sexta-feira, 31 de outubro de 2008

DE KWAME KONDÉ (II)

Na Hora da Verdade!...Segunda Intervenção…

Não há dúvida nenhuma, que a crise financeira do ano 2008 em curso, iniciada com a das “Subprimas” em 2007, é uma nova crise do capitalismo exactamente como se a conhece ciclicamente desde o século XIX. Com efeito, et pour cause, o Ultraliberalismo (leia-se, outrossim, liberalismo extremista) implantado sob os nefandos regimes da política britânica, Margaret TCHATCHER (n-1925), então Primeira Ministro e do actor/político norte -americano, Ronald REAGAN (1911-2004), então Presidente dos USA, nos anos de 1980, só podia acelerar o fenómeno, óbvia e absolutamente.
A voracidade e a obsessão do lucro, apanágio do Capitalismo Financeiro, quão inchado, aliás, como um bandulho à força de especulação abertamente desenfreada, visando, cada vez mais e mais, lograr o máximo de proventos, acabam de provocar explosão, em pleno voo, deste. Destarte, enquanto os patrões dos bancos saltam com o seu pára-quedas dourado o “mercado” só pôde reatar relações com os pára-quedas dos Estados, outrora menosprezadas, porquanto reputadas como empecilhos de poder lucrar, não só, em círculo, como outrossim e, ainda, ao redor e em torno, evidentemente.
E, eis porque, efectivamente, o verdadeiro slogan se revela ser eloquentemente: “individualização dos ganhos, mutualização das perdas”. Hélas!

Outrossim e, ainda, para ter como valor fundamental e como desígnio na existência, o domínio de sempre, o máximo de riquezas, livre, para impunemente empobrecer milhões de pessoas, o Ultraliberalismo acaba de conduzir o Mundo à beira do abismo. Sim, efectivamente, a crise está aí, indiscutivelmente e, em força. Donde e daí será, assaz árdua, dura, outrossim, profunda, quão elevadas forem as torres do Capitalismo Financeiro.

Na verdade e, na realidade, nada será como dantes. Vamos entrar num outro Mundo sem que ninguém possa saber exactamente com quê será concebido, engendrado e, finalmente produzido. Com efeito, é aquando das crises que intervêm as grandes mudanças. De anotar, porém, que opostamente à ideia usualmente admitida, a História Humana não é um longo rio tranquilo, pois que está ciclicamente submetida a enormes e profundas subversões/desordens, quer no âmbito das ideias ou da organização social. De consignar, por seu turno, que a relativa estabilidade dos derradeiros sessenta anos, teve a propensão e o condão respectivo de nos fazer olvidar, infelizmente do autêntico e real processo histórico e, de que maneira, a despeito da real presença dos sinais e sintomas anunciadores, ipso facto, assaz vatídicos.

Estamos, deveras, sem dúvida nenhuma, face à uma destas rupturas que mudam o sentido da História, para melhor ou para pior. No entanto, temos, efectivamente, uma oportunidade única de poder agir, actuando, evidentemente, com acerto e eficácia, para evitar, em tempo útil e oportuno, o cenário, assaz pessimista, que se perfila no horizonte, à saber, o Capitalismo de Estado, solução de mera recauchutagem, ipso facto, transitória, que restaurará, cedo ou tarde, sobre os atalhos, um liberalismo desenfreado.

E, rematando, dextramente avisado e, por extensão óbvia, de modo dialecticamente consequente e percuciente, esta nossa peça ensaística, urge, já não deixar à solitária falsa esquerda, a que já mostrou a sua acomodação ao sistema en place, o encargo de defender os nossos interesses. Eis porque, mais que nunca, chegou o momento azado para os Cidadãos conscientes, idóneos, no âmbito ecuménico e planetário assumir o domínio da Política, na genuína acepção do termo, para definir e promover um outro Modelo de Organização da Sociedade, retribuindo melhor o Trabalho, edificado sobre a liberdade, a criatividade, a igualdade das oportunidades, a solidariedade, a proximidade, a educação…Enfim e, em suma: Um Modelo jamais edificado sobre o “ter”, isto é, o domínio, sim, segura e evidentemente sobre o “Ser”, por razões e motivos, assaz óbvios. Esta que é, realmente, a Verdade nua e crua!...

Sim, já não há tempo para sonhos. Pois o Caminho
Está aberto. De todos os Confins paira uma voz,
Os Homens despertaram-se do longo Sono…
Eis que estamos para além do Princípio.
Tudo tomará o seu lugar e as coisas terão o seu Encanto.
Sim, efectivamente,
É a Hora da Verdade! Avante!...Avante!...Avante!...

Lisboa, 27 de Outubro de 2008.

KWAME KONDÉ

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

PALAVRAS PARA QUÊ?

É UM ARTISTA PORTUGUÊS

«Lembro-me do debate que houve na América quando, pela primeira vez, um católico se candidatou a presidente. O próprio Kennedy teve de vincar bem que nunca receberia ordens do Papa enquanto presidente dos EUA. Lembro-me bem do que isso significou

[José Sócrates em entrevista ao DN do dia 26/10/2008]

Note bem:

J. F. Kennedy fez aquelas declarações no dia 12 de Setembro de 1960 (veja aqui).

José Sócrates, nascido a 6 de Setembro de 1957, tinha então 3 anos e 6 dias de idade.

E... «Lembra-se bem do debate».

É este o primeiro ministro de Portugal.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

CÃOZADAS


Béu
béu-béu
béu-béu
rebéu-béu.

