz de escrever um discurso que pareça a toda a gente que tenha sido escrito por mim. Um discurso que contenha coisas que toda a gente possa ver que saem de dentro de mim. O senhor conhece-me e sei que o senhor é capaz, senhor Eugénio.

― Ó nhô Lepéu, «déntu di nhô, só si for um pêdi».(*)


(*) Dentro de si, só se for um peido.
.

25 DE ABRIL SEMPRE


Saudação para aqueles que não gostam da data.

domingo, 22 de abril de 2007

A LUZ QUE ALUMIA


Se eu votasse nas eleições presidenciais francesas, claro que votaria Ségolène Royal.
Quereria lá saber o que diz e o que pensa a senhora?
Isso não interessa para nada.
Uma dama destas merece o meu voto mesmo que diga que é engenheira.
Quero lá saber!...

sábado, 21 de abril de 2007

GOSTARIA DE NÃO TER LIDO ISTO

«haverá alguma razão para temer que a TVI se torne politicamente mais suspeita ou mais enviesada do que a SIC, propriedade de um histórico e activo dirigente do PSD?»

Esta é uma tremendíssima injustiça que Vital Moreira faz a Pinto Balsemão. Que não é apenas “um histórico do PSD”; também é um histórico no que respeita (e que respeita) a liberdade e o pluralismo de informação.

Quem dera a Vital Moreira a capacidade de praticar no seu blogue a imparcialidade que Balsemão tem demonstrado (permitir) praticar, ao longo da sua vida, nos (aos) órgãos de comunicação social de que é proprietário (semanário “Expresso” e “SIC” tv).

terça-feira, 17 de abril de 2007

COISA BOA OU CHANTAGEM?

A UNI (Universidade Independente) convocou hoje uma conferência de imprensa onde, segundo afirmou uma sua porta-voz (?), serão feitas «revelações bombásticas». A porta-voz (?) disse que têm guardado «num cofre blindado e em lugar seguro» todos os documentos relativos aos ex-alunos que se tornaram posteriormente figuras públicas destacadas na sociedade.

Permitam-me então concluir que terão lá todos os documentos relativos aos ex-alunos José Sócrates e Armando Vara, pelo menos.

Esta afirmação da UNI pode ser lida pelo menos de dois ângulos:

Primeiro, é uma coisa boa: é uma afirmação tranquilizadora visto que os documentos existem ― não foram, afinal, “para o maneta” ― existem e estarão conformes com a lei atestando a legalidade, a lisura de processos, a conformidade das equivalências e dos exames, etc., quanto às licenciaturas feitas naquela universidade por «figuras públicas de destaque». Pelo que, logo mais, teremos o “caso Sócrates” encerrado. Óptimo! É preciso encerrá-lo porque não se vê por aí mais ninguém do PS ou da oposição com capacidade para ser primeiro-ministro nesta conjuntura, e Sócrates precisa de paz de espírito para governar. (Embora, no meu entender, esteja a governar com falhas graves na política da Saúde, por exemplo). Mas “há mais vida para além da Saúde” como diria o outro...

Segundo, é um recado, uma ameaça, ― se quiserem, uma chantagem ― às figuras públicas de destaque cujos documentos e percursos académicos, porventura, contenham irregularidades e não tenham estado nem estejam conformes com a lei; dizendo-lhes: se me fecham a universidade, denuncio-vos na praça pública.

Admito que a minha leitura esteja totalmente errada e que existirão certamente outras leituras bem diferentes daquelas declarações da porta-voz (?) da UNI. Mas ainda as não vi publicadas.

Entretanto confesso, com toda a sinceridade, que não percebo, não percebo e não percebo, por que razão a UNI terá convidado o primeiro-ministro, José Sócrates, e o ministro da Ciência e do Ensino Superior, Mariano Gago, para estarem presentes na tal conferência de imprensa. Para mim, pelo menos para já, isto é um autêntico mistério.

Ou será que aquela gente da UNI tem o rei na barriga?

domingo, 15 de abril de 2007

UFF!... CARAMBA!... ISTO NÃO PÁRA!

Nunca na minha vida conheci nenhum caso de alguém com tantos problemas nos documentos que certificam a sua licenciatura (um, dois, três) do que o cidadão e primeiro-ministro, José Sócrates.

E sempre, claro, por culpa dos outros que passaram anos a escrever disparates nos seus certificados mesmo quando a Universidade Independente «funcionava normalmente e era uma universidade de referência».

O santo homem não teve nada a ver com nada.

E nós temos que acreditar que sim. E acreditamos ― fica aqui solenemente dito.

Mas, sinceramente! É um caso de enorme bizarria; digno do Guiness.

O azar é tanto que, se calhar, ganhará o euromilhões logo à primeira aposta: entrega um boletim à menina; esta faz confusão e troca o boletim por um outro de um grande sortudo... e lá vem o jackpot todo para Sócrates.

Não acreditam?

Bom domingo para vós todos.

P.S. Desculpem chover no molhado, mas as novas revelações são tantas que um indivíduo não pode deixar de o fazer.

sábado, 14 de abril de 2007

BOM DIA

Os Deuses vendem quando dão.
Compra-se a glória com desgraça.

Ai dos felizes, porque são
Só o que passa!

Baste a quem baste o que Ihe basta
O bastante de Ihe bastar!

A vida é breve, a alma é vasta:
Ter é tardar.

Foi com desgraça e com vileza
Que Deus ao Cristo definiu:

Assim o opôs à Natureza
E Filho o ungiu.


[Fernando Pessoa]

No Público de hoje:
«Os dois certificados de licenciatura de Sócrates.». Diferentes um do outro nas datas da licenciatura e nas notas de algumas cadeiras. Uma confusão mais.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

ACABOU

Para mim, como cidadão ― por incrível que pareça ― estou mais que esclarecido quanto ao essencial da polémica que envolve o primeiro-ministro.

Bastou-me para isso tomar hoje conhecimento da existência daquela ficha com os dados biográficos rasurados.

Ela disse-me tudo o que eu precisava saber.

Não quero saber mais nada. Não é preciso.

Entretanto, e como nota de fecho, dêem um passeio por aqui e por ali para ficarem com o epílogo desta tristíssima novela.

terça-feira, 10 de abril de 2007

ENA!... MAIS UMA MINHOCA!

Pacheco Pereira, «sem querer», por mero acaso, deu uma cavadela.
E querem saber o que encontrou?
Minhoca. Claro!
Vejam aqui a cara da minhoca.

Entretanto, no Jardim do Kaos a veia humorística continua irresistível.
.

