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Ei-lo:
«O senhor K. estava a admirar um quadro que conferia a vários objectos uma forma muito particular. Disse ele: "A alguns artistas, ao contemplarem o mundo, acontece o mesmo que a muitos filósofos. Com a preocupação da forma deitam a perder a matéria. Eu andei uma vez a trabalhar num jardineiro. Ele meteu-me nas mãos uma tesoura de jardinagem e mandou-me podar um loureiro. A árvore estava enfiada num vaso e emprestavam-na para fora para festas. Para isso tinha que ter a forma de uma bola. Pus-me logo a aparar os rebentos desalinhados mas, por mais que me esforçasse por atingir a forma de uma bola, o tempo passava e eu não conseguia. Ora tinha desbastado de mais de um lado, ora do outro. Quando finalmente já se tornara numa bola, a bola estava pequeníssima. Desapontado, o jardineiro disse: Muito bem, isto é a bola, mas onde é que está o loureiro?"»