Rebéu-béu
béu-béu
béu-béu
rebéu-béu.

Au
au-au
au-au
rebéu-béu.

Rebéu-béu
au-au
au-au
rebéu-béu.

AUUUUUUUUuuuuuuuuuu!… … … …

DEUS EM CASA POR $5,000

A revista Wired publica uma notícia segundo a qual dois australianos construíram uma máquina de movimento perpétuo capaz de produzir cinco vezes mais energia do que aquela que é utilizada para a pôr a funcionar.

Isto contraria frontalmente a teoria fundamental que sustenta toda a Física ― a de que «A energia total do universo é constante» ― e que quer dizer que no domínio da produção de energia não há lugar a subprime, isto é, que toda a energia que se obtém por qualquer meio vem de uma fonte pré existente que por sua vez fica sem ela quando a utilizamos; não há, portanto, lugar a nenhum processo criativo a partir do NADA.

Mas estes australianos garantem que construíram Deus na sua garagem; e convidaram alguns jornalistas para ver, tocar e crer nesse Deus. Que já tem preço: cinco mil dólares (não sei se dólares americanos ou dólares australianos ― estes são ainda mais baratos).

A cadeia britânica de televisão Sky News deu a notícia:

domingo, 26 de outubro de 2008

O RETRATO DA EUROPA

OU DE COMO NOS ANDAM A ENGANAR

O Jornal inglês The Telegraph publicou ontem esta análise negra sobre a economia europeia. E deixou bem claro porque é que o Dólar é agora moeda de refúgio e porque é que o Euro está em queda livre.

Se alguma razão assiste ao analista, não há a mais pequenina sombra de dúvida (se é que dúvidas havia) de que o sarilho europeu, no que à crise financeira (e económica) diz respeito, é coisa muito séria capaz de tirar o sono até a uma pedra.

O que se tem assistido dos políticos inteligentes que governam a Europa é um teatro de sombras em que, de vez em quando, aparece, à boca de cena, alguém vindo da balbúrdia dos bastidores dizer à plateia, com a pose mais estudada deste mundo:

― Estamos a ultimar, com toda a calma e competência, os preparativos para vos apresentar a melhor peça de sempre do teatro europeu.

No que de imediato se recolhe ao saco de gatos em que consistem os bastidores.

Deus nos valha!

UM ALIADO DE PACHECO

Um cristão levanta-se de manhã e senta-se à secretária preparando-se para blogar ― a mão direita segurando o rato, a outra pousada do lado esquerdo do teclado.

Eis que o Picasso, judicioso e atento, salta para a secretária, dirige-se para longe do rato (que despreza), posta-se à minha esquerda (que é o lugar que ele gosta sempre de ocupar) e diz-me: 

desculpa lá mas hoje não te vou deixar poluir a blogosfera com os «99% de lixo» para que tens contribuído regularmente.

E, acto contínuo, deita-se ― deliberada, ostensiva e provocatoriamente ― sobre o meu antebraço imobilizando-me a escrita. E acrescenta:

Agora faz o favor de procurar  O Blogue do 1%  para eu ler; que isso é coisa de inteligente para inteligentes, e eu que sou inteligente só consumo dessa iguaria.

Já viram uma coisa destas?!...

De qualquer forma, BOM DIA.


sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O DIÂMETRO DA COISA

A Europa tem o cu... que não lhe cabe um grão de arroz; percebe-se isso no frenesi com que os seus dirigentes andam de um lado para o outro, e nas declarações algo ambíguas que vão fazendo sobre a crise instalada.

Mas, no inicio, a Sra. Merkel, toda a leste (pelos vistos) do problema europeu, veio p’raí enxofrada de “estabilidade” dizer que isso da crise era lá com os americanos, pois, «eles a criaram, eles que a resolvessem». E os americanos (que até tinham na altura um enviado na Europa para concertar medidas de combate à crise com os europeus) regressaram a casa sem qualquer promessa ou compromisso e meteram (unilateralmente) mãos à obra no que à resolução da sua parte do problema dizia respeito.

Logo o dólar começou a subir e o Euro começou a descer; só então a Europa descobriu que afinal a coisa era também com ela ― e de que maneira era com ela! ― Toca então de pedir batatinhas à América ― já lá foram fazer duas cimeiras e está programada mais uma para 15 de Novembro.

Agora, neste ínterim, foram à China pedir, talvez... arrozinho; com o impagável Messieur Sarko e o fugitivo Sr. Barroso debitando bitaites na esperança de que a China faça alguma coisa para ajudar a Europa com o bidão de dólares que vem guardando de há muito. E declarou, então, Messieur Sarko:

«O mundo está mal e vive uma crise sem precedentes». «A persistente crise financeira põe em perigo o próprio futuro da humanidade».

Os chineses, ao que parece, nada responderam. Eles ― que maioritariamente têm braços curtos ― costumam, entretanto, fazer uns manguitos bem jeitosos.

Para já, como disse, os chineses nada responderam. E ainda não constou que tenham utilizado os braços para se expressarem.

Entretanto atentem no seguinte:

Cotação do EURO há uma semana (1,47 dólares)
Cotação do EURO hoje                  (1,26 dólares)

Uma desvalorização de 14% em apenas oito dias.

Adenda.

A China já respondeu, finalmente, aos apelos da Europa. O presidente chinês, Hu Jintao, disse o seguinte na conferência que decorre em Pequim:

«A China continuará a cooperar com o resto da comunidade internacional para assegurar a estabilidade financeira e económica internacional, mas, em primeiro lugar, deve gerir bens os seus assuntos.»

