domingo, 31 de dezembro de 2006

BOAS FESTAS

FELIZ ANO DE 2007


Porque hoje é a noite de S. Silvestre, volta a emblemática composição musical de Luís Morais, Boas Festas, ao topo do blogue.
Que a noite seja de arromba; se regresse a casa de manhã e de gatas tresandando a perfume, champanhe e o mais que é bom.

― OH QUE SODAD D'SONCENTE!

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

LIÇÕES

Hoje estou numa de apreciar a simplicidade. Por isso apetece-me homenagear aquele aluno da segunda classe da instrução primária, da Ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, a quem a professora pedira uma breve redacção sobre “o leite”, e o menino escreveu com toda a convicção e clareza:

«O LEITE»
«O leite é o melhor alimento. Basta dizer que é o primeiro pão que nós mamamos.»


Muitos se riram do pequenote por causa daquela de “mamar” o pão. Mas eu não concordo. E bem me esforço por imitar-lhe a clareza e simplicidade da escrita; embora ainda não consiga ser tão claro quanto aquela criança o foi.
É difícil. Eu sei que é difícil.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

DO SIGILO MÉDICO NOS HOSPITAIS

Aí há tempos fui a um hospital público de Lisboa “tirar sangue” para umas análises. Chegado ao local deparei-me com uma pessoa amiga que lá trabalha.

Passadas várias semanas, novo encontro fortuito nos colocou face a face. Ao que o meu amigo me diz: «falei com o médico que viu as tuas análises e ele disse-me que estava tudo bem».

― Vejam só: com que autoridade é que foi falar ao médico?!...

Felizmente estava «tudo bem», pensei eu. Porque se não estivesse «tudo bem» ― se eu tivesse um cancro ou estivesse infectado com o vírus HIV, por exemplo ― Já hoje todo o mundo sabia.

O que moveu o meu amigo na procura (indevida e ilegal) de informação sobre as minhas análises, não foi amizade ou solidariedade; não foi sequer a vontade de ser prestável para me dar uma informação importante em primeira mão (e a prova disso é que não ma deu na altura em que a teve), até porque sabia muito bem que eu teria acesso privilegiado e rápido a essa informação. Mas creio que me contactaria de imediato caso eu tivesse qualquer coisa grave que lhe desse o prazer de me comunicar em primeira mão.

O que moveu o meu amigo foram duas coisas básicas que existem dentro da larga maioria dos seres humanos (dos seres humanos menos “trabalhados”): uma, a curiosidade mórbida de descobrir aquilo que é suposto ser sigiloso; e outra, o desejo inconsciente, mórbido e sádico de que haja doença séria nos outros para que, confrontando essa realidade com o seu estado de plena saúde, possa sentir-se privilegiado e feliz por nada sofrer no momento. Os doentes serão, assim, para essas pessoas, um motivo de felicidade.

E gostam de dizer aos outros: «Já sabes? Fulano tem cancro na próstata, coitado».

Mas o que querem mesmo dizer é:

«Fulano tem cancro na próstata E EU NÃO. Yupiiiiiii...»

P.S. Por acaso hoje até estou doente. Estou com gripe. Mas espero festejar, bebendo e dançando, a passagem do ano.

sábado, 23 de dezembro de 2006

PORMENORES

«Ela estava parada, esperando, enquanto o homem, marido, irmão, parecido a ela, buscava nos bolsos por miúdos. Espécie de casaco estilizado com aquela gola enrolada, quente para um dia como este, parece como se de pano de cobertor. Postura desenvolta a dela com as mãos naqueles bolsos externos. Como aquela criatura arrogante na partida de pólo. Mulheres, todas são pela posição, até que se toque no ponto. É bom e faz bem. Reserva a ponto de virar entrega. A honrada senhora e o Brutus é um honrado homem. Possuí-la uma vez é quebrar-lhe e rigidez.»

[James Joyce- in Ulisses]

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

VISTAS CURTAS

Não gosto de dizer “afinal eu tinha razão”; mas não posso deixar passar em claro o facto de só agora, passados mais de três meses, o Governo vir concluir que afinal o diploma que aprovara em conselho de ministros, alterando a forma de justificação de faltas pelos funcionários públicos, é inexequível nos moldes em que foi feito .

Eu chamara aqui a atenção para esse disparate logo na mesma semana em que os fabulosos crânios do Governo conceberam aquela grossa asneira. Então escrevera:

«A partir de agora o funcionário doente irá engrossar a bicha dos Centros de Saúde e entupir as já saturadas urgências hospitalares à procura de uma “baixa” para justificar a falta ao trabalho.»

