quarta-feira, 26 de novembro de 2008

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO Sétima:

A BIOMEDICINA como Cultura:


Duas “marcas” para Principiar adequadamente:
A Cultura é um bem fundamental, necessário, ipso facto, à Vida e ao Crescimento do Homem. Sim, na verdade, um Património comum do qual todas as pessoas recebem e para o qual todos contribuem.
Eis porque, de feito, cada cultura é chamada a abrir-se et pour cause, ao diálogo inter-cultural e ao Encontro com a Plenitude Existencial…
Por seu turno, o lexema Biomedicina (bio+medicina), no plano etimológico, busca, fundo, as suas origens em: bio do grego bios, ou “vida” e medicina do latim: medicina, ae (sc. Ars), arte de curar. E, quiçá, evidentemente, por outras palavras, contudo, sem “perverter” obviamente, a sua noção/conceito de fundo, se assume como Medicina Clínica baseada na aplicação dos Princípios das Ciências, em especial, designadamente:
Biologia
Bioquímica
Bioengenharia
Biofísica e
Biotecnologia.

Sim, efectivamente, a BIOMEDICINA, se encontra, em plena revolução desde o início do Século XIX. A partir de 1846, os cirurgiões utilizam a anestesia pelo éter sulfúrico. Põem ulteriormente em prática a anti-sepsia, preconizada (entre 1867 e 1871) pelo cirurgião inglês Joseph LISTER (1827-1912) e a assepsia, em 1886, pelo químico e biologista/biólogo francês, Louis PASTEUR (1822-1895). Eis porque, a Cirurgia revolucionou com o facto, enquanto o fisiologista francês Claude BERNARD (1813-1878) dá a derradeira demão ao Método experimental e dezenas de médicos de grande talento aperfeiçoam dextramente a Clínica e o seu exercício respectivo.
Deste modo, o conhecimento do vivo se diversifica, por toda a parte. E, no âmbito desta dinâmica, vetustas instituições – a Faculdade de Medicina, o Hospital – são reorganizadas.

(2) Donde e daí, resulta, evidentemente uma prática biomédica que já não tem nada a ver com as práticas de Saúde dos Europeus do Século XVIII. Os seus êxitos espectaculares asseguram a sua adopção, por toda a parte no Mundo. Entra, outrossim, por outro, em concorrência com as Medicinas vernáculas, as do curandeiro, do Xamã ou do algebrista de aldeia. De facto, a biomedicina veicula escolhas culturais, porquanto diz respeito à reptos/desafios de principal importância: a vida, o passamento/trespasse, o sofrimento, as práticas dizendo respeito ao corpo. Outrossim e, ainda, desconecta, em particular, o corpo dos seus sofrimentos do ambiente social e afectivo.

(3) Todavia, ao inverso, o Xamã e o curandeiro de aldeia não separam os sofrimentos do corpo dos eventos/acontecimentos da existência humana. Conhecem os seus azucrinamentos. Averiguam, tanto como, ainda por cima, acerca dos sofrimentos e dos órgãos afectados como relações à entourage, sonhos, devoções para com os deuses e os defuntos.

(4) Enfim e, em suma: Nas Sociedades europeias, o médico de família, do campo ou de bairro assumem o revezamento do curandeiro. Porém, esta função tende a desaparecer, a passos largos, sob a pressão da racionalização e da especialização das prescrições. Eis porque, efectivamente, as escolhas da BIOMEDICINA entram, por conseguinte, em emulação com as Medicinas vernáculas e daí, a sua “globalização” faz, por conseguinte, integralmente parte da “globalização” da Cultura.

Lisboa, 26 de Novembro de 2008.

KWAME KONDÉ

terça-feira, 25 de novembro de 2008

PELOS OLHOS ADENTRO


É óbvio que Manuel Dias Loureiro deixou de ter condições para continuar como conselheiro de Estado.

E só quem não quer é que não vê isso.


UMA AUTÊNTICA VERGONHA

Quem assistiu à panhonhice que foi, aí há quatro dias atrás, a entrevista de Judite de Sousa a Dias Loureiro, e a comparar com a agressividade salivante de Judite na que fez ontem a Victor Constâncio, só pode concluir uma coisa: que Judite, quando entrevistou Dias Loureiro, não esteve ao serviço da televisão pública. E também não esteve ao serviço do contribuinte pagador da RTP.

O comportamento de Judite de Sousa na entrevista a Dias Loureiro foi, no mínimo, vergonhoso, antiético e nada, mesmo nada, profissional.