 

Leram bem o que ele disse?

 

Pois!...


Nota: Não tenho prazer nenhum em fazer esta croniqueta; até porque vivo na Europa e é aqui que ganho o meu sustento (em EURO). Mas não posso com o nível de saber e o grau de preparação desta gente que governa a Europa.


terça-feira, 21 de outubro de 2008

"AMPLAS NEGOCIATAS”

Se é Mário Soares quem o diz... não duvido!

«A Frente Ribeirinha. Li, com muito agrado e atenção, o artigo tão corajoso, lúcido e oportuno que Miguel Sousa Tavares escreveu no Expresso do passado sábado. Nele exprime a sua sensibilidade e indignação de lisboeta - que coincide com a minha - por as autoridades camarárias, portuárias ou seja quem for, estarem de novo a tirar a vista do Tejo aos lisboetas, aos portugueses e aos turistas, com a proliferação dos contentores e das construções e, consequentemente, vedando ao público as respectivas áreas. É um erro imperdoável - e uma falta manifesta de senso - o que se está a deixar fazer, sempre à socapa. Veja-se como as poucas áreas ajardinadas à beira do Tejo estão cheias de gente nos fins-de-semana e nos feriados! A regra é sempre a mesma. Começam por pôr tapumes e quando os transeuntes acordam e os tapumes são retirados, o Tejo deixa de se ver, oculto pelas construções ou pelos contentores, agora já de três andares. Uma vergonha, que só pode resultar, como se suspeita, de amplas negociatas...»

domingo, 19 de outubro de 2008

SOLTEM SARAH PALIN

Esta bela senhora disse e fez já tantas asneiras políticas em apenas um mês que a candidatura republicana à Casa Branca teve que a esconder bem escondida do público, há pelo menos duas semanas, para que os estragos não fossem maiores do que já são.

Agora, praticamente, só John McCain é que protagoniza o ticket republicano.

Mas eu continuaria, à mesma, a votar... Sarah Palin...



Quanto mais não seja para que metade da população mundial...

Viva (ou morra) feliz.

Digamos todos com ela:

BOM DIAAAAAA!

sábado, 18 de outubro de 2008

DE LEITOR E AMIGO

A propósito da crise financeira mundial e da posta que intitulei “Aviso à Navegação”, Kwame Kondé, ou seja, o Dr. Francisco Gomes Fragoso, mui distinto cirurgião cabo-verdiano, bastante conhecido e apreciado por leitores deste blogue ― com quem, aliás, tenho o grande prazer de corresponder ―, enviou-me o texto que a seguir publico com todo o gosto.

 

NA HORA da VERDADE!
Viva MARX!
Abaixo...Abaixo…Abaixo…

Mário Soares, José Sócrates, Manuela Ferreira Leite, Manuel Alegre, Bush, Sarkozy, Angela Merkel, Durão Barroso e toda essa caterva de cretinos e seus apaniguados/lacaios e quejandos, evidentemente…

O filósofo alemão KARL MARX (1818-1883) que conquistou um merecido lugar na História dos Grandes Eventos Humanos como o Pensador que, no século dezanove teve, de longe, a influência mais directa, deliberada e poderosa sobre a Humanidade, hoje, mais que nunca, o seu fecundo magistério continua vivo e bem vivo, alumiando avisada e eloquentemente as consciências humanas do Mundo hodierno. Sensível aos problemas sociais da época, conhecedor das doutrinas do Socialismo utópico de Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen e das teorias da economia política de Adam Smih e David Ricardo, que superou dextra e criticamente, até atingir o referido magistério que nos legou pertinentemente.
O Pensamento de MARX define-se essencialmente em oposição ao idealismo hegeliano, conquanto dele retome a concepção dinâmica da realidade e os princípios da dialéctica, reinterpretando-os à luz de uma concepção materialista. A crítica fundamental que faz a HEGEL (1770-1831) é a de que este apenas se apercebeu do desenvolvimento espiritual abstracto, quando a ideia não é mais que “a matéria, transladada e transformada na cabeça do homem”, provocando, concomitantemente, uma inflexão no agir filosófico, afastando-o do domínio teorético para o inserir na esfera da intervenção prática – “até ao presente, os filósofos só se têm preocupado com a interpretação do mundo segundo várias ópticas. Todavia, o problema está em ser capaz de o transformar”.
Defende, outrossim que não é a consciência do homem que determina o seu ser. Sim, porém, o seu ser social que determina a consciência. É, efectivamente, a partir dessa premissa que MARX constitui o sistema do materialismo histórico, segundo o qual os processos económicos estão na base de toda a evolução da Humanidade, considerando todas as restantes manifestações sócioculturais como meras superestruturas ideológicas, estritamente determinadas pelas relações de produção vigentes.
A história das Sociedades é encarada como um longo processo dialéctico em que as classes oprimidas, vítimas de relações de produção desiguais, se revoltam contra as classes dominantes, instaurando uma nova ordem económica. A luta de classes, percorre, portanto, todo o devir da Humanidade, desde a Antiguidade (sociedade esclavagista em que se opõe ao homem livre o escravo), passando pela Sociedade feudal (oposição entre suserano e servo), até à Sociedade capitalista, na qual a Revolução do proletariado, através da abolição da propriedade privada e da colectivização dos meios de produção, suprimirá todos os antagonismos, instaurando o Comunismo e a sociedade sem classes.
Enfim e, em suma, MARX debruçou-se, em particular, sobre a formação e a essência do Capitalismo considerando que este se fundamenta, numa apropriação indevida da mais-valia gerada pelo trabalho, numa lógica de acumulação e concentração de riqueza que deixa completamente de lado a função social do trabalho e reduz o proletariado a um estado de alienação em que o trabalho deixa de ser um factor de realização pessoal. Por seu turno, a religião, que classifica como “ópio do povo”, associa-se a esse processo de alienação, prometendo aos proletários uma satisfação extra-mundana em troca da sua submissão à ordem estabelecida.
E, em jeito de remate, temos então, que o seu Sistema desenvolvido, em grande parte, em estreita colaboração com FRIEDRICH ENGELS (1820-1895), imbuído de objectivos sociais reformistas e emancipadores, marcou decisivamente toda a Filosofia política contemporânea.
Eis, prezados amigos/irmãos o Cerne, onde a resolução segura e eficaz da “crise financeira” e, não só, deve buscar, fundo a sua real e efectiva essência, que urge, ipso facto, ser assumida, planetária e ecumenicamente, de forma dialecticamente consequente.