ALMANAQUE BORDA D’ÁGUA


Como bem sabeis, em Abril águas mil.
Pois... mas este Abril de 07 não é só águas mil.
Também é: minhocas.
E o agricultor precisa ter cuidado.
Porque.
Neste Abril de 07.
Cada cavadela dá uma minhoca.

domingo, 8 de abril de 2007

ET POUR CAUSE

Pacheco Pereira, hoje, aqui no Abrupto, faz uma abordagem sucinta e magistral do imbróglio em que parece consistir as habilitações académicas de José Sócrates e a forma como este problema foi sendo ignorado pelos média desde Fevereiro de 2005; vivido pelo visado e pelo poder; e agora paulatinamente tratado por alguns órgãos de informação.

Importante é a parte em que Pacheco Pereira escalpeliza o comunicado do Ministério do Ensino Superior, de Mariano Gago, considerando que a investigação daquele ministério à Universidade Independente aponta já para uma conclusão mesmo antes de se fazer essa investigação. Porque, à partida, essa investigação ― escreve Pacheco Pereira ― «apresenta como seu objectivo "dissipar a inaceitável suspeição generalizada que foi lançada", ou seja, comprovar a validade dos seus [da Universidade] diplomas, já que tudo o resto é "inaceitável".»

Clique a ligação acima e vá ao Abrupto ler a posta.

POT- POURRI


Sobre a licenciatura ou não, de José Sócrates, caso os nossos leitores queiram ler alguma coisa, aqui têm uma ligação que vos conduzirá aonde poderão obter abundante material para reflexão.

Se estiverem de bom humor e quiserem rir um pouco com coisas sérias, dirijam-se a este sítio que hão-de passar um bom momento.

Ah! Já me esquecia: amanhã haverá eleições presidenciais em Timor Leste. Vamos ver se aquela gente saberá julgar o golpista Xanana Gusmão através do seu candidato golpista, o enxofrado Ramos Horta.

Nota social: hoje vou almoçar em casa da D. Gigi. Vou matar saudades da comida caboverdiana, despedir-me da Ruth que vai para Macau, beber um copo e deixar-me ir na morabeza daquele ambiente familiar amigo.

sábado, 7 de abril de 2007

MAIS JOYCE

[...] «Ela estava com bela aparência. Trazia seu vestido, decotado, pertences à mostra. Cravo seu hálito recendia sempre no teatro quando se inclinava para fazer uma pergunta. Contei-lhe o que Espinosa diz naquele livro do pobre pai. Hipnotizada, ouvindo. Olhos deste tamanho. Ela se inclinava. O gajo do balcão, olhando com toda a gana para dentro dela com os binóculos. A beleza da música deve ser ouvida ao dobro. Mulher ao natural basta meia olhadela. Deus põe, o homem compõe.» [...]

[...] Lábio avulta. Corpo de branca mulher, uma flauta viva. Sopra doce. Forte. Deusa eu não vi. Elas querem isso: nada de rodeios em demasia. [...]

Boa noite.

terça-feira, 3 de abril de 2007

RITMOS CABOVERDIANOS


Do sempre fixe, Djibla, recebi esta fotografia de um dos primeiros grupos constuituídos em banda musical em Cabo Verde, nos anos 60, os "Ritmos Caboverdianos", que fica aqui para apreciação dos saudosistas destas coisas boas da vida em Cabo Verde.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

UMA HISTÓRIA ATÉ AGORA MAL CONTADA

Com as achas que o Expresso (ligação só disponível para assinantes) lançou no sábado para a fogueira em que já arde José Sócrates por via das dúvidas que estão sendo levantadas quanto à regularidade com que foram obtidas as suas habilitações académicas ― mais concretamente uma licenciatura em engenharia, pela Universidade Independente dos senhores Luís Arouca e Rui Verde ― cumpre ao gabinete do senhor primeiro-ministro, para acabar de vez com essas dúvidas, publicar o fac-simile dos documentos que sustentam a verdade dos factos. Ao não fazê-lo, vindo com comunicados e declarações à imprensa, as dúvidas acumular-se-ão e o lume brando para cozimento de Sócrates vai continuar a ser alimentado até que o primeiro-ministro atinja o ponto ideal de cozedura.

Para evitar isso, cabe também aos responsáveis da Universidade Independente esclarecer (pelo menos) quem leccionava o quê naquela universidade e com que competências científicas; como eram feitos os exames e quem escrevia as actas dos mesmos; e mostrar os livros dessas actas.

Os portugueses apreciam muito os que sobem a pulso aos lugares em que acabam alcandorados; mas depreciam também muito aqueles que aparecem lá em cima sem ser totalmente claro por que trilhos lá chegaram.

Segundo o Diário de Notícias de ontem, 1 de Abril, «Sócrates completou quatro anos do curso no Instituto Politécnico de Coimbra, frequentando depois durante um ano o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa. Mas só obteve o diploma na Independente, em 1996, após concluir cinco cadeiras. Uma delas - Inglês Técnico - terá sido ministrada pelo próprio reitor, Luís Arouca, agora detido no âmbito do inquérito judiciário à universidade. Mas, segundo o Expresso, "o regente da cadeira era outro docente". E o diploma foi emitido com data de 8 de Setembro de 1996, um domingo.» (sublinhados da nossa autoria).

Ora aqui há qualquer coisa que não soa bem e deve ser esclarecida também:

Nas universidades, as cadeiras são normalmente ministradas pelo regente e pelos seus assistentes. Como e por que razão, então, a cadeira de Inglês Técnico foi ministrada pelo reitor e não pelo regente da mesma ou por um dos seus assistentes? E será legal que assim seja?

Mas o Expresso (ligação só disponível para assinantes) já noticiara no sábado passado terem quatro das cadeiras sido ministradas por um único professor. Aqui então as perplexidades são enormes e sobram as perguntas. É que numa universidade, por norma, cada cadeira tem o seu regente e este os seus assistentes. E não se vê como é que numa universidade, um único professor pode ministrar cadeiras aos molhos.

Enfim, parece que a procissão ainda vai no adro. Mas seria bom que chegasse rapidamente ao seu destino com toda a gente esclarecida.

sexta-feira, 30 de março de 2007

SIMPLESMENTE CARICATO

Vem hoje no Diário de Notícias:

«Exército faz treino com mísseis terra-ar e não acerta num único alvo».

E continua o jornal:

«Um exercício militar com mísseis terra-ar de curto alcance realizado ontem na Marinha Grande falhou os objectivos do Exército, já que nenhum dos oito alvos foi destruído.»

Sabem qual é a explicação para o falhanço?
Ela aqui vai pela boca do comandante do Regimento de Artilharia Antiaérea 1, coronel Vieira Borges:

«Eram "alvos que tinham alguns anos e com data de validade até este ano", e os mísseis não os conseguiram fixar, explicou Vieira Borges.»

Agora já todos ficámos a saber: para se lutar, com 100% de êxito, contra as forças portuguesas, basta ao inimigo utilizar material em fim de prazo de validade.

E esta, hein!?

sábado, 24 de março de 2007

LÁ FORA O HORROR

Lá fora há um governo e um ministro. Ao menos aqui no meu escritório ainda não me sinto acossado, vigiado, proibido de.