O Sindicato dos Jornalistas e os órgãos próprios de supervisão da comunicação social deviam pronunciar-se publicamente sobre este caso. Porque os jornalistas não estão isentos do dever de cumprimento da deontologia que os orienta. Ao menos isso; já que a direcção da RTP, ao que se tem visto, não está lá muito interessada em pugnar para que haja isenção que se veja no tratamento dos seus noticiários e programas de opinião.

Nota: Como cidadão e contribuinte, e pagador da taxa da rádio, enviei um protesto formal à RTP.


domingo, 23 de novembro de 2008

AH G’ANDA GUINÉ!

Na Guiné-Bissau a construção da democracia continua de vento em popa. Menos de um mês depois de eleições, dezenas de militares entraram na última noite na residência do presidente da república para lhe desejarem "um bom sono". Aconteceu que Nino Vieira já se tinha precatado, ao que parece avisado a tempo (diz-se que desde as dez horas da noite) por quem tinha conhecimento da coisa.

Antes de Nino, os assassinos frustrados rendiam-se e depois negociavam a paz pondo como condição prévia o perdão dos revoltosos. Mas com Nino as coisas, ao que sempre se disse, nunca foram bem assim; diz-se que Nino, na boa tradição, aliás, dos presidentes africanos sobreviventes a atentados, prefere antes mandar dar um “tratamento especial” aos seus adversários para que estes nunca mais se lembrem de o tentar matar.

Kumba Yalá que se cuide.

HETERODOXIAS

Cerca das oito da manhã começaram por aqui os preparativos para uma feijoada à transmontana.

Quando vi que a coisa estava a correr de feição e com excelentes perspectivas de resultados, enviei um convite ao meu primo Augusto nestes termos de que peço desculpas por serem tudo menos ortodoxos num convite:

«Se visses a cara com que está a ficar esta feijoada, cairias de cu. A matança está aprazada para as doze e trinta».

Tenho pena é de não ser administrador de nenhum banco. Se o fosse talvez estivesse a feijoar na Tailândia ou noutro paraíso qualquer.

Mas talvez também não...

Já não sei o que é melhor!

BOM DIA outra vez.

UM CLARO VENCEDOR

Depois de vários anos a experimentar browsersInternet Explorer, Safari, Opera, Google Chrome (desde há dois meses) ― concluímos que o vencedor é...

MOZILLA FIREFOX

É seguríssimo; muito rápido; elegante; facilmente personalizável; tem plugins a dar c’um pau; e, muito importante, é código aberto, o que quer dizer que qualquer um que o saiba fazer pode alterá-lo sendo por isso adoptado pelos hackers como seu browser preferido ― razão pela qual normalmente não o atacam (mais uma enorme vantagem, como é óbvio).

BOM DIA

sábado, 22 de novembro de 2008

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO SEXTA:

Abordando pedagogicamente alguns dos novos “ópios do povo”:


“O crescimento é um sedativo que sufoca a contestação,
permite aos governos evitar o afrontamento com os ricos,
impede construir uma economia justa e durável. O
crescimento permitiu a estratificação social que o próprio
Daily Mail (quotidiano conservador) deplora presentemente”.
George Monbiot no The Guardian. Artigo publicado no
The Guardian e retomado no Courier International de 2
a 9 de Janeiro de 2008.



Na sua lúcida e acutilante crítica da “Filosofia do direito” de Friedrich Hegel (1770-1831), no ano de 1844, Karl MARX fazia da religião o “ópio do povo”, isto é, um poderoso antálgico, permitindo aos seres humanos suportar a sua miserável condição com a esperança de um hipotético além.
De feito, se a Religião desempenha ainda este papel, todavia, com a Secularização da Sociedade, perdeu o monopólio de guardião da Paz Social, pois que, efectivamente outras fontes de esperança factícias, de ilusões, de exutórios, de toda espécie, se desenvolveram, ou melhor dito, apareceram, de que maneira e, em autêntica catadupa.
Credulidade, inveja, facilidade, gregarismo…as debilidades humanas são exploradas para desviar o espírito dos cidadãos dos reais problemas, para mobilizar a sua atenção respectiva sobre questões secundárias, insignificantes ou fúteis, para os arredar, ao fim e ao cabo, dos verdadeiros problemas.

Posto isto, vamos então, abordar alguns dos novos “ópios do povo”, independentemente do álcool, do tabaco ou das drogas “clássicas”. Assim, temos:

(1) Lotaria e demais outros jogos de azar:
De feito, com uma aposta módica e uma igualdade das oportunidades, constituem um sucedâneo de “democracia”. A probabilidade de ganhar milhões e um lugar ao sol é ínfima, salvo para o Estado ou para os que os organizam.