PARA COMEÇAR BEM O SÁBADO

Tem aqui um texto mais extenso que o habitual, para descontrair e vivificar o seu espírito.

Divirta-se com a elegância e a mestria de Eça de Queiroz na abordagem de um dos seus temas favoritos, a infedilidade.

[in A Correspondência de Fradique Mendes].

Eduardo e eu sorvíamos as derradeiras fezes do bock, já desiludidos de Ramalho e das suas pompas, quando roça pela nossa mesa um sujeito escurinho, chupadinho, esticadinho, que traz na mão com respeito, quase com religião, um soberbo ramo de cravos amarelos. É um homem de além dos mares, da República Argentina ou Peruana, e amigo de Eduardo — que o retém e apresenta «o .sr. Mendibal». Mendibal aceita um bock: e eu começo a contemplar mudamente aquela facezinha toda em perfil, como recortada numa lâmina de machado, de uma cor acobreada de chapéu-coco inglês, onde a barbita rala, hesitante, denunciando uma virilidade frouxa, parece cotão, um cotão negro, pouco mais negro que a tez. A testa escanteada recua, foge toda para trás, assustada. O caroço da garganta esganiçada, ao contrário, avança como o esporão de uma galera, por entre as pontas quebradas do colarinho muito alto e mais brilhante que esmalte. Na gravata, grossa pérola.
Eu contemplo, e Mendibal fala. Fala arrastadamente, quase dolentemente, com finais que desfalecem, se esvaem em gemido. A voz é toda de desconsolo: — mas, no que diz, revela a mais forte, segura e insolente satisfação de viver. O animal tem tudo: imensas propriedades além do mar, a consideração dos seus fornecedores, uma casa no Parc-Monceau, e «uma esposa adorável». Como deslizou ele a mencionar essa dama que lhe embeleza o lar? Não sei. Houve um momento em que me ergui, chamado por um velho inglês meu amigo, que passava, recolhendo da 'Opera, e que me queria simplesmente segredar, com uma convicção forte, que «a noite estava esplêndida!» Quando voltei á mesa e ao bock, o argentino encetara em monólogo a glorificação da «sua senhora». Carmonde devorava o homenzinho com olhos que riam e que saboreavam, deliciosamente divertido. Eduardo, esse, escutava com a compostura pesada de um português antigo. E Mendibal, tendo posto ao lado sobre uma cadeira, com cuidados devotos, o ramo de cravos, desfiava as virtudes e os encantos de Madame. Sentia-se ali uma dessas admirações efervescentes, borbulhantes, que se não podem retrair, que trasbordam por toda a parte, mesmo por sobre as mesas dos cafés: onde quer que passasse, aquele homem iria deixando escorrer a sua adoração pela mulher, como um guarda-chuva encharcado vai fatalmente pingando água. Compreendi, desde que ele, com um prazer que lhe repuxava mais para fora o caroço da garganta, revelou que Madame Mendibal era francesa. Tínhamos ali portanto um fanatismo de preto pela graça loura de uma parisiensezinha, picante em sedução e finura. Desde que compreendi, simpatizei. E o argentino farejou em mim esta benevolência crítica — porque foi para mim que se voltou, lançando o derradeiro traço, o mais decisivo, sobre as excelências de Madame: «Sim, positivamente, não havia outra em Paris! Por exemplo, o carinho com que ela cuidava da mamã (da mamã dele), senhora de grande idade, cheia de achaques! Pois era uma paciência, uma delicadeza, uma sujeição... De cair de joelhos! Então nos últimos dias a mamã andara tão rabugenta!... Madame Mendibal até emagrecera. De sorte que ele próprio, nesse domingo, lhe pedira que fosse distrair, passar o dia a Versalhes, onde a mãe dela, Madame Jouffroy, habitava por economia. E agora viera de a esperar na gare de Saint-Lazare. Pois, senhores, todo o dia em Versalhes, a santa criatura estivera com cuidado na sogra, cheia de saudades da casa, numa ânsia de recolher. Nem lhe soubera bem a visita à mamã! A maior parte da tarde, e uma tarde tão linda, gastara-a a reunir aquele esplêndido ramo de cravos amarelos para lhe trazer, a ele!»
É verdade! Veja o senhor! Este ramo de cravos! Até consola. Olhe que para estas lembrancinhas, para estes carinhos, não há senão uma francesa. Graças a Deus, posso dizer que acertei! E se tivesse filhos, um só que fosse, um rapaz, não me trocava pelo príncipe de Gales. Eu não sei se o senhor é casado. Perdoe a confiança. Mas se não é, sempre lhe direi, como digo a todo o mundo: — Case com uma francesa, case com uma francesa!...

