quinta-feira, 1 de abril de 2010

ELOCUBRAÇÃO QUADRAGÉSIMA PRIMEIRA:

“Ser culto es el único modo de ser libre”.

José MARTÍ (1853-1895)

Nota Prévia:

Eis nos, efectivamente, a viver uma verdadeira Revolução Científica, no domínio da Saúde, comparável ao que aconteceu, numa outra ordem, acerca da irrupção da Física Nuclear.

Robots capazes de operar à distância, médicos em rede e ligados ao seu paciente pela Internet, hospitais especializados high-tech: é amanhã e é hoje mesmo.

Todavia, as questões estão ao nível dos progressos do conhecimento e das técnicas? ou seja: Até onde o poder médico deve se exercer; como organizar o mundo da Saúde; quem redefinirá o código deontológico adequado; qual será a verdadeira sorte da população cuja a esperança de vida vai-se alongar prodigiosamente?

Questões, assaz pertinentes e oportunas, que exigem, ipso facto, muita ponderação e reflexão consequente, visando encontrar, com eficácia segura, as respostas necessariamente consentâneas, sobretudo da parte dos Médicos verdadeiramente conscientes e responsáveis da sua Missão e, que detestam, avisadamente as “poções mágicas” e encaram os seus concidadãos como adultos, consequentemente com capacidade para compreender e escolher, obviamente.

Posta Primeira:

a) No âmbito da história da Medicina não é a primeira vez que se assiste à uma explosão tão extraordinária dos conhecimentos, se acompanhando de uma verdadeira mudança de paradigma, ou seja, a passagem para outras noções ou conceitos intelectuais. De feito, no domínio da história da Medicina, uma tal mutação já aconteceu, há mais de cem anos, aproximadamente, entre PASTEUR (os micróbios) e FLEMING (os antibióticos). Antes Pasteur se classificava as doenças infecto-contagiosas em, escarlatina, febre-amarela e fièvre bleue. Tinha-se principiado a combater as epidemias e sabia-se que enfermos susceptíveis de ser contagiosos, era necessário os isolar. Tinha-se, na verdade, como ponto principal noções de higiene, porém sem possuir a noção de micróbios e de gérmenes. Pasteur deu um salto, no âmbito do conhecimento, introduzindo esta noção. E, conquanto não tenha descoberto todos os micróbios, de uma só vez, mudou radicalmente o modo de pensar as enfermidades infecto-contagiosas. De anotar, todavia, que Pasteur não descobriu os antibióticos.

b) Na verdade, foi a partir do ano de 1925 que o médico e bacteriologista inglês (Prémio Nobel da Medicina, 1945), Sir Alexander FLEMING (1881-1955), encetou, as suas observações à partir de uma sandes de queijo olvidado perto de uma cultura de bactérias, tendo acontecido o seguinte: os cogumelos contaminaram a cultura de bactérias até matá-la. Donde, por conseguinte, a partir de 1925, FLEMING começou a compreender que havia nos cogumelos substância antibióticas. No entanto, só após 1945 (vinte anos mais tarde) a penicilina ficou amplamente disponível para os doentes.

c) Prosseguindo, na verdade, a Medicina, no momento actual, designadamente, em particular, no que diz respeito à Oncologia, onde se compreendeu que era necessário investigar do lado do gene, se situa algures entre PASTEUR e FLEMING, entre os micróbios e os antibióticos. Donde, com efeito, o salto fundamental para um outro paradigma foi cumprido. Ou seja: passou-se do órgão e da célula para o gene e para o ADN. Todavia, de anotar, não se possui, ainda os meios adequados para explorar desta descoberta as consequências terapêuticas.

d) Actualmente, nos nossos dias de hoje, por detrás do que se denomina o cancro do seio, em que alterações genéticas conduzem ao que as células se tornem “loucas” no seio, existe provavelmente dez enfermidades dissemelhantes. Cada uma destas enfermidades corresponde à uma alteração diferente dos genes, do acelerador e do freio das células, que podem se partir. É o que se pode designar de uma autêntica viatura virada louca. Demais, sabe-se, actualmente que, num cancro, o acelerador são os oncogenes (os genes da divisão celular) que se encontram em permanência activos e bloqueiam o acelerador, enquanto os genes de interrupção de divisão celular, os antioncogenes (ou genes supressores de tumores), isto é o freio, soltam.

e) E, em jeito de Remate: Actualmente, se classifica os Cancros a partir de duas noções:

a. Por um lado, o órgão (seio, fígado, brônquios, etc);

b. Por outro lado, pelo microscópio em que o papel do anatomopatologista e o do histologista é fundamental.

c. Deste modo, eis porque o século XX pretérito, aliás, permanecerá dominado para a cancerologia pelo reino do microscópio, que permite determinar se trata de um caso benigno ou maligno e em qual categoria de cancro se coloca.

d. Conhece-se cancros do seio que, seja qual for a terapêutica utilizada, permitirá a paciente viver, vinte ou trinta anos. Ao contrário, outros cancros do seio matarão ao fim de seis meses.

e. Não se trata provavelmente das mesmas enfermidades, porém ao microscópio, não se sabe reconhecê-las e se continua, por conseguinte, a reagrupá-las sob a denominação “cancro do seio”. “Du coup”, a forma de as tratar consiste em fazer uma espécie de “costume de taille unique”, um pouco como se utilizássemos os antibióticos para “seul mot fièvre” sem saber qual tipo de germe se trate e a qual antibiótico será sensível.

f. De sublinhar, que existem várias consequências neste modo de tratar consoante um”costume de taille unique”. Donde e daí, para determinadas doenças cancerosas, o protocolo possui probabilidades de bem funcionar. No entanto, há pessoas para quem este tipo de tratamento é tão molesto e incómodo e, sobretudo, todos os para quem não é nem o bom “costume”, nem a boa “taille”, nem a boa forma.

g. Eis porque, antes mesmo da chegada de novos medicamentos anti-cancerosos, a grande esperança da pesquisa genética médica, significa o desmembrar, reclassificar os tumores, ser capaz de estabelecer fronteiras dissemelhantes e prever os seus riscos de recidivas e formação de metástases ou a qual tipo de tratamento serão sensíveis. Demais e, sem dúvida, não se conseguirá, imediatamente divisar todas as enfermidades reagrupadas ainda sob a etiqueta cancro do seio. Todavia, pode-se esperar distinguir, pelo menos, dois a quatro grupos. De efeito, é o que, exactamente se passou no atinente às enfermidades infecto-contagiosas após a descoberta da autoria e lavra do químico e biologista francês, Louis PASTEUR (1822-1895).

Lisboa, 31 Março 2010

KWAME KONDÉ

(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo)

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