sábado, 30 de maio de 2009

sexta-feira, 29 de maio de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO QUADRAGÉSIMA PRIMEIRA:


---Não há dúvida nenhuma, que o mercado já não permite a produção de uma informação de qualidade. Eis porque, necessário se afigura concebê-la, no porvir como um autêntico Serviço Público. De feito, se a Informação continuar a ser tratada em jeito de uma mera indústria, como as demais outras, corre o risco de desaparecer num ápice, assim como, se parou o fabrico das diligências, quando toda gente passou a se deslocar, em viaturas, ou como presentemente (nos nossos dias), fenece a indústria do disco, em especial e, em particular, quando o público deixou de pagar para escutar e ouvir a música gravada.
Importante se impõe, consignar, com ênfase, que, na verdade, no âmbito de uma lógica industrial e financeira (na sua assunção assaz estulta), a Informação é, cada vez mais e mais, uma despesa inútil. Por outro, outrossim e, ainda, num grupo, sobretudo, se cotado na Bolsa, é o género de fábrica que se encerra para não oberar (onerar com dívidas) a rendibilidade e os resultados do conjunto.

Donde e daí, na nossa óptica e perspectiva, um dos Pontos relevantes do Debate à travar, no presente vivo e no futuro já próximo, dirá respeito à natureza dos órgãos de Informação.
E, no âmbito desta dinâmica, se impõe, considerar a questão seguinte:
--Devem os órgãos de Informação depender de empresas cotadas na Bolsa, de grupos familiares, de mecenas ou de fundos públicos? A resposta principia a ser avançada, visando satisfazê-la adequadamente.
E foi, efectivamente, ao concluir, de modo consentâneo, que o mercado já não podia financiar os grandes inquéritos que foi criada nos Estados Unidos da América a sociedade Pró Publica, uma agência de investigação dirigida pelo ex-director (como chefe) do Wall Street journal, Paul STEIGER.
Outrossim, de referir, que financiada por mecenas (os multimilionários Herb e Marion SANDLE) se outorgou por objectivo fornecer inquéritos aprofundados aos Médias que já não possuem os meios de os financiar sozinhos. De anotar, ainda, que, no âmbito desta dinâmica, o Center for Investigative Reporting de Berkeley e o Pulitzer Center on Crisis Reporting de Washington adoptaram identicamente, com meios mais modestos, uma démarche similar.

---A redefinição do papel das agências de Informação poderia, outrossim constituir uma outra pista excelente para ser explorada. Todavia, a conjuntura não parece das mais favoráveis. Eis porque, se afigura, pertinente e oportuno, conceber as agências de imprensa como serviços públicos de informação (na sua assunção e acepção respectiva, mais consequente) e à escala mundial, obviamente.

Antes de mais, vale a pena consignar, que as subvenções públicas aos jornais possuem efeitos assaz perversos. No entanto, em compensação, o financiamento público e, por que não, em parte privado de serviços públicos da informação poderia, caso fosse mutualizado, em grande escala, constituir uma das formas de continuar a produzir a informação necessária para a vida democrática.

Já agora, vale a pena, trazer à colação o exemplo da Associated Press, que é uma cooperativa, que permanece amplamente beneficiária e, desenvolveu, ipso facto, para os devidos efeitos, uma positiva e interessante estratégia comercial no atinente à Internet. De feito, ela extrai 17% dos seus rendimentos da Internet e, identicamente de programas televisivos.
De referir, outrossim e, ainda, que muitos sites Internet e de fornecedores de acesso têm necessidade, mesmo, se for apenas para fornecer alguns títulos e algumas linhas de texto num telefone ou num BlackBerry, destas informações cuja a lenta, porém, inexorável, desaparecimento dos jornais acabará por os domesticar e amansar. Preferirão, aliás, obviamente, os comprar às agências que os produzir eles mesmos.
E, já agora, como elucidação consentânea, temos que BlackBerry é um aparelho celular da Research in Motion, que possui funções de editor de textos, acesso à Internet, e-mail e tecnologia IPv6. É o aparelho que deu origem à categoria dos smartphones, sendo este, por seu turno, um telefone celular com funcionalidades avançadas que podem ser estabelecidas por meio de programas executados no seu Sistema Operacional.

E, em jeito de Remate assertivo, há que convir, porém, que esta via, acima enunciada e expendida, merece ser investigada, visto que, não é, por conseguinte, o momento, como avançam alguns, de “privatizar”, isto é, de entregar às únicas leis do mercado às grandes empresas de Informação, por motivos óbvios.
Demais, sabemos que existem serviços públicos de Educação ou da Saúde, por que não, imaginar um Serviço Público da Informação, independente dos poderes públicos e sem funcionários?...Donde e daí, vale a pena, consignar, que a vetusta BBC fornece, a este propósito, um outro modelo muito interessante, que vale a pena conhecer, visando uma reflexão, dialecticamente consequente.
Vejamos, então, em síntese apropriada, o seguinte:
A BBC é a maior empresa de rádio teledifusão no Mundo, que emprega aproximadamente vinte e nove mil pessoas. Desenvolveu, desde já alguns anos, serviços, em linha, de elevadíssima qualidade.
É administrada por um “Trust”, ou conselho de vigilância, formado por doze membros designados pelo governo após um longo debate público e contraditório, cuja a missão é de representar os interesses do público e de velar pela qualidade e pela independência respectiva dos programas.
É dirigida praticamente por um conselho executivo, composto por dezasseis directores, sendo o director geral designado pelo trust, os demais outros escolhidos por um comité das nomeações.
No âmbito do financiamento é financiada por pagamento (em prazos fixos) e sem publicidade, no Reino Unido. Em contrapartida, no estrangeiro, o financiamento é, em parte comercial. O serviço mundial (BBC World) recebe uma dotação/doação do Foreign Office.
Finalmente, importante, consignar, com ênfase, que a Independência da BBC, garantida por uma “carta real”, não é discutida, mesmo se as suas escolhas e as suas actividades constituem um elemento permanente do debate público. Estando, enfim, a sua missão: “informar, educar e distrair”, acima de tudo, oficialmente assegurada.

Lisboa, 26 Maio 2009
KWAME KONDÉ
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terça-feira, 26 de maio de 2009

COISAS À LA MICROSOFT

Não há a mais pequena sombra de dúvida: o Windows 7 é uma lufada de ar fresco que a Microsoft dá nos seus sistemas operativos que já contam com o Windows XP e o Windows Vista, entre outros dois para dispositivos móveis pequenos (pocket PCs e telemóveis).

Mas lançando sete versões (7) do Windows 7 e impondo restrições à sua instalação, como as que se pode constatar aqui neste artigo, a Microsoft arrisca-se a ter mais um flop de vendas tal como aconteceu com o Windows Vista de má memória; mas agora o flop não se deverá à inépcia, lentidão e complicação inerentes ao próprio sistema, mas tão só à confusão que se instalará na mente e nas carteiras dos potenciais clientes ― «agora parece-me bem comprar este, mas depois posso achar que preciso mas é daquele; e agora! o que fazer?» ― perguntará o cliente do Windows 7.

Arrisco a vaticinar que (a não haver pirataria da versão Ultimate) os Geeks continuarão a usar o XP.

Eu, por mim, continuarei!
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NA MOUCHE


ESTE SIM
É UM CARTAZ DE CAMPANHA ELEITORAL
QUE JÁ QUER DIZER ALGUMA COISA
(Montagem concebida por wehavekaosinthegarden)
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KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO QUADRAGÉSIMA:

(a) Na verdade e, na realidade, os anunciadores desertam, a pouco e pouco, os jornais. Toda gente se constrita e receia pela sobrevivência da imprensa escrita. Todavia, não constitui, quiçá o pior. De feito, para além da crise da imprensa, é a própria informação (em si mesma) que está comprometida.
Com efeito, o desaparecimento dos jornais, não constituiria uma catástrofe, se as demais outras modalidades da informação, designadamente na Internet, as substituísse. No entanto, ora aí está! De facto, por detrás da abundância das informações na Web, a multiplicação dos sites e dos jornais gratuitos, a onda dos comentários de todas espécies e feitios, malfadadamente, se nos depara a existência do empobrecimento dos conteúdos.
Eis nos, ante um eloquente círculo vicioso!
De feito, quanto mais se banaliza, menos a informação interessa os leitores, designadamente os jovens e, ipso facto, muito menos atrai o financiamento da publicidade. Enfim e, em suma: não deixa de ser necessário, questionar se os anunciadores, que abandonam a imprensa escrita, têm necessidade da informação, sobretudo, na sua acepção genuína do termo e da expressão. Eis o verdadeiro cerne do problema!
(b) Trata-se, efectivamente, de um assunto assaz crucial. Diz respeito às condições de existência do debate democrático e, por outro, ameaça de uma ruptura histórica com a época hodierna, a que iniciava quando o lendário político norte-americano, Thomas JEFFERSON (1743-1826), um dos avoengos fundadores da Democracia norte-americana, podia asseverar, que se pudesse escolher entre a sobrevivência de um governo e a de uma imprensa livre, escolheria esta derradeira opção. No entanto, o que é facto é que presentemente, esta Liberdade de escolha não se encontra assegurada.
(c) A Publicidade, na sua pujante assunção dinâmica, permitiu o desenvolvimento dos Médias de massa, a principiar pelos Diários/Quotidianos vendidos a centenas de milhares, até mesmo, milhões de exemplares no término do século XIX. De anotar, aliás, que a sua migração para outros suportes, poderia significar, não unicamente o fim dos jornais, outrossim, porém, a secagem do terriço, onde se escreve a informação de qualidade, esta “história do dia-a-dia”. De feito, não há dúvida nenhuma, que uma tal queda/ruína tornaria assaz difícil para os cidadãos, a possibilidade de efectuar escolhas documentadas e, outrossim, para os seus dirigentes conhecer e saber a história que edificam.
(d) Antes de mais, se afigura, quão pertinente e quão oportuno, precisar adequadamente, o conteúdo de verdade, que carreia, em substância o lexema/vocábulo Informação. E, explicitando, temos então:
---Segundo um bom número de profissionais dos médias e a maioria dos responsáveis económicos, a informação seria um produto como um outro qualquer e, porque não, uma matéria-prima em que um mercado fixaria o preço corrente.
---Por outro lado, se produza milho ou que se dá conta das notícias do Mundo e da Sociedade, não haveria diferença, ou seja (melhor dito) a indústria dos médias deveria corresponder a idênticos critérios de rendibilidade como todas as demais outras.
Enfim e, em suma: o produto deveria se adaptar sempre às condições económicas do mercado, porquanto as médias, só mereceriam existir, caso afiancem, bastante retorno sobre o investimento, aos seus proprietários e aos seus accionistas respectivos.

(e) Demais, não é, por conseguinte, por um mero acaso, que se o vocábulo/lexema “média” foi popularizado pela indústria da publicidade, que raciocina em termos de “suportes” susceptíveis de veicular os seus anúncios. De feito, para o publicista, que o “média” seja feito a base de informação, distracção, serviços de toda outra actividade susceptível de atrair público, para ele, quase nada faz de diferença.
(f) E, rematando assertivamente, com efeito:
a. O prospecto colocado na caixa de correio;
b. O site de Internet de encontros;
c. A plataforma de jogos vídeo ou
d. O quotidiano sério adquirido no quiosque,
Tudo isto é “média”, efectivamente. O intermediário entre o produtor e os consumidores.
Finalmente, de consignar, que, cada vez mais e mais se impõe medir a confusão e a necessidade de neutralizar os termos para os poder reutilizar apropriadamente, pois que, evidentemente, denominar significa definir e fazer existir, sim significa outrossim escolher.

Lisboa, 23 Maio 2009
KWAME KONDÉ
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sexta-feira, 22 de maio de 2009

HOMENAGEM A JOÃO BÉNARD DA COSTA


Vai hoje a enterrar um homem verdadeiramente singular e altamente valioso cuja falta à cultura portuguesa muito dificilmente será colmatada.

De escrita suculenta, sedutora e bela; por vezes lúdica como os filmes que nos ensinava a ver; por vezes mesmo extasiante, João Bénard da Costa deixa-nos órfãos de quem soube como mais ninguém neste mundo transmitir o gosto pelo cinema aos demais.



Ele o disse várias vezes, em várias entrevistas ― o seu filme preferido era Johnny Guitar, e apreciava sobretudo a parte em que Peggy Lee interpreta a canção com o nome do filme ―. A rádio não se esqueceu disso e tem-nos dado a ouvir essa belíssima canção que aqui trazemos para deleite dos nossos leitores.

Clique em baixo em "Play full song here" e vá ao site da música ouvi-la integralmente. Vale muitíssimo a pena. Não perca este momento.


Johnny Guitar - Peggy Lee
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quinta-feira, 21 de maio de 2009

«EU ASSINO POR BAIXO»



ELES ANDAM MAS É A BRINCAR ÀS CAMPANHAS
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KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO TRIGÉSIMA NONA:


Um ponto prévio:

No grande Dicionário dos egrégios Eventos humanos, a Globalização se assume como uma interdependência crescente no Mundo em geral e a formação de Instituições globais.
Todavia, o insigne Professor universitário norte-americano, de Sociologia, na Universidade de Columbia, outrossim, membro do Comité para o Pensamento Global, Saskia SASSEN demonstrou que a Globalização implica duas dinâmicas particulares, nomeadamente:
---A primeira induz a formação de Instituições e de processos explicitamente globais, como a Organização do comércio (OMC), os mercados financeiros, o novo cosmopolitismo e os tribunais internacionais para os crimes contra a Humanidade. Enfim, tantas demais outras formações que se inscrevem, não obstante, parcialmente à escala nacional.
---A segunda dinâmica, conquanto seja outrossim constitutiva, opera numa outra escala. E, no âmbito desta dinâmica redes inter-fronteiriças se envidam em lutas especificamente locais, porém, com um objectivo global, como as organizações humanitárias e de protecção do ambiente. Num número crescente de países, os Estados e os seus respectivos governos, não vítimas, sim, actores conscientes da globalização, se esforçam em implantar as políticas monetárias e fiscais indispensáveis para a constituição de mercados financeiros globais, frequentemente sob a pressão irresistível do Fundo monetário internacional (FMI), até dos USA. Ou sobremaneira ainda, os tribunais nacionais fazem uso, doravante (para o futuro) de instrumentos jurídicos internacionais, designadamente: Direitos do homem, critérios internacionais de protecção do ambiente e regulamentações da OMC para tratar problemas que, eram resolvidos, outrora, com instrumentos jurídicos oriundos da sua própria lavra.

(A)— Não há dúvida nenhuma, que a globalização económica, política e cultural é um processo transnacional.
De feito, o global que assume a forma de uma instituição, de um processo, de uma prática desconexa ou de uma criação imaginária transcende o quadro exclusivo dos Estados nacionais, concomitantemente, que investe instituições e territórios nacionais. Donde e daí, que encarada sob este ângulo, a globalização representa mais que a noção corrente de uma interdependência crescente no mundo, em geral e, do que a própria formação das instituições globais.

(B)— Todavia, se o global investe parcialmente no nacional, torna evidente que a globalização, sob as numerosas formas, coloca directamente em questão dois postulados fundamentais, no âmbito das Ciências Sociais, a saber:
---O primeiro é o postulado explícito ou implícito que o Estado nação é o continente (que contém) do processo social.
---O segundo é a correspondência subentendida do território nacional e do nacional. Melhor dito: a suposição/conjectura segundo a qual uma condição ou um processo situados no cerne de uma instituição ou num território nacional é necessariamente nacional.
Os dois postulados, ora enunciados e expendidos descrevem as condições que prevaleceram, conquanto jamais plenamente, no decurso de uma grande parte da história do Estado moderno, particularmente desde a Primeira Guerra Mundial e, numa determinada medida, continuam a prevalecer. Todavia, de sublinhar, que o que difere actualmente, é o facto que estas condições existem parcialmente, porém, activamente desmembradas, porquanto, o que mudou, outrossim, é a extensão deste desmembramento.

