sábado, 3 de abril de 2010

ELOCUBRAÇÃO QUADRAGÉSIMA SEGUNDA:

“Ser culto es el único modo de ser libre”.

José MARTÍ (1853-1895)

POSTA SEGUNDA:


1) De feito, neste início do Século XXI, se envida, por conseguinte, em melhor classificar e a melhor individualizar, visto que se impõe ir para uma Medicina, cada vez mais e mais, individual que tratará (“votre tumeur à vous”) com as suas características genéticas e não as de um outro. Isto deveria permitir fazer progressos mais rápidos porque se coloca as boas questões, enquanto actualmente, se mistura as questões acerca dos grandes grupos de enfermidades que não se sabe diferençar. Na verdade, em teoria, se chegarmos a identificar os genes, isto deveria facilitar as terapias: quer far-se-á a terapia genica, quer se serve de inibidores de tal ou tal gene.

2) Uma das consequências desta revolução terapêutica, ora enunciada é que os métodos para levar a cabo, os ensaios clínicos estão (quiçá) completamente ultrapassados. Com efeito, vale a pena, fazer, durante uma década ou duas, mesmo, ensaios em mil enfermos, tirados à sorte, para demonstrar minúsculas diferenças de eficácia, enquanto o produto testado é provavelmente activo, unicamente, no entanto, num pequeno grupo de enfermos que não se sabe ainda reconhecer antecipadamente? Isto custa muito caro e, demais a mais, não há demasiados enfermos para entrar neste género de experiência. O SIDA mostrou que é preciso tentar outras vias de pesquisa/investigação, mais céleres e mais dinâmicas. É necessário inventar outros critérios de avaliação. Demais, em suma: o mais importante é que os doentes vivam, concomitantemente, muito tempo e melhor, ou seja, com o mínimo de qualidade de vida, obviamente.

3) Donde e daí, as duas grandes esperanças são, efectivamente:

a. Os marcadores com extracção de sangue. De feito, graças as técnicas da genómica e da proteómica, se pode diligenciar em obter demasiado atempado, indicações precisas acerca do estado do marcador, sendo marcador um produto expelido pelas células do doente e que se pode detectar não no tumor, mas sim no sangue. O marcador indica, aliás, qual o estádio em que se encontra o doente e, em caso de tratamento, permite saber se existe efeito ou não.

b. A Imageologia: com PET-SCAN, a Ecografia Doppler, a Ressonância Magnética (IRM). Até então, a imageologia visava tomar uma foto das cores, das formas, da localização de um tumor. O PET-SCAN, por seu turno, vai mostrar o estado biológico. Trata-se de Tomografia por emissão de positrões. Grosso modo, combina os métodos da imageologia tradicional com os da Cintigrafia (injecta-se um produto radioactivo, que se incorpora nas células e se vê uma localização como uma intensidade de fixação). Tudo isto, dá uma ideia do estado biológico dos tecidos e das células e, por conseguinte, da sua real agressividade, do seu potencial de recidiva. Enfim, o PET-SCAN não é apenas uma foto, sim, efectivamente é, outrossim uma actividade (cerebral, cardíaca ou de um tumor). Donde, se consegue diagnósticos, não só, mais rápidos como assaz melhores. Eis, então, de uma forma geral, concretamente, no âmbito da Oncologia, o estado da arte em que se encontra a Investigação Médica e as perspectivas, assaz sérias, previstas para as décadas vindouras.


E, em jeito de Remate:

Na realidade, fez-se progressos consideráveis que, no entanto, ainda, pouco se conseguiu modificar, no atinente ao modo em que se diagnostica e se trata os cancros, hoje em dia.

De feito, presentemente tudo quanto gira em torno do genoma, possui pouco ou nada de aplicação na forma de diagnosticar ou de se tratar. Em contrapartida, isto mostra em que direcção é necessário investigar e donde virá o progresso.

Os progressos dos quais beneficiamos, no momento presente, provêm dos medicamentos ou de técnicas que datam dos anos 1950-1970 com um utensílio/instrumento muito mais limitado. Ou seja: o alvo, não é os genes, ou se quiser, o disco duro do computador das células cancerosas, todavia, o computador em si mesmo, isto é, a célula.