(2) O Desporto Espectáculo
Na verdade e, sem sombra de dúvidas, aliás, o vínculo social que o “fenómeno” Desporto Espectáculo pretende urdir é ilusório. Pelo contrário, pelo fenómeno de “meutes sportives”, o desporto espectáculo exacerba as paixões exclusivas, o chauvinismo, a exclusão e o narcisismo colectivo. Porém, constitui, sobretudo, um poderoso meio para canalizar as pulsões de revolta e subtrair as consciências das causas reais da miséria, das desigualdades e da injustiça.

(3) A Televisão:
Suportada por interesses financeiros e mercantis, a Televisão transforma o telespectador em consumidor. E, para captar a sua atenção, propõe uma agressão visual que progressivamente reduz as capacidades cognitivas e, não só…

(4) Os Jogos Vídeos:
Assevera-se que as crianças e os adolescentes sabem estabelecer a diferença entre a ficção e a realidade. E a que ponto, todavia? Os fenómenos de adição da qual são vítimas os adolescentes e os jovens adultos, já não são a demonstrar, obviamente. Os jogos, sem fim, são concebidos para estimular a vontade e o apetite de jogar sempre, o máximo de tempo possível, correndo o risco de dependência e de isolamento social que isto acarreta, como acontece, aliás, com as drogas clássicas, facto, bem conhecido, hodiernamente, em todo o Mundo, sem excepção…

(5) Os mundos virtuais:
Com efeito, estes mundos artificiais por INTERNET acolhem comunidades de utilizadores que vivem uma “outra vida”, sob forma de autêntica metamorfose com todo o seu cortejo de consequências, sobremaneira nefastas. Demais, outrossim, como os vídeos, os mundos virtuais são, assaz consumidores de tempo e susceptíveis de coarctar toda e qualquer tentativa válida conducente, ipso facto, a um encarar, de modo dialecticamente consequente, a árdua realidade, enformando, em substância, o “verdadeiro” Mundo Humano.

Enfim, rematando, um tanto ou quanto, pertinentemente, não há dúvida nenhuma, que urge se emancipar, na verdadeira e genuína acepção do termo e da expressão respectiva, permanecendo, mestre e dono do seu próprio tempo livre de consciência. Eis, sim, efectivamente, um dos grandes reptos/desafios da Humanidade, neste dealbar, assaz conturbado, do nosso Século XXI, despontando, sob o Signo da Incerteza…

Lisboa, 20 de Novembro de 2008.
KWAME KONDÉ

AÍ ESTÁ - ERA UMA VEZ

Depois daquele patético, contraditório, incrível e inenarrável apoio de Sá Fernandes ao governo, defendendo os contentores em Alcântara, o Bloco de Esquerda só podia mesmo era dar um pontapé no c. a tão incoerente quão ridícula personagem.

Tínhamos vaticinado aqui que José Sá Fernandes não teria o apoio do BE nas próximas autárquicas. Não tardou muito, e hoje o DN acaba de trazer esta notícia da rotura iminente da ligação de Sá Fernandes ao Bloco, sob o título “Bloco de Esquerda corta com José Sá Fernandes”.

«... o BE ficou também particularmente incomodado com o facto de Sá Fernandes ter defendido, na RTP, as posições do executivo socialista na polémica com os contentores de Alcântara. O vereador e Miguel Sousa Tavares - que é o rosto visível de uma petição contra o alargamento do terminal de contentores de Alcântara - envolveram-se em grande polémica televisiva.»

Estejamos atentos para ver que botas políticas irá, de agora em diante, Sá Fernandes lamber na tentativa mais que certa de continuar a saborear o mel do poder autárquico que tão facilmente lhe besuntou a mente e lhe adocicou as convicções que de forma aparentemente intrépida defendia até há pouquíssimos meses atrás.

EIS PORQUE GOSTO CADA VEZ MAIS DOS ANIMAIS

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

ACABOU DE LAVAR AS MÃOS

MANUEL DIAS LOUREIRO

CONSELHEIRO DE ESTADO


Esteve há bocadinho na RTP1 numa entrevista à jornalista Judite de Sousa.

Durante essa entrevista ficou claro que Dias Loureiro pretendeu fazer passar a imagem de que tudo de ilegal e irregular que se passou enquanto esteve no BPN (Banco Português de Negócios) e na SLN (Sociedade Lusa de Negócios), se passou sem o seu conhecimento embora a sua assinatura de gestor tenha sido aposta em contas que pelos vistos se vieram a revelar fraudulentas.