Posso ainda ler Joyce e ter nisso algum prazer.

«Seus olhos baixados seguiam os veios silentes da prancha de carvalho. Beleza: encurva-se, curvas são beleza. Deusas feiçoadas, Vénus, Juno: curvas do mundo admira. [...] Amoráveis formas de mulher esculpidas junionianas. [...] Nunca olhei. Vou olhar hoje»

Bom dia.

terça-feira, 20 de março de 2007

O LOUREIRO

Revisitando o passado, encontrei hoje um texto de Bertolt Brecht, intitulado "Forma e Matéria", que acho que se aplica que nem uma luva à acção política de Correia de Campos à frente do Ministério da Saúde. Talvez também se aplique, e bem, à acção de Sócrates à frente do Governo.

Ei-lo:

«O senhor K. estava a admirar um quadro que conferia a vários objectos uma forma muito particular. Disse ele: "A alguns artistas, ao contemplarem o mundo, acontece o mesmo que a muitos filósofos. Com a preocupação da forma deitam a perder a matéria. Eu andei uma vez a trabalhar num jardineiro. Ele meteu-me nas mãos uma tesoura de jardinagem e mandou-me podar um loureiro. A árvore estava enfiada num vaso e emprestavam-na para fora para festas. Para isso tinha que ter a forma de uma bola. Pus-me logo a aparar os rebentos desalinhados mas, por mais que me esforçasse por atingir a forma de uma bola, o tempo passava e eu não conseguia. Ora tinha desbastado de mais de um lado, ora do outro. Quando finalmente já se tornara numa bola, a bola estava pequeníssima. Desapontado, o jardineiro disse: Muito bem, isto é a bola, mas onde é que está o loureiro?"»

segunda-feira, 19 de março de 2007

RETIRO ESTRATÉGICO

De vez em quando uns diazinhos alhures, sem computador, fazem bem à saúde. Daí a ausência de postas até hoje. Entretanto lá tive a notícia de que os putos do Sporting se encheram de brio e deram uma coça (qualitativamente) valente aos sabichões portistas.

Para não variar li mais uma vez Joyce:

«Ela dança numa penumbra lúgubre onde arde resina com alho. Um marinheiro, barbaferrugem, beberica rum de um copázio e a reolha. Um longo e malnutrido cio silente. Ela dança, escabreia, abanando suas ancas seminárias e suas nalgas, batendo-lhe no ventre grossobsceno um ovo de rubi.»

quinta-feira, 8 de março de 2007

REINADO FALOU

Para, com toda a razão deste mundo, dizer isto:

"Sinto tristeza e vergonha de ter um líder como o senhor Xanana, que não pensa duas vezes, que não quis saber a realidade e que agiu antes de pensar mandando uma força internacional contra mim".

“não existe qualquer mandado de captura para a minha prisão, por isso, a ordem de actuação dada às tropas australianas para me cercarem é ilegal".

"Eu não me rendi nunca porque até aqui os meus direitos não foram respeitados. Porque é que isto não ficou nas mãos da justiça? Porque não há um mandado para a minha captura? Porquê enviar tropas?".

"A Austrália não tem autorização para intervir na justiça de Timor-Leste. Onde está a soberania e a dignidade deste país e dos seus líderes?".

terça-feira, 6 de março de 2007

NOTÍCIAS DO MEU HERÓI

Está mais que confirmado: Alfredo Reinado escapou mesmo ao cerco australiano e está a monte. Com toda a propriedade: está nas montanhas de Timor.

E agora, as tropas australianas que, segundo rezam as notícias, totalizam 800 homens, continuam a dar caça a um homem escondido num território montanhoso com 15.000 Km2.

Faço votos para que o não capturem até pelo menos Xanana Gusmão e Ramos Horta perderem o poder. Estes dois, cada um a seu modo, não são diferentes ou melhores que Alfredo Reinado. E se estão em liberdade, porque não o poderá também estar Alfredo Reinado?

Ou já não há moralidade?

MAIS UMA VÍTIMA DO VISTA

Mas esta vítima está revoltada e jura nunca mais na vida vir a usar o Windows Vista. O “criminoso” Instalou um programa novo no seu computador e vai daí o Vista disse-lhe que ele tinha mudado a máquina e por isso lhe dava um prazo de 3 dias para fazer uma reactivação, senão o Sistema deixaria de funcionar. Perante isto o homem passou-se e diz ― e com toda a razão ― que restam boas alternativas para o Vista: o Windows XP, o Linux e o MAC, por ora.

Nada mais certo e verdadeiro.

Bem pode a Microsoft, perante o fracasso das vendas do Vista, oferecer aos utilizadores (como já está fazendo) 120 dias (quatro meses) de uso gratuito do Vista antes de o comprar e activar, que não vai convencer uma grande e boa parte dos consumidores a mudar para esse sistema operativo arrogante, sufocante e mandão que resolveram pôr no mercado.

O Vista, para os utilizadores tecnicamente mais esclarecidos e exigentes, é mais ou menos como aquela do coelho: é bom, não foi? Ou seja, antes de o ser já o era. Vai mas é para o caixote do lixo.

domingo, 4 de março de 2007

FRASES HISTÓRICAS

Há bocado, não sei porquê, lembrei-me daquela frase que Américo Thomaz, então presidente da república, disse para manifestar a sua satisfação pela forma como fora recebido pelos populares de uma localidade qualquer do interior do país:

«Só tenho um adjectivo para este momento: gostei

SINCERAMENTE




Não sei que prazer se pode tirar em dormir.

Para mim, dormir nunca é uma escolha.

E muito menos ainda um objectivo.
.

AI TIMOR TIMOR










No protectorado australiano de Timor Leste está em curso uma caça ao homem visando a captura do major rebelde, Alfredo Reinado. Segundo as notícias espalhadas um pouco pela Internet fora, tropas terrestres australianas, apoiadas por carros blindados, aviões e helicópteros, buscam Reinado na localidade de Same.

Se por um lado há notícias de que Reinado foi ferido e está já capturado, há também, por outro, notícias, como esta por exemplo, das 7:20 PM de Timor (de há cerca de três horas atrás, portanto), do site australiano “BigPond” que diz que Reinado escapou ileso ao ataque e está a monte.

João Carrascalão, inimigo político da FRETILIN, e também de Xanana, já veio dizer que «começou a guerra civil em Timor». Mas apoiantes de Xanana dizem que tudo está calmo e que Reinado só tem com ele 60 homens e não representa mais ninguém.

Assim sendo não se percebe qual a razão de tão grande aparato militar australiano para capturar o homem. Mas adiante.

