sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

E AGORA?


Aqui, no site do Ministério da Saúde, pode-se ler o seguinte comunicado do senhor ministro da Saúde. (Os sublinhados no texto são de minha responsabilidade).



«Ministério da Saúde emite comunicado sobre o Relatório Final da Rede de Serviços de Urgência - 02.02.2007.

A Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação das Urgência entregou ao Ministro da Saúde e procedeu à divulgação pública do seu Relatório/Proposta Final da Rede de Serviços de Urgência. O Processo foi intensamente participado desde a apresentação da primeira versão da proposta, em Setembro de 2006, tendo sido objecto de apreciação por um número elevado de Autarquias, Instituições, Partidos Políticos e Cidadãos. A Comissão Técnica foi ouvida na Associação Nacional dos Municípios Portugueses e na Comissão Parlamentar de Saúde e disponibilizou-se para uma segunda audição.

A proposta assenta na requalificação e redistribuição geográfica dos pontos de urgência, tipificados em 3 modalidades e reafirma a importância e necessidade de reforço da rede móvel treinada e articulada para recolha e transporte pré-hospitalar.

O mapa proposto pelo Grupo Técnico reduz consideravelmente o tempo médio de acesso e melhora de forma substancial a equidade territorial e a qualidade da assistência. Implica, certamente, encargos financeiros adicionais, bem justificados pelo esperados ganhos de equidade e qualidade, mas impossíveis de reunir e aplicar de imediato na totalidade. O Grupo Técnico trabalhou em condições de reconhecida independência e liberdade de opinião tendo produzido trabalho altamente meritório.

Tem agora o Governo o conhecimento completo da situação, que lhe vai permitir aplicar gradualmente as recomendações e pontualmente alterá-las, onde surja informação adicional que o justifique. O princípio básico a adoptar será o da mais valia para oferta: onde for recomendável diminuir a aparente disponibilidade de meios, a operação será contrabalançada pela oferta alternativa ou cumulativa de melhores meios.

O Governo irá proceder à aplicação progressiva das alterações a introduzir, ouvindo ainda, de novo, as autarquias mais directamente envolvidas. O projecto global de mudança será ainda levado ao conhecimento da Associação Nacional de Municípios Portugueses e da Comissão Parlamentar de Saúde antes da sua entrada em execução.

O Ministro da Saúde,

António Correia de Campos

Lisboa, 2 de Fevereiro de 2007»


Não tendo a veleidade de pretender interpretar para si, caro(a) leitor(a), passagens deste comunicado, permito-me só chamar a sua tenção para o facto de nele não se falar uma única vez sequer nos recursos humanos a envolver na dita “requalificação das urgências”. Repare que nele não se fala de PESSOAL.

Repare ainda na frase sublinhada «diminuir a aparente disponibilidade de meios». Quer dizer: propõe-se diminuir o que é apenas e só aparente, mesmo sabendo de antemão que é aparente, isto é: acha-se possível tocar o intangível; alterar o que é inexistênte (porque se diz claramente que os meios só aparentemente estão disponíveis). Um must!

Sabendo-se como se sabe que não há médicos e enfermeiros em número suficiente a trabalhar para o Estado, este é um grandessíssimo busílis: é que o privado, que se esperaria então poder ver-se envolvido na rede de cuidados de urgência, quer ter tudo menos urgências; tudo menos cuidados intensivos e de Neonatologia; tudo menos serviços com internamentos de longa duração.

Quer é ter apenas o que dá lucro.

Percebido?!