segunda-feira, 2 de abril de 2007

UMA HISTÓRIA ATÉ AGORA MAL CONTADA

Com as achas que o Expresso (ligação só disponível para assinantes) lançou no sábado para a fogueira em que já arde José Sócrates por via das dúvidas que estão sendo levantadas quanto à regularidade com que foram obtidas as suas habilitações académicas ― mais concretamente uma licenciatura em engenharia, pela Universidade Independente dos senhores Luís Arouca e Rui Verde ― cumpre ao gabinete do senhor primeiro-ministro, para acabar de vez com essas dúvidas, publicar o fac-simile dos documentos que sustentam a verdade dos factos. Ao não fazê-lo, vindo com comunicados e declarações à imprensa, as dúvidas acumular-se-ão e o lume brando para cozimento de Sócrates vai continuar a ser alimentado até que o primeiro-ministro atinja o ponto ideal de cozedura.

Para evitar isso, cabe também aos responsáveis da Universidade Independente esclarecer (pelo menos) quem leccionava o quê naquela universidade e com que competências científicas; como eram feitos os exames e quem escrevia as actas dos mesmos; e mostrar os livros dessas actas.

Os portugueses apreciam muito os que sobem a pulso aos lugares em que acabam alcandorados; mas depreciam também muito aqueles que aparecem lá em cima sem ser totalmente claro por que trilhos lá chegaram.

Segundo o Diário de Notícias de ontem, 1 de Abril, «Sócrates completou quatro anos do curso no Instituto Politécnico de Coimbra, frequentando depois durante um ano o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa. Mas só obteve o diploma na Independente, em 1996, após concluir cinco cadeiras. Uma delas - Inglês Técnico - terá sido ministrada pelo próprio reitor, Luís Arouca, agora detido no âmbito do inquérito judiciário à universidade. Mas, segundo o Expresso, "o regente da cadeira era outro docente". E o diploma foi emitido com data de 8 de Setembro de 1996, um domingo.» (sublinhados da nossa autoria).

Ora aqui há qualquer coisa que não soa bem e deve ser esclarecida também:

Nas universidades, as cadeiras são normalmente ministradas pelo regente e pelos seus assistentes. Como e por que razão, então, a cadeira de Inglês Técnico foi ministrada pelo reitor e não pelo regente da mesma ou por um dos seus assistentes? E será legal que assim seja?

Mas o Expresso (ligação só disponível para assinantes) já noticiara no sábado passado terem quatro das cadeiras sido ministradas por um único professor. Aqui então as perplexidades são enormes e sobram as perguntas. É que numa universidade, por norma, cada cadeira tem o seu regente e este os seus assistentes. E não se vê como é que numa universidade, um único professor pode ministrar cadeiras aos molhos.

Enfim, parece que a procissão ainda vai no adro. Mas seria bom que chegasse rapidamente ao seu destino com toda a gente esclarecida.