Vivo a saga do major Reinado com alguma paixão e interesse, até porque o Sporting não me tem empolgado ultimamente, deixando-me órfão de vivencias emocionais fortes, catando notícias e lendo a correspondência na esperança de encontrar algo que me tire desta solidão e pasmaceira interior. E eis que tenho Reinado à mão. Reinado é assim como que uma espécie de Zé do Telhado lá do sítio. É criminoso, mas é um criminoso simpático e aventureiro ― dois ingredientes fortes para a gente gostar dele apesar das “incorrecções” políticas e militares que pratica. Por isso eu comecei a ler tudo o que se escreve sobre ele e investiguei um pouco para tentar saber minimamente quem é o homem.

E não foi difícil concluir que Reinado é um desgraçado. A desgraça de Reinado parece ter sido a de se ter aliado a Xanana para derrubar Alkatiri, mas tê-lo feito sujando as mãos e não se calando depois, implicando assim o presidente timorense na sujeira do golpe e tornando-se por isso um aliado incómodo de Xanana.

Nesta conformidade, só restava a Xanana mandar prender (talvez calar) o major Reinado. E parece que isso foi o que Xanana combinou com o actual primeiro-ministro, Ramos Horta, o enxofrado e equívoco Prémio Nobel da Paz ― Leandro Isaac diz que Horta é Nobel da Guerra ― o qual terá pedido aos australianos que cumprissem essa missão.

Eu apoio Reinado e espero que ele se transforme num autêntico Robin dos Bosques timorense; que fuja dos australianos melhor que Xanana fizera com os indonésios; e que apareça de vez em quando para infernizar a vida aos golpistas ex-aliados e assim, a modos que um Conde de Monte Cristo, vá cumprindo metodicamente o seu ajuste de contas com Horta e com Xanana.

Nota: na fotografia em cima, na da direita, temos Reinado com Xanana nos tempos em que eram aliados políticos.

quinta-feira, 1 de março de 2007

O ABRUPTO EM APUROS

OU A PRIMEIRA VÍTIMA CONFESSA DO VISTA

Diz que Instalou o Office 2007 Ultimate no Windows Vista e agora tem problemas sérios com a base de dados, Access. Já não lhe bastava o Windows Vista para lhe criar problemas ― um sistema operativo praticamente com apenas quarenta dias de tirocínio em larga escala ― adicionou-lhe o Office 2007 Ultimate fazendo uma salada russa contaminada.

Quer uma opinião despretensiosa? Instale de novo o Windows XP Service Pack 2 e faça a sua actualização online que assim ficará com um sistema operativo bastante estável pois que sofreu ao longo dos anos várias correcções e um sem número de melhoramentos (coisa por que terá ainda que passar o Windows Vista até que seja confiável). Instale depois o Ofice 2007 Entreprise (este sim, perfeitamente estável no XP que até chateia) e não se rale mais.

Ou então migre para o MAC (que exige algum tempo, não muito, de adaptação).

domingo, 25 de fevereiro de 2007

SIMPLESMENTE PAPISTA

Vital Moreira, que em Janeiro passado o blogue Grande Loja apelidou de «putativo núncio deste governo» (vale a pena ler a posta em cauasa), não só não se cansa de aplaudir todas as medidas socráticas, como às vezes chega a fazer como a Apple fez há dias ao Windows Vista: coloca-se Beyond the Government (muito para além do Governo).

Nesta posta, no Causa Nossa, Vital não está com meias medidas; e escreve:

«Lembram-se dos protestos contra o encerramento de maternidades com poucos partos? Passado um ano, alguma das terríveis previsões se confirma?
Lembram-se dos protestos contra o encerramento de escolas com poucos alunos? Passado um ano, alguma das queixas se viu justificada?
E agora no caso do reordenamento da rede de urgências hospitalares, existe alguma razão para dar crédito aos mesmíssimos protestos?»


Pois não, Vital acha que não há a mínima razão para dar crédito aos protestos das populações e dos autarcas contra o encerramento das urgências.

Mas quem não vai na mesma cantiga, pelos vistos, é o Governo (à frente do qual se coloca, iluminado, Vital). Não só, ao que parece, o Governo deu crédito aos protestos, como recuou nos seus propósitos e ofereceu aos municípios mais do que estes reivindicavam.

Se há dias em que um homem não deve sair de casa, também há dias em que um homem não deve escrever.

O MEDO E O GRÃO DE ARROZ

OU MAIS UMA DO GOVERNO POWERPOINT (aquele que anuncia pomposamente umas medidas "montanhosas" que, na prática, quase sempre, acabam por parir "ratos", resultando delas outras coisas bem diferentes das anunciadas ― às vezes até o contrário do anunciado).


Escreve hoje o Diário de Notícias:

«No mesmo dia em que se reuniu com um "preocupado" José Sócrates para analisar a escalada de protestos contra o encerramento de serviços hospitalares de urgência a nível nacional, o ministro da Saúde, Correia de Campos, fechou negociações para a celebração de protocolos com os presidentes de seis municípios afectados. O protocolo, ontem assinado em Lisboa, deixou os seis autarcas "muito satisfeitos", conforme confessaram aos jornalistas. E parecem ter boas razões para isso: não só as urgências não encerram em Cantanhede, Espinho, Fafe, Macedo de Cavaleiros, Montijo e Santo Tirso como o Ministério da Saúde acaba de dar ainda mais garantias do que os autarcas esperavam à partida: além de se manterem as urgências, ampliam-se os horários de funcionamento dos centros de saúde e colocam-se viaturas especializadas em atendimento urgente à disposição dos municípios

Segundo escreve ainda o Diário de Notícias, e confirmando que antes da reunião com os autarcas esteve reunido com o primeiro-ministro para debater a questão dos protestos das populações contra o encerramento das urgências, «o ministro desmentiu que o chefe do Governo tenha assumido directamente o controlo da situação, como ontem noticiava o Público: "Estou tranquilo. A questão da confiança política não se põe."»

Pode não ser este o caso, mas faz lembrar o mundo do futebol: quando um treinador está na corda bamba e se noticia a sua saída iminente, costuma logo aparecer alguém do clube a declarar “toda a confiança no nosso treinador”. Para poucos dias depois se ficar a saber que afinal o clube o despediu numa esperançosa "chicotada psicológica".

sábado, 24 de fevereiro de 2007

A APPLE GOZA COM O VISTA


Já aqui falámos sobre os inconvenientes que encontrámos quando instalámos por duas vezes o Windows Vista e ele quis tomar conta do nosso computador e de nós próprios.

Pois bem, aqui neste sítio, alguém com a mesma opinião, gozando, chama Big Mother (mais que Big Brother) ao Windows Vista.

E a Apple, no seu stand numa feira de tecnologia, faz publicidade brincando com o putativo sucesso do Vista, usando o seguinte slogan comercial para promover os computadores Machintosh: ”Go beyond Vista”.

É isso: vá para além do Vista. Compre um Mac.

