domingo, 28 de dezembro de 2008

VERGÍLIO FERREIRA

É impressionante a cara serena do doente que veio comigo e com o médico.
― Trouxe a radiografia?
― Trouxe-a a mulher, senhor doutor.
A mulher veio a pé, a camioneta custava três escudos, era dinheiro. Fui encontrá-la no hospital, eu queria almoçar e o meu amigo médico não vinha.
― É um instante, o homem ainda não fez o pneumo. Você pode entrar.
Cá fora a mulher olhava consternada com um rosto pálido e negro. O homem estava deitado, sem acção. Picaram-no cinco, seis vezes por causa das aderências.
― Dói?
― Nada não, senhor doutor.
― Esteja sossegado.
Tinha remendos nas calças e as botas gastas. O ar finalmente entrou. Depois foram vê-lo à radioscopia, ele sempre calado e passivo. Vestiu-se, tomou o guarda-sol.
― O tratamento, claro, fez-se de graça ― dizia-me o médico ―, mas o homem precisava era de comer. E já vê você, isto é um círculo vicioso: para comer tem de trabalhar, trabalhando não se cura.
Fomos encontrá-lo com o guarda-sol entre os joelhos, sentado no banco de trás da camioneta. A mulher já vinha a caminho embrulhando a radiografia no xale. Passámos por ela numa nuvem de poeira.
[Vergílio Ferreira in "Diário Inédito" – Bertrand Editora]

Isto foi em 1945; mas ainda hoje acontecem coisas semelhantes um pouco por este Portugal fora. E não só nas aldeias mais remotas e de difícil acesso. Em plena Lisboa há muito quem, quotidianamente, revela enormes dificuldades para se tratar. Eu já paguei algumas vezes a taxa moderadora a utentes do SNS porque senão iriam para casa sem a consulta porque não tinham dinheiro para nada ― na carteira apenas o passe do autocarro, de resto, o vazio impressionante do couro envelhecido ― já viram coisa mais desoladora que uma carteira vazia? Eu não!

Mas nós estamos aqui a dar atenção a este assunto e afinal temos a internet, o televisor panorâmico de alta definição, o blu-ray Disk e a Playstation3; o Hi-Fi, o PC e os telemóveis (um para cada operador); várias máquinas fotográficas digitais e uma colecção de relógios de maquinaria autêntica (nada de relógios electrónicos); e temos aquecimento no inverno e ar condicionado no verão; e bebidas boas escolhidas por enólogos do nosso clube de vinhos e enviadas para nossas casas com o pagamento a ser feito por débito no cartão VISA; temos o médico à distância de um telefonema, quando não no quarto ao lado ou mesmo dentro de nós; ligamos o PC e acedemos logo às nossas contas bancárias, puxamos o MBNet e fazemos uma compra segura online que nos há-de chegar a casa dentro de 48 horas trazida pela UPS ou a DHL; temos a FNAC, a Livraria Letra Livre e a Amazon que nos mandam os livros, os CDs e os filmes para casa, pelo correio; vivemos escandalosamente bem e permanentemente em pecado e nem por isso estendemos a mão a quem mais precisa; não abdicamos do mais pequenino conforto em favor do outro; estamos no partido, no parlamento ou no governo ― num lugar qualquer razoavelmente ou bem remunerado ― e esquecemos que lá na aldeia, no bairro ou mesmo aqui ao lado em Lisboa, há pessoas, há concidadãos que não têm nada de nada senão uma carteira vazia ao fim de uma vida de trabalho.

Eu sei que há muito quem tenha culpa de ter a carteira vazia; mas não é desses que eu falo; falo dos que sempre trabalharam e nunca nada tiveram. Isso é culpa nossa.

Somos uns verdadeiros nababos dignos desta enorme crise que fabricámos e que nos deveria fazer cair das nuvens ou engolir-nos a todos para que o mundo fosse mais justo. Mas acreditamos que isso não vai acontecer. Temos a nosso favor a Justiça, o poder do Dinheiro, a posição social e o estatuto profissional conquistado.

E a nossa consciência, como é que está?!...

sábado, 27 de dezembro de 2008

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO DÉCIMA QUINTA:

“Quanto mais cresce o poder dos homens, tanto mais
Se estende e se alarga a sua responsabilidade”.
Concílio Vaticano II, Guardium et spes, 34


(A) Indiscutível e indubitavelmente, todos os Seres Humanos, sem excepção são responsáveis pelo Ambiente. Um consumo muito elevado não proporciona automaticamente uma melhor qualidade de vida. Urge, por isso mesmo e, ipso facto repensar o nosso modelo de desenvolvimento. Obviamente et pour cause, será bom estabelecer um estilo de vida sóbrio, que se contente com governar a Natureza sem tiranizá-la, vinculando o Trabalho à contemplação. Por seu turno, a lealdade e fidelidade à vocação integral do Homem, à Comunhão, ao Trabalho e ao Repouso é caução e garantia para a Dignidade da Pessoa e, outrossim, para a protecção e preservação respectiva da Natureza.

(B) Com efeito, a missão de tomar posse e governar não justifica a prática agressiva e destruidora. Demais e, por outro, a Natureza não nos foi outorgada como uma matéria informe. Sim, como um mundo já bom e quão belo. É verdade que a Natureza não é divina, nem intocável. É apenas uma obra-prima da Criação, sendo, de facto, uma obra harmoniosa, fruto da Sabedoria criadora e ordenadora. Donde, evidentemente, o Trabalho do Homem deverá ser sobremaneira ordenador, quanto melhor possa o seu engenho.


(C) O Homem, destarte é, por inerência óbvia, convocado desde os primórdios dos tempos mais remotos para aperfeiçoar e acrisolar a Natureza e não o contrário. Todavia, em vez de edificar uma digna morada humana, arrisca-se a tornar a Terra inabitável. Quiçá pela libertação o Homem reencontra a harmonia com a Natureza. Eis porque, consequentemente o uso deve ser respeitador e deve ter em conta, tanto a originalidade de cada criatura como, outrossim, a conexão mútua e recíproca, num sistema magistral e exemplarmente ordenado. Podemos e devemos orientar as coisas para o nosso bem, porém, desenvolvendo e aperfeiçoando uma finalidade determinada. Enfim, além disso, devemos ponderar e considerar o Bem das gerações vindouras e, não só, o da nossa.


(D) Assumidamente, o Primado do Homem sobre as coisas não significa o poder de usar e de abusar. O seu Trabalho deve-se desenvolver, numa base de Doação, a mais elevada possível, humanamente exprimindo. De feito, mais que proprietário, ele é Administrador e, por isso mesmo, tem de prestar contas. Lamentavelmente, “o homem, levado mais pelo desejo de ter e de prazer do que pelo de Ser e de crescer, consome de forma excessiva e desordenada os recursos da Terra e da própria Vida”.