Num caso manifestou dúvidas sobre a lisura de umas contas, mas Oliveira e Costa mandou-o voltar ao seu gabinete duas horas depois tendo-lhe então convencido, com algumas explicações muito simples, de que estava tudo bem. Então assinou as contas de boa-fé.

Tudo muito simples, tudo muito naive.

Só lhe faltou dizer que, sem que ele quisesse, a sua (dele) mão foi ao BPN, assinou lá umas contas voltando depois para casa e colando-se de novo ao seu corpo.

Para além disso e dessa confiança cega na pessoa que lhe pedia a assinatura das contas, desconhecia quase tudo que saltou hoje para a ribalta nos jornais e televisões ― disse, aliás, várias vezes «Eu não sabia».

Resta saber se isso é suficiente para convencer o Ministério Público de que nada tem a ver com as irregularidades detectadas na SLN, BPN; e se mantém ainda condições para continuar como Conselheiro de Estado.

Bem!.. Acho dever lembrar que... Isto aqui é Portugal.


Editado às 9:21 AM de 22/11/2008 para acrescentar o seguinte:
João Marcelino, director do DN, ajuda aqui a perceber-se melhor a fragilidade e a naivité das respostas de Dias Loureiros a Judite de Sousa.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

ESCAQUEIRE-SE A EDUCAÇÃO

ENSINAR PARA QUÊ?

INSTALE-SE A GUERRILHA

Acabei de ouvir agora a ministra da educação em directo na rádio.


Entendi que anunciou à malta que algumas coisinhas vão mudar no processo de avaliação dos professores para que tudo fique na mesma.

Tal como desde o início deste ano lectivo, os professores continuarão a trabalhar no processo de avaliação, continuarão as suas maratonas de reuniões para o efeito, e, desde que façam isso, podem ficar sem tempo para preparar e dar aulas que não há problemas, pois,

ensinar os alunos é coisa de somenos e talvez nem interessa lá muito ao país que isso aconteça.

Digo eu.

BRASIL 6 - 2 PORTUGAL

AI QUE SAUDADES AI AI

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

KWAME KONDÉ

Intervenção Quinta:

Da Mundialização/Globalização:

Nota Prévia:


Na verdade e, na realidade, a globalização não é a Mundialização!
Com efeito, a Mundialização são fluxos, movimentos. Existe, pelo menos, desde o fim do século XIX, em que as permutas se intensificaram e a economia se internacionalizou.
Por seu turno, a Globalização é um fenómeno recente, se enquadrando, no princípio de uma mutação radical, obviamente, económica e financeira, sobretudo, outrossim, humana: a integração e a inter-conexão tornaram tal que cada um, hodiernamente, deve viver quotidianamente ao nível local, com laços territoriais e uma identidade cultural, ciente do Sentimento de pertencer à globalidade do Mundo.
De anotar, finalmente, que esta enunciada tensão entre o local e o global caracteriza, em última análise, a Globalização.

(1)---Efectivamente, durante o Século XX pretérito, o Estado nação se afirmou como a forma política dominante nos quatro cantos do Planeta. A guerra-fria e a Política das grandes Potências só fizeram consolidar esta hegemonia. No Terceiro mundo, a propensão para o reforço do Estado, até mesmo, a sua pura e mera importação, caracteriza o Período pós-colonial. Ora, desde, aproximadamente, quatro (4) lustros, este modelo de governação, que envolve, outrossim, uma representação unitária do colectivo sobre um território delimitado, se encontra no centro de todos os debates no atinente à Globalização.

(2)---Assim, no âmbito desta dinâmica, uma das questões que acode à memória, incessantemente, diz respeito ao Destino do Estado-nação. Os adeptos das teses globalistas vêm na sua debilitação um traço marcante da mutação que se iniciou no término do século XX pretérito. Por sua vez, os seus adversários se desculpam com esta tese declinista e clamam, alto e bom som, que a forma estatal, em análise e apreço, longe de se encontrar enfraquecida, possui ainda, lindos dias, perante si e pode se tornar o instrumento eficaz das novas dinâmicas internacionais. E, para discernir o acesso deste debate, necessário se afigura ter sempre presente no espírito que estamos ante algo que coloca, frente a frente, de cada lado, teóricos e “profissionais da política”, cujo o discurso se apresenta não unicamente como uma verificação autenticada, outrossim porém, respeitante ao modo preditivo, tendo cada qual em consideração, a evolução do estado de coisas vigente e a perspectiva de um melhoramento dos dispositivos institucionais.