Tenho vindo a chamar a atenção para várias outras medidas de puro recorte economicista, tomadas na área da Saúde, que penalizam profundamente os utentes e os doentes e que essencialmente visam extinguir a prazo o Serviço Nacional de Saúde.

Desenha-se no horizonte um autêntico desastre que levará ao cerceamento quase total do direito à saúde por parte dos mais pobres e desfavorecidos e à oneração incomportável das despesas de saúde para a restante população trabalhadora.

Os que hoje pateticamente aplaudem as medidas ditas de «equilíbrio das contas públicas», que consistem tão-só em cortes de despesa e nada mais, medidas ditas «iguais para todos» (o que é refinada mentira), ainda hão-de ficar, como todos nós, de calças na mão.

A propaganda deste Governo é fortíssima e bem montada. Mas ela está hoje bem à vista de quem tem olhos para ver, pelo que é preciso ter-se uma boa dose de estupidez para se continuar enganado por essa propaganda e a apoiar quem nos está depenando e empobrecendo.

Essa propaganda assenta fundamentalmente em truques baratos: a estimulação da ancestral inveja dos portugueses; atirar grupos profissionais uns contra os outros; falar em corte de «privilégios» quando se trata de corte de direitos; dizer que o ataque ao cidadão «toca a todos» quando na verdade não toca nos grupos económicos para quem, aliás, se está a trabalhar, sendo disso exemplo modelar o que se passa na área da Saúde.

Repare-se que hoje já nenhum governante, muito menos o Sr. Ministro da Saúde, fala em listas de espera para consultas ou cirurgias. Esse mal deixou de ser um mal. E sambem porquê? Porque o combate a essas listas aumenta a despesa. Portanto, deixem aumentar as listas porque isso significa que a despesa diminui ou não aumenta. O que prova que o que interessa não é governar para os mais desfavorecidos e carenciados; que o que interessa não é governar para o Bem comum. Que, no fundo, o que interessa é, mas é: governar para reforçar e manter o poder. E isso consegue-se de duas maneiras: primeiro, enganando o povinho com propaganda e truques de feira para que em futuras eleições ele vote de novo em quem o tem enganado; e segundo, protegendo e facilitando a vida aos grupos económicos para que este verdadeiro poder seja aliado do poder político na hora das eleições e da governação.

No fundo, com o voto do povo se vai lixando o povo. Que é burro.

domingo, 17 de dezembro de 2006

CAÍDO DO CÉU

Depois de duas décadas sem ir ver futebol ao vivo, ontem lá aceitei um amável convite de um amigo para um camarote VIP em Alvalade e lá fui ver o Sporting Académica.

Jogo medíocre na primeira parte, e mau na segunda; mais por culpa de um Sporting molengão, sem fibra e sem ideias, do que de uma Académica esforçada e aplicada que mais não fez porque já lá não moram o talento e a visão de jogo de um Rui Rodrigues no meio campo, ou a inteligência e a técnica de um Artur Jorge na frente de ataque.

A observação in loco desta equipa de miúdos ingénuos do Sporting (excepção feita a Moutinho), fez-me recordar e desejar ver ali no relvado Vítor Damas na baliza e, bem lá na frente, Hector Jazalde ou a dupla Jordão Manuel Fernandes. Estes sim ― jogadores capazes de dar uma cabazada memorável a esta Académica.

Mas não é bem disto que eu queria falar-vos. Quero é dizer-vos o quão chocado fiquei quando soube que o lugar que ocupei ― uma vulgar cadeira de napa, almofadada e sem braços, pouco melhor que as cadeiras de plástico das bancadas ― custa, por ano, a módica quantia de €4.700. É isso mesmo: quatro mil e setecentos euros por ano.

Mas a coisa não fica por aqui. É que o camarote tem sete cadeiras dispostas em duas filas em degrau: a primeira fila com três cadeiras, e a segunda, atrás, com quatro; e se destina a um único comprador (particular ou empresa), que tem que pagar a ninharia de €33.000 (trina e três mil euros) para ter direito a uma época de futebol em Alvalade.

Para além da desmedida exorbitância (passe o pleonasmo) do preço a pagar para ver futebol de refugo europeu, o que ainda me chocou mais foi constatar a inexistência de quaisquer condições de conforto e privacidade nos ditos camarotes: que mais não são que pequenos espaços das bancadas delimitados das cadeiras vizinhas por um pequeno muro em “U” de cerca de 50 cm de altura, espaço para onde se acede, vindo do interior do estádio, por uma porta de vidro individual.