Por seu turno, a Cirurgia se envida em extrair os tumores, a Radioterapia queimá-los pela radiação e a Quimioterapia matá-los por intermédio das drogas.

O utensílio de medida permanece a imagem e o alvo, a célula vista pelo microscópio, porém estes instrumentos são insuficientes: a foto de um volume não reflecte o que se encontra no interior. Demais, o exame microscópico das células, se fornece elementos acerca de um cancro e da sua malignidade, não permite dizer qual o tipo de medicamentos esse cancro vai responder, nem saber os riscos de metástases ou de recidiva após cirurgia. Opostamente, a genómica (se o espera, pelo menos), deveria permitir dispor destas marcas de referência.


Lisboa, 02 Abril 2010

KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)

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sexta-feira, 2 de abril de 2010

MEMÓRIA 01

O Fac-simile aqui mostrado (clique na imagem para aumentar) é uma página do primeiro documento aprovado, uma semana após o 25 de Abril de 1974, em reunião aberta de cabo-verdianos (estudantes e não estudantes residentes na área da grande Lisboa) em que se fundou o GADCG (Grupo de Acção Democrática de Cabo Verde e Guiné) constituído no mesmo dia e na mesma reunião.


Esse documento foi entregue no dia seguinte, em audiência com um oficial superior do MFA, membro da então Junta de Salvação Nacional, no palácio de Belém, pelos Drs. António Caldeira Marques, jurista, Manuel Chantre, economista, e euzinho aqui, ao tempo armado em Che Guevara.


Naquela audiência exigimos ainda de viva voz a “extinção do campo de concentração do Tarrafal”. Na hora de falar, um dos peticionários (melhor dizendo, um dos “exigentistas”) quis dourar a pílula e disse “campo de reabilitação de Chão Bom” no que foi por mim corrigido de imediato: campo de concentração; campo de concentração do Tarrafal.


Já agora fica como curiosidade o seguinte: Caldeira Marques terá passado por cargos na Justiça de Cabo Verde mas não ficou por lá muito tempo; Manuel Chantre, que era o presidente do conselho de administração da empresa que publicava as Páginas Amarelas ainda foi Ministro em Cabo Verde, já na democracia, mas também regressou e está por cá em Lisboa. Euzinho aqui, saído do PAIGC pelo meu próprio pé, em 12 de Setembro de 1976, regressei a Lisboa onde residia e ainda resido. Só agora, acabadinho de me aposentar antecipadamente, estou a preparar as malas para o regresso à Ilha do Fogo: a mais bonita, a mais imponente, a com melhor qualidade de vida, aquela que tem um povo que “s’êl pêga mundo êl tâ dâ c’uél na tchon” (se pega o mundo, derruba-o de certeza). Vou tocar violão, beber aguardente, deitar-me na rede, curtir e ver passar o tempo qual banco do jardim de Santo Amaro.


Nota: 1) É curioso constatar no documento a hierarquização que então se fazia dos Movimentos de Libertação. Era assim e não o era por acaso.

2) Agradece-se a JPP ter arquivado o documento no Ephemera.

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IMAGINEM A TAREFA!...

Sonhei que os organismos internacionais tinham convencido os guineenses a aceitar uma tutela cabo-verdiana por cinquenta anos e que passada a primeira década já a Guiné tinha a funcionar, com boas perspectivas de continuidade, governo e ministérios, escolas, hospitais, administração pública, bancos, tribunais independentes, companhias de seguros, comércio interno e com o exterior, polícias de manutenção da ordem pública, de trânsito e de fronteira; controlo de tráfego aéreo e terrestre, uma pequena companhia de voos internos, agricultura e pescas, sistemas de bolsas de estudo para formação dos seus melhores alunos no exterior (Cabo Verde, Portugal, Brasil, Espanha) etc.

Esta manhã, o Picasso, o meu gato, como sempre faz todos os dias às sete horas em ponto, subiu para a minha cama e acordou-me. Então “realizei” (decalque do inglês I realized, termo que não consigo traduzir de forma que me satisfaça) ― dizia eu ― então realizei que afinal na Guiné-Bissau ainda só há mesmo... o etc.... e muitos analfabetos fardados.