(3)---De feito et pour cause, um pouco por toda a parte, se faz notar à que ponto a Figura do Estado-nação se encontra, assaz debilitada, com a abertura dos mercados. Cada vez mais, as praças financeiras parecem estar transformado no Centro dos dispositivos do Poder e tudo se passa como se as evoluções da economia mundial delimitassem a margem de decisão oferta aos governantes. Este debilitamento das soberanias é inseparável de uma tomada de consciência colectiva do enfraquecimento de capacidades de regulação, enquanto, do mesmo modo, os mercados impõem, cada vez mais, a sua influência/acção sobre o funcionamento das nossas sociedades. Eis porque, ipso facto, se pode falar dum autêntico “retrait de l’Etat”, indo alguns mesmo a encarar o óbito desta forma de organização social.
De consignar, que nesta dinâmica, o que é seguro, é que os Governos nacionais têm visto a sua esfera de iniciativa diminuir, a olhos vistos. Com efeito, o Estado sofre actualmente de uma diminuição do seu poder, porquanto a expansão das forças transnacionais reduz o controlo dos Governos individuais sobre as actividades dos cidadãos e dos outros povos. Outrossim, por seu turno, a mobilidade crescente dos capitais induzida pelo desenvolvimento dos mercados financeiros globais transforma o equilíbrio dos poderes entre o Estado e mercado e gera pressões sobre o Estado para desenvolver políticas favoráveis ao mercado, limitando os deficits públicos e a protecção social, a baixa do imposto, a privatização e a desregulação do mercado do trabalho.
Neste contexto, os domínios tradicionais da actividade estatal (defesa, economia, Saúde, lei e ordem) não podem ser aprontadas sem institucionalizar formas de colaboração multilateral. Outrossim, verifica-se uma assimetria entre as autoridades que exercem os Estados sobre a Sociedade e a sua influência/acção limitada sobre a Economia no interior mesmo do seu território. Este se encontra, deste modo, inevitavelmente enfraquecido pela integração acelerada das economias nacionais numa “Economia global do mercado”.

(4)---Destarte e, por razões assaz óbvias, esta situação, ora expendida, mina o Estado-nação, efectivamente.
E, para uma melhor explicitação do nosso pensamento e raciocínio respectivo, vale a pena trazer à colação, os ensinamentos da lavra dos antropólogos norte-americanos, Jean e Jonh COMAROFF (da Universidade de Chicago) exarados na interessante obra científica: “Millenal Capitalism. First thoughts on a Second Coming” (2000). Ou seja: Segundo estes conceituados antropólogos/sociólogos a Situação analisada corrói efectivamente o Estado-nação por três razões, designadamente:
---Os Estados-nações perderam o controlo da moeda e das permutas. Neste domínio, a noção de fronteira se avoca, cada vez menos, pertinente;
---As firmas transnacionais já não possuem sítio e lugar estáveis e podem se instalar, onde querem;
---Uma divisão transnacional emergiu com os trabalhadores ilegais atravessando as fronteiras, em grande escala.
Deste modo, tudo se passa, aliás, como se a Globalização tivesse mudado as regras do jogo. Donde e daí, a acumulação flexível e a hegemonia do capital financeiro incrementaram ainda mais a dependência económica e, nos casos dos países em desenvolvimento, as políticas de ajustamento estrutural impulsionadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) contribuíram para limitar as margens de manobra dos Estados nacionais. Pode-se acrescentar, que os Estados estão, cada vez menos, habilitados para desempenhar um papel redistributivo, pois escasseiam actualmente recursos suficientes e, mais ainda, concretamente, no Terceiro mundo, onde os programas de afinação estrutural e as medidas de austeridade contribuíram para os reduzir consideravelmente.
Empecido por forças intergovernamentais e transnacionais, o Estado hodierno inscreve a sua acção em dinâmicas regional e global e, desta forma, o seu devir queda inseparável deste tecido de interacções. Eis porque, se tem, por conseguinte, de se haver com uma verdadeira dessacralização das soberanias, na medida em que as políticas públicas estão profundamente condicionadas por realidades económicas e financeiras dificilmente domáveis à escala das nações. E, se se raciocina, então, concretamente, em termos de territorialidade, necessário, se afigura, outrossim, tomar a sério, a extraordinária expansão das colossais metrópoles do Capitalismo transnacional, estas autênticas e verdadeiras “cidades globais”, onde se concentra uma parte importante do poder económico global, que aí se encontra insanamente valorizado.
De salientar, outrossim e, ainda, que um outro elemento que parece concorrer para o enfraquecimento dos dispositivos estatais tradicionais é a formação de grandes unidades/conjuntos, integrando regiões inteiras do Globo, nomeadamente: a União europeia (EU), o Mercado comum do Sul (MERCOSUL) e a ARENA na América; Associação de Nações do Sueste Asiático (ASEAN), Ásia-Pacific Economic Cooperaton (APEC), na Ásia.
De anotar, que aí se pode apreciar o delineamento de modelos de governação mais adaptados às exigências do global e à complexidade dos novos desafios/reptos. Por seu turno, o crescimento das organizações inter-e transnacionais, das Nações Unidas e das suas agências respectivas aos grupos de pressão e movimentos sociais, tende a alterar a forma e a dinâmica do Estado e da Sociedade civil. Enfim e, em suma, de salientar, que o Estado se converteu numa verídica arena de policy-making fragmentada, penetrada pelas redes transnacionais.