Não podia haver nada mais sinceramente grotesco e tocante. Como V. não vinha, fugidio Ramalho, dispersámos. Mendibal trepou para um fiacre com o seu amoroso molho de cravos. Eu arrastei os passos, no calor da noite, até ao clube. No clube encontro Chambray, que V. conhece — o «formoso Chambray». Encontro Chambray no fundo de uma poltrona, derreado e radiante. Pergunto a Chambray como lhe vai a vida, que opinião tem nesse dia da vida. Chambray declara a vida uma delícia. E, imediatamente, sem se conter, faz a confidência que lhe bailava impacientemente no sorriso e no olho humedecido.
Fora a Versalhes, com tenção de visitar os Fouquiers. No mesmo compartimento com ele ia uma mulher, une grande et belle femme. Corpo soberbo de Diana num vestido colante do Redfern. Cabelos apartados ao meio, grossos e apaixonados, ondeando sobre a testa curta. Olhos graves. Dois solitários nas orelhas. Ser substancial, sólido, sem chumaços e sem blagues, bem alimentado, envolto em consideração, superiormente instalado na vida.
E, no meio desta respeitabilidade física e social, um jeito guloso de molhar os beiços a cada instante, vivamente, com a ponta da língua... Chambray pensa consigo: «Burguesa, trinta anos, sessenta mil francos de renda, temperamento forte, desapontamentos de alcova.» E apenas o comboio larga, toma o seu «grande ar Chambray», e dardeja a dama um desses olhares que eram outrora simbolizados pelas flechas de Cupido. Madame impassível. Mas, momentos depois, vem de entre as pálpebras um pouco pesadas, direito a Chambray (que vigiava de lado, por trás do («Figaro» aberto), um desses raios de luz indagadora que, como os da lanterna de Diógenes, procuram um homem que seja um homem. Ao chegar a Courbevoie, a pretexto de baixar o vidro por causa da poeira, Chambray arrisca uma palavra, atrevidamente tímida, sobre o calor de Paris. Ela concede outra, ainda hesitante e vaga, sobre a frescura do campo. Está travada a écloga. Em Suresnes, Chambray já se senta na banqueta ao lado dela, fumando. Em Sevres, mão de Madame arrebatada por Chambray, mão de Chambray repelida por Madame: — e ambas insensivelmente se entrelaçam. Fm Viroflay, proposta brusca de Chambray para darem um passeio por um sítio de Viroflay que só ele conhece, recanto bucólico, de incomparável doçura, inacessível ao burguês. Depois, as duas horas tomariam o outro trem para Versalhes. E nem a deixa hesitar — arrebata-a moralmente, ou antes fisiologicamente, pela simples força da voz quente, dos olhos alegres, de toda a sua pessoa franca e máscula.
Ei-los no campo, com um aroma de seiva em redor, e a Primavera e Satanás conspirando e soprando sobre Madame os seus bafos quentes. Chambray conhece à orla do bosque, junto de água, uma tavernola que tem as janelas encaixilhadas em madressilva. Porque não irão lá almoçar urna caldeirada, regada com vinho branco de Suresnes? Madame na verdade sente uma fomezinha alegre de ave solta no prado: e Satanás, dando ao rabo, corre adiante, a propiciar as coisas na taver¬nola. Acham lá, com efeito, uma instalação magistral: quarto fresco e silencioso, mesa posta, cortina de cassa ao fundo escondendo e traindo a alcova. «Em todo o caso que o almoço suba depressa, porque eles têm de partir pelo trem das duas horas» — tal é o brado sincero de Chambray!
Quando chega a caldeirada, Chambray tem uma inspiração genial — despe o casaco, abanca em mangas de camisa. E um rasgo de boémia e de liberdade, que a encanta, a excita, faz surgir a «garota» que há quase sempre no fundo da «matrona». Atira também o chapéu, um chapéu de duzentos francos, para o fundo do quarto, alarga os braços, e tem este grito de alma:
— Ah oui, que c'est bon, de se desembêter!
E depois, como dizem os Espanhóis — la mar. O Sol, ao despedir-se da Terra por esse dia, deixou-os ainda em Viroflay; ainda na tavernola; ainda no quarto; — e outra vez à mesa, diante de um beefsteak reconfortante, como os acontecimentos pediam com urgência e lógica.
Versalhes, esquecido! Tratava-se de voltar à estação para tomar o trem de Paris. Ela aperta devagar as fitas do chapéu, apanha uma das flores da janela que mete no corpete, fixa um olhar lento em redor pelo quarto e pela alcova, para tudo decorar e reter — e partem. Na estação, ao saltar para um compartimento diferente (por causa da chegada a Paris), Chambray, num aperto de mão, já apressado e frouxo, suplica-lhe que ao menos lhe diga como se chama. Ela murmura — Lucie.
— E é tudo o que sei dela — conclui Chambray, acendendo o charuto. — E sei também que é casada porque na gare de Saint-Lazare, à espera dela, e acompanhado por um trintanário sério, de casa burguesa, estava o marido... É um rastacuero cor de chocolate, com uma barbita rala, enorme pérola na gravata... Coitado, ficou encantado quando ela lhe deu um grande ramo de cravos amarelos, que eu lhe mandara arranjar em Viroflay... Mulher deliciosa. Não há senão as francesas!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A BANCA E NÓS

Cartoon do The New Yorker

SIMPLESMENTE HUMILHANTE

Felizmente já não tenho filhos nessas escolas. Porque saber que tinham como professores gente que se presta a isto deixar-me-ia totalmente descrente do futuro deles (filhos) e perfeitamente convencido de que o sistema educativo básico/secundário estaria perigosamente entregue a indivíduos destituídos de qualquer sentido crítico e da mínima noção do ridículo. Para quem a dignidade pode ser negociável.