É isso que se paga tão caro: a faculdade de ir para a bancada do estádio apanhar frio e ver mau futebol, não em magote andando escadaria abaixo ou escadaria acima à procura do nosso lugar, mas calmamente como quem, de dentro de um edifício, espreita o relvado por uma porta de vidro que lhe permite aceder à bancada para uma zona de sete cadeiras cercadas pelo dito muro de 50cm.

No camarote, a sensação que se tem é a de se estar na bancada normal do estádio (pois as cadeiras do camarote estão, ao ar livre, na continuação das outras que compõem o anfiteatro), tendo connosco a turba toda ali a pedir-nos, ou a exigir-nos ― sei lá ―, solidariedade na hora de chamar f.d.p. ou c..... ao árbitro.

Convenhamos que há muito de absurdo em tudo isto.

E depois de ter ido conhecer um dos novos estádios do Euro 2004 ― coisa que eu tinha curiosidade em fazer ― creio que nunca mais entrarei num estádio de futebol!

Ponto Final.

Ah! Esquecia-me disto: Há um pequeno frigorífico logo à entrada do camarote onde estão bebidas não alcoólicas que o camarodono pode consumir à vontade e “sem pagar”; pode encharcar-se até mais não em coca-cola ou laranjada que “não paga nada” (também se pagasse não seria grande o rombo). E o camarodono até tem uma chave do frigorífico, chave que lhe é entregue quando "compra" o camarote. Suponho que para lhe dar a única sensação de posse que os €33.000 pagos lhe permitem ter: uma chave de um mini frigorífico.

Beleza! Não é?

Paraíso!... Nirvana!...

Bolas! Que há gente para tudo.

Isto sem ofensa para o meu anfitrião. Discordo. É tudo.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

UM OUTRO OLHAR SOBRE O 11 DE SETEMBRO

O DAS COINCIDÊNCIAS

* ― “New York City” tem 11 letras.
* ― “Afeganistão” tem 11 letras.
* ― "The Pentagon" tem 11 letras.
* ― “George W. Bush” tem 11 letras.
* ― Nova Iorque é o estado N° 11 dos EUA.
* ― O primeiro dos voos que embateu contra as Torres Gémeas era o N° 11.
* ― O voo N° 11 levava a bordo 92 passageiros;
a soma dos seus algarismos dá: 9+2 = 11
* ― O outro voo que embateu contra as Torres, levava 65 passageiros;
a soma dos seus algarismos dá: 6+5 = 11.
* ― A tragédia teve lugar a 11 de Setembro, ou seja, 11 do 9;
a soma dos seus algarismos dá: 1+1+9 = 11.
* ― As vítimas totais que faleceram nos aviões eram 254: 2+5+4 = 11.
* ― O Dia 11 de Setembro é o dia número 254 do ano: 2+5+4 = 11.
* ― A partir do 11 de Setembro sobram 111 dias até ao fim de um ano.
* ―“Nostradamus” (que tem 11 letras) profetiza a destruição de Nova Iorque na Centúria número 11 dos seus versos.
* ― As Torres Gémeas tinham a forma de um gigantesco número 11.
E, como se não bastasse, o atentado de Madrid aconteceu no dia 11.03.2004.
Somados estes algarismos temos: 1+1+0+3+2+0+0+4 = 11
O atentado de Madrid aconteceu 911 dias depois do de Nova Iorque.
Somados estes algarismos temos: 9+1+1=11

[Coincidências trabalhosamente encontradas – sem dúvida!]

Isto tudo vem num panfletozinho distribuído há dias na Baixa de Lisboa. A intenção que acompanhou a distribuição apanhou-me totalmente distraído, confesso.

domingo, 10 de dezembro de 2006

GRANDE SENA SANTOS

Um muitíssimo obrigado à Grande Loja que nos permitiu, passados uns dois ou mesmo três anos, recuperar a convivência com Sena Santos, talvez o maior jornalista de rádio que escutámos até hoje.

Sena Santos está na Net, todos os dias, com um programa de cerca de oito minutos, o “Assim Vai o Mundo”, trazendo-nos, como só ele sabe fazer, notícias frescas e rigorosas do que de mais importante vai acontecendo no mundo globalizado em que hoje vivemos.

Habitue-se a ir todos os dias até este sítio e dê por muitíssimo bem empregado o tempo que levar a escutar o que Sena Santos tem para lhe transmitir.