(5)---Prosseguindo, avisadamente, temos, deste modo, que a Globalização está, outrossim marcada pela instauração de Políticas supranacionais num quadro regionalizado. Vejamos, então:
a)-Neste sentido, a União europeia constitui exemplo paradigmático, pois que desenvolve concomitantemente formas de cooperação intergovernamentais, outrossim, porém, uma verdadeira política comunitária em âmbitos como a Agricultura e as Políticas regionais, com designadamente a criação ou o reforço de redes económicas transfronteiriças.
b)-Demais, identicamente, na América e no Pacífico, se vê intensificar as iniciativas diplomáticas inter-regionais. Entretanto, no plano internacional, se encontra longe dos meados do século XIX, em que se se contentava com duas ou três conferências inter-estatais, enquanto actualmente se conta por milhares, por ano.
Eis porque, finalmente, no fundo, no fundo, a necessidade de acções multilaterais aparece francamente ditada pelas exigências de cooperação, no âmbito da matéria de Segurança em áreas tão dissemelhantes como a “luta contra o terrorismo”, os traficantes de droga, a imigração ilegal ou a pedofilia. De feito, realmente, um Estado sozinho dificilmente pode fazer frente isoladamente à estes problemas. Outrossim, o Unilaterismo e a neutralidade já não constituem estratégias de defesa credíveis, pois que as instituições de Segurança, globais e regionais assumiram uma importância nova. Identicamente, as Indústrias militares implicam formas de co-produção e de cooperação transnacionais que materializam as joint ventures, as alianças, a subempreitada. Aliás et pour cause, face à Globalização da violência, a segurança nacional tornou um assunto multilateral. Sim, efectivamente, o que se encontrava no cerne da actividade estatal, só se pode realizar se os Estados trabalharem conjuntamente.
Enfim e, em suma: ora actualmente, a necessidade das cooperações trans-governamentais, por um lado, a escalada em potência das solidariedades interestaduais transfronteiriças, por outro, concorrem para limitar as ambições do Estado. Por conseguinte, como se pode compreender, o que funciona, evidentemente, é uma forma de governação pública estratificada (multilayered public governance), com dissemelhantes polaridades globais, regionais e locais. Esta, por seu turno, deve se harmonizar com o desenvolvimento das “autoridades” privadas, :das organizações não governamentais (ONGs), fundações, think tank, associações comerciais, sindicatos do crime. E, eis porque, enfim, não constitui um mero acaso, se toda uma série de programas que relevavam do Estado Providência foram privatizadas, subempreitadas às ONGS.

E, para rematar adequadamente e, em conformidade, se o Estado sobrevive, não menos se olvidou das suas pretensões em ser o único centro de toda regulação. Eis que tange o dobre da soberania e se inaugura, então, a Era do Estado pós-soberano, ampliado e inscrito num processo mais amplo da regulação complexa e estratificada. E, assim, se reforça o papel da Sociedade Civil, sendo o vínculo exclusivo, entre território e Estado, quebrado. Desta forma, se implantaram níveis de governação que se estendem para o interior e para além das fronteiras. Demais, no âmbito desta dinâmica, novas formas de política multilateral e global foram, outrossim, estabelecidas, constituindo, por conseguinte, a rede de actividades, algo assaz denso, intervindo em novos fóruns, que são, na verdade, a ONU, o G8, o FMI, a OMC ou a EU, enfim!...

Lisboa, 14 de Novembro de 2008

KWAME KONDÉ

terça-feira, 18 de novembro de 2008

DE GAFFE EM GAFFE ATÉ À DERROTA FINAL

Ouvi há pouco declarações de Manuela Ferreira Leite na rádio.