― Acontece que a dignidade deve ser sempre inegociável para qualquer pessoa ―.

Mas, para os professores (pelo menos para estes professores)... a dignidade parace que tem dias!

Nota: Quem quiser aprofundar mais a sua informação sobre esta vergonha pode ler aqui um relato feito na primeira pessoa.

CRISE FINANCEIRA

Mário Macedo, autor do blogue Erros de Números, mandou-me este texto por email ― espero não estar a quebrar a regra de não divulgação de conteúdos de correspondência ― cujo publico sem autorização, pois, parece-me um texto pacífico para além de ilariante, mas retratador de uma realidade cujos contornos são-nos normalmente difusos... por o serem efectivamente.

Assunto: Crise financeira
Estava-se no Outono e, os Indios de uma reserva americana perguntaram ao novo Chefe se o Inverno iria ser muito rigoroso ou se, pelo contrário, poderia ser mais suave. Tratando-se de um Chefe Indio mas da era moderna, ele não conseguia interpretar os sinais que lhe permitissem prever o tempo, no entanto, para não correr muitos riscos, foi dizendo que sim senhor, deveriam estar preparados e cortar a lenha suficiente para aguentar um Inverno frio.

Mas como também era um lider prático e preocupado, alguns dias depois teve uma ideia. Dirigiu-se à cabine telefónica pública, ligou para o Serviço Meteorológico Nacional e perguntou: 'O próximo Inverno vai ser frio?' 'Parece que na realidade este Inverno vai bastante frio' respondeu o meteorologista de serviço.

O Chefe voltou para o seu povo e mandou que cortassem mais lenha. Uma semana mais tarde, voltou a falar para o Serviço Meteorológico: 'Vai ser um Inverno muito frio?' 'Sim,' responderam do outro lado: 'O Inverno vai ser mesmo muito frio'.

Mais uma vez o Chefe voltou para o seu povo e mandou que apanhassem toda a lenha que pudessem sem desperdiçar sequer as pequenas cavacas. Duas semanas mais tarde voltou a falar para o Serviço Meteorológico Nacional: 'Vocês têm a certeza que este Inverno vai ser mesmo muito frio?' 'Absolutamente' respondeu o homem 'Vai ser um dos Invernos mais frios de sempre.'

'Como podem ter tanto a certeza?' perguntou o Chefe. O meteorologista respondeu 'Os Indios estão a aprovisionar lenha que parecem uns doidos.'

É assim que funciona o mercado de acções.


terça-feira, 14 de outubro de 2008

UMA PIQUENA DIFERENÇA

Até há cerca de 12-15 anos, os médicos iam para os hospitais

«atender e tratar doentes»;

de então para cá, cada vez em maior número (hoje aí perto dos 99%), os médicos vão para os hospitais

«trabalhar para ganhar dinheiro».

Isto é um autêntico milagre. Da autoria dos governos e ministros liberais que tão bem têm sabido servir

«os supremos interesses das populações».

AVISO À NAVEGAÇÃO

A despeito da idade, Mário Soares não pára. Lutador político de velha cepa e de inquebrantável ânimo, Soares não deixa os seus adversários políticos descansar e lembra-lhes amiúde as suas posições e opções erradas do passado (longínquo e recente) não lhes deixando margem de manobra para taparem o sol com peneiras e enganarem o pagode com conversas da treta e malabarismos políticos.

Hoje Soares analisa aqui no DN, com a clareza e o desassombro que lhe são habituais, as “medidas” (tidas por) magníficas e salvíficas da União Europeia para combate à crise instalada. E escreve, entre outras coisas interessantes, o seguinte:

«Por proposta de Zapatero, Sarkozy, como presidente em exercício da União, resolveu convocar os líderes da Zona Euro, para uma nova reunião a fim de tentarem encontrar uma solução conjunta para a crise. Foi no domingo passado e dela resultou uma acalmia nas bolsas, uma vez anunciado um plano para salvar os bancos da falência. Mas isso não basta.»

«Com efeito, já começaram a circular rumores que põem em causa a existência do euro... Num momento de tão grande crise - maior do que a de 1929 -, os líderes políticos fracos, que nos governam, têm tendência a aceitar qualquer disparate na ânsia de esconder as suas fragilidades...»

Confrontem o que diz Mário Soares com aquilo que o Governo tem dito aos portugueses e sobretudo com as notícias eufóricas e palermas sobre a “subida” das bolsas e o sucesso que está sendo o “combate europeu” à crise.

Não há dúvida que há dois mundos neste momento: de um lado o mundo dos políticos actuais neoliberais, «fracos» (no dizer e Soares) e pouco preparados, que vendem uma realidade virtual através dos órgãos de comunicação social e dos palcos dos comícios diários que fazem; e do outro, o mundo das dificuldades do dia-a-dia, do desemprego crescente, da falta de perspectivas profissionais para os jovens, da falta de liquidez dos bancos, da falta de dinheiro, etc., etc..

Depositemos uma réstia de esperança na eleição de Obama.

sábado, 11 de outubro de 2008

D. QUIXOTE DE LA MARMELEIRA

Este homem está a ficar inteligente demais.