(E) Efectivamente, a mentalidade destruidora é tão vetusta e prístina como o género humano, aliás. Contudo, no passado, os danos permaneciam circunscritos pelo escasso número de habitantes e, outrossim, pela limitada capacidade tecnológica. Todavia, a civilização industrial hodierna, que, demais, possui o mérito de ter levado o bem-estar a populações inteiras, possui, pelo contrário, uma agressividade muitíssimo atemorizadora. Por outro, por sua vez, a exploração indiscriminada arrisca-se a esgotar os recursos não renováveis da Terra. E, já agora, a poluição ambiental acumula-se, de modo assaz célere e rapidamente, ameaçando, ipso facto, provocar consequências em cadeia. Finalmente, as manipulações genéticas abrem caminho a importantes objectivos, outrossim, porém, a eventuais e possíveis catástrofes biológicas. Eis porque, o sistema que mantém juntos os seres vivos se afigura, como jamais, assaz complexo, porém, quão vulnerável.

(F) No fundo, no fundo, não se trata de uma matéria amorfa ou de um mero facto objectivo, porém, sim, de uma Ordem e de um Desígnio a interpretar, de uma linguagem a escutar e compreender, de uma verdade e beleza a contemplar. E, rematando, não há dúvida nenhuma, que a violação arbitrária é índice de “uma pobreza e mesquinhez de visão humana, mais animada pelo desejo de possuir as coisas do que relacioná-las com a Verdade, privado do comportamento desinteressado, gratuito, estético que brota do assombro diante do ser e da beleza, que leva a ler, nas coisas visíveis, a Egrégia Mensagem oriunda do Invisível que as criou”.

(G) Enfim:

…A Natureza pode e deve ser utilizada para objectivos
Humanos porém, deve, outrossim, ser contemplada
E respeitada. Pois, só, deste modo, se tornará
Veridicamente, “uma morada da Paz”.

Lisboa, 26 Dezembro 2008.
KWAME KONDÉ

UMA LIÇÃO A RETER


Eis porque o futuro ainda só pode vir da América.

Para além de ter eleito um negro para Presidente, a América é talvez o único país no mundo em que, a despeito da crise e da depressão, se pode encontrar nas pessoas um tal grau de empreendedorismo que as torna capazes de exorcizarem o mau momento económico-financeiro do seu país apostando tudo no sentido de superação das dificuldades, o que fazem com uma crença invejável e trabalho dedicado apostando fortemente e sem receios num rápido volte-face da difícil situação que atravessam.

Veja-se e oiça-se este vídeo sobre a vida das lojas de Nova Iorque nesta quadra natalícia, e conclua-se pela justeza ou não do que se diz nesta posta.

Não é o fado mas a crença na potencialidade dos homens que faz andar o mundo e permite transformar as coisas. Não se agarrar demasiado ao passado e valorizar enormemente as capacidades do homem, eis a fórmula americana de encarar o presente e construir o futuro.

Será que a Europa e o mundo querem aprender alguma coisa com eles, os americanos?

GRANDE "ESPINGARDA"

Todos já lemos várias vezes ao longo do tempo que «o sexo comanda a vida». Não sendo totalmente verdade é, contudo, grandemente verdade.

Desde Napoleão, o qual, segundo se dizia e se escreveu, planeava e empreendia muitas expedições militares com o fito único de estar o maior tempo possível longe de casa devido à sua incapacidade para saciar os apetites sexuais da Imperatriz, Josefina, sua mulher; até aos chefes tribais afegãos que, ao que reza esta notícia hoje saída no The Sun, estarão a colaborar com as tropas americanas e com a CIA, no combate aos talibãs, seduzidos e comprados com comprimidos de Viagra (que de um dia para o outro os terá tornado homens potentes capazes de voltarem a copular com cada uma das suas sete mulheres que de há muito não lhes sentiam o pavio na lamparina); toda a força do sexo se espelha e se exibe nesta sua enorme e insubstituível capacidade de fazer mover os homens, modificar os acontecimentos e a própria História da Humanidade ao interferir em aspectos relevantes da vida dos povos, capazes de rasgar fronteiras, influenciar religiões, mudar políticas e moldar costumes e culturas.

Conclusão: o que os americanos não conseguiram à sarrafada, à bomba e ao terror, no Afeganistão, estarão agora a conseguir com a simples utilização de comprimidos de Viagra; com a simples distribuição de tesão em comprimidos aos chefes tribais afegãos.

Mao Tsé Tung (ou Mao Zedong) dizia: «A revolução está na ponta da espingarda».

Pois!... Mao andou a chamar “espingarda” à coisa e a gente não sabia!...

BOM DIA E BOM FIM-DE-SEMANA.

«2009 EM PERSPECTIVA»

Manuel Maria Carrilho, intelectual e filósofo com obra publicada e vastos e importantes trabalhos dados à estampa, escreve hoje no DN um excelente artigo de opinião em que, a dada altura, se pode ler esta análise exacta, lúcida e certeira da actual situação da Europa (e de Portugal, e de Portugal), que transcrevo e assumo a responsabilidade de sublinhar.

«O que temos são instituições mundiais bloqueadas por anos e anos de interesses instalados e de múltiplos desajustes à realidade. O que temos é uma Europa sem élan nem ambição, presa aos seus privilégios históricos e aos seus interesses nacionais. O que temos são líderes que preferem as fantasias do marketing político ao conhecimento da história, e trocam a visão de futuro pela obsessão com os ciclos eleitorais. O que temos são Estados fracos, muitas vezes em estado terminal, e que agora vemos serem descaradamente parasitados por muitos daqueles que tudo fizeram para os fragilizar.»

«Foram décadas de esvaziamento ideológico e de constante "virtualização" da realidade, em nome de exigências cada vez mais ocas. Falar de reformas passou a ser um estereótipo sem conteúdo. Proclamar a modernidade tornou-se num tique sem projecto. Invocar as novas tecnologias transformou-se no álibi de todos os impasses estratégicos. O essencial continua assim à espera: e o essencial é que se ultrapasse, com decisões e medidas concretas que exigem muita coragem, o abismo que se criou entre o poder da finança e o Estado de direito, entre as dinâmicas do mercado e as exigências da democracia. Porque é aqui que , clarissimamente, está a origem de todos os nossos principais problemas.»

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

NOTÍCIÁRIO GASTRONÓMICO

A ceia ontem foi divinal. Cozinheiro exímio ― “chef” dos “chefs” no que ao bacalhau diz respeito ―, a iguaria saída destas mãos que ora teclam estas singelas palavras noticiosas conclamava a presença de toda a corte celestial para um banquete que foi sublime e decorreu ao som das harpas dos anjos e querubins, tendo Baco sido pródigo em líquidos espitituosos do melhor sabor e supinos efeitos.