Ou então, e se não quiser andar para trás, continue usando o Windows XP, digo eu.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

BOM DIA


Quem disse que Pacheco Pereira não descia a este mundo estava enganado. Esta imagem foi colhida do Abrupto.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

BORA LÁ MEUS AMIGOS

O próximo dia 24 de Março vai ser “O Dia Sem Computador”. Diga aqui se se acha capaz ou não de viver esse dia sem ligar o seu PC.

Aqui o “África Minha” já confirmou que se acha capaz disso e até já tomou uma decisão importante entre outras: no dia 24 de Março passará duas horas no ginásio a fazer trabalhar o físico e a transpirar que nem uma alma penada no inferno.

Abaixo a tirania do PC e da Net.

Abaixo a televisão e o sofá.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

LIBERDADE

A frase de Fernando Pessoa, que inspira a orientação deste blogue, mudou.

Mudou para outra frase do mesmo autor.

Uma frase um pouco radical quando nega todo o prazer.

Mas enaltecedora do único valor pelo qual vale a pena viver: a liberdade.

CÉSAR DAS NEVES NO SEU MELHOR

Hoje, no Diário de Notícias, podemos encontrar esta inenarrável opinião (mais uma opinião inenarrável) de João César das Neves sobre o SIM dos portugueses à alteração da lei do aborto:

«O facilitismo e superficialidade com que pretenderam "arrumar a questão" virá a cair sobre os próprios. Certamente haverá menos crianças abandonadas, menos deficientes, menos criminosos. Só mais cadáveres pequeninos

«O aborto a pedido e pago pelo Sistema Nacional de Saúde assolará sobretudo as classes mais pobres, onde a tentação será mais forte. Paradoxalmente, como noutros países, isso minará a base eleitoral dos partidos de Esquerda. Haverá menos crianças a correr nos bairros de lata; menos crianças a correr nos infantários. Haverá menos crianças em todo o lado. Haverá menos portugueses.»


A perplexidade que nos assalta quando lemos estas cousas faz-nos perguntar: como é que foi possível a este homem chegar a ter um curso superior ― e mais que isso ― como é que este homem chega a ser professor no ensino superior?

domingo, 18 de fevereiro de 2007

"LONGA VIDA AO CAMARADA SÁ FERNANDES"

Lembrando-me da frase “Longa vida ao camarada Mao” que os chineses partidários da Revolução Cultural de Mao Zedong costumavam proferir em cada manifestação de apoio ao então líder chinês, resolvi recuperá-la para a aplicar ao vereador independente, eleito nas listas do Bloco de Esquerda, da Câmara Municipal de Lisboa, José Sá Fernandes, o homem que, quanto a mim, está a revolucionar profundamente a forma como os assuntos imobiliários são tratados hoje nas e pelas autarquias.

Sá Fernandes, exercendo uma acção fiscalizadora eficaz, particularmente dirigida às grandes obras e aos grandes empreendimentos imobiliários em Lisboa ― sobretudo na parte que toca ao lançamento de obras autárquicas, licenciamento de projectos imobiliários, permuta de terrenos ou alienação de património autárquico a favor de terceiros ― conseguiu aquilo que está à vista de toda a gente: colocar a nu várias situações suspeitas de irregularidades que estão a ser investigadas criminalmente pelo Ministério Público.

Com isso parece-nos ― pelo menos parece ― que a autarquia lisboeta parou. Não temos mais conhecimento de novas obras ― nem sequer vemos máquinas e trabalhadores a consertar o asfalto das esburacadas ruas e avenidas de Lisboa ― e as aprovações de novos projectos; as permutas ou venda de terrenos da autarquia são, aos nossos olhos, inexistentes neste momento.

Isto leva-nos a uma pergunta inevitável:

Será que as Câmaras municipais só funcionam se as actividades relacionadas com terrenos, projectos imobiliários e obras (as obras, as obras) não forem fiscalizadas com zelo?

Pode não ser bem assim, mas lá que parece que é... ai parece, parece.

Longa vida ao camarada Sá Fernandes!

A propósito: leia aqui uma entrevista lapidar ao ex-vereador da Câmara Municipal do Porto, Paulo Morais, saída na revista “Visão online” de 25 de Agosto de 2005.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

ATENÇÃO POVO DAS ILHAS

Um engenheiro que nos assegurou que brevemente irá dirigir a construção de vários empreendimentos turísticos na Ilha do Sal, em Cabo Verde, disse-nos:

«Vamos dar cabo daquilo tudo com tanta construção. Aquilo vai ficar tão mau que eu, depois, não vou querer voltar lá de novo. Mas os turistas vão ficar muito bem servidos».

Portador de um largo currículo de empreitadas de construção civil em várias partes de Portugal e de África, quando instado a explicar como é que é possível acontecerem certos atentados paisagísticos e ecológicos um pouco por todo o lado, explicou-nos: «Tentamos sempre envolver de alguma forma os responsáveis locais no projecto; assim fica logo tudo facilitado à partida».

Nós, aqui no “África Minha”, esperamos e fazemos votos para que em Cabo Verde seja tudo diferente: projectos passados a pente fino pelas estruturas governativas e técnicas implicadas na sua aprovação; máxima exigência no cumprimento das normas de protecção da paisagem e do ambiente (exigindo competentes estudos de impacte ambiental realizados por organismos internacionais de reconhecida idoneidade e independência); salvaguarda de todos os direitos dos habitantes locais à permanência nas vilas e cidades onde sempre viveram e segundo os seus usos e costumes; lisura de processos na aprovação dos projectos; denúncia pública e punição de qualquer eventual tentativa de corrupção dos responsáveis locais; total independência dos titulares de cargos em organismos de fiscalização da execução dos projectos, relativamente às empresas envolvidas na sua construção e futura exploração.

Mas sobretudo esperamos que aquela frase inicial segundo a qual «Vamos dar cabo daquilo tudo» seja completamente falsa.

Ainda a procissão vai no adro. Por isso fazemos um apelo:

Senhor Presidente da República e Senhor Primeiro Ministro de Cabo Verde, esperamos de vós publicamente uma palavra de que não permitirão que se destrua a paisagem física e humana das ilhas de Cabo Verde (de nenhuma das ilhas) com falsos argumentos economicistas e cedências à ganância de grupos económicos sem alma e sem pátria que usam a palavra PROGRESSO como cortina de fumo para esconder os seus interesses mais mesquinhos que não têm o menor pejo de colocar à frente dos de todo um povo na hora de ganhar dinheiro.

Senhor Presidente da República e Senhor Primeiro Ministro, vamos estar atentos a essa palavra. E esperamos que defendam intransigentemente os interesses de Cabo Verde e do seu povo.

Nenhum turista, por mais e por melhor que pague para visitar Cabo Verde, merece fazê-lo se, para que isso aconteça, um natural das ilhas tem que deixar a sua casa. Os direitos de cidadania e os direitos ancestrais dos habitantes das ilhas à sua terra não podem ser espezinhados pelo dinheiro e pelo direito ao lazer dos turistas.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

ESTA AGORA!...

