Escrevo isto a contragosto, mas não podia deixar de o fazer. É que eu escrevo na blogosfera e considero-me filho de boa gente ― logo, sinto! ― e senti o que disse Pacheco Pereira na TV.
Quem assistiu na quinta-feira passada ao programa da SIC Notícias Quadratura do Círculo teve o ensejo de ouvir José Pacheco Pereira dizer, numa tomada de posição um pouco paranóica (no que na paranóia é viagem à volta do eu), que “do que se escreve na blogosfera, 99% é lixo e apenas 1% é boa escrita”.
Quando Pacheco falou nos 99% de lixo blogosférico devia estar certamente a referir-se ao seu Abrupto, hoje um repositório de recados políticos pró Manuela Ferreira Leite, de poemas transcritos, e de péssimas fotografias de que só se safam as de António Leal e algumas de Susana.
Pacheco, no meu entender, cometeu mais um dos seus cada vez mais habituais dislates que o diminuem fatalmente. Falar como ele falou, da blogosfera, em nada ― mas mesmo “nadíssima”! ― o dignifica, visto que a blogosfera é feita de tudo e por isso de muitíssima coisa boa que ele, Pacheco, tinha a obrigação intelectual de reconhecer e enaltecer, mas que o seu narcisismo exacerbado lhe impede totalmente de fazer.
Pacheco já nos habituou a querer considerar-se, à força, como o único habitante terráqueo com direito à vida no planeta. O único que sabe pensar, ler, escrever, falar e opinar.
Pacheco considera-se «a pessoa mais atacada e zurzida na blogosfera». Não é verdade. Basta fazer uma pesquisa no Google por “Pacheco Pereira” e por “José Sócrates”, por exemplo, para se constatar de imediato que este é de longe muitíssimo mais falado e zurzido que Pacheco (3.340.000 documentos mencionando Sócrates, e apenas 613.000 mencionando Pacheco). A diferença entre um e outro é de apenas 545%. Isto é, Sócrates é cinco vezes e meia mais referido que Pacheco na blogosfera.
Mas não, apesar de todas as evidências em contrário, Pacheco Pereira teima cegamente em considera-se o centro do mundo: é Eu, Eu, e mais Eu. Sempre ele o centro das atenções, dos ataques, do interesse geral do pagode. E não se coíbe de ofender os outros embora sempre de forma indirecta (umas vezes é a “lagartixa que não chega a jacaré”, outras é o “porco” de Bernard Shaw).
Nesse programa Pacheco deixou claro em que lugar se coloca (Ele, Pacheco) e em que lugar considera a restante Humanidade, quando nos colocou, a todos, ao nível dos porcos de que falaria George Bernard Shaw numa citação que Pacheco reproduziu com gosto indisfarçável:
«Nunca lutes com um porco. Primeiro porque te sujas; e segundo, porque o porco gosta.»
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Era Pacheco a citar Shaw, e nós a olharmos para a figura de Pacheco ― redonda e com pouco pescoço...