(C)---Na leitura, que avisadamente faz o Professor, SASSEN da globalização, o termo em análise e estudo, pressupõe duas séries de dinâmicas. Ou seja:
Uma primeira que diz respeito à formação de instituições e de processos explicitamente globais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), os mercados financeiros globais, o novo cosmopolitismo e os tribunais internacionais para os crimes contra a Humanidade:
E, explicitando adequadamente, temos que as práticas e as formas de organização através das quais tais dinâmicas operam constituem o que é especificamente concebido como global. Entretanto, estas formações novas e indubitavelmente globais são movimentadas parcialmente à escala nacional.
Já, no atinente, a segunda série de dinâmicas inclui os processos que não estão necessariamente situados numa escala global, que fazem, porém parte da globalização. Por seu turno, estes processos, em seu lugar, no cerne dos territórios e dos patrimónios institucionais que foram muito amplamente concebidos, em termos nacionais no Mundo, mesmo se encontra, em toda parte, longe disso, pelo contrário.
Os processos, ora enunciados, situados em ambientes nacionais – infra nacionais, identicamente – são parte integrante da globalização na medida em que empregam redes transnacionais e entidades que conectam múltiplos processos e actores locais ou “nacionais”, ou ainda manifestam a recorrência de certos e de determinados problemas ou dinâmicas, num número crescente, de países ou de localidades. Estamos a referir, concretamente, nas seguintes dinâmicas e processos:
---As redes inter-transfronteiriças de activistas apostados nas lutas especificas locais com um objectivo global explícito ou implícito, tais como as organizações humanitárias ou de protecção do ambiente;
---Aspectos particulares da acção governamental dos Estados, à começar pela implantação de determinadas políticas monetárias e fiscais, num número crescente de países, frequentemente sob a pressão irresistível do Fundo Monetário Internacional (FMI) e, outrossim dos USA, porquanto julgadas indispensáveis para a constituição de mercados financeiros globais;
---Outrossim e, ainda, os tribunais nacionais, que doravante (para o porvir) utilizam instrumentos jurídicos internacionais, designadamente: direitos do homem, critérios internacionais de protecção do ambiente e regulamentos da Organização Mundial do Comércio (OMC) para tratar de problemas que, outrora seriam resolvidos com instrumentos jurídicos nacionais.
---Não deixa de se afigurar pertinente e oportuno, incluir também, condições emergentes mais intangíveis, nomeadamente, as formas de políticas e de imaginários que estão concentrados sobre questões locais, partilhadas por demais outras localidades em torno do Mundo, com participantes, cada vez mais e mais, conscientes desta situação. Trata-se de uma situação quão singular e quão particular, que o Professor SASSEN denomina apropriadamente por Globalidades não cosmopolitas.

Enfim e, em suma: Ou seja: conceber a Globalização não meramente em termos de interdependência e de instituições globais, outrossim, porém, em termos de presença no seio do nacional, implica, ipso facto et pour cause, que seja definido para as Ciências Sociais, um vasto programa, no âmbito da Investigação e de pesquisas amplamente menosprezadas, até agora, ainda, nos nossos dias, infelizmente. E, tendo em conta, a actualidade desta temática e problemática respectiva, convém segui-la, de bem perto, aliás, de muito, muito bem perto…

Lisboa, 20 Maio 2009
KWAME KONDÉ
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segunda-feira, 18 de maio de 2009

UMA SECA DOS DIABOS

Assim como a falta de chuvas seca os ribeiros e greta a terra tornando-a árida, assim também a falta de ideias tem assolado, estiolado e empedernecido a mente deste blogueiro, pelo menos por estes dias mais próximos.

Rezo para que Deus me ilumine para poder manter este projecto vivo e produtivo.

E ageradeço do fundo do coração ao meu querido amigo F. Fragoso a precisosa colaboração que em tão boa hora resoveu prestar-me.
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KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO TRIGÉSIMA OITAVA:
(B):

Prosseguindo o nosso Estudo iniciado na nossa “posta” anterior, se nos afigura pertinente, asseverar, que aos Europeus não faltavam recursos intelectuais que lhes teriam permitido edificar, como os Americanos e os Asiáticos, uma enorme indústria de bens informáticos, incluindo os componentes e os produtos finais. Pelo contrário, a robusta presença europeia na edição de softwares demonstra que os cérebros europeus não menosprezaram a revolução informática. Na verdade, todo o engenho que consegue construir o utensílio conceptual, deve poder, com certeza, construir o utensílio material que fará o seu uso apropriado.
Eis porque, a debilidade da Europa é imputável aos seus empresários e aos seus managers respectivos, jamais (de modo algum) encorajados pelos seus Estados respectivos que já tinham abandonado o terreno da política industrial. De feito, nenhuma empresa nova se aproveitou deste novo jazigo de actividades e de proveito. Precedente lastimável! Hélas!...
Enfim, de sublinhar, que não unicamente os europeus não asseguraram que os bens oriundos das suas descobertas eventuais fossem executados em demais outros continentes ignoraram, porém, se empresários e managers capazes poderão se apropriar destas descobertas para disso derivar aplicações económicas úteis.

O terceiro jazigo importante, potencialmente ilimitado, de produções manufactureiras, se encontra representado pelo abastecimento do sistema de Saúde. Neste sentido, basta recordar os três factores que determinam o dinamismo constante da procura correspondente. Ou seja:
--Primeiro factor, a esperança de vida, quase em toda a parte do Mundo, se eleva. A insistência excessiva com a qual se evoca o envelhecimento da Europa, da América e do Japão faz olvidar que a esperança de vida dos Indianos, de trinta anos na altura da proclamação da Independência, mais que duplicou e que a dos Tunisinos se encontra em condições (em situação) de se encontrar com a dos Europeus. Este único facto, ora enunciado, implica uma multiplicação das produções farmacêuticas e médicas.
--Segundo e terceiros factores: o aperfeiçoamento indeterminado dos meios terapêuticos e de diagnóstico e, outrossim, as exigências crescentes das populações para o seu conforto de vida.
Eis, efectivamente, um domínio de produções fabris que até mesmo um visionário alucinado da sociedade pós-industrial não pode tratar com desdém. Demais, sob a nobre denominação de “Biotecnologias” as fabricações correspondentes figuram na primeira fila das preocupações estratégicas dos Estados europeus.
Não há dúvida nenhuma, que a Europa poderia no porvir produzir, em quantidades crescentes, a maioria dos bens solicitados pela Saúde das populações. Se compreende, assim, pela evocação destes três domínios, que as perspectivas da produção de artigos manufacturados permanecem favoráveis. Seria necessário acrescentar, com toda lógica, a produção de todos os utensílios/ferramentas que ela exige.
Com efeito, os equipamentos especializados necessários para fabricar os televisores de ecran plat, os computadores pessoais com os seus delicados mecanismos interiores, as vacinas ou os anti-diabéticos constituem um segundo jazigo de actividades que os Europeus devem tentar produzir, tanto quanto podem.
No cômputo geral e, no total, as perspectivas de actividades dos sectores manufactureiros sustentam a promessa de uma manutenção global dos seus empregos a despeito dos ganhos de produtividade que, por seu turno, trazem como contribuição para o crescimento da produtividade global que condiciona a perenidade do desenvolvimento.

Lisboa, 16 Maio 2009
KWAME KONDÉ
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KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO TRIGÉSIMA SÉTIMA:
(A):

No âmbito desta nova economia, mais extrovertida e mais cooperativa, a vetusta produção manufactureira continuará ocupar um lugar de primeiro plano. De feito, compulsando os verdadeiros números disponíveis, porém cuidadosamente dissimulados ao público, por uma maioria dos economistas, nos indicam um conjunto de factos, assaz relevantes, que apoiam a tese, acima avançada e enunciada.
Se não vejamos:
---Indicam primeiramente, que o consumo de produtos manufacturados se incrementa a um ritmo activamente veloz que permite um aumento correlativo da produção destes bens.
---Indicam, em segundo lugar, que a produção correspondente se transfere para outros sítios de produção como os sítios, onde são consumidos.
E, por outras palavras (para melhor dizer), a decadência aparente dos sectores manufactureiros nos países desenvolvidos, que serve de argumento principal aos defensores da sociedade pós-industrial, encontra a sua primeira explicação não num fenómeno estrutural de substituição dos serviços na indústria, sim, na livre troca mundial e na desindustrialização que resulta para determinadas grandes regiões económicas.

Prosseguindo este nosso Estudo ensaístico, o primeiro ponto que merece sublinhar, é o que se prende com o dinamismo da procura de artigos manufacturados. A sociedade de consumo de massa não esgotou o desejo compulsivo de adquirir estes bens em quantidade crescente. Jamais se comprou tantos bens manufacturados e tantas espécies dissemelhantes. Os produtos novos e os produtos antigos renovados encontram suficientemente compradores para imprimir um ritmo sustentado para o incremento do seu consumo em todos os países, onde a procura global não se encontra em estado de anemia pela debilitação demográfica ou pela compressão dos rendimentos.

Efectivamente, poderia constituir uma surpresa. A segunda revolução industrial é já quão prístina e quão vetusta. De feito, os grandes produtos novos aos quais originou atingiu a quase plenitude das suas aplicações comerciais no decurso da segunda metade do século XX passado. E, eis porque, se nos depara o seguinte cenário:
---Os parques de automóveis dos países desenvolvidos atingem extremos que serão dificilmente ultrapassados;
---Os robots domésticos que invadiram os lares dos países ocidentais após a guerra, quase em nada, podem ser desmultiplicados.
---As necessidades tradicionais providos pelos sectores do vestuário, do têxtil, do calçado, do mobiliário estão amplamente munidos.
---O consumo de bens alimentares realizados por empresas industriais só evolucionará debilmente.
---A procura de utensílios/ferramentas para uso doméstico se incrementa sempre, porém, sem abrir um novo e vasto mercado.
Todavia, de consignar, que na sociedade do saber, a leitura baixa e as vendas de livros se diminui com a mesma.