Que «o governo errou na forma como pretendeu fazer reformas», porque:

Primeiro hostilizou os médicos, depois tentou fazer a reforma e não conseguiu.

Hostilizou os juízes, os funcionários públicos, os professores e por isso quando quis fazer reformas naqueles sectores não conseguiu.

Concluiu então, Manuela, que «não é possível fazer reformas contra as classes profissionais».

Estava a achar tudo isso muito atinado, fui concordando, até que...

Postulou que não se consegue fazer reformas em democracia.

Assim:
«Eu não acredito em reformas, quando se está em democracia..."
«Quando não se está em democracia é outra conversa, eu digo como é que é, e faz-se».

E acrescentou este grande disparate:
«E até não sei se a certa altura não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia».

Para além da contradição que isso encerra, porque primeiro disse que «não é possível fazer reformas contra as classes profissionais», é uma confissão de total descrédito no sistema democrático, coisa que o mais inepto candidato a líder político nunca diria. Nem a brincar.

Mais que uma gaffe é talvez um sinal claro de que algo vai mal naquela cabeça.

COITADO DO PSD.

AI LIBERDADE LIBERDADAE

OBAMA ENTRISTECIDO...

Primeiro disseram-lhe que não podia ir ao seu barbeiro de há 14 anos cortar o cabelo.

Agora disseram-lhe que vai ter de deixar de usar o seu telemóvel Blackbarry pois não é conveniente que mande ou receba mensagens pessoais (e talvez mesmo telefonemas não filtrados pelos serviços secretos) pois isso é coisa que um Presidente dos Estados Unidos não deve (e não pode) fazer.



...E EU, FELIZ DA VIDA...

...Estou de folga!

Após o almoço vou até à Baixa entregar jogo na minha tabacaria de sempre; dou um salto à Pastelaria Chinesa para cumprimentar e dar dois dedos de conversa a uma tertúlia de amigos; irei à Fnac para ver e talvez comprar umas coisinhas que preciso; beberei uma imperial ao fim da tarde na Cervejaria Portugália da Almirante Reis; e recolho-me a casa com umas compritas a fazer numa mercearia de bairro para dar uma mãozinha nos preparativos da janta.

Aguarda-me em casa um vinhito branco do Fogo para o jantar e um calicezinho de medronheira da boa para a sossega.

É que eu não fui eleito coisa nenhuma!...


UMA VERGONHA

UM HORROR É O QUE É

Ver Ricardo Sá Fernandes, o outrora intrépido “Zé”, defensor de causas públicas, hoje vereador da Câmara Municipal de Lisboa, eleito como independente nas listas do Bloco de Esquerda (que no meu entender traiu descaradamente) ― a comiciar ontem na RTP, ao lado da representante do governo, em defesa dos contentores em Alcântara.

Foi uma imagem grotesca aquela que me ficou das intervenções de Sá Fernandes negando tudo em que dizia acreditar aqui há bem pouco tempo; titubeando, engasgando-se, fugindo à discussão do essencial para se situar no acessório e na lateral do problema.

Foi uma ― mais uma ― confirmação de que os homens têm um “preço”; e de que António Costa, com a habilidade que se lhe reconhece, soube bem meter o outrora folclórico “guerreiro do túnel do Marquês” no bolso.

Curioso será ver para que lado virará o cata-vento político de Sá Fernandes, o que fará para sobreviver na Câmara de Lisboa sem novo apoio do Bloco de Esquerda, nas próximas autárquicas. Sim, porque não acreditamos que, uma vez saboreado o mel do poder autárquico, Sá Fernandes queira regressar ao trabalho na profissão.

É por esta e por outras, que, quanto mais conheço os homens, mais gosto dos animais.

domingo, 16 de novembro de 2008

NOXA NOSSA

Uma das formas de emagrecer ― pouco elegante e pouco saudável, diga-se; e medicamente não recomendada, diga-se também ― é vomitar após as refeições. Não o querendo fazer e sendo sensível do estômago, siga então este conselho: abstenha-se de vir aqui depois de comer.

sábado, 15 de novembro de 2008

O CRISTO NEGRO

É evidente que a progressão na escala de uma sociedade organizada acarreta sempre a perda crescente da liberdade individual.
A progressão na escala social aumenta o poder pessoal, mas diminui a liberdade individual; traz normalmente fortuna e aumento de fortuna pessoal, mas diminui a liberdade individual.

Sendo a liberdade o maior bem, não sei se Deus aprova o seu sacrifício a favor do poder. Talvez sim, mas para empresa maior e desígnio superior.