O cozido de hoje, ao almoço, é que foi um bico de obra dos diabos ― destemido e suicidário lancei-me a confeccionar o primeiro cozido à portuguesa da minha história pessoal e culinária, logo no dia de Natal ―, resultado: um prato medíocre porque com demasiado sal (não soube dessalgar convenientemente as carnes e isso foi um quase pantagruélico desastre), valeram-me todos os truques conhecidos em que o maior e mais eficaz, a mudança sucessiva da água de cozedura, de dez em dez minutos, me (nos) salvou do inferno ― só assim foi possível apurar umas carnes que se degustasse sem necessidade de um nefrologista de serviço com o hemodializador em riste, mesmo ao lado de cada comensal.

Mas... o tinto, Brites Aguiar, 15,5% by volume, sossegou as hostes, amansou as feras e acabou por favorecer um repasto aceitável, mas não sublime como seria de desejar e se esperava que fosse.

Embalado pelos vapores das espirituosas bebidas entretanto consumidas, aqui me encontro a fazer este relato sucinto, desejando a todos que têm a paciência de me lerem UM BOM DIA DE NATAL.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO DÉCIMA QUARTA:

(A) A Economia, na sua assunção genuína e primordial, se pretende que seja efectivamente uma démarche rigorosa e científica, pois que, quando utilizada por uma ideologia política, forma um tandem temível que desenvolve uma lógica fria e implacável. Assim, deixa de haver lugar para os sentimentos e, nem tão pouco, ipso facto, para este “Princípio universal” de ética, de “moral universal”, de justiça intrínseca ou meramente de equidade que todo Homem civilizado experimenta dentro de si próprio.

(B) Explicitando, consentânea e apropriadamente, o nosso raciocínio, vem, ipso facto, mesmo a propósito, considerar a situação actual, ou seja, o domínio assanhado do vetusto capitalismo acompanhado pela sua estulta lei do mercado, condimentada, outrossim e, ainda, por um neoliberalismo tosco e vesgo sobre um leito de globalização. De facto, esta famigerada “receita milagre” que já não encontra nenhum freio, nos transporta, impunemente.

IMPORTANTE:
“O Homem é o autor, o centro e o fim de
Toda a vida económico-social”,
Concilio Vaticano II.

Todavia, por imperativo de ética intelectual e de cidadania respectiva, se impõe colocar um determinado número de Questões, quão pertinentes e assumidamente relevantes.

(C) Vejamos, então, as questões, ora referidas:
---É, efectivamente justo e legítimo que um patrão, quaisquer que sejam as suas responsabilidades e méritos, aufere mil (1000) vezes mais que um dos seus empregados?
---É efectivamente justo e legítimo que o mero facto de possuir uma determinada soma de dinheiro num momento X permite ganhar, sem nada fazer, no momento X’ o que um artífice ou um operário recebe, em idêntico lapso e intervalo de tempo, laborando arduamente oito horas por dia sem contar os tempos consumidos nos transportes e, outrossim, pela fadiga a que se encontra submetido?
---É, efectivamente justo e legítimo que uma multinacional decide deslocalizar uma fábrica e despedir os operários, tendo estes vinte ou trinta anos de antiguidade que fizeram dela, a multinacional o que se transformou, unicamente para atingir a taxa de rentabilidade exigida pelos accionistas?
---Enfim é, efectivamente justo e legítimo que um detentor de papéis de crédito ganhe na Bolsa, no espaço de um dia, graças a um mero e simples telefonema para o seu banqueiro, o que um modesto empregado jamais conseguirá economizar durante toda a sua vida e existência respectiva?

Finalmente, eis porque, mais que nunca, se justifica plenamente lutar com determinação e eficácia segura, para a Implantação efectiva e, de modo dialecticamente consequente, urbi et orbi, do Princípio Universal de Justiça.

Lisboa, 24 Dezembro 2008.
KWAME KONDÉ

O PESCADOR MEXICANO

Neste Natal de crise dedico esta história àqueles que como eu sentem e vivem como poetas a despeito do consumismo, mercantilização, coisificação, alienação, robotização e demais mortificações que nos rodeiam e nos tentam destruir (destruindo muitos) nesta “vida civilizada” que levamos neste mundo cão em que vivemos.

Um homem de negócios americano, numa aldeia da costa mexicana, viu um pequeno barco de pesca que atracava naquele momento, com um único pescador e muitos peixes presos na rede. Deu-lhe os parabéns e perguntou quanto tempo demorara a pescá-los — «pouco tempo», ouviu de resposta — o que o conduziu a outra questão: por que não ficava ele mais tempo no mar para garantir uma pesca mais abundante?

O pescador mexicano reagiu, dizendo que não era preciso mais para atender às necessidades da família. O resto do tempo, explicou, ocupava-o dormindo até tarde, a brincar com os filhos, a fazer uma «siesta» com a mulher, a beber vinho e a tocar violão com os amigos.

O americano não se conformava e quis ajudá-lo:

«Sou formado em Harvard ― disse ― e aconselho-o a passar mais tempo a pescar, para aumentar o lucro, comprar um barco maior; e depois constitui uma frota, passa por cima do intermediário, vende o pescado directamente a uma indústria processadora, até constituir a sua própria fábrica».

Imparável e em alta excitação o americano explicou mais ao pescador — «e já controlando o produto, o processamento e a distribuição, a expansão do negócio leválo-á a sair da sua aldeia, muda-se para a capital, depois para Los Angeles, e finalmente Nova Iorque, com a sua empresa cotada na Bolsa em Wall Street».

O pescador quis saber quanto tempo isso levaria — «quinze ou vinte anos», ficou a saber — e fez a pergunta óbvia: «e depois, senhor?»...

O americano sorriu e disse que, depois, viria a melhor parte:

«Depois fica rico, ganha milhões, reforma-se e tem uma vida descansada: vai viver para uma aldeia tranquila, dorme até tarde, brinca com os netos, tira uma «siesta» com a mulher, convive com os amigos e toca violão».

BOAS FESTAS E BOM NATAL

(Bacalhau à ceia hoje à noite, e cozido à portuguesa para o almoço de amanhã.)

domingo, 21 de dezembro de 2008

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO DÉCIMA TERCEIRA:

A) Será que a morte (passamento/trespasse) terá sentido, ou melhor dito, fará sentido um homem morrer? Aparentemente dir-se-á que não. O Homem é todo ele desejo de viver e com todo o seu ser recusa a morte, no entanto, ela aproxima-se inexorável. Somos por natureza transitórios.
Em certo sentido, principia-se a morrer quando se principia a viver e acaba-se de morrer quando se começa a viver: as células do organismo envelhecem, perdem-se e não se recuperam; as experiências pessoais consumam-se velozmente. “O homem nascido da mulher vive pouco tempo e está cheio de muitas misérias. É como a flor que germina e logo fenece, uma sombra que foge sem parar” (Jb14,1-2). Todavia, cedo ou mais tarde, desconcertantemente ou, ao cabo de longo sofrimento, acontece a morte. Afigura-se que a pessoa esvaece no nada (no vazio…vazio…vazio…). Deste modo, o desejo/anseio irrefreável de viver parece predestinado ao malogro. Donde e daí, o sentido de fracasso, de impotência e de angústia. Efectivamente, “estou (estamos) aprisionado (s), sem poder sair e os meus olhos (os nossos olhos) ensombram-se na aflição”.

