(I)
O Pensamento de Léopold Sédar SENGHOR, nascido, no Senegal, no ano de 1906 e cujo trespasse ocorreu, em França, em 2001, (particularmente, na sua qualidade de conceituado teórico da ideologia denominada “Négritude”), está profundamente impregnado de determinismo de tipo biologista-hereditarista.
De feito, aí a “raça” não é unicamente um leimotiv poético. Funciona, sim, como factor causal presumido possuir robusto valor explicativo para os comportamentos e traços culturais até mesmo para determinadas performances.
Na verdade, no pensamento de SENGHOR se encontra a noção de postulado da existência de uma invariância/constância, reconhecida por um conjunto de traços culturais entre os negros. Deste modo, as capacidades físicas como as propensões afectivas e as predisposições psicológicas entre eles são reputadas e supostas encontrar uma raiz comum na comunidade de raça. Eis porque et pour cause, o “biologismo” sengoriano consistirá em consignar um valor explicativo à raça quando se trata de elucidar fenómenos culturais e/ou psicológicos. Enfim e, em suma: SENGHOR postulará uma correlação entre o racial e o cultural.
Destarte, haveria uma identidade cultural negra (da qual expôs a ideologia da négritude) e que estaria vinculada e determinada pelo facto de ser negro. E, neste “facto de ser negro” não é a condição histórica e/ou social, sim, efectivamente a irredutível racialidade determinada pelo carácter biológico da raça que é essencial.
A ideologia do sangue negro não se declina, por conseguinte, meramente em termos metafóricos e sob modalidades poéticas. A permanência do “Sangue negro”, incluído através da mestiçagem ao nível das diásporas negras, constitui o esteio do postulado sengoriano de uma correlação entre a raça e as tendências culturais e psíquicas.
Eis, efectivamente, a marca do racialismo recorrente na ideologia da négritude. A raça determinaria as qualidades, vocações, outrossim porém, as insuficiências que cada grupo humano terá que satisfazer, indo ao encontro dos outros.
Seria, assim, do predomínio da emoção em lugar e em vez da razão analítica nos Negros, visto que segundo SENGHOR “l’émotion est nègre comme la raison est hellène”.
Com efeito, o pensamento sengoriano, racializando as aptidões intelectuais e os traços culturais, supõe, por conseguinte, para ser completo e coerente, a existência de uma teoria da complementaridade entre as raças, outrossim, porém, as civilizações que elas definiram. De consignar, que esta “teoria” se exprime numa doutrina denominada “du métissage culturel voire biologique” que dá conta da função “compensatrice” das misturas raciais.
Por outro, as teorias racistas, das quais, a oriunda da estulta lavra do escritor e diplomata francês joseph Arthur, conde de GOBINEAU (1816-1882) é bem representativa, denunciam geralmente a mestiçagem como causa de uma “diminuição” do “nível médio” da raça branca. Simultaneamente, GOBINEAU reconhecia ao cruzamento racial a virtude de ofertar qualidades necessárias para a criatividade. De sublinhar, que este húmus ideológico influenciou paradoxalmente a doutrina sengoriana da mestiçagem. Simplesmente, esta assume uma dupla perspectiva racialista e humanista lá onde GOBINEAU e os demais outros ideólogos do racismo se encerram numa lógica de separação e de preservação das qualidades raciais “superiores” (na ocorrência do Branco).
Antes de mais, se impõe elucidar, que o próprio SENGHOR cita GOBINEAU, visando fortalecer a sua peculiar problemática do Negro emocional e o interesse dos cruzamentos para suscitar os dons da criação. (A este propósito, vale a pena compulsar, Liberté I, Paris, Seuil, 1964, p. 258).
Finalmente, há que convir, asseverando adequadamente, que a utilização sengoriana de determinadas ideias de GOBINEAU se acompanha do contornamento (acto de contornar) da sua finalidade racista e da sua funcionalização oposta numa teoria dos cruzamentos raciais como meio da conclusão da Humanidade, rica de possibilidades dissemelhantes e complementares dos seus variegados frôndeos naturais, parafraseando, avisadamente o pensador, paleontólogo e geólogo francês, Pierre TEILHARD de CHARDIN (1881-1955).
KWAME KONDÉ
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