segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Tema para Reflexão:

Peça ensaística Nona:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895)

                        Nesta Terceira Peça ensaística, no âmbito da Temática, que vimos tratando, que se prende com a medicalização da existência humana, uma vez, chegado a este ponto crítico, à partir do qual a Psicanálise foi descoberta e (por outro), tende (actualmente), a ser toldada pelo retorno de um neocentismo mais técnico, mais pragmático, mais oportunista e mais imoral que o que se desenvolvera, no século XIX (um verdadeiro teocentismo), vamos delinear os fundamentos primordiais da Psicanálise.

(I)
                        A Psicanálise nasceu de uma crise da representação do objecto (o sofrimento psíquico), na linguagem da razão, da cognição (dir-se-ia, presentemente). Esta crise provém do cumprimento da lógica médica até ao seu ponto de batente, no reencontro com a histeria. Eis porque, os médicos se encontram (então) constrangidos em voltar a ser “terapeutas” e reconciliar com uma ética do “cuidado de si”.
                        Ora (evidentemente), isto não se faz (sem causar mal), sem rupturas e sem hesitação. Todavia, asseveremos, que o facto psíquico se encontrou (histórica e simbolicamente), inscrito na cultura moderna pelo gesto e pela descoberta freudiana. Outrossim e (por seu turno), a paixão da ordem actual que sevicia nas lógicas da Saúde mental e procede (a este respeito, sob esta perspectiva), como um verdadeiro “revisionismo” e “negacionismo” deste objecto. Donde, a afinidade deste revisionismo do facto psíquico com a extrema-direita e as ideologias totalitárias de governo das condutas (mais ou menos), temperadas pelas preocupações hipócritas de um “liberalismo mole”, que dissimula mal um “oportunismo” político (sempre), mais “duro”, arrogante e ofensivo. Trata-se (nem mais nem menos), de reduzir o sofrimento psíquico e social a “perturbações do comportamento” (mais ou menos) conectadas aos seus suportes biológicos para os dissolver (em seguida), em soluções químicas ou reeducações psico-educativas.
                        De anotar, que se trata (aliás), de cumprir um passo suplementar, no âmbito desta medicalização da existência humana, que desde o século XVIII nos coloca em “Estados médicos abertos”, nos quais a medicalização é sem limites”, servindo-se dos ensinamentos da autoria de Michel FOUCAULT (Dits et écrits III-1976-1979).


(II)
                        Importante sublinhar, que jamais (nos passou ou nos passa pela mente), considerar a Psicanálise: Uma panaceia para os males do Mundo. Devemos é ser (mais reservado) acerca das pretensões etiológicas provenientes de certas teorias psicanalíticas (politicamente), mais que “suspeitas”, quanto à “psicologização” dos fenómenos sociais ou culturais. Presentemente, se tem, é fé no método psicanalítico, concretamente, quando se trata de tomar a cargo o sofrimento psíquico dos pacientes, pois que já não se acredita na Psicanálise.

(III)
                        E, já agora, vale a pena, sublinhar (com ênfase), o modo como a lógica médica (apoiada), numa paixão da ordem (que instrumentaliza) o vivo e (o) transforma em mercadoria, tinha tentado reduzir este resquício heterológico à sua estrutura, à partir do qual (exactamente), a Psicanálise se torna “terapêutica”.
                        De anotar (por outro), que uma coligação de interesses (os mais diversos), nos USA, desde (aproximadamente), quatro lustros forneceu a este empreendimento “negacionista” do sofrimento psíquico, os meios logísticos (mais poderosos9, para cumprir a sua obra.
                        Outrossim (e antes de mais), de consignar, que este modelo (ora enunciado), se encontra “exportado” nos países ocidentais, transportando para o centro da transmissão universitária (investigações, ensinamentos e práticas clínicas) e os seus operadores de propaganda e de ocupações dos poderes políticos. Basta para levar a cabo isto, respeitar as formas de um processo de julgamento e de avaliação (que exclui, a priori), na sua estrutura e na sua função, as vias de reflexão da Psicanálise (como a sua forma) de recolher e tratar o seu objecto psico-patológico (o sofrimento psíquico), obviamente.

(IV)
                        Importante consignar (assertivamente):
(I)            Todos nós (Intelectuais/Internacionalistas, sem excepção), os herdeiros legítimos dos valores (assumidamente), ecuménicos, não devemos (e nem podemos, obviamente), aceitar que o “Universal” seja confiscado por uma cultura (a USA) e que “internacional” seja equivalente, no ambiente da literatura científica à laia dos “Estados Unidos”.
(II)           Com efeito (et pour cause), para nós: O Universal se constitui dos “plurais singulares”, que são os dialectos do humano, no âmago da Biodiversidade das suas culturas, das suas tradições e das suas linguagens cujo todo desaparecimento empobrece a Espécie inteira.
(III)         Eis porque e (tendo em conta), tudo isto: Defendemos uma Ecologia dos meios científicos (preocupada em conjugar), o “conhecimento” e a “ética” (sobretudo), quando se trata do homem enfermo, da criança ou do louco, que são as figuras/símbolos (próprios) do SER.


Enfim e, em suma:
(A)    Ao invés desta sobre medicalização da existência humana (que faz da vida, uma enfermidade), devemos exigir que se reconheça no enfermo, o sítio e as operações (próprias e peculiares) da Vida e da Existência. Aqui reside uma escolha (para além) das epistemologias da Psicopatologia, da Medicina e da Psicanálise. Eis nos (efectivamente) ante uma escolha de Sociedade. Uma Escolha Ética. É do Humano que se trata, do seu porvir (como da sua própria História, aliás), do seu sítio como (outrossim e, ainda) e da sua assinatura.
(B)    Na verdade (e sem embargo), enquanto clínicos, recebemos uma Egrégia Herança (conquanto) “sem testamento”, o que não diminui a nossa responsabilidade, no âmbito desta matéria (em análise e apreço).
(C)    E (finalmente), para Rematar (assertivamente), na verdade, não podemos e nem devemos parar “na rotina dos resultados” e fazer parte destes “homens antes da hora sobre os seus próprios excrementos”. Donde e daí, termos escrito este Estudo ensaístico (sem demasiado), preconceitos. Sim (efectivamente), escrevemo-lo (com muita, muita Paixão), obviamente.

Lisboa, 31 Julho 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).