B) Com efeito, desde sempre que a morte é encarada (olhada) com respeito e temor, por ser peremptoriamente oposta ao instinto de conservação. Hodiernamente, como fenómeno geral, é objecto de atenção e indiscrição, sendo, em determinadas circunstâncias, trivializada, ao ser exibida cruamente na televisão. E, opostamente, evita-se como um tabu o elóquio sobre a própria morte e, por isso, outrossim, se questiona o sentido da própria vida. Enfim, como se a morte não nos olhasse tão de perto e tão de perto!

C) Na verdade e, na realidade, há maior preocupação com o sofrimento, que, usualmente, vem antes da morte, do que com os eventos que acontecem, eventualmente depois dela. Preza-se, exactamente, uma morte inopinada, ipso facto, não consciente. Todavia, de anotar, que o verdadeiro homem deseja, antes de tudo, outorgar sentido à sua morte.

D) Assumidamente, por seu turno, o moribundo é uma pessoa e a morte, um acto pessoal e, não apenas, um acto meramente biológico. Exige, sobretudo, uma companhia amiga, o apoio de uma Esperança dinâmica oriunda dos outros, evidentemente. Eis porque, o ambiente mais próprio e adequado para morrer é realmente, no seio da família, no seu próprio lar humanamente habilitado, (aliás, bem como para nascer) e, não no hospital ou no asilo.

E) Conquanto, a caducidade seja natural, a morte vivida como solidão angustiada e inepta, quiçá, não faça parte do Desígnio Supremo. Deste facto, mana o seu carácter de violência e de cominação e o seu “ferrão venenoso”.

F) Finalmente, alguém asseverou: a morte não conta, porque quando nós existimos, ela ainda não existe e, quando ela existe, efectivamente, nós já não existimos. Isto, quando muito, poderia ser verídico para os animais. O homem, ao inverso, sabe que morre. E, servindo-se dos doutos ensinamentos da lavra do filósofo alemão, Friedrich NIETSCH (1884-1900), como exarou, aliás, na sua obra: A ciência chega, em síntese lúcida: A morte é “a sua sombria companheira de viagem”. Sim, de feito: dia e noite, como o caruncho escondido, armadilha todas as alegrias e conquistas através do sentimento de angústia


Lisboa, 17 Dezembro 2008

KWAME KONDÉ

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

JOYCE, POIS CLARO!

«Ele pensa numa noite garuenta na rua Hatche, bem perto dos armazéns gerais, a primeira. Juntos (ela é um pobre refugo, uma filha da vergonha, tua e minha e de todos por um mísero xelim e seu vintém-garante), juntos eles ouvem as pesadas pegadas da guarda no que duas sombras encapotadas passam pela nova Universidade Real. Bridie! Bridie Kelly! Não esquecerá jamais o nome, lembrar-se-á sempre da noite, primeira noite, a nuptinoite. Estão acasalados em fundíssima escuridade, o queredor e a querida, e num instante (fiat!) a luz imergirá o mundo.»

[James Joyce, in Ulysses]

BOA NOITE

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO DÉCIMA SEGUNDA

Para um Mundo mais equitativo:



Nesta Hora de todas as Verdades, se impõe, nesta etapa de transição, rumo à uma edificação firme de um novo modelo de Sociedade, Sociedade essa que deve privilegiar o Ser em detrimento do ter, obviamente. De feito, mais que nunca, urge tornar a nossa Sociedade mais equitativa, experimentando encontrar uma nova via, assaz consequente, entre o Capitalismo selvagem que esmaga os mais débeis e o igualitarismo integral, que desencoraja o desenvolvimento individual.

“La rupture n’est plus un choix, comme au temps des révolutions ou du volontarisme politique, elle est mouvement. Elle s’est effectuée principalement avant la fin des années quatre-vingts du siècle passé. Elle se poursuit par ruptures successives, en signifiant l’appartenance à un Nouvel Âge de l’histoire.

«Ce mouvement est celui que les technologies sans répit, celui que l’économisme conquérant entretien en l’exploitant et en l’accélérant. Des «nouveaux nouveaux mondes» en naissent, ils sont déjà là, nous les habitons sans savoir vers où ils nous entraînent ni ce qu’ils sont.
«Il faut équiper d’autres moyens la volonté de savoir, de compreendre pour agir, de maîtriser un dépaysement qui nous rend étranger à nous-même».

[George BALANDIER (antropólogo, sociólogo e escritor francês), in Fenêtres sur un nouvel age (Paris, 2008)].

Posto isto, vamos, sem ser exaustivo, apontar algumas propostas, visando o referido Objectivo/Desígnio. Ou seja:

a) Outorgar um apoio público aos órgãos mediáticos independentes. Ou seja. Um apoio consequente, porém, sem nenhuma dependência financeira, política ou religiosa.

b) Pôr termo ao feudalismo capitalista:
Implantar um plafonnement adequado do Património. Sendo equitativa e redistribuitiva, esta medida permitiria “remmetre les compteurs à zero” (ou quase) em cada geração, libertando recursos para aprontar uma autêntica e verídica política de igualdade das oportunidades. A progressividade dos direitos de sucessão e um tecto judiciosamente escolhido permitiria penalizar apenas a franja mais rica da população.

c) Edificar uma fiscalidade mais equitativa:
O que significa na prática:
-Aumento sensível dos impostos progressivos para favorecer e fomentar o emprego e a habitação e para baixar outros impostos, como o IVA, que pesa sobremaneira sobre os proventos dos mais débeis.
-Implantação de uma Fiscalidade susceptível de constituir uma autêntica alavanca para a justiça social. Ou seja: Para o imposto sobre o rendimento, o IVA, os encargos patronais, implantar dissemelhantes taxas ou coeficiente conforme a contribuição para satisfação das necessidades sociais.

d) Instituir um Comércio ético e equitativo entre os povos. O que significa:
---Restituir sentido e equidade às permutas e trocas comerciais. Favorecer a democracia, a defesa dos Direitos do Homem, as conexões entre os povos e pôr termo ao “dumping social”que está a dissolver perto de dois séculos de adquiridos sociais.