Fontão de Carvalho, vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, disse que não se demitia do cargo que ocupa porque não é arguido no caso Bragaparques, mas sim noutro processo.

Quer dizer: desde que não seja arguido no caso Bragaparques... pode, por absurdo, ser acusado de tudo ― assassinato, roubo, extorsão, assalto à mão armada, etc., tudo ― que não há problemas.

Desde que não seja constituído arguido, nem seja acusado no caso Bragaparques, está tudo bem.

Olhem que há cá cada uma!...

Editada às 11:55 PM
Pronto! o homem (pressionado pelo PSD e pela opinião pública) acaba de vir dizer que «reconsiderou e suspende o mandato por três meses».
Vá lá a gente perceber isto: porquê três meses?
Será que é ele, Fontão de Carvalho, quem marca o timing à Justiça para conclusão do processo em que é acusado de peculato?
Claro que não. E o que vamos ver a seguir é a maior cidade do País em banho-maria, parada, moribunda, degradando-se a olhos vistos até que a vereação da Câmara caia de podre e de podridão. Esta gente é capaz de morrer agarrada ao osso até ao último suspiro.

Irra!

A OPINIÃO DOS LEITORES

CORREIA DE CAMPOS

Isto da saúde, ou do ministério, ou dos médicos, é coisa bem mais complicada!
Tudo terá agravado após a descolonização.
Com o regresso dos militares, Portugal viu-se a braços com uma boa quantidade de médicos (se não me engano, durante a guerra era necessário 1 médico por cada 30 militares) em risco de desemprego.
E aí instituiu-se números clausus nas faculdades... para não piorar a situação. Diga-se de passagem que não eram alheios, TAMBEM, os interesses de pequenos agregados de tubarões da arte médica (que tubarões sempre houve em todas as artes! Ou Hipócrates foi algum santo?).
Atitude lógica, não fora a pequena desatenção entretanto ocorrida: em saúde, como em qualquer outra área das RES PUBLICA as previsões têm de ser feitas a 10/15 anos; esqueceram-se pois os homens e mulheres eleitos para a governação que à medida que a população envelhecia, nessa mesma população, um pequeno núcleo também envelhecia - o núcleo dos médicos!
Estávamos na década de 80, com grandes áreas do país sem assistência médica, o serviço médico à periferia iniciara o levantamento do país.
E aí, ainda, iniciou-se o que se chamou a colocação de especialistas nos hospitais distritais.
E continuava a haver excedente médico, pois que estavam a sair das faculdades os que tinham entrado antes de 1974 ( as últimas fornadas de grande número de médicos). Aproveitou-se a modernização e criou-se a carreira de médicos de família - que à semelhança de outros países europeus, iniciavam os cuidados primários de saúde.

Passemos à década de 90, em que os médicos distribuídos pelo país, eram muitos, e um risco potencial (isto de entrar pelo íntimo da vida alheia por vezes traz alguns revezes à RES PUBLICA! E os médicos já tinham feito história - por exemplo, a primeira greve médica foi de zelo, em 1970! Gente sadia, com garra e alma.).

Seria necessário apaziguar alguns sinais de protesto?
Surge então, por volta dessa época, o melhor ministro da saúde! Um ministro da saúde não tem de saber se o sangue tem HIV!!!!! Um ministro da saúde tem de governar. E pode-se governar... dividindo (antiquíssima lição): médicos com 42 horas e médicos com 35 horas de serviço semanais, na mesma instituição! Os primeiros a ganhar à hora mais 50% do que os segundos, em vez de ganharem mais sete horas por semana (os primeiros, os “sacrificados à causa pública a dizerem que os segundos viviam da promiscuidade entre o público e o privado; e os segundos a verem os primeiros a sair do serviço mais cedo!........)
É a classe finalmente dividida. Tão eficaz a medida que ainda hoje estão, cada um para seu lado, em silêncio. Convivendo sadiamente...

E o tempo que corre é de economia liberal! Chamaram-lhe por exemplo a ...terceira via! Mas a terceira via é como o sol: quando nasce... nasce para médicos, para governantes. Não sei se nasce para a “populaça”, mas isso é música celestial, diria Dante. Nasce até para doentes!
Que isto da política, agora só faz correr a tinta que nós deixarmos: Mas deixamos! Soezes panos de fundo nos encobrem.
Também já todos sabemos (a democracia é jovem, mas não tanto como a pintam. Já começa a nevar no cabelo de cada um de nós) que os governos caiem pela saúde ou pela educação, verdadeiras pedras angulares.
E a boa (ou menos boa) prática médica começou a alastrar como uma mancha de nafta. Como tantas outras manchas de nafta em outros sectores. Sem controle, à boa maneira portuguesa. Organizações da classe a defender o indefensável. O desatino completo.

E todos (médicos, doentes e governantes) trazem uma história para contar. Pelo caminho ficam imensas histórias... incontáveis!
Até se descobrir que o que até então fora bom, o médico funcionário público, chegara a um ponto sem recuo : nem doentes, nem governos, nem médicos, nem organizações, sabiam onde tinham perdido o pé, e o tempo de todos nós. O tempo do país, essa coisa esboroada por entre os dedos de todos. O médico funcionário público deixara de funcionar!
O médico funcionário público não funciona, senhores! Mas não funciona como tantos outros funcionários públicos! Só que aqui não é papel, certidão, ou outro fruto. Aqui o fruto chama-se minha pele e tua pele.

E para essa minha pele, preciso de algum solteiro disposto a morrer!

Não que este solteiro venha sem mácula! Ele também a traz. E não venho defendê-lo.

Mas tenho por mim que neste país, quando se tenta gerir alguém ou alguma coisa, só encontramos multidões de lusitanos, de um e outro lado! Eles não governam nem deixam governar!

MCPC

(Leitora devidamente identificada)

domingo, 11 de fevereiro de 2007

TUDO ÀS AVESSAS

Vimos nas televisões: imagens das gentes defensoras do NÃO, todas felizes e sorridentes, batendo palmas infindas como se o SIM tivesse sido derrotado e o NÃO tivesse vencido.

Imagens de autêntica esquizofrenia.


Talvez não.

Talvez antes imagens surreais de um país sui generis. Inigualável.

Já agora os resultados: SIM 59%, NÃO 41%.
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sábado, 10 de fevereiro de 2007

TUDO A NU

POR CAUSA DE UM SIMPLES SURTO GRIPAL

Após terem sido encerrados por ordem superior, os SAP (Serviços de Atendimento Permanente) dos Centros de Saúde vão de novo estar abertos até às 22 horas ou até à meia-noite (conforme os casos) vigorando esta medida até ao final deste mês de Fevereiro.

Quer dizer:

Às segundas, terças e quartas, manda-se encerrar Serviços.

Às quintas, sextas e sábados, manda-se abrir os mesmos Serviços.

