sexta-feira, 2 de abril de 2010

MEMÓRIA 01

O Fac-simile aqui mostrado (clique na imagem para aumentar) é uma página do primeiro documento aprovado, uma semana após o 25 de Abril de 1974, em reunião aberta de cabo-verdianos (estudantes e não estudantes residentes na área da grande Lisboa) em que se fundou o GADCG (Grupo de Acção Democrática de Cabo Verde e Guiné) constituído no mesmo dia e na mesma reunião.


Esse documento foi entregue no dia seguinte, em audiência com um oficial superior do MFA, membro da então Junta de Salvação Nacional, no palácio de Belém, pelos Drs. António Caldeira Marques, jurista, Manuel Chantre, economista, e euzinho aqui, ao tempo armado em Che Guevara.


Naquela audiência exigimos ainda de viva voz a “extinção do campo de concentração do Tarrafal”. Na hora de falar, um dos peticionários (melhor dizendo, um dos “exigentistas”) quis dourar a pílula e disse “campo de reabilitação de Chão Bom” no que foi por mim corrigido de imediato: campo de concentração; campo de concentração do Tarrafal.


Já agora fica como curiosidade o seguinte: Caldeira Marques terá passado por cargos na Justiça de Cabo Verde mas não ficou por lá muito tempo; Manuel Chantre, que era o presidente do conselho de administração da empresa que publicava as Páginas Amarelas ainda foi Ministro em Cabo Verde, já na democracia, mas também regressou e está por cá em Lisboa. Euzinho aqui, saído do PAIGC pelo meu próprio pé, em 12 de Setembro de 1976, regressei a Lisboa onde residia e ainda resido. Só agora, acabadinho de me aposentar antecipadamente, estou a preparar as malas para o regresso à Ilha do Fogo: a mais bonita, a mais imponente, a com melhor qualidade de vida, aquela que tem um povo que “s’êl pêga mundo êl tâ dâ c’uél na tchon” (se pega o mundo, derruba-o de certeza). Vou tocar violão, beber aguardente, deitar-me na rede, curtir e ver passar o tempo qual banco do jardim de Santo Amaro.


Nota: 1) É curioso constatar no documento a hierarquização que então se fazia dos Movimentos de Libertação. Era assim e não o era por acaso.

2) Agradece-se a JPP ter arquivado o documento no Ephemera.

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