Todos os dias acontecem coisas extraordinárias. Todos os dias rebentam autênticas bombas atómicas nos corações de pessoas. A vulgarmente chamada “relação a dois” deveria antes chamar-se, na grande maioria dos casos, com todo o a-propósito, “RAlação a dois”.
Ao longo da vida conheci largas dúzias de “parelhas” que me levaram a perguntar-me: ― mas será que as pessoas se juntam mais para se destruírem do que para outro fim diferente qualquer positivo?!
É normalmente no remanso do lar, entre as trocas de fraldas dos filhos, o banho e as refeições dos miúdos; de carnavalescas férias familiares na praia ou no campo, que acontecem as coisas mais sórdidas entre as pessoas.
Sem trazer p’raqui casos mais extremos de crimes de sangue e crimes sexuais hediondos, trago crimes mais comezinhos e menos espectaculares, mas nem por isso menos destrutivos ― as tais bombas atómicas nos corações ―.
Desde o rebuscar devassador de gavetas, de carteiras, malas e forros de malas; de buscas a caixotes no sótão, na arrecadação ou na despensa; colocação de gravadores em casa ou nos automóveis ― até à sofisticação da compra de “material de espionagem” em lojas especializadas e na Net ―, de tudo se serve para fazer a “guerra surda” declarada, muitas vezes inconscientemente, entre “dois seres que se amam”. Declaração mor da vezes feita na presença de um conservador ou de um padre, ou apenas na companhia de amigos, à qual quase invariavelmente se seguem “copos de água” e festas do mais variado cariz celebrando a união do par.
Saiba-se que para além dos métodos clássicos hoje obsoletos de espionagem acima descritos, há já muito tempo que é possível “equipar” a vítima oferecendo-lhe, normalmente por alturas do Natal ou do aniversário, por exemplo: um lindo telemóvel ou smartphone armadilhado ― toda a actividade do aparelho é fielmente monitorizada por um outro aparelho que o/a ofertante também adquiriu para o efeito.
Mas há mais. É possível, há mais de uma década, comprar um software, um programinha chamado “keylogger”, que se instala no computador da vítima e que regista toda a actividade do teclado desse computador; a leitura pode depois ser feita por uma visita que o/a armadilhador(a) faça a esse mesmo computador em altura mais conveniente. Mas há também keyloggers instalados em hardware (um pequeno dispositivo que se liga entre o terminal do fio do teclado e o computador) que não obriga o/a “pirata” a ligar o computador para ter acesso ao registo: bastar-lhe-á retirar o dispositivo e levá-lo para outro computador que lá consultará o registo de toda a actividade da vítima durante todo o tempo que esta utilizou o seu computador ― os keyloggers têm espaço para gravar meses, anos de actividade de um computador se for preciso ― e depois é só ter a paciência de ir à procura “do que interessa" (correspondência, passwords, etc.).
Aparentemente tranquilo(a) e arrumadinho(a) no seu lugar, desempenhando na perfeição o seu lugar na família, o/a armadilhador(a) faz vida de santo(a) e vai compilando o seu explosivo dossiê.
Quando chegar o “momento X” ― com calma aparente e espírito fervente (muitas vezes destroçado(a) e humilhado(a)) o/a armadilhador(a) retira a cavilha da bomba... e PUMMM...!
JÁ ESTÁ!