Enfim, eis chegado o momento azado, o momento da Hora de todas as Verdades! O Momento de voir d’ailleus, connaître autrement…
De feito, elucidando pertinentemente, sendo a Etapa de transição em questão, por um lado curta (dado o carácter de necessidade urgente e premente como as coisas se nos apresentam, exigindo soluções adequadas, como que de imediato) para que seja criado um mínimo de bases seguras para o arrancar do Modelo de Sociedade, privilegiando o Ser, porém, que não deixa de ser bastante longa para se quedar no imobilismo, deixando as coisas acontecer ao sabor da maré e, deste modo, tudo quanto vier na rede é peixe…

Lisboa, 16 Dezembro 2008.

KWAME KONDÉ

domingo, 14 de dezembro de 2008

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO DÉCIMA PRIMEIRA:

As perguntas fundamentais, aquelas que dizem respeito ao
Elevado sentido da Vida, merecem atenta reflexão. Demais, na
Realidade, constituiria uma autêntica estultícia menosprezá-las,
Por mera superficialidade ou Indiferença/alheamento.


(1) É um facto sobremodo eloquente que todos os homens, sem excepção, têm Sede da Vida e da Existência. Eis porque, passam de um poço a outro, num vaguear incessante, acompanhando um desejo inesgotável orientado para os múltiplos bens do corpo e do espírito.
No nosso tempo, esta procura parece ter-se tornado uma verdadeira corrida tumultuosa: produzir e consumir, possuir muitas coisas e realizar muitas experiências, procurar impressões, cada vez mais novas, o prazer e o útil imediato, tudo e de seguida. Porém, muitos têm a sensação de correr sem uma meta, de se encherem de coisas, que se revelam vazias e quão ocas. Muitos lamentam o empobrecimento das relações humanas: anonimato, alheamento, encontros superficiais e instrumentalizantes, marginalização dos mais débeis, conflitualidade e delinquência. Tudo contrasta, efectivamente, com o que parece ser o nosso anseio mais profundo: amar e ser amado, de modo assaz consequente.

(2) O sentimento de vazio, o desejo de prazer e de prepotência, a despeito de constituir, na sua dinâmica pragmática, uma lógica aparentemente coerente, porém, se arvora sobremaneira triste, por ser, a assunção plena de um modelo de liberdade, dialecticamente estéril. 

(3) Sim, outrossim, possuímos uma aguda consciência da nossa liberdade (pessoal). Todavia, a liberdade, se não perseguir objectivos dignos do homem não tem, obviamente sentido e, por isso, mesmo, se afigura estéril e, assaz infecunda. Demais, para sermos veridicamente livres, devemos procurar a Verdade e o Bem, de forma dialecticamente consentânea e adequada. 

(4) Assumidamente, hoje, nos nossos dias, nutrimos uma elevada consideração pelas Ciências que procuram e obtêm, aliás, um crescente domínio sobre os fenómenos naturais e sociais. Porém, podem essas ciências, designadamente:
--indicar os fins para os quais se deve orientar o poder que nos colocam nas mãos?
--por outro, é, porventura, razoável prestar atenção apenas ao que se pode ver e tocar, calcular e controlar experimentalmente?
--Outrossim e, ainda: não se deixa, assim, de fora o núcleo central da nossa pessoa e da dos outros, que é constituído pela confiança, pelo amor, pela beleza, pela bondade, pela alegria, por tudo quanto torna a Vida digna de ser vivida?

(5) Destarte, urge, a fortiori, libertarmos dos preconceitos e conformismos. E, concomitantemente, se impõe, mais que nunca, sermos sinceros e honestos connosco próprios para que possamos levar a sério as Egrégias Interrogações que cada um de nós traz dentro de si, designadamente:
--Quem sou eu? Quem somos nós?
--De onde venho? De onde viemos?
--Para onde estou a caminhar? Para onde estamos a caminhar? Etc.
E, ainda, obviamente:
--A Realidade é absurda ou inteligível?
--A Vida é um Dom, um Destino cego ou um Acaso?
--Porquê esta Sede que nenhuma conquista consegue extinguir?
--O que devo esperar e o que devo fazer?
--Enfim e, em suma: O que devemos esperar e o que devemos fazer?
Com efeito, comungando criticamente com o matemático, físico e filósofo francês, Blaise PASCAL (1623-1662), “a ordem do pensamento começa a partir do próprio autor, do próprio fim”. Na verdade, quem evita as perguntas fundamentais, foge de si mesmo, pois que, evidentemente, a indiferença, o hedonismo e o activismo estulto não são uma solução. Sim, ipso facto, uma mera evasão, quão irresponsável e, não só!...
E, rematando, de forma consentânea e apropriada, na verdade, “Aquele que tem sede, venha. Aquele que o deseja, receba gratuitamente a água da Vida” (Ap. 22,17).

Esta “posta” surgiu-nos, na sequência do diálogo que tivemos, ontem, (dia 09 de Dezembro de 2008), com a nossa colega e amiga, a Drª. Ana Paula Vieira, a quem a dedicamos, por motivos e razões, assaz óbvios, acompanhado de um robusto abraço de amizade, admiração e reconhecimento.

Lisboa, 10 Dezembro de 2008

KWAME KONDÉ

LUTAR LUTAR LUTAR

Definitivamente o português não nasceu para ser feliz como nação; e julga que pode ser feliz individualmente.

É ver como o português se comporta quando faz parte dos governos: trata muitíssimo bem de si e dos seus (como é fácil de constatar olhando para ex-membros de governos) e trata muito mal os seus concidadãos (como é também facílimo de ver constatando o empobrecimento progressivo da população portuguesa em geral).

Assim, quando um português sobe ao governo de Portugal, governa segundo a sua índole, quando o que se esperaria era que governasse segundo o interesse dos seus concidadãos; segundo o interesse nacional.

É por isso que hoje temos os professores na rua; e é por isso que amanhã teremos os médicos em greve.

É por isso que os ricos ficarão mais ricos (recompensados por todas as falcatruas, desfalques e ladroeiras várias); e os pobres ficarão mais pobres (pois não há quem neles pense e quem se solidarize com eles).

É por isso que urge lutar. Lutar sempre. Continuadamente. Contra quem está no poder. Porque quem está no poder está no poder para si e para os seus. E ao menor esmorecimento na luta contra o poder... mais uma malfeitoria será feita.

Apesar de tudo BOM DIA.

sábado, 13 de dezembro de 2008

THE BLOODY OLIVE



Gosta de teatro? Gosta de Cinema?

Então de que está à espera?!

Clique e veja The Bloody Olive.

E tenha um Bom Fim-de-semana!
.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

ÚLTIMA HORA

Que se saiba,
Manuel Dias Loureiro
continua,
calma e silenciosamente,

CONSELHEIRO DO ESTADO A QUE ISTO CHEGOU.


E do Presidente da República... não se houve falar.