Enquanto tudo o que é banco, seguradora, instituição financeira, etc., por esse mundo fora, pede a intervenção do Estado para não desaparecer, Pacheco, qual D. Quixote, teoriza por todo o lado, mas hoje no DN inventando uma conspiração dos “estatistas” de esquerda, e defende o liberalismo moribundo e o Mercado falido.

Uma obstinação pouco abonatória da flexibilidade intelectual de Pacheco.

Uma autêntica quadratura do círculo.


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

ASSIIM NÃO SARAH!

Oh Sarah! vamos lá ter maneiras!

Quando eu disse aqui que tu eras bonita, muito sexy, charmosa etc. e tal, não era para perderes a cabeça e desatares por aí a piscar o olho a torto e a direito e a todo o bicho careta que te vê pela televisão.

Assim não. Assim até pareces a minha professora de francês, no liceu, que passava a vida a dar aulas (para mim) e a piscar-me o olho quando o resto da malta se distraía (vá lá que ela só o fazia quando via a malta distraída. Era, portanto, só para mim).

Não era para toda a maralha como andaste a fazer na TV.

Fiquei chocado, miúda! Olha só para isto:

terça-feira, 7 de outubro de 2008

PARECE QUE É BRUXO

Só agora li, com muitas horas de atraso, o artigo de Mário Soares no DN de hoje, confrontando os neocons e os liberais da treta (mas também o José Sócrates da "Terceira Via Socialista") com as suas incongruências  e inconsistência político-económicas e reclamando indirectamente para si ― com toda a razão ― os louros de ter previsto o descalabro actual da economia mundial quando por várias vezes criticou as plíticas neoconservadores então cegamente seguidas um pouco por toda a parte.

Mário Soares ― já o disse por outras palavras e várias vezes ― é um dos políticos mais perspicazes dos últimos 30 anos, e o único deles ainda vivo (e bem vivo, felizmente); aquele que acertou, sempre que teve a ousadia de fazer previsões sobre a evolução política dos Estados europeus e da Europa Comunitária.

Até parece que é bruxo!

E fez muito bem em publicar tão oportunamente este artigo que lhe deve ter dado “um gozo bestial” escrever e que a mim me deu um gozo especialíssimo ler.

Vá lá ao DN e leia Mário Soares. Para seu deleite ou descontentamento. Consoante é de esquerda ou de direita.

O problema é seu.

P.S. E o Abrupto lá continua, com os seus livros e as suas fotografiazinhas. Caladinho, caladinho. Ainda não tomou conhecimento da crise mundial nem dos disparates que se tem dito no PSD.

É PERCISO TER LATA

Durante meses e anos a fio essa gente da direita (políticos, jornalistas económicos, “analistas/comentadores” tipo Pacheco Pereira e Lobo Xavier, por exemplo, políticos tipo Pedro Passos Coelho, Filipe Menezes, Ferreira Leite, António Borges ― o grande Senhor António Borges que ainda há bem pouco tempo andou por cá a elogiar o «subprime» ― e outros), essa gente toda da direita andou a chagar o juízo aos portugueses, numa lengalenga, numa ladainha constante e permanente que monopolizou jornais, rádios e televisões, como uma praga incontível e inexorável, durante meses e anos, com frases estafadas de economês como estas:

«Deixem funcionar o mercado»
«É preciso que o Estado saia das empresas, saia da Educação, da Saúde, da Segurança Social»
«Temos Estado a mais e o que precisamos é de menos Estado, menos regulação»; etc., etc., 

Agora que o sacrossanto MERCADO deu o berro e entrou em crise global, todas essas luminárias, ou meteram a viola no saco e estão caladinhas que nem ratos, ou, com toda a lata deste mundo, aparecem agora a defender a intervenção do Estado na Economia, ou mesmo em TODOS OS SECTORES DA ECONOMIA, como defendeu ontem Francisco Vanzeller (presidente da Confederação da Indústria Portuguesa) no programa Prós & Contras da RTP ― Vanzeller até teve a descarada sinceridade(?) de confessar que mudou de posição em relação ao que defendia antes (a saber: o sacrossanto MERCADO auto-regulando-se a seu bel-prazer) ― pedindo agora a intervenção urgente do Estado na economia «durante alguns anos se isso for necessário».

Digo eu agora: até que a economia recupere e permita que o sector privado se aproprie de novo dela para alimentar os seus regabofes, a sua cupidez, a sua irresponsabilidade, a sua insensatez e a sua gritante insensibilidade social; e a espatife de novo para que os contribuintes sejam mais uma vez chamados para mais uma recuperação daquilo que tantos sacrifícios, desemprego, trabalho precário, ordenados de miséria e sofrimento sempre causa.

A gente ouve e lê estas coisas e não acredita. Não acredita!

Nos Estados Unidos preparam-se para meter na cadeia gestores irresponsáveis que conduziram bancos e empresas em negócios fictícios e pouco claros levando-os à falência depois de declararem lucros fabulosos que permitiram grandes fortunas aos accionistas maioritários ― e aos gestores a auto-atribuição de ordenados e prémios escandalosos ―. Já hoje, dia 7 de Outubro, começam as audiências a esses (ir)responsáveis.

E em Portugal, o que vai acontecer?

Sabemos ou não sabemos todos o que vai acontecer?

Vai uma apostinha?

Nota: Quem domine minimamente o Inglês tem aqui um interessante e esclarecedor artigo, hoje publicado por Francis Fukuyama na Newsweek, em que historia a crise actual do sistema capitalista/financeiro global e aponta os erros do modelo económico liberal «anti-regulação de mercados» que a provocou.