E compare o trabalho de Sena Santos com os noticiários que ouve e lê um pouco por aí para ver o quão diferente é o tratamento que um mesmo assunto pode receber por parte de um jornalista competente como é Sena Santos, e por parte de outros que se limitam a encher-nos a vista e os ouvidos com “recados” políticos e transcrições e leituras de telex das agências internacionais de comunicação.

Se Sena Santos vier a pôr na sua página da Net uma ligação para fazermos donativos para o seu programa, serei dos primeiros a corresponder ao propósito. E creio bem que a maioria dos ouvintes não regateará na hora de também contribuir para manter um tal serviço. Que de serviço se trata.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

OH MARAVILHA!

Engolido o vinho irradiante lhe cruzava o céu-da-boca. Espremido nos lagares de uva da Borgonha. É o calor do sol. Parece um toque secreto contando-me recordações. Tocados seus sentidos humedecidos relembravam. Escondidos sob os fetais silvestres de Wowth. Debaixo de nós a baía dormente céu. Nenhum som. O céu. A baía púrpura perto do cabo Leão. Verde por Drumleck. Verde-amarelo rumo a Sutton. Campos submarinos, linhas de um pardo desmaiado por entre a relva, cidades enterradas. Almofadada no meu paletó tinha ela sua cabeleira, fura-orelhas, em sarças de urze minhas mãos sob sua nuca, tu vais me despentear todinha. Oh maravilha!

[James Joyce – in Ulisses]

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

“INTENDÊNCIA”

Quer dizer-nos Pacheco Pereira se ainda hoje continua a apoiar a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, mesmo depois de ler o relatório Baker?

Fim de “intendência”.


Hoje é nosso dever lembrar a todos os apoiantes da invasão do Iraque que a América está derrotada. Que quem diz isso não é um qualquer irresponsável. Que quem diz isso é uma comissão presidida pelo senhor James Baker, num relatório oficial encomendado pela e para a Administração Americana.

Nada mais claro: a América perdeu a guerra no Iraque.

Por outras palavras: Saddam Hussein acaba de ganhar a guerra a George Bush.

Saddam já pode morrer descansado. Embora o não merecesse, ficará na história como mais um chefe militar e político que derrotou a toda-poderosa América.

Depois da vergonhosa derrota no Vietname, veio agora a não menos vergonhosa derrota no Iraque. E fica-se com a certeza de que sempre que a América guerreou sozinha (neste caso do Iraque até contou com algum apoio do Reino Unido) ― mas, dizia-mos ― sempre que a América guerreou sozinha acabou por levar no focinho e sair do palco com o rabinho entre as pernas.

Depois há-de ganhar a guerra no cinema: hão-de fazer grandes filmes tipo “Rambo”, em que os iraquianos serão derrotados em toda a linha, para levantar o moral do sempre politicamente enganado povo americano.

Justiça se faça a um homem que teve sempre da História uma visão lúcida e previu até hoje como ninguém vários desfechos de acontecimentos históricos relevantes para a humanidade:

Falo de Mário Soares.

Mesmo antes da invasão do Iraque, quando se montava a mentira e se preparava a opinião pública para a guerra, Soares disse na televisão: «vai ser fácil lá entrar, mas depois o grande problema vai ser como sair de lá».

Pois é: agora Bush tem que se aliar ao “Eixo do Mal” para o ajudar a recolher os cacos, regressar a casa e contar as sepulturas dos milhares de jovens militares americanos mortos no Iraque. Para nada!

Antes da guerra, a euforia ------------------------ Depois da derrota, o funeral.

SEJAMOS REALISTAS

Da passagem do Sporting por esta edição da Liga dos Campeões ficou apenas na memória aquele remate certeiro de Caneira que deu o único golo do jogo de Alvalade com o Inter de Milão.

Convenhamos que é pouquíssimo – quase nada, ou mesmo nada -. E traduz inteiramente o quarto e último lugar do Sporting no seu grupo de apuramento, isto é, a sua eliminação de todas as provas europeias desta época.

Acabado de ver ainda há pouco o jogo do Porto com o Arsenal, admite-se, sem dificuldades de maior, que apenas os dragões têm, aqui no rectângulo, equipa que mereça estar na fase seguinte da prova futeboleira maior da Europa.

E ponto final.

domingo, 3 de dezembro de 2006

O OLHO CLÍNICO DO ABRUPTO

Quando o jornal PUBLICO desapareceu pela primeira vez na sua versão online, escrevi dizendo claramente que achava que era uma má decisão porque quem lia online, também comprava o jornal em papel porque sabia que a versão impressa traz sempre mais conteúdo, e porque ler em papel é diferente e apraz bastante.