Nota: Tudo o que disse que “estaria a funcionar” ― ou não existe, ou não funciona na Guiné-Bissau de hoje.
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MAIS DO MESMO

No Estado falhado da Guiné Bissau alguns analfabetos fardados intitulando-se "militares" andam de novo por lá aos tiros e sequestros um pouco ao capricho de cada um que se acha no direito de mandar e ser o dono do dinheiro que não há.

Já muito falei anteriormente deste assunto pelo que como esta é mais uma tentativa igual a tantas outras feitas no passado, de tomada do poder pelas armas, naquele pedaço de bolanha, não vou gastar mais tinta por hoje.

Só quero é agradecer mais uma vez, agora postumamente, a Nino Vieira (assassinado há pouco tempo à catanada pelos seus irmãos de sangue e de luta) o facto de em boa hora ter deposto Luís Cabral e forçado à separação de Cabo Verde da Guiné Bissau.

O povo cabo-verdiano certamente agradece muito penhoradamente o facto e não tem saudades daqueles tempos de "união e suga-suga" do dinheiro dos nossos emigrantes por parte do então governo da Guiné.

Passar bem, meus amigos! Vão-se matando devagarinho que qualquer dia resolvem os vossos problemas pela desertificação humana do território.
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quinta-feira, 1 de abril de 2010

REGRESSO AO PASSADO

Talvez ainda abalado com os resultados da eleição interna no PSD, o Abrupto aborda aqui o passado recente do partido e defende-se defendendo Manuela de quem foi conselheiro empenhado.


Quanto ao que pareceria agora mais importante a toda a gente ― a nova liderança e o novo líder...


Moita!

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ELOCUBRAÇÃO QUADRAGÉSIMA PRIMEIRA:

“Ser culto es el único modo de ser libre”.

José MARTÍ (1853-1895)

Nota Prévia:

Eis nos, efectivamente, a viver uma verdadeira Revolução Científica, no domínio da Saúde, comparável ao que aconteceu, numa outra ordem, acerca da irrupção da Física Nuclear.

Robots capazes de operar à distância, médicos em rede e ligados ao seu paciente pela Internet, hospitais especializados high-tech: é amanhã e é hoje mesmo.

Todavia, as questões estão ao nível dos progressos do conhecimento e das técnicas? ou seja: Até onde o poder médico deve se exercer; como organizar o mundo da Saúde; quem redefinirá o código deontológico adequado; qual será a verdadeira sorte da população cuja a esperança de vida vai-se alongar prodigiosamente?

Questões, assaz pertinentes e oportunas, que exigem, ipso facto, muita ponderação e reflexão consequente, visando encontrar, com eficácia segura, as respostas necessariamente consentâneas, sobretudo da parte dos Médicos verdadeiramente conscientes e responsáveis da sua Missão e, que detestam, avisadamente as “poções mágicas” e encaram os seus concidadãos como adultos, consequentemente com capacidade para compreender e escolher, obviamente.

Posta Primeira:

a) No âmbito da história da Medicina não é a primeira vez que se assiste à uma explosão tão extraordinária dos conhecimentos, se acompanhando de uma verdadeira mudança de paradigma, ou seja, a passagem para outras noções ou conceitos intelectuais. De feito, no domínio da história da Medicina, uma tal mutação já aconteceu, há mais de cem anos, aproximadamente, entre PASTEUR (os micróbios) e FLEMING (os antibióticos). Antes Pasteur se classificava as doenças infecto-contagiosas em, escarlatina, febre-amarela e fièvre bleue. Tinha-se principiado a combater as epidemias e sabia-se que enfermos susceptíveis de ser contagiosos, era necessário os isolar. Tinha-se, na verdade, como ponto principal noções de higiene, porém sem possuir a noção de micróbios e de gérmenes. Pasteur deu um salto, no âmbito do conhecimento, introduzindo esta noção. E, conquanto não tenha descoberto todos os micróbios, de uma só vez, mudou radicalmente o modo de pensar as enfermidades infecto-contagiosas. De anotar, todavia, que Pasteur não descobriu os antibióticos.