Apetece citar Fernando Pessoa:

«Aceito que um grande matemático some dois e dois para dar cinco: é um acto de distracção, e a todos nós pode suceder. O que não aceito é que não saiba o que é somar ou como se soma.»
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domingo, 4 de fevereiro de 2007

EU VOTO “SIM”

Por motivos que agora não interessam,tenho sido solicitado a dar a minha opinião (se quiserem, a minha resposta) à pergunta do referendo sobre a alteração da lei do aborto.

E não me escuso a resumir o que penso sobre este assunto.

Sob os pontos de vista social e profissional, voto SIM. Sob o ponto de vista político, votaria (se pudesse) NÃO.

Não vou sequer tentar explicar detalhadamente porque voto SIM. O argumentário seria longo, com partes técnicas fastidiosas e pouco compreensíveis para o cidadão comum.

Digo apenas que acho a questão mais do foro íntimo das pessoas do que pertença colectiva sujeita à razão ponderada que exigiria a cada um de nós complexas elucubrações ideológicas, filosóficas, científicas, religiosas, etc., antes de uma tomada de posição ― coisa que a grandíssima maioria dos eleitores não tem capacidade para fazer.

Por isso penso, até, que se deveria evitar “esclarecer” as pessoas. Dito por outras palavras: penso que se deveria evitar tentar convencer este ou aquele a votar num sentido ou no outro, deixando antes à consciência ou inconsciência de cada um a tomada da decisão do seu voto.

E aqui aponto todos os dedos à retrógrada Igreja Católica, parasita social e factor de subdesenvolvimento dos povos modernos, por ter sido ela a dar o pontapé de saída para esta luta de galos a que se vem assistindo, em que os argumentos são os mais falaciosos e descabidos que se pode imaginar, e em que até a execução de Saddam já serviu como arma de arremesso.

Mas explico porque votaria NÃO: pelo simples facto de não compreender como é que um Governo que com argumentos economicistas condena uma população inteira à penúria de cuidados de saúde essenciais ao seu bem-estar, saúde e sobrevivência como ser humano, admite pagar integralmente 25.000 abortos por ano, abortos em que uma grande parte será feita a pedido, como método anticoncepcional (pós-concepcional, melhor dizendo).

Acho isso simplesmente absurdo. Mas, como primeiro voto SIM, não posso votar também NÃO porque senão anularia o meu voto.

Não falei no assunto até agora porque achei, desde o início, que a discussão foi levada para o campo da disputa partidária, de facção ou de grupo, numa como que espécie de clubismo em que predominam as emoções e os falsos argumentos, por culpa de um povo pouco ou nada informado, imbuído de fantasmas que lhe são transmitidos por igrejas ou religiões retrógradas, ou grupos políticos ou politizados supostamente esclarecidos mas agindo mais na base do combate das ideias e das posições dos adversários, do que em explicar as suas próprias ideias, estando todos fundamentalmente interessados no mesmo: ganhar votos para um lado ou para o outro, independentemente de saber se quem vota vota em consciência ou não.

Agora o argumento que eu mais abomino é o daqueles que se dizem “pró-vida”; dos que se dizem "a favor da vida”.

Sem saberem definir o que é a vida, definição que, por sinal, ninguém infelizmente tem de forma definitiva, inquinam todo o debate com palavras como “assassínio” e “morte”, chamando “criança” a um ovo composto de duas células (o espermatozóide e o óvulo), enfim: um chorrilho de asneiras e patranhas que fazem inveja aos inquisidores de antanho.

Se para a Ciência, Vida é fundamentalmente movimento da matéria e movimento na matéria, «o começo da vida» ― frase tão ouvida e quase sempre mal discutida em vários fóruns ― ter-se-á dado com o aparecimento da matéria. Isto é, a vida começou e existe desde sempre. Qualquer vida existe desde sempre. Sob outras formas de vida, é certo, mas vida à mesma. A parte de uma molécula do braço de um bebé (vivo) já era vida sob a forma da planta, do animal (vaca, porco ou galinha), ião ou catião que a mãe desse bebé comeu ou bebeu e se transformou em parte do braço dele. E antes disso mesmo, há milhões e milhões de anos, já era Vida sob outra forma qualquer.

E se se fala de morte como cessação de uma forma de vida, como passagem de uma forma de vida para outra forma de vida, então os pró-vida terão que admitir que eles próprios têm uma existência indigna de ser vivida uma vez que são fruto de um infinito número de mortes e assassinatos, só continuando ainda vivos graças a um holocausto gigantesco a que a sua existência obriga a sociedade e a Natureza.

É por tudo isto que eu voto SIM.

NÃO DEIXEMOS QUE A VACA ARREFEÇA

Na página 33 do Expresso em papel ― esporadicamente comprado por aqui ― sob o título “Schwharznegger dá Saúde à Califórnia”, escreve-se que este governador estadual terá proposto um sistema de saúde que abranja toda a população do Estado que ele governa dizendo que se os cidadãos «não tiverem dinheiro para isso, o Estado vai ajudá-los». A notícia vai mais longe e termina com este parágrafo de que assumimos a responsabilidade pelos realces:

«Os candidatos presidenciais democratas pressentem que se trata de um tema político ganhador e alguns deles propõem algo ainda mais radical: um sistema de saúde universal. Até agora, os republicanos e a poderosa e altamente lucrativa indústria de saúde conseguiram matar essa ideia. O Senador Barak Obama, um dos dois candidatos presidenciais democratas mais populares, lançou o desafio aos seus adversários: “Estou absolutamente determinado a que até ao fim do primeiro mandato do próximo presidente possamos ter um sistema de saúde universal neste país".»

É neste preciso momento em que os americanos concluem que foi um erro colossal terem escolhido um sistema de saúde privado que deixa de fora dos cuidados de saúde mais básicos, segundo números recentes a que esta notícia também se refere, cerca de 50 milhões de americanos ― é neste preciso momento ― que assistimos em Portugal a um governo de um partido dito socialista levando a cabo a destruição do Serviço Nacional de Saúde (sistema universal) querendo caminhar rumo a esse abismo da saúde privada ora chumbada na pátria do liberalismo, aquela mesma onde esse sistema nasceu vai para cerca de 40 anos.

Porque não aprender já com o erro americano, em vez de, cega e surdamente, se tentar comprovar esse erro na prática lançando milhões de portugueses no sofrimento e na doença?

Porque tentar experimentar aquilo cujos próprios criadores consideram hoje um erro! Para daqui a 20 ou 40 anos, tal como hoje os americanos estão a fazer, se vir depois dizer: “afinal falhámos, é melhor fazermos um sistema universal de saúde”?!

Que cegueira é esta; que obstinação no erro é este que leva o Governo “socialista” de Portugal a seguir as ideias de um ministro que nem sequer tem tido a coragem de dizer claramente aos portugueses o que pretende de facto fazer com a Saúde em Portugal ― ministro cujas medidas desde já vão suscitando as maiores dúvidas (como, aliás, tem sido pública e notoriamente evidenciado pelas notícias mais variadas que têm chegado quase todos os dias ao conhecimento dos cidadãos).