De anotar, que, todavia, três grandes categorias de produtos de consumo têm constituído o essencial da procura nova, designadamente:
--Produtos electrónicos,
--Produtos informáticos e,
--Produtos farmacêuticos ou médicos.
No entanto, realmente, se o consumo global de artigos manufacturados para consumo permanece francamente positivo, é graças à obstrução da qual beneficiam as duas primeiras categorias e graças à procura de Saúde e de conforto físico que outorga proveito à terceira.

Os Asiáticos compreenderam-no assaz bem. Eis porque, quando se tratou para eles de entrar na arena internacional, conquanto, muito atrás dos seus predecessores da Europa ocidental e da América, fizeram dos bens electrónicos um domínio de predilecção. E, pressentindo, por outro, a importância decisiva deste sector da procura, conscientes que a realização dos bens correspondentes reclamava aptidões particulares da mão-de-obra em que as suas populações preenchiam os critérios, consagraram-lhes, logo à primeira vista, uma ampla proporção dos seus investimentos e da sua investigação respectiva.
Foi, evidentemente, sobre estes bens, ao mesmo tempo, como outrossim, sobre as produções mais tradicionais do automóvel, da siderurgia e da construção naval, que o Japão em primeiro lugar, os Dragões asiáticos ulteriormente edificaram o seu desenvolvimento internacional e os seus excedentes comerciais. Continuam, aliás, a tirar proveito disso no seio de um mercado mundial, donde quase desapareceram os concorrentes europeus e americanos.
Deste modo, o primeiro jazigo de procura de artigos manufacturados no Mundo sofreu actualmente o monopólio colectivo da Ásia industrializada. Demais, enquanto os economistas vaticinam acerca do tema da sociedade pós-industrial, desembarcam, dia após dia, nos portos da Califórnia ou nos da Europa ocidental, milhões de objectos electrónicos realizados na Ásia, onde, amiúde foram outrossim concebidos.

Posteriormente, os bens informáticos, (convém não confundir com os precedentes), enquanto as estatísticas comerciais os amalgamam, entraram, em determinadas circunstâncias, brutalmente no campo do consumo dos lares, após terem estado bastante tempo confinados ao domínio profissional.
A procura de computadores pessoais pelos lares junta-se em breve a das empresas. De anotar, que as duas procuras se incrementam, aliás e, por outro lado, anualmente de um montante igual a 10%, em quase todos os países, inclusive os melhores equipados. Com efeito, sem cessar, aparecem novas aplicações destes instrumentos de lazeres, de informação ou de trabalho.
Na verdade, a Humanidade se encontra sempre na fase de apropriação do computador e não se inquietam com o risco de uma saturação do mercado. Todavia, o que deveria constituir um factor de optimismo não é para os Europeus, visto ter faltado o tournant industrial do computador pessoal. Singular enfraquecimento quando se verifica que os Americanos, tão preocupados, geralmente em deslocar as produções fabris correntes, produzem estes bens em quantidades massivas, enquanto, aliás, as raras incursões dos Europeus neste enorme mercado abortaram. De consignar, de feito, que não existe nenhuma marca europeia de computador pessoal. Eis porque, deste modo, toda a procura adicional deste bem é realizada pelos importadores.

Lisboa, 15 Maio 2009
KWAME KONDÉ
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quinta-feira, 14 de maio de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO TRIGÉSIMA SEXTA:


Não há dúvida nenhuma, que a hipótese de um desaparecimento do essencial dos jornais papel e da subversão da produção da informação, cada vez, mais e mais, se assume, em força, no horizonte dos futuros grandes Eventos humanos, que, ipso facto, e, por razões e motivos óbvios, se impõe estudar, consentânea e apropriadamente, em tempo útil e oportuno.
Sim, efectivamente, toda a gente reconhece que a imprensa está “em crise”. Todavia, como para os mercados financeiros, só se trataria, reformando a regulação, como sentenciam os responsáveis pela situação… Ou seja:
Melhorar a distribuição, se diminuir os custos da produção,
Recapitalizar os grupos de imprensa,
Desenvolver os sites Internet,
Reorganizar os apoios,
Deste modo, as pessoas precipitar-se-ão, de novo, nos quiosques para comprar os seus jornais…Enfim…Hélas!

Com efeito, afirmar, muito e, porque não, demasiadamente que não é necessário jouer as Cassandras, se terminou por olvidar que o problema não estava na Cassandra, desgraçada condenada a repetir uma verdade que o seu povo não queria ouvir e escutar, porém, os Troianos, que não a davam crédito, quando ela lhes anunciava a destruição da sua cidade. Todavia, o que é facto é que a denegação da realidade não impediu, antes pelo contrário, a morte de Tróia, tanto como (não mais que, obviamente), não evitará a falência dos jornais.
Demais, de sublinhar, que esta atitude de denegação não diz respeito, unicamente à imprensa. Verificou-se com os economistas e com os responsáveis políticos ante à crise financeira e económica. Eles, outrossim, repetiam inlassablemente au fil des mois, fórmulas apaziguadoras, do género, designadamente, “a crise se encontra atrás de nós”, “o perigo sistémico foi conjurado” e de demais afirmações e quejandos estultamente panglossianos.

Antes de mais, vale a pena, por imperativo pedagógico, apresentar em síntese apropriada, o Ponto da Situação adentro desta problemática. Temos então:
---Uma ascensão em flecha da Internet, migração dos budjets publicitários e pequenos anúncios para médias electrónicos, desafeição do jovem público para a escrita, cultura do tout-gratuit…Tais são algumas das tendências pesadas enformadoras da revolução em curso, no âmbito da imprensa escrita.
---Dos Estados Unidos da América à Europa e, outrossim, à demais outros países do Planeta, se nos deparam uma indústria sinistrada, que se vendo duplamente desamparada pelo público e pelos anunciantes, já não outorga demasiados mercês para permanecer viável e, outrossim acumula os planos de rigor e os despedimentos, quando não estão na bancarrota.
De consignar avisadamente, que a ideologia “libertária”que acompanha o triunfo da Internet contribui, por vezes, para sonhar, com um outro modo de comunicar, melhor dito, constitui, frequentemente apenas um biombo atrás do qual se edificam poderosos monopólios económicos para os quais a informação é apenas um mero produto de chamamento entre tantos outros.
Enfim e, em suma: a revolução numérica das médias mascara, aliás, uma outra subversão, posta em marcha, muito antes da Internet, outrossim, porém, devastadora, cujos os efeitos se combinam doravante (de hoje, em diante, nos nossos dias, e, outrossim e ainda para o futuro): Sim, efectivamente, o interesse das nossas sociedades para a informação se carcome, corroendo fatalmente.

Todavia, o que é importante assinalar, com ênfase, é que, na verdade, os problemas da imprensa não podem e não devem, destarte, se resumir na existência ou não de “grandes grupos médias”, mesmo se os entraves legais à sua diversificação constituíram durante demasiado tempo, um autêntico handicap. De feito, a constituição de tais grupos não correspondem necessariamente aos desafios/reptos colocados à produção da informação. Por outro, a confusão entre o que se habituou a denominar “médias” e os órgãos de informação contribui sobremaneira para enredar, ofuscando os respectivos diagnósticos. Eis porque, se deve estar, necessária e seriamente inquieto, no atinente à sobrevivência da imprensa e “médias” de informação.
Estes vivem uma revolução de origens, assaz remotas, designadamente, desafeição e desconfiança dos leitores, concorrência das televisões, envelhecimento do leitorado, custos de fabrico elevados, etc. mas que, desde o tournant dos anos 2000, se acelerou bruscamente.
Na realidade e, na verdade, três novas revoluções se produzem quase concomitantemente, a saber:
---A generalização do numérico;
---A queda quão colossal e quão brutal do interesse das jovens gerações para a escrita e para a informação e,
---O abandono da informação como suporte privilegiado para a publicidade, o que exauriu a sua principal fonte de receitas.
Tudo isto, é bastante para comprometer a sobrevivência dos jornais, dos quotidianos, em primeiro lugar, quiçá, outrossim, porém da maior parte de médias de informação e, porque não, da informação de qualidade. Existe, evidentemente, uma massa crítica – de leitores, de receitas, de difusão – deste lado da qual tudo pode se desmoronar.