Depois da eleição, Barak Obama quis ir ao seu barbeiro de há 14 anos, mas não o pode já fazer; foi aconselhado a chamar o barbeiro ao apartamento de um amigo para lá efectuar o corte do cabelo.

No meu entender, começa aqui o entristecimento do Presidente Obama que tanta alegria irradia normalmente através da sua contagiante personalidade.

Eu sou dos que acreditam que pouca ou nenhuma coisa deve substituir a alegria, o prazer, a saúde que dá o viver a vida em liberdade: estar, por exemplo, descontraidamente sentado numa cadeira de um barbeiro tradicional apreciando o ambiente, conversando, fazendo humor, etc., enquanto a vida se escoa lá fora e em nós ― Inexorável, contínua e naturalmente...

Os americanos precisam de Obama Presidente. Nós precisamos de Obama Presidente. O mundo precisa de Obama Presidente ― mas Obama não precisa de Obama Presidente. Porque o Presidente vai destruir a personagem Obama; mais que a personagem, o Presidente vai destruir a pessoa Obama tal como ela é.

Obama é, assim, o Cristo Negro cuja presença se aguardava na Terra.

Chegou o Cristo Negro.

O Mundo vai mudar.

JÁ CAÍU VENHA OUTRO

Então como é?

Se o Estado tem tudo organizado e “manipulado” ― polícias armados; tribunais; polícias secretas; informadores, bufos e pides de toda a espécie ―; por que razão não hão-de os alunos ao menos organizar-se e convocarem-se por SMS e email para formalizarem os seus protestos, com todo o direito de os fazerem, por mais absurdos que ao poder pareçam!

Porque há-de o Governo querer sempre ver nas manifestações de cidadãos o dedo “manipulador” do Partido Comunista, à boa moda, aliás, dos tempos do fascismo de tão triste memória?

Neste país ― confirma-se ― ninguém aprendeu nada, ninguém aprende nada com o devir histórico e com os acontecimentos do quotidiano: os argumentos de hoje do secretário Lemos ou da ministra Rodrigues, ou do governo de Portugal, ou, ou, ou... são os mesmos argumentos de José Hermano Saraiva nos tempos de Salazar; de Veiga Simão nos tempos de Marcelo Caetano; de Couto dos Santos nos tempos de Cavaco. Não há a mais pequena novidade nisso; a mais pequena evolução:

«É o Partido Comunista que está a orquestrar o protesto dos estudantes».

Todos vêm na manifestação dos alunos o dedo manipulador do Partido Comunista em vez de compreenderem que os alunos também têm massa cinzenta, sabem reagir por si ao que os afecta, sabem usar (e de que maneira) as novas tecnologias (e o Magalhães, senhores, o Magalhães) para se comunicarem e não precisam por isso que venha o PCP dizer-lhes o que fazer e como fazer.

Mas mesmo que o PCP, através das suas organizações para a juventude, estivesse por trás das manifestações de protesto dos alunos, isso não seria razão suficiente para o governo as condenar liminarmente ignorando com isso as razões desses protestos.

Mas não, o senhor Lemos e demais burocratas da Educação, todos acham que bastará propagar a ideia de que o PCP manipula os estudantes para terem razão e poderem manter as políticas contestadas. Como se o PCP (se por acaso estivesse por trás da organização dos protestos dos estudantes) não tivesse toda a legitimidade de fazer política e enfrentar o governo em todas as frentes que julgue necessário e seja legítimo.

Ao achar que jovens dos 14, 15, 17 anos não são capazes de sozinhos comprar caixas de ovos, precisando antes que um partido político vá descobrir e desviar os ovos de algum cofre-forte de supermercado e lhos distribua em sessões de treino em campos próprios para formação de manifestantes ― tipo talibã ― ao achar isso o governo cai no ridículo.

E com o ridículo cai a ministra da educação mais o senhor Lemos e tutti quanti, pois, de palhaçadas está Portugal farto.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

BOM DIA

Comecemos o dia com humor.

If the global economic crisis continues,
very shortly only two Banks will be operational,
the Blood Bank and the Sperm Bank!

Then these 2 banks will merge and it will be called

"The Bloody Fucking Bank".

Enviado via email por Erros de números.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O ABRUPTO DOENTE

JPP avisa aqui que só tem estado calado depois da eleição de Obama por se encontrar doente com infecção bacteriana (ou será viral? ― os vírus é que costumam dissimular bem a sua identidade).

"África Minha" deseja-lhe francas e rápidas melhoras.