quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O PESCADOR MEXICANO

Neste Natal de crise dedico esta história àqueles que como eu sentem e vivem como poetas a despeito do consumismo, mercantilização, coisificação, alienação, robotização e demais mortificações que nos rodeiam e nos tentam destruir (destruindo muitos) nesta “vida civilizada” que levamos neste mundo cão em que vivemos.

Um homem de negócios americano, numa aldeia da costa mexicana, viu um pequeno barco de pesca que atracava naquele momento, com um único pescador e muitos peixes presos na rede. Deu-lhe os parabéns e perguntou quanto tempo demorara a pescá-los — «pouco tempo», ouviu de resposta — o que o conduziu a outra questão: por que não ficava ele mais tempo no mar para garantir uma pesca mais abundante?

O pescador mexicano reagiu, dizendo que não era preciso mais para atender às necessidades da família. O resto do tempo, explicou, ocupava-o dormindo até tarde, a brincar com os filhos, a fazer uma «siesta» com a mulher, a beber vinho e a tocar violão com os amigos.

O americano não se conformava e quis ajudá-lo:

«Sou formado em Harvard ― disse ― e aconselho-o a passar mais tempo a pescar, para aumentar o lucro, comprar um barco maior; e depois constitui uma frota, passa por cima do intermediário, vende o pescado directamente a uma indústria processadora, até constituir a sua própria fábrica».

Imparável e em alta excitação o americano explicou mais ao pescador — «e já controlando o produto, o processamento e a distribuição, a expansão do negócio leválo-á a sair da sua aldeia, muda-se para a capital, depois para Los Angeles, e finalmente Nova Iorque, com a sua empresa cotada na Bolsa em Wall Street».

O pescador quis saber quanto tempo isso levaria — «quinze ou vinte anos», ficou a saber — e fez a pergunta óbvia: «e depois, senhor?»...

O americano sorriu e disse que, depois, viria a melhor parte:

«Depois fica rico, ganha milhões, reforma-se e tem uma vida descansada: vai viver para uma aldeia tranquila, dorme até tarde, brinca com os netos, tira uma «siesta» com a mulher, convive com os amigos e toca violão».

BOAS FESTAS E BOM NATAL

(Bacalhau à ceia hoje à noite, e cozido à portuguesa para o almoço de amanhã.)