Quanto à imprensa: parece que há um pacto de silêncio sobre o caso BPN, tal a escassês de notícias.

Glup! (Isto fui eu a engolir em seco).

SUPREMA COERÊNCIA

NO FECHO DA BELA GUANTÁNAMO

«Portugal está disponível para acolher presos de Guantánamo no âmbito de uma iniciativa da União Europeia para ajudar os Estados Unidos a encerrar o centro de detenção de suspeitos de terrorismo, afirmou hoje o chefe da diplomacia portuguesa.»

É coerente, sim senhor.

Se Portugal ajudou na abertura e funcionamento daquele campo de tortura;

Deve ajudar no fecho do mesmo para assim fechar com chave de ouro a sua participação na Bela Obra Humanitária de Guantánamo.

BOM DIA

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O VOO DA CORUJA

Mas o que é que faz alguém blogar às quatro da manhã?

Não é insónia, não senhor.

― E se vos disser que é por ter dormido demais?

Precisando de apenas cinco horas de sono por dia (não se admirem porque o nosso Marcelo diz que só precisa de três ― 3 horitas apenas ― e eu acredito, sinceramente), encostei-me a ver tv na cama cerca das dez e meia da noite, e, resultado ― adormeci, e às três e meia já aqui estava (e ainda estou), fresco que nem uma alface, vendo o que acontece pela blogosfera fora enquanto meio mundo dorme. E não vive. E vegeta. E está semimorto. E desperdiça a vida...

Coitados dos seres lânguidos de fraquinho metabolismo basal! A vida não foi feita para eles, sendo apenas um acidente no percurso do seu sono.

É é!

UM PAÍS ÚNICO NO MUNDO

Há sempre qualquer coisinha: aquela pitadinha de sorte; a mãozinha da Senhora de Fátima; ou qualquer outro acaso benfazejo saído da dobra do último minuto dos acontecimentos, que torna Portugal diferente, melhor, ou menos mau que os outros países.

Constâncio declarou ontem:

«Ao contrário da UE, o País não está em recessão».

Sabemos que só faltam 21 dias para se declarar Portugal em recessão; mas enquanto o pau vai e vem... Portugal é diferente dos outros.

Para cumprir a tradição.

Amém.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

MORREU ALÇADA BAPTISTA

António Alçada Baptista costumava fazer férias em Cabo Verde. Certa vez vi-o por lá numa esplanada ― estava ali mesmo numa mesa ao lado da minha ― estive para lhe dirigir a palavra mas não tive o impulso suficiente para o fazer. Lamento que assim tenha acontecido; terei perdido uma grande oportunidade de conhecer um homem que todos dizem que era um bom amigo e um excelente conversador para além de um interessante ficcionista, memorialista e ensaísta.

Ouvi-o hoje na Antena 2, numa entrevista gravada não há muito tempo, dizer:

«Penso que é preferível ser-se pescador em Cabo Verde do que operário na Alemanha».

domingo, 7 de dezembro de 2008

KWAME KONDÉ

Intervenção Décima:

Nota Prévia:

Boicotagem: Acção ou efeito de boicotar; boicote.
Boicotar: Fazer oposição aos negócios de (outrem); deixar de comprar (mercadoria) com o fito de a desvalorizar; criar embaraços aos interesses ou negócios; outrossim se diz boicotear.
Boicote: O mesmo que boicotagem. Forma de pressão que consiste em isolar uma pessoa, grupo ou mesmo país, através da ruptura das relações sociais, económicas ou políticas com o desígnio de o levar a ceder ao que se pretende. O lexema boicote deriva do nome do administrador irlandês Charles BOYCOTT (1832-1897) que, pelo seu rigor impiedoso, foi isolado pelos rendeiros em 1880.
Elenco sinonímico:
Boicotagem: boicote; bloqueio; dificuldade, impedimento, inibição; interdição.
Boicotar: boicotear; interditar; bloquear; blocar; obstar, dificultar, impedir, inibir.
Boicote: boicotagem; dificuldade, impedimento, inibição; bloqueio; interdição.

(1) No plano etimológico, com efeito, o lexema/vocábulo Boicote/Boicotagem é o epónimo do nome de Charles Cunningham BOYCOTT (1832-1897), administrador no Condado de Mayo na Irlanda a quem a “Liga agrária” infligiu em 1879, um bloqueio porque não queria baixar as rendas dos seus rendeiros durante a Grande fome.

(2) E, explicitando adequadamente as ideias de fundo, um Boicote é, efectivamente um acordo voluntário, visando infligir um prejuízo/dano financeiro ou moral a um indivíduo, à uma empresa ou a um país, pela recusa sistemática de comprar as suas mercadorias, manter relações (sociais, culturais, económicas) ou participar num Evento/acontecimento público, ou então numa eleição. O objectivo desta recusa colectiva é exercer represálias, ou fazer pressão sobre o alvo para que responda à sua solicitação precisa.
De sublinhar, que as empresas podem ser sobremaneira sensíveis aos apelos de boicotagem, não unicamente por causa da queda das vendas, sim, efectivamente, porém, pelo impacto causado sobre a sua imagem de marca.

(3) E, sem ser exaustivo, obviamente, vamos apresentar algumas razões de apelo ao boicote, designadamente:
---Política;
---Condições de fabrico supostas injustas (trabalho infantil, exploração dos operários);
---Não respeito dos direitos do Homem;
---Deslocalização e encerramento de fábricas;
---Poluição;
---Risco sanitário (exemplo OGM);
---Eleições adulteradas/viciadas;
---Razões filosóficas ou religiosas;
---Etc., etc., etc.
De anotar, que um boicote é tanto mais eficaz quanto melhor se saiba utilizar os modernos meios de comunicação e congregar os média numa assunção eficaz para a causa que defende. Pode, em determinadas circunstâncias, se estender sobre vários anos. Ao invés uma mera ameaça de boicotagem pode por vezes, conduzir a rápidos resultados.

(4) Finalmente, o boicote constitui, nos dias de hoje, mais que nunca, um verdadeiro meio de pressão do qual dispõem os consumidores “cidadãos” que se sentem responsáveis e conscientes das suas compras.
Tornar actor do consumo conduz à se colocar a questão de saber o que se cauciona através do acto de compra. A boicotagem nisso constitui uma das suas consequências.

(5) A decisão de consumir é uma escolha individual. Todos, sem excepção têm a possibilidade, a liberdade, o direito (e, por que não, obviamente, o dever) de escolher a quem vai outorgar o seu dinheiro. Conquanto, seja insignificante à escala individual, o poder de comprar ou não tal ou tal produto é considerável quando reportado aos milhares ou dezenas de milhares de consumidores determinados.

