Peça ensaística Nona:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895)
Nesta Terceira Peça ensaística, no âmbito da Temática, que vimos tratando, que se prende com a medicalização da existência humana, uma vez, chegado a este ponto crítico, à partir do qual a Psicanálise foi descoberta e (por outro), tende (actualmente), a ser toldada pelo retorno de um neocentismo mais técnico, mais pragmático, mais oportunista e mais imoral que o que se desenvolvera, no século XIX (um verdadeiro teocentismo), vamos delinear os fundamentos primordiais da Psicanálise.
(I)
A Psicanálise nasceu de uma crise da representação do objecto (o sofrimento psíquico), na linguagem da razão, da cognição (dir-se-ia, presentemente). Esta crise provém do cumprimento da lógica médica até ao seu ponto de batente, no reencontro com a histeria. Eis porque, os médicos se encontram (então) constrangidos em voltar a ser “terapeutas” e reconciliar com uma ética do “cuidado de si”.
Ora (evidentemente), isto não se faz (sem causar mal), sem rupturas e sem hesitação. Todavia, asseveremos, que o facto psíquico se encontrou (histórica e simbolicamente), inscrito na cultura moderna pelo gesto e pela descoberta freudiana. Outrossim e (por seu turno), a paixão da ordem actual que sevicia nas lógicas da Saúde mental e procede (a este respeito, sob esta perspectiva), como um verdadeiro “revisionismo” e “negacionismo” deste objecto. Donde, a afinidade deste revisionismo do facto psíquico com a extrema-direita e as ideologias totalitárias de governo das condutas (mais ou menos), temperadas pelas preocupações hipócritas de um “liberalismo mole”, que dissimula mal um “oportunismo” político (sempre), mais “duro”, arrogante e ofensivo. Trata-se (nem mais nem menos), de reduzir o sofrimento psíquico e social a “perturbações do comportamento” (mais ou menos) conectadas aos seus suportes biológicos para os dissolver (em seguida), em soluções químicas ou reeducações psico-educativas.
De anotar, que se trata (aliás), de cumprir um passo suplementar, no âmbito desta medicalização da existência humana, que desde o século XVIII nos coloca em “Estados médicos abertos”, nos quais a medicalização é sem limites”, servindo-se dos ensinamentos da autoria de Michel FOUCAULT (Dits et écrits III-1976-1979).