Ficam aqui estas perguntas simples. Mas somos muito pessimistas quanto ao desfecho de tudo isto. Quer-nos parecer que este Governo, que alguns já apelidam, e bem, de "Governo PowerPoint", continuará leslumbrado com a sua performance no que respeita às apresentações propagandísticas de medidas (tipo PowerPoint), esquecendo de olhar para a realidade que o cerca.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

E AGORA?


Aqui, no site do Ministério da Saúde, pode-se ler o seguinte comunicado do senhor ministro da Saúde. (Os sublinhados no texto são de minha responsabilidade).



«Ministério da Saúde emite comunicado sobre o Relatório Final da Rede de Serviços de Urgência - 02.02.2007.

A Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação das Urgência entregou ao Ministro da Saúde e procedeu à divulgação pública do seu Relatório/Proposta Final da Rede de Serviços de Urgência. O Processo foi intensamente participado desde a apresentação da primeira versão da proposta, em Setembro de 2006, tendo sido objecto de apreciação por um número elevado de Autarquias, Instituições, Partidos Políticos e Cidadãos. A Comissão Técnica foi ouvida na Associação Nacional dos Municípios Portugueses e na Comissão Parlamentar de Saúde e disponibilizou-se para uma segunda audição.

A proposta assenta na requalificação e redistribuição geográfica dos pontos de urgência, tipificados em 3 modalidades e reafirma a importância e necessidade de reforço da rede móvel treinada e articulada para recolha e transporte pré-hospitalar.

O mapa proposto pelo Grupo Técnico reduz consideravelmente o tempo médio de acesso e melhora de forma substancial a equidade territorial e a qualidade da assistência. Implica, certamente, encargos financeiros adicionais, bem justificados pelo esperados ganhos de equidade e qualidade, mas impossíveis de reunir e aplicar de imediato na totalidade. O Grupo Técnico trabalhou em condições de reconhecida independência e liberdade de opinião tendo produzido trabalho altamente meritório.

Tem agora o Governo o conhecimento completo da situação, que lhe vai permitir aplicar gradualmente as recomendações e pontualmente alterá-las, onde surja informação adicional que o justifique. O princípio básico a adoptar será o da mais valia para oferta: onde for recomendável diminuir a aparente disponibilidade de meios, a operação será contrabalançada pela oferta alternativa ou cumulativa de melhores meios.

O Governo irá proceder à aplicação progressiva das alterações a introduzir, ouvindo ainda, de novo, as autarquias mais directamente envolvidas. O projecto global de mudança será ainda levado ao conhecimento da Associação Nacional de Municípios Portugueses e da Comissão Parlamentar de Saúde antes da sua entrada em execução.

O Ministro da Saúde,

António Correia de Campos

Lisboa, 2 de Fevereiro de 2007»


Não tendo a veleidade de pretender interpretar para si, caro(a) leitor(a), passagens deste comunicado, permito-me só chamar a sua tenção para o facto de nele não se falar uma única vez sequer nos recursos humanos a envolver na dita “requalificação das urgências”. Repare que nele não se fala de PESSOAL.

Repare ainda na frase sublinhada «diminuir a aparente disponibilidade de meios». Quer dizer: propõe-se diminuir o que é apenas e só aparente, mesmo sabendo de antemão que é aparente, isto é: acha-se possível tocar o intangível; alterar o que é inexistênte (porque se diz claramente que os meios só aparentemente estão disponíveis). Um must!

Sabendo-se como se sabe que não há médicos e enfermeiros em número suficiente a trabalhar para o Estado, este é um grandessíssimo busílis: é que o privado, que se esperaria então poder ver-se envolvido na rede de cuidados de urgência, quer ter tudo menos urgências; tudo menos cuidados intensivos e de Neonatologia; tudo menos serviços com internamentos de longa duração.

Quer é ter apenas o que dá lucro.

Percebido?!

A RELATIVIDADE SEGUNDO SÓCRATES

FOI PIOR A EMENDA QUE O SONETO
Tentando Esclarecer as inconcebíveis palavras proferidas pelo senhor ministro da economia na China, o senhor Primeiro Ministro, José Sócrates, disse mais ou menos isto em Macau (e as rádios transmitiram): «o que senhor ministro da Economia disse está bem dito: ele disse que os ALTOS salários dos quadros técnicos portugueses, apesar de serem ALTOS ainda são inferiores à média dos salários europeus».

Perceberam o truque de linguagem? ― O senhor ministro da economia não propagandeou os baixos salários dos portugueses para captar investimento chinês em Portugal. O que ele fez foi dizer aos empresários chineses que em Portugal há ALTOS salários que são mais BAIXOS que a média dos salários europeus. E de aí deverem investir em Portugal.

Entenderam agora, ó seus estúpidos de uma figa?

ALTOS salários. Que são Baixos.

Onde é que está o problema?

P.S. Eu tenho cá em casa um cão gigante que é mais pequeno que os cães dos meus vizinhos.

É verdade: O MEU CÃO É UM... GIGANTE PEQUENO.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

UMA «VERDADE» CONDENÁVEL

Faz hoje notícia o que disse na China o Ministro de Economia, Manuel Pinho, para convencer os empresários chineses a investirem em Portugal: «Em Portugal os salários são inferiores à média dos salários europeus».

Conhecido o dislate, toda a oposição, bem como os sindicatos e muitos cidadãos com dois dedos de testa, condenaram o senhor ministro.

Ao que parece o senhor ministro defende-se ― e os seus “defensores” defendem-no ― com o argumento de que «disse uma verdade».

Ora bem, condena-se o senhor ministro não pelo simples facto de ter dito «uma verdade», mas sim pelo facto de ter-se socorrido de uma verdade negativa para promover Portugal. Os baixos salários são uma verdade negativa a que urge pôr cobro; uma verdade negativa que é urgente ser banida da sociedade portuguesa. E é por isso que não se admite que um ministro se socorra dela para promover o País.

O que se diria se alguém com responsabilidades públicas dissesse isto no estrangeiro para promover o turismo, por exemplo: "façam férias em Portugal porque em Portugal temos das mulheres mais boas da Europa".

Primeiro morreria meio mundo de riso; depois morreria outro meio de vergonha. Mas não sem antes condenar-se o desmiolado que tal frase proferisse. Sem que, contudo, deixasse de ter dito «uma verdade». Neste caso, até, uma verdade não negativa: de facto Portugal tem das mulheres mais boas da Europa. E isso não é coisa má. Mas não caberia na cabeça de ninguém que tal verdade pudesse ser usada para promover o turismo em Portugal.

O senhor ministro merece, pois, toda a reprovação pelo que disse na China. Porque envergonhou Portugal e ofendeu os portugueses.