Prática de actuação primeira:
“Ser culto es el único modo de ser libre”
José MARTÍ (1853-1895).
Marcas para uma Ponderação adequada:
(1) Um Pensamento só tem sentido se tiver a força de abrir ao novo a indeterminação de um porvir. Todavia, este porvir só pode engendrar novos modos de vida se estas vidas constituem novos modos de existências: A Vida Humana é uma Existência. (…).
(2) O Homem pode (sem dúvida), subsistir sem existir. Todavia (de anotar), que esta subsistência não é duradoura, pois que (ela), se torna (rapidamente), psíquica e socialmente insuportável, porque conduz (inexoravelmente) à liquidação do narcisismo primordial.
(3) Sim (efectivamente), a crítica do capitalismo contemporâneo, enquanto hegemonia da subsistência e negação da existência, deve colocar a questão da consistência e (enquanto tal), da crença que (nisso) se constitui, ou seja, que nisso consiste.
Donde,
Na verdade (já não se trata) de se opor ao processo capitalista, mas sim, conduzi-lo ao seu término natural!...
(I)
Combater a tendência à liquidação do político, se assume (por conseguinte), no âmbito desta conjuntura, combater uma tendência do Capitalismo (tal como este), que pertence a uma época da individuação/individualização psíquica e colectiva Ocidental e (ulteriormente), a sua “mundialização”, isto é (outrossim), a sua desocidentalização. Eis a componente do que (nesta individuação), prossegue ao nível Planetário a “gramatização”, que deve ser (epocalmente), temível.
(II)
Resumindo (e numa expressão), não se trata de se opor ao processo capitalista, mas (muito pelo contrário), conduzi-lo ao seu término, isto é: Evitar a sua autodestruição e permitir a consumação da sua transformação inevitável e (quiçá), por isso, engendrar (um dia), uma outra Organização de individuação., mais elaborada e (acima de tudo), assumidamente Humana.
O capitalismo é um longo e sinuoso processo de transformação (do qual ignoramos), o seu término respectivo. Teve um princípio e conhecerá (ipso facto), o seu fim (obviamente). Todavia, não podemos saber (nem onde, nem quando). A única forma de habitar este processo é tornar-se possível o seu prosseguimento até ao momento em que, se terminando (ele), engendrará (quiçá), um novo processo do qual ignoramos (identicamente), tudo acerca, porque é algo de incalculável.
De anotar (por outro), que enquanto (se tratar de) uma época de um processo de individuação psíquica e colectiva, o capitalismo foi precedido por um passado Ocidental e por isso (quiçá), já não será o capitalismo (na sua essência primordial), visto que a individuação é constituição do futuro como abertura do indeterminado do qual revela toda singularidade existente e que é singular (precisa e unicamente), neste sentido e em que (ela) revela como o que (nela), consiste para além do que existe e que é o seu porvir. Em suma: Consistência que se anuncia através da singularidade do que existe e deste (mesmo facto), é singularidade que é preciso proteger.
(III)
Conquanto ignoremos tudo, devemos (por conseguinte), presumir que este porvir (que não existe) é o que consiste através de tudo o que (não podendo ser reduzido à uma mera subsistência), existe e que (como existência), visa (singularmente), isto é (de uma forma), ela mesma indeterminável e nisto (diacrónico), esta consistência da individuação, enquanto (ela permanece, estruturalmente), no futuro e nisto indeterminado.
Eis (outrossim), porquê a crítica do capitalismo contemporâneo, enquanto hegemonia da subsistência e negação da existência, deve colocar a questão da consistência e (enquanto tal), da crença que nisso se constitui, ou seja, que nisso consiste.
(IV)
Deste modo, a transformação (a favor da defesa do consumidor), ou seja, consumista das democracias industriais, cuja análise crítica deve constituir a base de um renascimento dos processos de individuação psíquica e colectiva, deve ser interpretada à partir de um devir (muito mais vetusto) das ordens sociais. É o que MARX não pôde pensar, por falta de ter avaliado (plenamente), as consequências resultantes do advento das mnemotécnicas e das mnemotecnologias (que estão na base), dos desenvolvimentos (antigos e recentes) do processo de gramatização que caracteriza o devir do Ocidente.
(V)
Com efeito (et pour cause), estas mnemotécnicas e estas mnemotecnologias, que constituem o fundo, pré-individual característico do processo de individuação psíquica e colectiva (que consistiu o do Ocidente), formam (actualmente), o esteio (como tecnologia numérica de fundo), do capitalismo cultural hiper-industrial que consiste na impossibilidade de distinguir infra-estrutura e super-estrutura (…).
(VI)
Antes de mais, se impõe (abrir um parêntese), para apresentar uma nota (assaz relevante), pelo facto de termos atribuído (no caso em concreto), ao verbo consistir, uma enorme importância. Ou seja: O que consiste não é o que existe. É o que dá o seu sentido (a sua direcção e o seu movimento ou a sua força motriz), ao que existe, sem se reduzir a este existente (leia-se outrossim o que existe). Aliás, o existente é um facto. Todavia, o existente só consiste (como o que), supera o seu acto/feit0/facto. Demais, a consistência de um facto/acto, significa que o processo da individuação donde (ele), advém for capaz de projectar nisso. Ela (referindo-se obviamente à individuação) releva do que se denomina os dispositivos preservadores e de protectores. Com efeito, o processo de individuação é transitório e (nisso), ele é urdido de retenções e de protecções, como se fosse o objecto temporal.
(VII)
No decurso do processo de individuação ocidental, a consistência se estabeleceu (fundamentalmente), como crença religiosa constituída pela Igreja (como dispositivo de retenção e proteccional) e discurso sobre o Pretérito Absoluto (Deus o Pai) e sobre o Futuro Absoluto (o seu Filho), até que as Luzes (e em seguida), a Revolução francesa (ela própria), anunciar a condição política da revolução industrial, se transformasse esta crença religiosa (em crença política e social), isto é, em Crença no Progresso.
Tudo isso foi (então), o princípio da desabsolutização do passado e do futuro e (outrossim), a liquidação do discurso do ser (ou seja), do discurso onto-teológico-político que constituía as Ordens Sociais (Nobreza, Clero, Terceiro Estado) e (ainda) a confrontação à uma experiência do devir como “desencantamento do Mundo”, mais (identicamente), em primeiro lugar, como discurso de emancipação. Ou seja: Discurso de transformação do Mundo (do mundo como devir) e não (unicamente), de interpretação do Mundo (do mundo como Ser).
(VIII)
Presentemente, a crença no progresso, enquanto tecnológico e (correlativamente), social e político se aluiu (o que se traduz por um perigoso divórcio), entre ciência (transformada tecnociência) e sociedade.
De facto, este desmoronamento é (identicamente), um processo tendencial de contemporização. E tende (em já não) ter consciência do passado, nem o sentimento de um futuro possível. Deste modo, as possibilidades de uma experiência (à propriamente falar) se atenuam. Eis nos perante a “não época”, que se denomina (outrossim de “desorientação”), em que o duplo redobro de época não se produz (ou antes), a Sociedade se desajusta do sistema técnico, sendo este desajustamento (já por si), uma perda de tempo. Todavia, o sistema técnico (que tende), ele mesmo para um sistema “temporal” (ou seja), para o sistema de um tempo (integralmente) calculado e hiper-sincronizado São (efectivamente), dois processos de destemporização que se combinam, conduzindo (deste modo) à perda de individuação e que já se exprime através de um enunciado característico da Juventude do fim do século XX (pretérito): no future!
Lisboa, 17 Agosto 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).