b) Na verdade, foi a partir do ano de 1925 que o médico e bacteriologista inglês (Prémio Nobel da Medicina, 1945), Sir Alexander FLEMING (1881-1955), encetou, as suas observações à partir de uma sandes de queijo olvidado perto de uma cultura de bactérias, tendo acontecido o seguinte: os cogumelos contaminaram a cultura de bactérias até matá-la. Donde, por conseguinte, a partir de 1925, FLEMING começou a compreender que havia nos cogumelos substância antibióticas. No entanto, só após 1945 (vinte anos mais tarde) a penicilina ficou amplamente disponível para os doentes.

c) Prosseguindo, na verdade, a Medicina, no momento actual, designadamente, em particular, no que diz respeito à Oncologia, onde se compreendeu que era necessário investigar do lado do gene, se situa algures entre PASTEUR e FLEMING, entre os micróbios e os antibióticos. Donde, com efeito, o salto fundamental para um outro paradigma foi cumprido. Ou seja: passou-se do órgão e da célula para o gene e para o ADN. Todavia, de anotar, não se possui, ainda os meios adequados para explorar desta descoberta as consequências terapêuticas.

d) Actualmente, nos nossos dias de hoje, por detrás do que se denomina o cancro do seio, em que alterações genéticas conduzem ao que as células se tornem “loucas” no seio, existe provavelmente dez enfermidades dissemelhantes. Cada uma destas enfermidades corresponde à uma alteração diferente dos genes, do acelerador e do freio das células, que podem se partir. É o que se pode designar de uma autêntica viatura virada louca. Demais, sabe-se, actualmente que, num cancro, o acelerador são os oncogenes (os genes da divisão celular) que se encontram em permanência activos e bloqueiam o acelerador, enquanto os genes de interrupção de divisão celular, os antioncogenes (ou genes supressores de tumores), isto é o freio, soltam.

e) E, em jeito de Remate: Actualmente, se classifica os Cancros a partir de duas noções:

a. Por um lado, o órgão (seio, fígado, brônquios, etc);

b. Por outro lado, pelo microscópio em que o papel do anatomopatologista e o do histologista é fundamental.

c. Deste modo, eis porque o século XX pretérito, aliás, permanecerá dominado para a cancerologia pelo reino do microscópio, que permite determinar se trata de um caso benigno ou maligno e em qual categoria de cancro se coloca.

d. Conhece-se cancros do seio que, seja qual for a terapêutica utilizada, permitirá a paciente viver, vinte ou trinta anos. Ao contrário, outros cancros do seio matarão ao fim de seis meses.

e. Não se trata provavelmente das mesmas enfermidades, porém ao microscópio, não se sabe reconhecê-las e se continua, por conseguinte, a reagrupá-las sob a denominação “cancro do seio”. “Du coup”, a forma de as tratar consiste em fazer uma espécie de “costume de taille unique”, um pouco como se utilizássemos os antibióticos para “seul mot fièvre” sem saber qual tipo de germe se trate e a qual antibiótico será sensível.

f. De sublinhar, que existem várias consequências neste modo de tratar consoante um”costume de taille unique”. Donde e daí, para determinadas doenças cancerosas, o protocolo possui probabilidades de bem funcionar. No entanto, há pessoas para quem este tipo de tratamento é tão molesto e incómodo e, sobretudo, todos os para quem não é nem o bom “costume”, nem a boa “taille”, nem a boa forma.

g. Eis porque, antes mesmo da chegada de novos medicamentos anti-cancerosos, a grande esperança da pesquisa genética médica, significa o desmembrar, reclassificar os tumores, ser capaz de estabelecer fronteiras dissemelhantes e prever os seus riscos de recidivas e formação de metástases ou a qual tipo de tratamento serão sensíveis. Demais e, sem dúvida, não se conseguirá, imediatamente divisar todas as enfermidades reagrupadas ainda sob a etiqueta cancro do seio. Todavia, pode-se esperar distinguir, pelo menos, dois a quatro grupos. De efeito, é o que, exactamente se passou no atinente às enfermidades infecto-contagiosas após a descoberta da autoria e lavra do químico e biologista francês, Louis PASTEUR (1822-1895).

Lisboa, 31 Março 2010

KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)

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