Quando uma revolução se produz, tudo deve ser repensado. O sistema de produção e de difusão da informação tal como conhecemos desde aproximadamente dois séculos atingiu um ponto de balanceamento. Dentro em breve já não será o que foi, efectivamente. Donde, já não se trata de reformar para continuar como antes, sim de reinventar. E, se as organizações da cena pública, onde se confrontam as opiniões, à luz dos factos enunciados, o mais claramente possível, é a própria possibilidade da democracia que deverá ser redefinida, evidentemente.

“La mutation des médias classiques vers le numérique
Prendra du temps et, pour la recherche de l’information,
Google est en train de rafler la mise »
Alain LÉVY, in Le monde, 21 juin 2008

Efectuar o diagnóstico, mais pormenorizado possível destas subversões e reflectir apropriadamente sobre as respostas que urgem ser elaboradas deve constituir a verdadeira e autêntica ambição de todos os cidadãos conscientes, sem excepção. Sim, efectivamente, entramos num período de “caos”, sendo o caos um mero período de experimentações e, não, das ilusões, obviamente. Eis porque, mesmo o sonho de uma transferência pacífica do “print para o Web”, a passagem do papel para a Internet, deve ser discutida quando “a rendibilidade dos sítios de infos sobre Net, como o escreve um excelente observador, parece tão impossível de achar que se atreve seriamente a afirmar que ela não será provavelmente encontrada antes muito, muito tempo”.

As transições, mesmo revolucionárias, duram, por vezes, muito tempo. Sabe-se, aliás, que é difícil admitir que um mundo se acabe, se resignar a ver desaparecer o que conhecemos durante toda a nossa vida. Repetir que um mundo sem jornais é inimaginável, não dispensa assumir a dimensão do problema, porém, sem se embalar em ilusões, para poder o fazer frente e, deste modo, encontrar novas vias.
Eis, de facto, o sentido da démarche que se deve privilegiar, no âmbito desta dinâmica, obviamente.
E, comungando pedagogicamente com o conceituado filósofo francês, Jean-Pierre DUPUY, tendo presente a sua célebre teoria do “catastrophisme éclairé”, se afigura pertinente e oportuno transcrever o seguinte: “Même lorsque nous savons que la catastrophe est devant nous, nous ne croyons pas ce que nous savons. Ce n’est pas l’incertitude qui nous retient d’agir, c’est l’impossibilité de croire que le pire va arriver”.
Enfim, de feito, é unicamente, considerando que a catástrofe é inevitável que se pode disponibilizar, a sério, os meios para se a opor, com eficácia consentânea.
Todavia e, sem embargo, o essencial é abrir o debate sem astúcia, melhor dito, sem aparência enganosa.

Lisboa, 12 Maio 2009
KWAME KONDÉ
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domingo, 10 de maio de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO TRIGÉSIMA QUINTA:


(II):

O Pensamento sengoriano conheceu no período da sua juventude um episódio de racismo, quão breve e, quão efémero, conceptualizado sob a famigerada fórmula sartriana designada de “racisme antiraciste”. De anotar, em jeito de precisão oportuna, que esta fórmula em apreço e análise, foi assumida, num determinado momento por SENGHOR e rejeitada noutras ocasiões, tais como, por exemplo, no seu discurso pronunciado, a 21 Abril 1961, na Sorbone. Nesse dia, SENGHOR, no atinente à referida fórmula asseverá que:”Sartre n’a pas tout à fait raison”. Todavia, opostamente, na sua obra Négritude et humanisme (1964, p. 8) SENGHOR se fez exacto, ou seja:”La Négritude – asseverou – n’est donc pas racisme; si elle s’est faite d’abord raciste, c’était par antiracisme, comme l’a remarqué Jean-Paul Sartre, dans Orphée noir ».

De feito, SARTRE tinha forjado esta noção, em 1948, no prefácio que escreveu para uma antologia da poesia negra e malgaxe organizada então por SENGHOR, em que outorgou uma interpretação dialéctica da ideologia nascente: “En fait – asseverá SARTRE – la négritude apparaît comme le temps faible d’une progression dialectique; l’affirmation théorique et pratique de la suprématie du Blanc est la thèse; la position de la négritude comme valeur antithétique est le moment de la négativité. Mais ce moment négatif n’a pas de suffisance par lui-même et les Noirs qui en usent le savent for bien ; ils savent qu’il vise à préparer la synthèse ou réalisation de l’humain dans une société sans race. »

De sublinhar, porém, o que podia ser denominado racismo antiracista em SENGHOR legitimava duas coisas, designadamente:
---Primeiramente, pelo facto de desde a primeira Guerra Mundial, a questão racial e, mais precisamente, a “questão negra” se politizou, apoiada nesta dinâmica, pela rejuvenescência intelectual do panafricanismo que se organiza desde o início do século e da revolução de OUTUBRO na Rússia.
Ulteriormente, porque, em torno, do ano de 1929, a ideia de consciência racial desenvolvida por revistas especializadas e, não só, outrossim, revezada, através de uma nova literatura negra em gestação, vai determinar posturas e atitudes reivindicativas e militantes voltadas para a busca ou para a conquista da dignidade racial ao nível da intelligentsia negra na Europa.

(III):

E, no âmbito desta dinâmica e perspectiva, em SENGHOR, que vai lançar com os intelectuais antilhanos, Aimé CÉSAIRE (1913-2008) e Léon Gontran DAMAS (1912-1978), respectivamente, o movimento da négritude a patir do ano de 1932, o culto dos valores da raça e do “sang noir” vai se traduzir numa Literatura que se prolongará, ulteriormente, em elaborações teóricas mais ponderadas.
E, outrossim, mais tarde, o teórico da négritude dirá: “Je le confesse, toute orgueil se transforma vite en racisme; il n’est pas jusqu’au nazisme qui ne fut accepté pour renforcer notre refus de coopération…Nous avions alors la sincérité de la jeunesse et de la passion ». SENGHOR in Pierre Teilhard de Chardin et la politique africaine, Paris, Seuil, 1965, p. 20 et sq.

Deste modo, como corolário lógico, SENGHOR instalará num racialismo não racista.
Eis porque, a sua problemática de civilização do Universal só podia resultar de um pensamento da exclusão, de preferência, porém da complementaridade. Esta problemática em questão será desenvolvida através de um recurso a metáforas agronómicas e ópticas.

SENGHOR principia, destarte, por se servir dos ensinamentos oriundos da lavra do humanista francês, o reverendo/padre Francis AUPIAIS (1877-1945), recorrendo a imagem do enxerto do “scion sur le sauvageon”. Será questão de “lumière” e de “nuit”, de “levain” necessário para a “farine blanche”. Todavia, é sobretudo o pensamento do padre Teilhard de CHARDIN que fornecerá a SENGHOR a trama teórica permitindo ordenar de modo coerente, as suas ideias acerca da complementaridade das raças. Assim, o humanismo universalista e um determinado evolucionismo de tipo biologista constituem os factores de desconexão ou de libertação do pensamento sengoriano de toda lógica racista.
Demais, SENGHOR encontrará na linguagem “metabiológica” (oriunda de BERGSON e de Teilhard de CHARDIN), um meio de expressão apropriado e, outrossim, um pólo de ancoragem para um elóquio fundamentalmente biologista, pelo facto de se encontrar estruturado, em torno, de um determinismo racial além dos enunciados culturalistas.

Com efeito, a cultura ela própria é outrossim definida pelo teórico da négritude como uma “reacção racial” do homem sobre o seu meio.
Eis porque, a raça em SENGHOR se converte no lugar de verdade de toda cultura. É por ela que se explica a existência de invariantes culturais observados no Negro Africano transplantado para outros meios geográficos (América do Norte e do Sul entre demais outros).

Enfim e, em suma, na verdade, a despeito das condições sociais e económicas dissemelhantes do meio de origem, SENGHOR preservaria, no entanto, a mesma cultura pelo constrangimento da biologia racial: “Ce qui me frappe – assevera SENGHOR – chez les Nègres d’Amérique, c’est la permanence des caractères non pas physiques mais psychiques du Negro-Africain malgré le métissage, malgré le milieu nouveau”. SENGHOR, Liberte I, Paris, Seuil, 1964, p. 254. E, avisadamente prossegue: Que não me falem de “segregação”: seguramente a segregação explica, em parte, a permanência dos caracteres psíquicos, singularmente o dom de emoção. Ela não explica tudo, sobretudo nos Negros da América latina, onde a segregação é menos real.
E remata: “J’ai dit malgré le milieu, car le milieu agit à la longue. C’est d’abord lui qui informe l’économie, puis la société, et finit par provoquer ces mutations qui deviennent héréditaires. »
Donde e daí, a presença do paradigma biologista se afigura francamente manifesto no cerne do seu pensamento.
Finalmente, por outro, não há dúvida nenhuma, que a divisão racial das aptidões culturais se assume, no pensamento de SENGHOR, uma convicção teórica indiscutível. Ou seja:
“Il ne faut pas méconnaître et forcer son génie – assevera -, même, surtout dans le domaine de l’âme et de l’esprit.
« Croyez-vous que nous puissions jamais battre les Européens dans la mathématique, les hommes singuliers exceptés, qui confirment que nous ne sommes pas une race abstraite. » SENGHOR, Liberté II, Paris, Seuil, 1968, p. 154.