(6) Enfim e, em suma: Deveras, múltiplas são as motivações que podem assumidamente estar na origem do boicote, nomeadamente:
Ecológica (contra um produto, uma empresa poluidora).
Ética (contra uma empresa que opera em países, onde se pratica o trabalho infantil e onde se explora os operários).
Moral (contra um País que desencadeia uma guerra).
Todavia, na verdade, a boicotagem é uma arma, assaz difícil e, quão problemática de manusear. De feito, a escolha do alvo é determinante. Demais, outrossim, a acção do boicote só deve deixar em apuros, o alvo e molestar, o menos possível, os demais outros actores da economia, evidentemente.

Lisboa, 04 Dezembro de 2008.
KWAME KONDÉ

CAUSA NOSSA

Olav Aalberg é um norueguês, casado com uma cabo-verdiana, que divulga na rádio do seu país a música de Cabo Verde. Olav escreveu-me a solicitar fotografias de músicos cabo-verdianos para divulgação. Por isso resolvi trazer até aqui este assunto para que os leitores que tenham algumas fotografias de bandas musicais ou de músicos do nosso "arquipélago das mornas" mas façam chegar para satisfação do pedido deste nosso amigo.

Antecipadamente agradecemos.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

OUTRA CAGADA DO PANTERA

Eusébio já tinha expelido a sentença de que “Cristiano Ronaldo não era o melhor do mundo; que o melhor do mundo era o Kaká”. Depois, como todos sabemos, Eusébio teve que engolir o que defecara e hoje passa a vida a elogiar Cristiano Ronaldo.

E agora, qual foi a cagada?

Eusébio disse ao jornal Record «não gosto nada do Sporting»; mas disse-o como quem diz “eu detesto e sempre detestei profundamente o Sporting”.

Estaria no seu pleníssimo direito se isso fosse verdade; quem conhece o passado moçambicano de Eusébio sabe de ginjeira que o que ele disse é uma refinadíssima mentira. Ou então ele é um farsante da pior espécie.

Mas adiante.

O que é que dirão os sportinguistas, como eu, disto tudo?!

Eu, para já, digo perguntando:

O que se pode esperar de um tipo que mesmo depois de viver 50 anos em Portugal é incapaz de falar, incapaz de articular uma frase coerente que seja que exprima uma única ideia que se entenda? Uma só!

Dispensemos-lhe a importância que dispensamos às abóboras.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

PORREIRO PÁ!

Foi Sócrates quem o disse:

«As famílias portuguesas, em 2009, podem esperar ter melhor rendimento disponível». Isto devido à «baixa da Euribor, a uma inflação mais baixa e ao aumento de 2,9% nos salários dos funcionários públicos».

Já viram a maravilha?!... Como é que ninguém ainda se tinha lembrado de provocar uma crise económica e financeira global para resolver os problemas tremendos que vinham ameaçando de crise as maiores economias do mundo!?

Mal, muito mal vão aqueles que como Barak Obama pretendem tomar medidas e mais medidas para acabar com a crise.

Isso não se faz! Uma coisa tão boa e pensam logo em dar cabo dela!

Não há o direito!...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

DÁ-ME CÁ UMAS GANAS!...

COM SINDICALISTAS DESTES
OS PROFESSORES NÃO PRECISAM DE INIMIGOS

Basta ouvi-lo. Não é preciso vê-lo. Para um indivíduo ficar logo indisposto.

E não tem nada a ver com o que ele diz, mas sim com a forma como ele o diz. Parece do tipo Chico esperto que lá na tasca da esquina domina toda a teoria do futebol, da arbitragem e da gestão do Benfica, que entre duas imperiais e um pires de tremoços arrasa o trabalho de Scolari, desvaloriza Cristiano Ronaldo, endireita económica e socialmente o País, e diz que de vez em quando está ao telefone com José Mourinho.

Creio que ele faz tanto mal à luta dos professores que por causa dele estes são bem capazes de vir a perder a batalha que ora travam. É que um primeiro-ministro que veja e oiça este homem só pode mesmo é pensar o seguinte: ― vou dar cabo deste tipo, custe o que custar; quem pensa ele que é?

Pois! Creiam que é mesmo isso que apetece.

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO NONA:
Na peugada da grande realidade enformadora do devir do Homem:

Assumidamente o progresso histórico da Humanidade e o
Empenhamento pessoal quotidiano, são sustentados, por uma
Implícita confiança, no Sentido global da Vida Humana e de
Toda a Realidade. Essa confiança é necessária para agir.
Contudo, de sublinhar avisadamente, não parece se justificar,
Sem um Fundamento, quão elevado e sumamente Transcendente,
Por motivos e razões óbvios.


(1) Com efeito, geração após geração, o Homem passa pela Terra. Atravessa as situações e as experiências mais diversas, sem jamais deter. Observa e age; procura, encontra, entretanto volta a procurar. Transforma sem tréguas o Mundo e a si próprio, por intermédio do labor e da Economia, da Comunicação e da Cultura, da Política e da Religião. Através dos séculos, coordena uma história comum, entretecida de luz e de sombra, de conquista e de desaires.

(2) O prodigioso desenvolvimento das Ciências e da Técnica imprime, hoje, nos nossos dias, no dealbar do nosso século XXI, em curso, despontando sob o Signo da Incerteza, às mudanças uma vertiginosa aceleração. Possuímos, outrossim, uma imensa quantidade de bens e um enorme poder sobre a Natureza. Demais, eis porque, podemos oferecer soluções novas e, assaz inovadoras, a problemas antigos, sobremaneira vetustos e prístinos, designadamente, fome, a(s) enfermidade(s), a ignorância, a lassidão. Por seu turno, cada dia que passa, a Consciência da dignidade e dos Direitos fundamentais do Homem se incrementa em bom ritmo. De feito, por outro, uma rede, cada vez mais densa de relacionamentos envolve o Mundo, através de um contínuo movimento de pessoas vinculado à uma intensa permuta de informações, de bens de serviços. São, obviamente, sinais positivos, os quais parecem indicar que estamos caminhando, seguramente, para um Porvir de Liberdade da Pessoa, de Unidade do Género Humano e de Integração efectiva com a própria Natureza.

(3) Todavia, de salientar, que o progresso gera outrossim novas formas de opressão, novos perigos e receios. A tecnologia traz consigo o esgotamento dos recursos naturais, a poluição do ambiente, o espectro de uma catástrofe ecológica. Porém, o Subdesenvolvimento continua a existir e de que maneira, malfadadamente. De facto, jamais, como actualmente, no nosso mundo hodierno, tantas pessoas sofrem atrozmente de fome. Sim, efectivamente, a Dignidade da Pessoa é mais proclamada do que respeitada e a interdependência Planetária encontra-se bem longe de se tornar Solidariedade. Pelo contrário, cada vez mais e mais, se estende o domínio do homem sobre o homem, se assumindo deleteriamente através de regimes totalitários, controlo e manipulação da opinião pública, exploração, marginalização, violência difusa, comércio da droga, pornografia desenfreada, corroendo e aviltando consciências. Enfim, um autêntico caos humanamente exprimindo!

