domingo, 4 de fevereiro de 2007

NÃO DEIXEMOS QUE A VACA ARREFEÇA

Na página 33 do Expresso em papel ― esporadicamente comprado por aqui ― sob o título “Schwharznegger dá Saúde à Califórnia”, escreve-se que este governador estadual terá proposto um sistema de saúde que abranja toda a população do Estado que ele governa dizendo que se os cidadãos «não tiverem dinheiro para isso, o Estado vai ajudá-los». A notícia vai mais longe e termina com este parágrafo de que assumimos a responsabilidade pelos realces:

«Os candidatos presidenciais democratas pressentem que se trata de um tema político ganhador e alguns deles propõem algo ainda mais radical: um sistema de saúde universal. Até agora, os republicanos e a poderosa e altamente lucrativa indústria de saúde conseguiram matar essa ideia. O Senador Barak Obama, um dos dois candidatos presidenciais democratas mais populares, lançou o desafio aos seus adversários: “Estou absolutamente determinado a que até ao fim do primeiro mandato do próximo presidente possamos ter um sistema de saúde universal neste país".»

É neste preciso momento em que os americanos concluem que foi um erro colossal terem escolhido um sistema de saúde privado que deixa de fora dos cuidados de saúde mais básicos, segundo números recentes a que esta notícia também se refere, cerca de 50 milhões de americanos ― é neste preciso momento ― que assistimos em Portugal a um governo de um partido dito socialista levando a cabo a destruição do Serviço Nacional de Saúde (sistema universal) querendo caminhar rumo a esse abismo da saúde privada ora chumbada na pátria do liberalismo, aquela mesma onde esse sistema nasceu vai para cerca de 40 anos.

Porque não aprender já com o erro americano, em vez de, cega e surdamente, se tentar comprovar esse erro na prática lançando milhões de portugueses no sofrimento e na doença?

Porque tentar experimentar aquilo cujos próprios criadores consideram hoje um erro! Para daqui a 20 ou 40 anos, tal como hoje os americanos estão a fazer, se vir depois dizer: “afinal falhámos, é melhor fazermos um sistema universal de saúde”?!

Que cegueira é esta; que obstinação no erro é este que leva o Governo “socialista” de Portugal a seguir as ideias de um ministro que nem sequer tem tido a coragem de dizer claramente aos portugueses o que pretende de facto fazer com a Saúde em Portugal ― ministro cujas medidas desde já vão suscitando as maiores dúvidas (como, aliás, tem sido pública e notoriamente evidenciado pelas notícias mais variadas que têm chegado quase todos os dias ao conhecimento dos cidadãos).

Ficam aqui estas perguntas simples. Mas somos muito pessimistas quanto ao desfecho de tudo isto. Quer-nos parecer que este Governo, que alguns já apelidam, e bem, de "Governo PowerPoint", continuará leslumbrado com a sua performance no que respeita às apresentações propagandísticas de medidas (tipo PowerPoint), esquecendo de olhar para a realidade que o cerca.