INTERVENÇÃO DÉCIMA TERCEIRA:
A) Será que a morte (passamento/trespasse) terá sentido, ou melhor dito, fará sentido um homem morrer? Aparentemente dir-se-á que não. O Homem é todo ele desejo de viver e com todo o seu ser recusa a morte, no entanto, ela aproxima-se inexorável. Somos por natureza transitórios.
Em certo sentido, principia-se a morrer quando se principia a viver e acaba-se de morrer quando se começa a viver: as células do organismo envelhecem, perdem-se e não se recuperam; as experiências pessoais consumam-se velozmente. “O homem nascido da mulher vive pouco tempo e está cheio de muitas misérias. É como a flor que germina e logo fenece, uma sombra que foge sem parar” (Jb14,1-2). Todavia, cedo ou mais tarde, desconcertantemente ou, ao cabo de longo sofrimento, acontece a morte. Afigura-se que a pessoa esvaece no nada (no vazio…vazio…vazio…). Deste modo, o desejo/anseio irrefreável de viver parece predestinado ao malogro. Donde e daí, o sentido de fracasso, de impotência e de angústia. Efectivamente, “estou (estamos) aprisionado (s), sem poder sair e os meus olhos (os nossos olhos) ensombram-se na aflição”.
B) Com efeito, desde sempre que a morte é encarada (olhada) com respeito e temor, por ser peremptoriamente oposta ao instinto de conservação. Hodiernamente, como fenómeno geral, é objecto de atenção e indiscrição, sendo, em determinadas circunstâncias, trivializada, ao ser exibida cruamente na televisão. E, opostamente, evita-se como um tabu o elóquio sobre a própria morte e, por isso, outrossim, se questiona o sentido da própria vida. Enfim, como se a morte não nos olhasse tão de perto e tão de perto!
C) Na verdade e, na realidade, há maior preocupação com o sofrimento, que, usualmente, vem antes da morte, do que com os eventos que acontecem, eventualmente depois dela. Preza-se, exactamente, uma morte inopinada, ipso facto, não consciente. Todavia, de anotar, que o verdadeiro homem deseja, antes de tudo, outorgar sentido à sua morte.
D) Assumidamente, por seu turno, o moribundo é uma pessoa e a morte, um acto pessoal e, não apenas, um acto meramente biológico. Exige, sobretudo, uma companhia amiga, o apoio de uma Esperança dinâmica oriunda dos outros, evidentemente. Eis porque, o ambiente mais próprio e adequado para morrer é realmente, no seio da família, no seu próprio lar humanamente habilitado, (aliás, bem como para nascer) e, não no hospital ou no asilo.
E) Conquanto, a caducidade seja natural, a morte vivida como solidão angustiada e inepta, quiçá, não faça parte do Desígnio Supremo. Deste facto, mana o seu carácter de violência e de cominação e o seu “ferrão venenoso”.
F) Finalmente, alguém asseverou: a morte não conta, porque quando nós existimos, ela ainda não existe e, quando ela existe, efectivamente, nós já não existimos. Isto, quando muito, poderia ser verídico para os animais. O homem, ao inverso, sabe que morre. E, servindo-se dos doutos ensinamentos da lavra do filósofo alemão, Friedrich NIETSCH (1884-1900), como exarou, aliás, na sua obra: A ciência chega, em síntese lúcida: A morte é “a sua sombria companheira de viagem”. Sim, de feito: dia e noite, como o caruncho escondido, armadilha todas as alegrias e conquistas através do sentimento de angústia.
Lisboa, 17 Dezembro 2008
KWAME KONDÉ