Então como é?
Se o Estado tem tudo organizado e “manipulado” ― polícias armados; tribunais; polícias secretas; informadores, bufos e pides de toda a espécie ―; por que razão não hão-de os alunos ao menos organizar-se e convocarem-se por SMS e email para formalizarem os seus protestos, com todo o direito de os fazerem, por mais absurdos que ao poder pareçam!
Porque há-de o Governo querer sempre ver nas manifestações de cidadãos o dedo “manipulador” do Partido Comunista, à boa moda, aliás, dos tempos do fascismo de tão triste memória?
Neste país ― confirma-se ― ninguém aprendeu nada, ninguém aprende nada com o devir histórico e com os acontecimentos do quotidiano: os argumentos de hoje do secretário Lemos ou da ministra Rodrigues, ou do governo de Portugal, ou, ou, ou... são os mesmos argumentos de José Hermano Saraiva nos tempos de Salazar; de Veiga Simão nos tempos de Marcelo Caetano; de Couto dos Santos nos tempos de Cavaco. Não há a mais pequena novidade nisso; a mais pequena evolução:
«É o Partido Comunista que está a orquestrar o protesto dos estudantes».
Todos vêm na manifestação dos alunos o dedo manipulador do Partido Comunista em vez de compreenderem que os alunos também têm massa cinzenta, sabem reagir por si ao que os afecta, sabem usar (e de que maneira) as novas tecnologias (e o Magalhães, senhores, o Magalhães) para se comunicarem e não precisam por isso que venha o PCP dizer-lhes o que fazer e como fazer.
Mas mesmo que o PCP, através das suas organizações para a juventude, estivesse por trás das manifestações de protesto dos alunos, isso não seria razão suficiente para o governo as condenar liminarmente ignorando com isso as razões desses protestos.
Mas não, o senhor Lemos e demais burocratas da Educação, todos acham que bastará propagar a ideia de que o PCP manipula os estudantes para terem razão e poderem manter as políticas contestadas. Como se o PCP (se por acaso estivesse por trás da organização dos protestos dos estudantes) não tivesse toda a legitimidade de fazer política e enfrentar o governo em todas as frentes que julgue necessário e seja legítimo.
Ao achar que jovens dos 14, 15, 17 anos não são capazes de sozinhos comprar caixas de ovos, precisando antes que um partido político vá descobrir e desviar os ovos de algum cofre-forte de supermercado e lhos distribua em sessões de treino em campos próprios para formação de manifestantes ― tipo talibã ― ao achar isso o governo cai no ridículo.
E com o ridículo cai a ministra da educação mais o senhor Lemos e tutti quanti, pois, de palhaçadas está Portugal farto.