quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO NONA:
Na peugada da grande realidade enformadora do devir do Homem:

Assumidamente o progresso histórico da Humanidade e o
Empenhamento pessoal quotidiano, são sustentados, por uma
Implícita confiança, no Sentido global da Vida Humana e de
Toda a Realidade. Essa confiança é necessária para agir.
Contudo, de sublinhar avisadamente, não parece se justificar,
Sem um Fundamento, quão elevado e sumamente Transcendente,
Por motivos e razões óbvios.


(1) Com efeito, geração após geração, o Homem passa pela Terra. Atravessa as situações e as experiências mais diversas, sem jamais deter. Observa e age; procura, encontra, entretanto volta a procurar. Transforma sem tréguas o Mundo e a si próprio, por intermédio do labor e da Economia, da Comunicação e da Cultura, da Política e da Religião. Através dos séculos, coordena uma história comum, entretecida de luz e de sombra, de conquista e de desaires.

(2) O prodigioso desenvolvimento das Ciências e da Técnica imprime, hoje, nos nossos dias, no dealbar do nosso século XXI, em curso, despontando sob o Signo da Incerteza, às mudanças uma vertiginosa aceleração. Possuímos, outrossim, uma imensa quantidade de bens e um enorme poder sobre a Natureza. Demais, eis porque, podemos oferecer soluções novas e, assaz inovadoras, a problemas antigos, sobremaneira vetustos e prístinos, designadamente, fome, a(s) enfermidade(s), a ignorância, a lassidão. Por seu turno, cada dia que passa, a Consciência da dignidade e dos Direitos fundamentais do Homem se incrementa em bom ritmo. De feito, por outro, uma rede, cada vez mais densa de relacionamentos envolve o Mundo, através de um contínuo movimento de pessoas vinculado à uma intensa permuta de informações, de bens de serviços. São, obviamente, sinais positivos, os quais parecem indicar que estamos caminhando, seguramente, para um Porvir de Liberdade da Pessoa, de Unidade do Género Humano e de Integração efectiva com a própria Natureza.

(3) Todavia, de salientar, que o progresso gera outrossim novas formas de opressão, novos perigos e receios. A tecnologia traz consigo o esgotamento dos recursos naturais, a poluição do ambiente, o espectro de uma catástrofe ecológica. Porém, o Subdesenvolvimento continua a existir e de que maneira, malfadadamente. De facto, jamais, como actualmente, no nosso mundo hodierno, tantas pessoas sofrem atrozmente de fome. Sim, efectivamente, a Dignidade da Pessoa é mais proclamada do que respeitada e a interdependência Planetária encontra-se bem longe de se tornar Solidariedade. Pelo contrário, cada vez mais e mais, se estende o domínio do homem sobre o homem, se assumindo deleteriamente através de regimes totalitários, controlo e manipulação da opinião pública, exploração, marginalização, violência difusa, comércio da droga, pornografia desenfreada, corroendo e aviltando consciências. Enfim, um autêntico caos humanamente exprimindo!

(4) Na verdade e, na realidade, sobretudo, hodiernamente, o Progresso surde atravessado por inquietantes contradições. Cada conquista se revela precária; cada solução coloca novos problemas; a embriaguez do poder conduz ao risco de terminar na autodestruição. Eis porque, então espontânea e inopinadamente, surge assertivamente a pergunta, quão oportuna e quão avisada: Tem Sentido, o empreendimento histórico da Humanidade? Qual o seu objectivo? Enfim, não se irá desvanecer, porventura, no nada, como imensa destruição?
E, rematando assozanadamente, por outro:
--Será que poderemos resignar ao Pessimismo?
No entanto, de feito, de imediato, se impõe, como corolário lógico, ou seja:
Se queremos, efectivamente, edificar uma convivência livre e solidária e promover uma utilização da Ciência e da Técnica digna do Homem, precisamos, acima de tudo, de valores, como outrossim e, ainda, de normas éticas comuns. Evidentemente, demais, torna-se, antes disso, necessária uma atitude lúcida e fundamental de confiança no atinente à si próprio (a nós próprio), aos demais outros e à Realidade, em geral e, no seu todo, absolutamente.

Lisboa, 01 de Dezembro de 2008.
KWAME KONDÉ