Lisboa, 10 de Maio 2009
KWAME KONDÉ
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DO ESTADO DA ALMA

Li hoje uma nota biográfica sobre o famoso matemático alemão, Richard Dedekind, que após brilhar a altíssimo nível mundial ― sendo professor na prestigiada e prestigiante Universidade de Göttingen, na Alemanha ―, resolveu abandonar a cátedra, voltar à sua terra natal, Brunswick, e contentar-se em dar aulas durante 50 anos (o resto da sua vida) no ensino secundário.

O autor da nota biográfica, Amir D. Aczel, relata assim a sua perplexidade quanto à opção de Dedekind:

«Ninguém conseguiu ainda explicar por que razão um matemático brilhante que elevou a álgebra a um nível incrivelmente alto de abstracção e generalidade deixou de repente um dos cargos mais prestigiados numa universidade europeia para ir ensinar numa escola secundária desconhecida.»

Eu acho a explicação tão óbvia que não entendo a perplexidade do biógrafo.

Ou será que esta gente não tem alma?!...
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sexta-feira, 8 de maio de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO TRIGÉSIMA QUARTA:

(I)



O Pensamento de Léopold Sédar SENGHOR, nascido, no Senegal, no ano de 1906 e cujo trespasse ocorreu, em França, em 2001, (particularmente, na sua qualidade de conceituado teórico da ideologia denominada “Négritude”), está profundamente impregnado de determinismo de tipo biologista-hereditarista.
De feito, aí a “raça” não é unicamente um leimotiv poético. Funciona, sim, como factor causal presumido possuir robusto valor explicativo para os comportamentos e traços culturais até mesmo para determinadas performances.
Na verdade, no pensamento de SENGHOR se encontra a noção de postulado da existência de uma invariância/constância, reconhecida por um conjunto de traços culturais entre os negros. Deste modo, as capacidades físicas como as propensões afectivas e as predisposições psicológicas entre eles são reputadas e supostas encontrar uma raiz comum na comunidade de raça. Eis porque et pour cause, o “biologismo” sengoriano consistirá em consignar um valor explicativo à raça quando se trata de elucidar fenómenos culturais e/ou psicológicos. Enfim e, em suma: SENGHOR postulará uma correlação entre o racial e o cultural.
Destarte, haveria uma identidade cultural negra (da qual expôs a ideologia da négritude) e que estaria vinculada e determinada pelo facto de ser negro. E, neste “facto de ser negro” não é a condição histórica e/ou social, sim, efectivamente a irredutível racialidade determinada pelo carácter biológico da raça que é essencial.
A ideologia do sangue negro não se declina, por conseguinte, meramente em termos metafóricos e sob modalidades poéticas. A permanência do “Sangue negro”, incluído através da mestiçagem ao nível das diásporas negras, constitui o esteio do postulado sengoriano de uma correlação entre a raça e as tendências culturais e psíquicas.
Eis, efectivamente, a marca do racialismo recorrente na ideologia da négritude. A raça determinaria as qualidades, vocações, outrossim porém, as insuficiências que cada grupo humano terá que satisfazer, indo ao encontro dos outros.
Seria, assim, do predomínio da emoção em lugar e em vez da razão analítica nos Negros, visto que segundo SENGHOR “l’émotion est nègre comme la raison est hellène”.

Com efeito, o pensamento sengoriano, racializando as aptidões intelectuais e os traços culturais, supõe, por conseguinte, para ser completo e coerente, a existência de uma teoria da complementaridade entre as raças, outrossim, porém, as civilizações que elas definiram. De consignar, que esta “teoria” se exprime numa doutrina denominada “du métissage culturel voire biologique” que dá conta da função “compensatrice” das misturas raciais.
Por outro, as teorias racistas, das quais, a oriunda da estulta lavra do escritor e diplomata francês joseph Arthur, conde de GOBINEAU (1816-1882) é bem representativa, denunciam geralmente a mestiçagem como causa de uma “diminuição” do “nível médio” da raça branca. Simultaneamente, GOBINEAU reconhecia ao cruzamento racial a virtude de ofertar qualidades necessárias para a criatividade. De sublinhar, que este húmus ideológico influenciou paradoxalmente a doutrina sengoriana da mestiçagem. Simplesmente, esta assume uma dupla perspectiva racialista e humanista lá onde GOBINEAU e os demais outros ideólogos do racismo se encerram numa lógica de separação e de preservação das qualidades raciais “superiores” (na ocorrência do Branco).
Antes de mais, se impõe elucidar, que o próprio SENGHOR cita GOBINEAU, visando fortalecer a sua peculiar problemática do Negro emocional e o interesse dos cruzamentos para suscitar os dons da criação. (A este propósito, vale a pena compulsar, Liberté I, Paris, Seuil, 1964, p. 258).

Finalmente, há que convir, asseverando adequadamente, que a utilização sengoriana de determinadas ideias de GOBINEAU se acompanha do contornamento (acto de contornar) da sua finalidade racista e da sua funcionalização oposta numa teoria dos cruzamentos raciais como meio da conclusão da Humanidade, rica de possibilidades dissemelhantes e complementares dos seus variegados frôndeos naturais, parafraseando, avisadamente o pensador, paleontólogo e geólogo francês, Pierre TEILHARD de CHARDIN (1881-1955).

Lisboa, 07 Maio 2009
KWAME KONDÉ

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quarta-feira, 6 de maio de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO TRIGÉSIMA TERCEIRA:

Acerca da Noção de Raça humana:

A expressão, grupos étnicos é usada, no âmbito
Da Antropologia (“Ciência do homem”) para designar
Grupos humanos que possuem em comum uma cultura
A que se sentem vinculados
E à qual se refere a sua vivência
E a sua mundividência cujos membros
Se sentem interligados por uma identidade
Historicamente construída.
O conceito não se confunde com o de “raça”, Pelo contrário,
A Noção de grupo étnico constitui uma forma de classificação
Cuja afirmação depende de limites e codificações relativas
Às diferenças culturais entre grupos vizinhos
Que afirmam a sua singularidade, uns em relação aos outros,
Sem que os caracteres raciais, biológicos ou linguísticos,
Assumem, por si só, necessariamente elementos caracterizadores.
Eis porque deste modo,
A identidade cultural dos grupos étnicos
Não é rígida, nem imutável,
Envolvendo processos de composição e recomposição
Dentro de um espaço determinado
Dos quais resulta uma consciência individual e colectiva.

No decurso do século XX pretérito, a noção de raça humana foi repensada e se viu fortemente posta em causa. De feito, a genética das populações nascida nos anos de 1930, contribuiu vigorosamente para a elaboração, em comparação com a noção eminentemente descritiva e tipológica (normalmente hierárquica) de raça, a noção, mais exactamente biológica e histórica de população.
De consignar, que uma população, é, no seio de uma espécie, o conjunto dos indivíduos entre os quais existe uma permuta efectiva dos genes. Por conseguinte, já não é a pureza racial, sim, efectivamente, a diversidade no seio da espécie humana que se encontra no ponto de partida da reflexão em causa. Na verdade, não sendo a raça como a espécie, limitada pelo critério da inter-fecundidade, o estudo das raças humanas, só pode ser pensado, ipso facto et pour cause, em termos exclusivamente tipológicos, porquanto exige uma abordagem histórica que dá conta das migrações e das mestiçagens.
Eis porque, no âmbito desta dinâmica, o notável geneticista e biólogo evolutivo, o ucraniano, Theodosius Hryhorovych DOBZHANSKY (1900-1975), contestando a “parte major de arbitrário”que existe nos cortes raciais, propôs em 1964 uma abordagem histórica das raças, tendo em conta a sua vida e a sua morte, as suas formações, favorecidas pelas misturas de populações e aceleradas pela facilidade acrescida das permutas desde, três séculos, aproximadamente. De consignar, que, ao contrário de uma abordagem exclusivamente descritiva, esta leva em conta permutas genéticas que podem ter como consequência a formação de novas raças.

