sábado, 17 de fevereiro de 2007

ATENÇÃO POVO DAS ILHAS

Um engenheiro que nos assegurou que brevemente irá dirigir a construção de vários empreendimentos turísticos na Ilha do Sal, em Cabo Verde, disse-nos:

«Vamos dar cabo daquilo tudo com tanta construção. Aquilo vai ficar tão mau que eu, depois, não vou querer voltar lá de novo. Mas os turistas vão ficar muito bem servidos».

Portador de um largo currículo de empreitadas de construção civil em várias partes de Portugal e de África, quando instado a explicar como é que é possível acontecerem certos atentados paisagísticos e ecológicos um pouco por todo o lado, explicou-nos: «Tentamos sempre envolver de alguma forma os responsáveis locais no projecto; assim fica logo tudo facilitado à partida».

Nós, aqui no “África Minha”, esperamos e fazemos votos para que em Cabo Verde seja tudo diferente: projectos passados a pente fino pelas estruturas governativas e técnicas implicadas na sua aprovação; máxima exigência no cumprimento das normas de protecção da paisagem e do ambiente (exigindo competentes estudos de impacte ambiental realizados por organismos internacionais de reconhecida idoneidade e independência); salvaguarda de todos os direitos dos habitantes locais à permanência nas vilas e cidades onde sempre viveram e segundo os seus usos e costumes; lisura de processos na aprovação dos projectos; denúncia pública e punição de qualquer eventual tentativa de corrupção dos responsáveis locais; total independência dos titulares de cargos em organismos de fiscalização da execução dos projectos, relativamente às empresas envolvidas na sua construção e futura exploração.

Mas sobretudo esperamos que aquela frase inicial segundo a qual «Vamos dar cabo daquilo tudo» seja completamente falsa.

Ainda a procissão vai no adro. Por isso fazemos um apelo:

Senhor Presidente da República e Senhor Primeiro Ministro de Cabo Verde, esperamos de vós publicamente uma palavra de que não permitirão que se destrua a paisagem física e humana das ilhas de Cabo Verde (de nenhuma das ilhas) com falsos argumentos economicistas e cedências à ganância de grupos económicos sem alma e sem pátria que usam a palavra PROGRESSO como cortina de fumo para esconder os seus interesses mais mesquinhos que não têm o menor pejo de colocar à frente dos de todo um povo na hora de ganhar dinheiro.

Senhor Presidente da República e Senhor Primeiro Ministro, vamos estar atentos a essa palavra. E esperamos que defendam intransigentemente os interesses de Cabo Verde e do seu povo.

Nenhum turista, por mais e por melhor que pague para visitar Cabo Verde, merece fazê-lo se, para que isso aconteça, um natural das ilhas tem que deixar a sua casa. Os direitos de cidadania e os direitos ancestrais dos habitantes das ilhas à sua terra não podem ser espezinhados pelo dinheiro e pelo direito ao lazer dos turistas.