quarta-feira, 26 de novembro de 2008

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO Sétima:

A BIOMEDICINA como Cultura:


Duas “marcas” para Principiar adequadamente:
A Cultura é um bem fundamental, necessário, ipso facto, à Vida e ao Crescimento do Homem. Sim, na verdade, um Património comum do qual todas as pessoas recebem e para o qual todos contribuem.
Eis porque, de feito, cada cultura é chamada a abrir-se et pour cause, ao diálogo inter-cultural e ao Encontro com a Plenitude Existencial…
Por seu turno, o lexema Biomedicina (bio+medicina), no plano etimológico, busca, fundo, as suas origens em: bio do grego bios, ou “vida” e medicina do latim: medicina, ae (sc. Ars), arte de curar. E, quiçá, evidentemente, por outras palavras, contudo, sem “perverter” obviamente, a sua noção/conceito de fundo, se assume como Medicina Clínica baseada na aplicação dos Princípios das Ciências, em especial, designadamente:
Biologia
Bioquímica
Bioengenharia
Biofísica e
Biotecnologia.

Sim, efectivamente, a BIOMEDICINA, se encontra, em plena revolução desde o início do Século XIX. A partir de 1846, os cirurgiões utilizam a anestesia pelo éter sulfúrico. Põem ulteriormente em prática a anti-sepsia, preconizada (entre 1867 e 1871) pelo cirurgião inglês Joseph LISTER (1827-1912) e a assepsia, em 1886, pelo químico e biologista/biólogo francês, Louis PASTEUR (1822-1895). Eis porque, a Cirurgia revolucionou com o facto, enquanto o fisiologista francês Claude BERNARD (1813-1878) dá a derradeira demão ao Método experimental e dezenas de médicos de grande talento aperfeiçoam dextramente a Clínica e o seu exercício respectivo.
Deste modo, o conhecimento do vivo se diversifica, por toda a parte. E, no âmbito desta dinâmica, vetustas instituições – a Faculdade de Medicina, o Hospital – são reorganizadas.

(2) Donde e daí, resulta, evidentemente uma prática biomédica que já não tem nada a ver com as práticas de Saúde dos Europeus do Século XVIII. Os seus êxitos espectaculares asseguram a sua adopção, por toda a parte no Mundo. Entra, outrossim, por outro, em concorrência com as Medicinas vernáculas, as do curandeiro, do Xamã ou do algebrista de aldeia. De facto, a biomedicina veicula escolhas culturais, porquanto diz respeito à reptos/desafios de principal importância: a vida, o passamento/trespasse, o sofrimento, as práticas dizendo respeito ao corpo. Outrossim e, ainda, desconecta, em particular, o corpo dos seus sofrimentos do ambiente social e afectivo.

(3) Todavia, ao inverso, o Xamã e o curandeiro de aldeia não separam os sofrimentos do corpo dos eventos/acontecimentos da existência humana. Conhecem os seus azucrinamentos. Averiguam, tanto como, ainda por cima, acerca dos sofrimentos e dos órgãos afectados como relações à entourage, sonhos, devoções para com os deuses e os defuntos.

(4) Enfim e, em suma: Nas Sociedades europeias, o médico de família, do campo ou de bairro assumem o revezamento do curandeiro. Porém, esta função tende a desaparecer, a passos largos, sob a pressão da racionalização e da especialização das prescrições. Eis porque, efectivamente, as escolhas da BIOMEDICINA entram, por conseguinte, em emulação com as Medicinas vernáculas e daí, a sua “globalização” faz, por conseguinte, integralmente parte da “globalização” da Cultura.

Lisboa, 26 de Novembro de 2008.

KWAME KONDÉ