No decurso das décadas que seguem, alguns geneticistas recusam mesmo a necessidade e a pertinência dos cortes raciais para a sua própria prática científica. Eis então, que o conceituado antropólogo, Jean HIERNAUX, em 1968 concluiu o seu célebre estudo sobre a diversidade humana em África subsariana, proferindo magistralmente a conclusão seguinte:
“La diversité biologique des groupes humains (…) figurée sur un plan (…) présenterait un nuage de point répartis de façon quasi uniforme. De proche en proche, on pourrait parcourir le nuage dans toutes ces directions, sans rencontrer de discontinuité majeure, si ce n’est en certains secteurs de la périphérie du nuage (…). Il s’ensuit que toute réduction de la diversité des populations africaines à un nombre restreint de taxons, comme le font toutes les classifications raciales proposées, présente un nombre élevé de contradictions logiques et ne saurait donc qu’engendrer la confusion ».

E, prosseguindo, avisadamente este nosso Estudo, temos que, na verdade, a descrição quantitativa da variabilidade geográfica evidencia continuidades antes mesmo que classes estanques e artificialmente descontínuas. Hodiernamente, os geneticistas definem pela frequência dos seus genes de pequenas populações mendelianas cujos os indivíduos fruem entre si permutas sexuais. Eis porque, alguns consideram que a diferença genética entre as populações assim definidas já não é importante como a diferença entre indivíduos. Deste modo, uma tal abordagem tende a invalidar a própria necessidade da noção de subespécie (ou de raça) para descrever as variações geográficas, o estudo multi-variado das distribuições de caracteres no seio de um continuum, se revelando muito mais fecundo para dar conta da diversidade no seio da espécie.

Todavia e, sem embargo, nos debates científicos actuais em torno da questão da origem (ou das origens) da diversidade humana actual permanecem presentemente ainda vinculadas representações a priori do homem e do seu devir, construções débeis, apostas ideológicas, escolhas sociopolíticas. Por outro, no atinente a determinadas deferências, a questão em si mesma e as dissemelhantes respostas que lhe foram trazidas são amiúde determinadas por escolhas ideológicas subjacentes. De anotar, ainda que algumas discussões em torno do “monocentrismo” e do “policentrismo” da espécie Homo sapiens parecem reconduzir, por vezes, nos pressupostos até mesmo nos seus próprios termos, aos debates dos séculos pretéritos entre monogenistas e poligenistas. Contudo, as pesquisas edificadas sobre a repartição geográfica e a análise multi-variada dos caracteres, sobre a biologia molecular e a genética das populações, tornaram caducas as classificações raciais da antropologia clássica. Além de uma abordagem descritiva e hierárquica das raças humanas, o campo de reflexão se deslocou da especulação teológica para a investigação de campo e de laboratório.

E, à guisa de remate assertivo, com efeito, discrepâncias permanecem actualmente entre a paleontologia humana e a genética das populações, identicamente, aliás, no interior de cada uma destas disciplinas, quanto à questão da origem da diversidade humana actual. Todavia, a despeito das suas peculiares e sui generis dificuldades e das divergências, estas disciplinas se envidam em colocar, separadamente ou conjuntamente, a questão da origem da diversidade das populações humanas actuais e reconstruir a complexa rede dos seus itinerários respectivos e, outrossim e, ainda da sua história. Enfim, dos apropriados debates e confrontações poderão quiçá resultar, em breve, conclusões comuns, ao mesmo tempo, ideologicamente críticas e cientificamente informadas.

Lisboa, 02 Maio de 2009
KWAME KONDÉ
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terça-feira, 5 de maio de 2009

POIS É

Quando o vírus infecta pessoas saudáveis, parece que a coisa se fica por uma gripe vulgar de Lineu.

E, assim sendo ― ou os governos arranjam já outra desgraça iminente que os ajude a desviar a atenção do pagode da crise instalada, ou o pagode toma consciência da gravidade da situação económica e financeira e vai ser uma dor de cabeça de todo o tamanho para os governos e para os partidos do poder.

Vai uma aposta em como vai aparecer outra desgraça?
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sábado, 2 de maio de 2009

MAS QUE CHATICE!!!

Não é que o raio deste vírus da gripe parece ter resolvido não colaborar com a imprensa, rádio e televisão!

(E parece que também não vai colaborar com os governos fazendo esquecer a crise).

Parece até que este H1N1 está em vias de lhes fazer um grande manguito, pois, até agora está-se a revelar de baixa virulência, fazendo coceguinhas aos doentes infectados em vez de os matar horrendamente como seria de desejar ─ mortos aos montões pelas ruas, jazendo em poças de sangue enxameadas pelas moscas; corpos hirtos recolhidos por trabalhadores altamente protegidos por fatos brancos de tipo espacial, com luvas enormes amarelas e a cabeça protegida por uma espécie de escafandro deixando pender à frente do nariz e da boca enormes trombas pretas com filtros pretos tipo chuveiro da tropa ─ imagens tipo day after para apresentar nas televisões acompanhadas pelo tema musical do filme Apocalypse Now.

Mas com o raio deste vírus parece que tudo se vai por água abaixo.

É que das notícias conhecidas, as pessoas que têm morrido até agora com esta gripe eram pessoas débeis previamente fragilizadas por outras doenças.

Não aparece uma hepatite, uma insuficiência renal, uma meningite, uma pericardite ─ sequer uma pneumoniazita de merda ─ subsequentemente à gripe que se possa apresentar ao mundo para honrar o vírus e infundir em nós respeito e medo pelo bicho.

Assim não! Assim é demais!

Se é só uma gripe como as outras...

Bolas para ele: Bolas para o H1N1!!!
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KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO TRIGÉSIMA SEGUNDA:

(A)-Na verdade, qualquer que seja o período que se considera, a África aparece como um cruzamento de línguas e culturas diversas. De feito, apenas no âmbito linguístico, é realmente, o Continente mais diversificado do Planeta. Demais, é, unicamente na duração que a “África” principia a aparecer. Assim, efectivamente, no âmbito desta dinâmica, enquanto massa continental, se estende do cabo de Boa Esperança ao delta do Nilo, englobando simultaneamente Marrocos e Moçambique. Todavia, muitos dos seus habitantes, identicamente numerosos Americanos e Europeus, não a consideram como uma entidade unificada e fazem uma distinção nítida entre a “África do Norte” e a “África sub-sariana”ou “África negra”. De anotar, que a linha de divisão é frequentemente entendida, em termos raciais, ou seja: a África é o lugar donde são oriundos os Negros.
(B)- O eminente filósofo ganense/ganês, o docente universitário Kwame Anthony APPIAH (n-1954), Professor de Filosofia na Universidade Laurence S. Rockefeller e, outrossim, membro do Centro para os Valores Humanos da Universidade de Princepton – dizíamos – de modo abertamente consequente, assumiu a seguinte interpelação, ou seja: como representar a “África” se recusa a classificação das populações do mundo em grupos raciais? Classificação que todos sabem, que os biólogos reputaram sem fundamento. Assumidamente, os Africanos são, outrossim, dissemelhantes entre si, como o são de toda outra pessoa sobre terra e, unicamente, erigindo a cor da pele como critério supremo que se lhe pode declarar que os Africanos formam uma raça única? Por outro, pode-se, todavia, considerar que os habitantes, vivendo ao sul do Sara formam um único e mesmo povo, na ausência de raça?
E, prosseguindo a nossa interpelação, de cariz eminentemente pedagógico, sempre na esteira e peugada do filósofo APPIAH, temos ainda que:
--- O facto que aproximadamente um terço de entre eles sejam muçulmanos não significa, afinal de contas, que se deveria os classificar juntamente com os seus correligionários muçulmanos da África do Norte, quer estes últimos se consideram ou não, eles próprios africanos?
--- A pretensa solidez dos vínculos de parentesco entre Africanos, o respeito generalizado que as pessoas, dos Zulos aos Uólofes/Wolofs, manifestam para com os seus primogénitos e os seus antepassados e o papel central das relações sociais individuais nas aldeias não definem uma colectividade cultural através de todo o Continente, facto que influenciou os descendentes dos Africanos no Brasil, em Cuba e nos Estados Unidos da América?
--- Ou ainda, o que todos os Africanos possuem em comum é, outrossim, o que é comum na maior parte das comunidades “campesinas”?
--- E, outrossim e, ainda, o que as pessoas designam por “cultura” em África, corresponde algures a traços duradouros e comuns, ou a esquemas de adaptação em permanente evolução (em presença) e perante às situações novas?
(C) De sublinhar, assertivamente, que a resposta de APPIAH não depende da existência, ou não, de uma correspondência entre as culturas africanas, quaisquer que sejam as suas analogias ou as suas discrepâncias e a cor da pele. Na verdade, ele afirma que o vocábulo “África” possui, efectivamente, um sentido e, que este sentido é histórico. De feito, aliás, desde à partir do século XVI, os negreiros europeus se puseram a considerar diversos portos africanos como centros de compra de mão-de-obra escrava, servindo as características físicas dos escravos de critério para determinar quem, de um lado do Atlântico, podia ser comprado e, de outro lado, ser suposto tornar escravo.
(D) Todavia, se a África foi definida, primeiramente, pelo aspecto, o mais horrível da sua história, o sentido do vocábulo “África”principiou a mudar no seio mesmo da diáspora africana. Com efeito, os indivíduos escravizados e os seus descendentes principiaram a se considerar “africanos”e, não mera e simplesmente como a propriedade de outras pessoas. Sim, efectivamente eram indivíduos que procediam de algures. E, explicitando adequadamente, deste modo, nos Estados Unidos da América, alguns cristãos descendentes de escravos principiaram a se considerar “etíopes”não porque os seus antepassados provinham desta região de África, sim, efectivamente, este facto evocava as narrativas bíblicas do rei Salomão e da rainha de Sabá. Eis porque, deste modo, a Etiópia ou a África assinalava o seu lugar numa história universal. E, na sequência, determinados intelectuais afro-americanos proclamaram que os antigos Egípcios eram Negros de África e que via Egipto, a África contribuíra, de molde, decisiva, para o desenvolvimento e o engrandecimento respectivo das civilizações helena, romana e do Mundo inteiro. Enfim, se afigura importante, consignar, com ênfase, que, na realidade, é que a África se revelou, na sua plenitude, quando uma diáspora afirmou o seu lugar no Mundo.
(E) Destarte, o estudo das redes que sulcavam o oceano Atlântico, o oceano Índico, o deserto de Sara e o próprio Continente Africano, outorga da África uma imagem dissemelhante dos estereótipos vinculados às “tribos” africanas. Por seu turno, intelectuais muçulmanos da África do Sahel ocidental atravessavam o deserto para se dirigir para a África do Norte ou iam para o Egipto ou para a Arábia Saudita para estudar ou cumprir uma peregrinação. Outrossim e, ainda, de referir, que redes islâmicas análogas se estendiam ao longo da costa este africana e no interior do Continente, até aos lagos Vitória e Tanganhica. Já, no interior da África, alguns reinos ou impérios englobavam populações de culturas diversas, assimilando-os, por vezes, acordando, em determinadas circunstâncias, uma autonomia cultural considerável, exigindo, integralmente, neste caso, submissão e impostos. Finalmente, em determinadas demais outras regiões, grupos de uma idêntica família se reconheciam afinidades com parentescos distantes de centenas de quilómetros.