Como sei que Pacheco Pereira visita de vez em quando este blogue, aconselho-o a ler o artigo acima referido.


domingo, 5 de outubro de 2008

“AS CASAS DE LISBOA”

NEM UM SÓ SE SAFA!
Baptista Bastos foi apanhado numa daquelas curvas apertadas que a vida sempre coloca no nosso caminho: descobriram (ou já tinham descoberto e agora noticiaram) que é um dos privilegiados pelo Município de Lisboa com a atribuição de uma casa de renda baixa, coisa que está nas mãos da Polícia Judiciária, que investiga da legalidade ou não da atribuição dessas mesmas casas a centenas de pessoas, senão mesmo a mais do que isso, pois, a Câmara de Lisboa é proprietária de cerca de três mil casas.

Conhecido pela sua truculência e implacabilidade na apreciação do comportamento político e moral dos seus concidadãos ― apreciado por mim em muitos dos seus escritos a ponto de, por mais que uma vez, o ter citado neste blogue ― Baptista Bastos resolveu defender-se (no meu entender da pior maneira) neste artigo no DN justificando-se assim: «...eu estava desempregado. Abandonara o jornalismo, ou o jornalismo abandonara-me em 1990. O contrato assinalava que a renda aumentaria consoante os ritmos da inflação.».

Ao que me parece Baptista Bastos defende-se sem êxito.

E porquê?

Simplesmente porque a renda que ele paga hoje lhe fora calculada na base das suas dificuldades de desempregado de então, e embora actualizada com referência à inflação talvez também o devesse ser com base no seu salário a partir do momento em que recomeçou a trabalhar. E acresce, ao que consta, que Baptista Bastos tem uma casa de campo em Constância, no Ribatejo.

É assim... deixou-se estar com a renda de carenciado quando arranjou emprego e passou a não carenciado... e isso é no mínimo um pecado; tanto mais que depois arranjou casa de campo mantendo a renda carenciada da de Lisboa.

Sem nenhuma dúvida que é pecado. E muito maior pecado é se julgarmos Baptista Bastos com base na sua cartilha política e moral implacavelmente aplicada por si aos seus concidadãos.

Conclusão mais que óbvia: não há pessoa nenhuma no mundo asséptica a 100% sob o ponto de vista moral ― nem sob o ponto de vista da sua própria moral ―.


Isso é impossível! Somos todos humanos!

Menos o Pacheco Pereira.

sábado, 4 de outubro de 2008

NON PLUS ULTRA

Escrevo isto a contragosto, mas não podia deixar de o fazer. É que eu escrevo na blogosfera e considero-me filho de boa gente ― logo, sinto! ― e senti o que disse Pacheco Pereira na TV.

Quem assistiu na quinta-feira passada ao programa da SIC Notícias Quadratura do Círculo teve o ensejo de ouvir José Pacheco Pereira dizer, numa tomada de posição um pouco paranóica (no que na paranóia é viagem à volta do eu), que “do que se escreve na blogosfera, 99% é lixo e apenas 1% é boa escrita”.

Quando Pacheco falou nos 99% de lixo blogosférico devia estar certamente a referir-se ao seu Abrupto, hoje um repositório de recados políticos pró Manuela Ferreira Leite, de poemas transcritos, e de péssimas fotografias de que só se safam as de António Leal e algumas de Susana.

Pacheco, no meu entender, cometeu mais um dos seus cada vez mais habituais dislates que o diminuem fatalmente. Falar como ele falou, da blogosfera, em nada ― mas mesmo “nadíssima”! ― o dignifica, visto que a blogosfera é feita de tudo e por isso de muitíssima coisa boa que ele, Pacheco, tinha a obrigação intelectual de reconhecer e enaltecer, mas que o seu narcisismo exacerbado lhe impede totalmente de fazer.

Pacheco já nos habituou a querer considerar-se, à força, como o único habitante terráqueo com direito à vida no planeta. O único que sabe pensar, ler, escrever, falar e opinar. 

Pacheco considera-se «a pessoa mais atacada e zurzida na blogosfera». Não é verdade. Basta fazer uma pesquisa no Google por “Pacheco Pereira” e por “José Sócrates”, por exemplo, para se constatar de imediato que este é de longe muitíssimo mais falado e zurzido que Pacheco (3.340.000 documentos mencionando Sócrates, e apenas 613.000 mencionando Pacheco). A diferença entre um e outro é de apenas 545%. Isto é, Sócrates é cinco vezes e meia mais referido que Pacheco na blogosfera.

Mas não, apesar de todas as evidências em contrário, Pacheco Pereira teima cegamente em considera-se o centro do mundo: é Eu, Eu, e mais Eu. Sempre ele o centro das atenções, dos ataques, do interesse geral do pagode. E não se coíbe de ofender os outros embora sempre de forma indirecta (umas vezes é a “lagartixa que não chega a jacaré”, outras é o “porco” de Bernard Shaw).

Nesse programa Pacheco deixou claro em que lugar se coloca (Ele, Pacheco) e em que lugar considera a restante Humanidade, quando nos colocou, a todos, ao nível dos porcos de que falaria George Bernard Shaw numa citação que Pacheco reproduziu com gosto indisfarçável:

«Nunca lutes com um porco. Primeiro porque te sujas; e segundo, porque o porco gosta.»
...

Era Pacheco a citar Shaw, e nós a olharmos para a figura de Pacheco ― redonda e com pouco pescoço...

Nota: a figura foi copiada, com a devida vénia, do blogue Wehavekaosinthegarden.