Mas também disse que jornal que não dispense parte do seu conteúdo online é jornal condenado a não ser comprado por muita gente; porque, frisei de novo, quem lê online também compra papel .

Vem agora o Abrupto tentar mais uma vez caracterizar-nos um pouco taxonomicamente dizendo-nos que nós os blogueadores nos limitamos a ler os jornais online e não ligamos nenhuma aos jornais impressos.

Não é um erro dos blogueadores que está na base desta verdade; é um erro dos editores dos jornais que acham que é escondendo bem escondidinho o seu produto que o tornam mais apetecido.

Mentira! A vastidão da Internet felizmente é hoje tão grande, preenche de tal maneira as necessidades de notícia e busca de artigos sobre os mais variados temas, que só competindo na Internet (atenção que eu não disse contra a Internet – que é o que alguns jornais estão a tentar fazer, sem sucesso nenhum, aliás -) que os jornais poderão ganhar leitores para as suas versões em papel.

Repito mais uma vez: quem lê online também lê, e muito, em suporte papel (livros, revistas, jornais); mas não lê - se calhar por revanchismo – e eu faço-o! os jornais escondidinhos.

Eu comprava o Expresso todas as semanas, e o PUBLICO três vezes por semana. Agora compro zero de um e de outro. Nem quero saber deles. Desde que passaram a obrigar ao pagamento da sua leitura online que deliberadamente me esqueci que existem.

Mas o caso do PUBLICO, como escrevi aqui, é ainda mais caricato: aqueles crânios que o dirigem e editam meteram-no num sarcófago ao retirarem ao Google a autorização para o “cachear”.

E agora só lhes falta construir a pirâmide com a câmara funerária onde vão colocar o sarcófago com o jornal.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

ESADOF* CLÓVIS

Recebi, das mãos de um familiar cioso dessas coisas da genealogia e ancestralidade, um maço de papéis que pretensamente provam que ele e eu somos descendentes de Clóvis, Rei dos Francos, que casou no ano 466 DC com Clotilde de Borgonha, (mais tarde Santa Clotilde de Borgonha), que teve uma filha com o mesmo nome, esta, cuja, terá por sua vez contraído matrimónio, no ano 502 DC, com um tal de Amalric I Balthes, Rei dos Visigodos...

... E por aí fora até chegar ao nosso nascimento.

Como tenho a péssima mania de relativizar as coisas e de olhar para o ser humano mais como uma maquinazinha defeituosa e altamente dependente, que quase não presta para nada senão para albergar uma caterva incomensurável de micróbios que passam a vida a reproduzir-se, e a produzir, dentro e fora de nós, toneladas e toneladas de todo o género de porcaria que imaginar se possa;

Resolvi consultar uns velhos e adormecidos canhenhos que tenho por aqui, escritos por uns autores desmancha-prazeres, de onde pude retirar alguma informação interessante.

Num canhenho que fala de bichinhos esclareci-me sobre a porcaria que somos e a fragilidade da nossa existência. Assim:

1. Qualquer corpo humano é composto por cerca de dez quatriliões (10) de células, e hospeda cerca de cem quatriliões (100) de bactérias.

2. Nunca nos esqueçamos de que as bactérias sobreviveram biliões de anos sem nós. E nós não poderíamos sobreviver nem sequer um dia sem elas.

Esta é a precária porcaria que somos.

Num outro canhenho sobre genética vi incendiarem-se todos os pergaminhos de toda a humanidade - e, claro, também os meus que me davam Clóvis como meu antepassado em linha directa - ao ficar a saber que:

1. Há 30 gerações, o número total dos antepassados de qualquer indivíduo – dos meus, dos seus e de qualquer outra pessoa – considerando apenas a ascendência directa (apenas pais e pais de pais numa linhagem que caminhou inevitavelmente na direcção de cada um de nós) é superior a UM BILIÃO (mais precisamente 1 073 741 824) de pessoas.

2. Se tivermos uma relação com alguém da nossa própria raça e país, há, portanto, fortes probabilidades de sermos parentes.

Por isso, quando alguém se gabar à sua frente, caro leitor, de ser descendente de D. Afonso Henriques, ou de Carlos Magno, ou de Clóvis (como é o caso da minha família), responda imediatamente: “Também eu!”.

E não diga depois que não lhe proporcionei um bom fim-de-semana com esta posta, meu caro parente que me lê; e aceite um forte e fraternal abraço.

(*) O seu a seu dono: “ESADOF” (que deve ser lido de trás para a frente) foi “plagiado” aqui do Abrupto.