sábado, 22 de novembro de 2008

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO SEXTA:

Abordando pedagogicamente alguns dos novos “ópios do povo”:


“O crescimento é um sedativo que sufoca a contestação,
permite aos governos evitar o afrontamento com os ricos,
impede construir uma economia justa e durável. O
crescimento permitiu a estratificação social que o próprio
Daily Mail (quotidiano conservador) deplora presentemente”.
George Monbiot no The Guardian. Artigo publicado no
The Guardian e retomado no Courier International de 2
a 9 de Janeiro de 2008.



Na sua lúcida e acutilante crítica da “Filosofia do direito” de Friedrich Hegel (1770-1831), no ano de 1844, Karl MARX fazia da religião o “ópio do povo”, isto é, um poderoso antálgico, permitindo aos seres humanos suportar a sua miserável condição com a esperança de um hipotético além.
De feito, se a Religião desempenha ainda este papel, todavia, com a Secularização da Sociedade, perdeu o monopólio de guardião da Paz Social, pois que, efectivamente outras fontes de esperança factícias, de ilusões, de exutórios, de toda espécie, se desenvolveram, ou melhor dito, apareceram, de que maneira e, em autêntica catadupa.
Credulidade, inveja, facilidade, gregarismo…as debilidades humanas são exploradas para desviar o espírito dos cidadãos dos reais problemas, para mobilizar a sua atenção respectiva sobre questões secundárias, insignificantes ou fúteis, para os arredar, ao fim e ao cabo, dos verdadeiros problemas.

Posto isto, vamos então, abordar alguns dos novos “ópios do povo”, independentemente do álcool, do tabaco ou das drogas “clássicas”. Assim, temos:

(1) Lotaria e demais outros jogos de azar:
De feito, com uma aposta módica e uma igualdade das oportunidades, constituem um sucedâneo de “democracia”. A probabilidade de ganhar milhões e um lugar ao sol é ínfima, salvo para o Estado ou para os que os organizam.

(2) O Desporto Espectáculo
Na verdade e, sem sombra de dúvidas, aliás, o vínculo social que o “fenómeno” Desporto Espectáculo pretende urdir é ilusório. Pelo contrário, pelo fenómeno de “meutes sportives”, o desporto espectáculo exacerba as paixões exclusivas, o chauvinismo, a exclusão e o narcisismo colectivo. Porém, constitui, sobretudo, um poderoso meio para canalizar as pulsões de revolta e subtrair as consciências das causas reais da miséria, das desigualdades e da injustiça.

(3) A Televisão:
Suportada por interesses financeiros e mercantis, a Televisão transforma o telespectador em consumidor. E, para captar a sua atenção, propõe uma agressão visual que progressivamente reduz as capacidades cognitivas e, não só…

(4) Os Jogos Vídeos:
Assevera-se que as crianças e os adolescentes sabem estabelecer a diferença entre a ficção e a realidade. E a que ponto, todavia? Os fenómenos de adição da qual são vítimas os adolescentes e os jovens adultos, já não são a demonstrar, obviamente. Os jogos, sem fim, são concebidos para estimular a vontade e o apetite de jogar sempre, o máximo de tempo possível, correndo o risco de dependência e de isolamento social que isto acarreta, como acontece, aliás, com as drogas clássicas, facto, bem conhecido, hodiernamente, em todo o Mundo, sem excepção…

(5) Os mundos virtuais:
Com efeito, estes mundos artificiais por INTERNET acolhem comunidades de utilizadores que vivem uma “outra vida”, sob forma de autêntica metamorfose com todo o seu cortejo de consequências, sobremaneira nefastas. Demais, outrossim, como os vídeos, os mundos virtuais são, assaz consumidores de tempo e susceptíveis de coarctar toda e qualquer tentativa válida conducente, ipso facto, a um encarar, de modo dialecticamente consequente, a árdua realidade, enformando, em substância, o “verdadeiro” Mundo Humano.

Enfim, rematando, um tanto ou quanto, pertinentemente, não há dúvida nenhuma, que urge se emancipar, na verdadeira e genuína acepção do termo e da expressão respectiva, permanecendo, mestre e dono do seu próprio tempo livre de consciência. Eis, sim, efectivamente, um dos grandes reptos/desafios da Humanidade, neste dealbar, assaz conturbado, do nosso Século XXI, despontando, sob o Signo da Incerteza…

Lisboa, 20 de Novembro de 2008.
KWAME KONDÉ