(4) Na verdade e, na realidade, sobretudo, hodiernamente, o Progresso surde atravessado por inquietantes contradições. Cada conquista se revela precária; cada solução coloca novos problemas; a embriaguez do poder conduz ao risco de terminar na autodestruição. Eis porque, então espontânea e inopinadamente, surge assertivamente a pergunta, quão oportuna e quão avisada: Tem Sentido, o empreendimento histórico da Humanidade? Qual o seu objectivo? Enfim, não se irá desvanecer, porventura, no nada, como imensa destruição?
E, rematando assozanadamente, por outro:
--Será que poderemos resignar ao Pessimismo?
No entanto, de feito, de imediato, se impõe, como corolário lógico, ou seja:
Se queremos, efectivamente, edificar uma convivência livre e solidária e promover uma utilização da Ciência e da Técnica digna do Homem, precisamos, acima de tudo, de valores, como outrossim e, ainda, de normas éticas comuns. Evidentemente, demais, torna-se, antes disso, necessária uma atitude lúcida e fundamental de confiança no atinente à si próprio (a nós próprio), aos demais outros e à Realidade, em geral e, no seu todo, absolutamente.

Lisboa, 01 de Dezembro de 2008.
KWAME KONDÉ

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

METEOROLOGIA POLÍTICA

Para o PS se sentir com coragem suficiente para enfrentar e afrontar Cavaco Silva obrigando-o a promulgar o Estatuto dos Açores, é porque “já lhe cheirou a cadáver” (cavaquista) em qualquer lado.

Ou então já viu qualquer coisa no horizonte.




ESTAMOS A BRINCAR OU QUÊ?

Como disse aqui enviei um protesto ao provedor do telespectador sobre a forma diferente como Judite de Sousa tratou, primeiro Dias Loureiro (branda e dolentemente) e depois Victor Constâncio, (agressiva e contundentemente) em entrevistas que fez recentemente a cada um deles.

Ora bem, atentem só na resposta (para mentecaptos) recebida da chefe de gabinete do Sr. Provedor:

« Exm. Sr(a) [ASM]
Em nome do Provedor do Telespectador agradeço o e-mail que enviou.
Efectivamente as últimas entrevistas realizadas pela jornalista Judite de Sousa provocaram por parte de muitos telespectadores diferentes reacções. Em regra, os telespectadores analizaram o comportamento da jornalista como «agressiva» face à Ministra da Educação e ao Governador do Banco de Portugal e grande «bonomia» em relação ao Dr. Dias Loureiro. Mas também alguns telespectadores interpretam de outro modo, considerando que a jornalista Judite de Sousa adoptou para com o Dr. Dias Loureiro o estilo de deixar o entrevistado falar em «roda livre», o que não concorreu - dizem alguns outros telespectadores - a favor do Dr. Dias Loureiro.
Conforme se constata, trata-se, afinal, da adopção de estilo, o que é característico da forma de entrevistar desta jornalista.
Não tem entendido o Provedor, no âmbito das suas competências, de ter de intrometer-se no «estilo próprio» de cada jornalista.
Contudo, e tendo em conta as observações críticas dos telespectadores, do conteúdo das mesmas vai dar conhecimento à jornalista Judite de Sousa.
Renovando os nossos agradecimentos pela sua colaboração
Com os meus melhores cumprimentos
P/ Chefe de Gabinete dos Provedores
Ana Clara Nunes»

Claro que não me fiquei por aqui. Enviei à Sra. chefe de gabinete a seguinte contra-resposta:

Oh Senhora Chefe de Gabinete (na antecâmara do gabinete do Sr. Provedor que pelos vistos não deve ser incomodado com estas minudências)!

«estilo próprio»?!...

Mas que estilo próprio?

Ou será antes estilos próprios? Isto é: a cada entrevistado o tratamento que mais convém.

Que mais convém a quem sabemos!

Cordialmente.

ASM

Nota (em tempo): Acabei de reparar que quem me respondeu não foi sequer a chefe de gabinete lá do homem; foi a D. Ana Clara Nunes, em nome da chefe de gabinete. Eu devia, portanto, endereçar a minha resposta à:

D. Ana Crara Nuunes (na antecâmara do gabinete da chefe de gabinete que está na antecâmara do gabinete do Sr. Provedor).

Digam lá se este Portugalinho bonitinho retratado nesta resposta em nome do Provedor do Telespectador não é uma beleza de organização e chuchadeira!

MANIFESTO PESSOAL

Penso que é hoje consensual a afirmação de que o PCP (Partido Comunista Português) é necessário à democracia portuguesa.

Entre outras coisas não menos importantes, o PCP é necessário para garantir o equilíbrio político que leve à, e garanta a, estabilidade da sociedade portuguesa.

Mas essa arrogância desmedida do PCP, manifestada largamente neste seu último congresso, em se declarar “o único” à esquerda; em querer confiscar toda a Esquerda colocando tudo o mais à direita, é, no meu entender, um pensamento paleolítico de um totalitarismo pornográfico e demencial que não pode ser aceite.

Eu não sou do PCP nem voto no PCP. Primeiro porque não quero (e sou livre de não querer! E ponto final!), depois porque não reconheço o PCP como um partido que queira construir a verdadeira democracia que é aquela que traga liberdade para todos (liberdade de expressão do pensamento em primeiro lugar). E por isso eu detesto o fundamentalismo ideológico fossilizado do PCP.

O PCP é de esquerda; o Bloco de Esquerda é de esquerda; o Manuel Alegre e a Helena Roseta são de esquerda; eu também sou de esquerda.

E o que é que o PCP tem a ver com isto? NADA!

O PCP que lute no seu campo enquanto os outros lutarão no deles, já que o PCP quer continuar isolado no seu gueto.

Fui militante da UEC (União dos Estudantes Comunistas), nos anos setenta, antes do 25 de Abril (no tempo em que essas coisas doíam); sempre fui e sou de esquerda; sou do tempo da Zita Seabra, da Sita Valles, do Domingos Lopes (que parece que hoje é um dos ideólogos do PCP) e quando dava jeito, depois do 25 de Abril, eu era designado pelo “Camarada das Colónias” ― quero com isto dizer que conheço minimamente o que a casa gasta ― e não admito a quem quer que seja, dentro ou fora do PCP ― nem ao seu secretário-geral (que por sinal aderiu ao PCP 4 dias depois do 25 de Abril de 74) ―, que me passe qualquer certidão ideológica ou cartão com que eu tenha que me identificar de cada vez que tomo uma posição política em Portugal ou fora dele.

Era só o que faltava!...