domingo, 14 de dezembro de 2008

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO DÉCIMA PRIMEIRA:

As perguntas fundamentais, aquelas que dizem respeito ao
Elevado sentido da Vida, merecem atenta reflexão. Demais, na
Realidade, constituiria uma autêntica estultícia menosprezá-las,
Por mera superficialidade ou Indiferença/alheamento.


(1) É um facto sobremodo eloquente que todos os homens, sem excepção, têm Sede da Vida e da Existência. Eis porque, passam de um poço a outro, num vaguear incessante, acompanhando um desejo inesgotável orientado para os múltiplos bens do corpo e do espírito.
No nosso tempo, esta procura parece ter-se tornado uma verdadeira corrida tumultuosa: produzir e consumir, possuir muitas coisas e realizar muitas experiências, procurar impressões, cada vez mais novas, o prazer e o útil imediato, tudo e de seguida. Porém, muitos têm a sensação de correr sem uma meta, de se encherem de coisas, que se revelam vazias e quão ocas. Muitos lamentam o empobrecimento das relações humanas: anonimato, alheamento, encontros superficiais e instrumentalizantes, marginalização dos mais débeis, conflitualidade e delinquência. Tudo contrasta, efectivamente, com o que parece ser o nosso anseio mais profundo: amar e ser amado, de modo assaz consequente.

(2) O sentimento de vazio, o desejo de prazer e de prepotência, a despeito de constituir, na sua dinâmica pragmática, uma lógica aparentemente coerente, porém, se arvora sobremaneira triste, por ser, a assunção plena de um modelo de liberdade, dialecticamente estéril. 

(3) Sim, outrossim, possuímos uma aguda consciência da nossa liberdade (pessoal). Todavia, a liberdade, se não perseguir objectivos dignos do homem não tem, obviamente sentido e, por isso, mesmo, se afigura estéril e, assaz infecunda. Demais, para sermos veridicamente livres, devemos procurar a Verdade e o Bem, de forma dialecticamente consentânea e adequada. 

(4) Assumidamente, hoje, nos nossos dias, nutrimos uma elevada consideração pelas Ciências que procuram e obtêm, aliás, um crescente domínio sobre os fenómenos naturais e sociais. Porém, podem essas ciências, designadamente:
--indicar os fins para os quais se deve orientar o poder que nos colocam nas mãos?
--por outro, é, porventura, razoável prestar atenção apenas ao que se pode ver e tocar, calcular e controlar experimentalmente?
--Outrossim e, ainda: não se deixa, assim, de fora o núcleo central da nossa pessoa e da dos outros, que é constituído pela confiança, pelo amor, pela beleza, pela bondade, pela alegria, por tudo quanto torna a Vida digna de ser vivida?

(5) Destarte, urge, a fortiori, libertarmos dos preconceitos e conformismos. E, concomitantemente, se impõe, mais que nunca, sermos sinceros e honestos connosco próprios para que possamos levar a sério as Egrégias Interrogações que cada um de nós traz dentro de si, designadamente:
--Quem sou eu? Quem somos nós?
--De onde venho? De onde viemos?
--Para onde estou a caminhar? Para onde estamos a caminhar? Etc.
E, ainda, obviamente:
--A Realidade é absurda ou inteligível?
--A Vida é um Dom, um Destino cego ou um Acaso?
--Porquê esta Sede que nenhuma conquista consegue extinguir?
--O que devo esperar e o que devo fazer?
--Enfim e, em suma: O que devemos esperar e o que devemos fazer?
Com efeito, comungando criticamente com o matemático, físico e filósofo francês, Blaise PASCAL (1623-1662), “a ordem do pensamento começa a partir do próprio autor, do próprio fim”. Na verdade, quem evita as perguntas fundamentais, foge de si mesmo, pois que, evidentemente, a indiferença, o hedonismo e o activismo estulto não são uma solução. Sim, ipso facto, uma mera evasão, quão irresponsável e, não só!...
E, rematando, de forma consentânea e apropriada, na verdade, “Aquele que tem sede, venha. Aquele que o deseja, receba gratuitamente a água da Vida” (Ap. 22,17).

Esta “posta” surgiu-nos, na sequência do diálogo que tivemos, ontem, (dia 09 de Dezembro de 2008), com a nossa colega e amiga, a Drª. Ana Paula Vieira, a quem a dedicamos, por motivos e razões, assaz óbvios, acompanhado de um robusto abraço de amizade, admiração e reconhecimento.

Lisboa, 10 Dezembro de 2008

KWAME KONDÉ