E, prosseguindo, esclarecida e elucidadamente, este nosso Estudo, temos, então, complementarmente que:
(1) A diversidade cultural era, decerto, real e, numa determinada medida, identicamente, verídica que a especificidade cultural se transformava, por vezes, num sentimento de pertença a um “povo” distinto. Porém, a distinguibilidade, ora enunciada, não era sinónimo de isolamento e, demais, não apagava as inter-conexões, as relações e as influências mútuas. Efectivamente, a carta cultural da África está marcada por graduações de dissemelhanças e de vínculos e, não por uma série de espaços herméticos, cada qual com a “sua” cultura respectiva, o “seu” idioma e o “seu” sentimento de unicidade. Na verdade e, por certo, um empreendedor político, tentando mobilizar “o seu” povo para defender os seus interesses podia se apoiar sobre um sentimento de grupo, todavia, isso funcionava, do mesmo modo, para um organizador político ou religioso que tentasse pôr em contacto povos separados por débeis ou grandes distâncias. De anotar, que a tendência que a dominava dependia das circunstâncias históricas e, não de uma suposta unidade racial ou singularidade cultural africana.
(2) Nos meados do século XX pretérito, o vocábulo “África” recobre várias significações políticas. Donde e daí:
---Para um pan-africanista, a unidade pertinente era a diáspora.
---Já para o psiquiatra, escritor e ensaísta antilhano, de ascendência africana, Frantz FANON (1925-1961) (quiçá, o maior pensador do século XX passado, no âmbito dos temas da descolonização e da psicopatologia da colonização) – dizíamos – a política era determinada pelo imperialismo e, eis porque, recusava a ideia de nação negra para lhe preferir a de unidade dos povos oprimidos pela colonização.
Deste modo, no âmbito desta dinâmica, quando o Presidente egípcio Gamal Abd Al NASSER (1918-1970) desafiou as potências estrangeiras, designadamente a britânica, a francesa, a norte-americana e a israelita no Médio Oriente, tornou-se, para numerosos Africanos, o símbolo de um dirigente autenticamente nacional.

Demais, outrossim e, ainda, na década de cinquenta do século XX pretérito, as lutas comuns travadas contra as potências coloniais, visando a construção de economias nacionais e, em prol da dignidade nacional, deram origem à uma concepção militante do “Terceiro mundo”, nem capitalista e, nem comunista, unindo, todavia, a Ásia, a América latina e a África contra o “Norte” – contra as potências “imperialistas”.
Enfim, no âmbito desta perspectiva, temos de referir também, que outros dirigentes políticos procuraram uma unidade especificamente africana, limitada ao Continente.
E, finalmente, demais outros, ainda e, outrossim, se opuseram acerca das bases ideológicas e estabeleceram alianças com blocos de influência conduzidos pelos Estados Unidos da América ou com a União Soviética.
(3) De sublinhar, que os vínculos internacionais não convinham apenas aos militantes políticos. Com efeito, Africanos, desejando efectuar estudos, encetando uma carreira na ONU ou, em demais outras organizações internacionais, ou migrante para economias europeias que, nesse momento, pretendiam a sua respectiva força de trabalho nos próprios solos — tornaram, cada vez mais, numerosos na Europa, na União Soviética e nos Estados Unidos da América do Norte. Na verdade, possuíam, ora contactos com os autóctenes, ora formavam comunidades de origem relativamente independentes, outrossim, ainda, possuíam vínculos mais estreitos com demais outros migrantes de ascendência africana.

E à guisa de remate/conclusão seria, todavia um erro crasso, substituir a visão quão errónea e, assaz adulterada de uma África de tribos isoladas por de uma África submersa numa rede infinita de movimentos e de permutas. De feito, em África, a população era desproporcionadamente distribuída, num enorme espaço, por outras palavras e, para melhor dizer, as deslocações eram possíveis, no entanto, sobremaneira, onerosos os transportes. Na verdade, lucrativo era permutar bens de grande valor, inexistentes em determinadas regiões, contudo menos rentável que construir densas redes de permutas e de relações diversificadas.
Por outro, de consignar, que os dirigentes africanos podiam encontrar lugares susceptíveis de assegurar a prosperidade dos seus povos, porém, havia identicamente demais outros sítios, onde as pessoas podiam se refugiar e sobreviver, o que tornava difíceis a consolidação do poder e a intensificação da exploração. Demais, as permutas com o resto do mundo eram habitualmente muito especializadas — horrivelmente especializadas, no caso concreto, do comércio dos escravos, designadamente. De anotar, destarte, que os centros de produção específicos – de ouro ou de óleo de palma, por exemplo – ou as estradas comerciais específicas – a do marfim, que ligava o interior do Este africano à costa -funcionavam assaz bem. Todavia, a sua acção respectiva foi criar vínculos particulares, exclusivos, entre o interior da África e as economias exteriores à África e, não de desenvolver uma economia regional densa e diversificada.
De sublinhar, que após a conquista europeia, as economias coloniais construíram, caminhos ferroviários e estradas respectivas, para fazer escoar o cobre ou o cacau e fazer entrar os produtos manufacturados europeus, canalizando, deste modo, o movimento dos bens, das pessoas e das ideias para a metrópole e, não para o conjunto do mundo.
Efectivamente, os regímenes coloniais edificaram uma grande parte do seu poder na sua capacidade para controlar os pontos nodais chaves, tais como os portos em águas profundas, de um sistema de transportes e de comunicações relativamente limitado.
Enfim, os Africanos procuraram criar as suas próprias redes: estradas comerciais no seu próprio Continente com conexões políticas, com demais outros povos colonizados. De anotar, com, um certo e determinado êxito. Porém, quando os impérios coloniais se desmoronaram, os dirigentes africanos foram, outrossim, confrontados, com a tentação de reforçar o seu controlo nestas redes limitadas, de preferência, antes que ampliar e multiplicar os vínculos através do espaço.

Lisboa, 11 Fevereiro 2009.
KWAME KONDÉ
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