sábado, 4 de junho de 2011

Temas de Reflexão:

Peça Ensaística Segunda:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).


                        NP:

                        O capitalismo prospera; a Sociedade se degrada. O lucro cresce, como a exclusão. A verdadeira crise não é do capitalismo. Sim (efectivamente), a verdadeira crise é a crise da crítica do capitalismo.
                        Demasiado (frequentemente), vinculada a vetustos esquemas de análise, a crítica conduz muitos protestadores a retrair sobre modalidades de defesa eficazes, no passado, porém doravante (amplamente) inadaptadas às novas formas do capitalismo arvorado (de novo).
OOO

                        Antes de mais, vale a pena lembrar o seguinte:
                        É que (a partir) dos meados da década dos anos setenta do século XX pretérito, o capitalismo renuncia ao princípio fordista da organização hierárquica do trabalho para desenvolver uma nova organização em rede, edificada sobre a iniciativa dos actores e da autonomia relativa do seu trabalho (todavia), ao preço da sua segurança material e psicológica.

                        Entretanto (o que é facto), é que:
                        Este novo espírito do capitalismo triunfou graças a formidável recuperação da “crítica artista” (a que após Maio-68, sem interrupção denunciou) a alienação da vida quotidiana pela aliança estabelecida entre o capital e a burocracia. Uma recuperação que matou a “crítica artista”. No mesmo lapso de tempo, a “crítica social” errava a viragem do neo-capitalismo e se quedando imobilizado aos vetustos esquemas da produção hierarquizada. Deste modo, se a encontra (por conseguinte), assaz atenuada (aquando da chegada do Inverno da crise).

                        Posto isto, se nos afigurou, pertinente e oportuno, estudar estas duas críticas complementares do capitalismo.


(I)
            Todavia, antes de abordar, a temática enunciada, vamos levantar (apoiando-se em indicadores macroeconómicos e estatísticos), um quadro do contexto, que se encontra no seu âmago (outrossim, porém), do questionamento, que estimulou este nosso trabalho.
(1)    Contra os recursos frequentes no tópico da “crise” (regularmente) evocado, conquanto, em contextos (assaz) dissemelhantes, desde 1973, se afigura, que os vinte últimos anos foram (mais exactamente), marcados por um capitalismo florescente, que conheceu (com efeito), durante este período: múltiplas oportunidades de investimento, oferecendo taxas de lucro (amiúde), mais elevadas que nas épocas precedentes. Estes anos foram favoráveis a todos quantos dispunham de uma poupança (leia-se, outrossim, de um capital), a renda, que tinha desaparecido durante a grande depressão da década dos anos trinta do século XX e que, durante as décadas seguintes não se puderam restabelecer pelo facto da inflação, tenha voltado.
(2)    Na verdade, o crescimento se atenuou (duradouramente), porém os rendimentos do capital estão em progressão. A taxa de margem das empresas (não individuais), que tinha diminuído (fortemente), nos anos 60 e 70 (-2,9 pontos de 1959 à 1973; - 7,8 pontos de 1973 à 1981), foi restaurada nos anos 80 (+ 10 pontos de 1981 à 1989) e se mantém depois (- 0,1 ponto de 1989 à 1995). De 1984 à 1994 o PIB (em francos constantes de 1994), aumentou de 23,3%. As quotizações sociais se incrementaram em proporções idênticas (+ 24,3%), mas não os vencimentos líquidos (+ 9,5%). Durante os mesmos dez anos, os rendimentos da prosperidade (alugueres, dividendos, mais valias realizadas), aumentaram de 61,1% e os lucros não distribuídos de 178,9%.
(3)    Os operadores financeiros reencontraram “uma liberdade de acção que já não conheciam desde 1929 e (por vezes mesmo), desde o século XIX” (CHESNAIS, 1994, p15). O desregulamento dos mercados financeiros, a sua abertura, a abolição da intermediação e a criação de “novos produtos financeiros”, multiplicaram as possibilidades de lucros (puramente) especulativos, pelos quais o capital se incrementa sem passar por um investimento, numa actividade de produção.
(4)    Donde e daí (por conseguinte) os ditos “anos de crise” são marcados pelo facto, que (doravante), a rentabilidade do capital é melhor assegurada pelos investimentos financeiros que pelo investimento industrial (o qual sofre, algures com a taxa de juro). Assistimos a escalada (em força), de alguns operadores, como os fundos de pensão, que eram (desde há muito tempo), detentores (assaz estáveis) de (grandes quantidades) de acções, mas que as transformações dos mercados sustentaram (aos olhos de todos), sem esconder (pois que os seus meios são consideráveis) e incitaram a transformação do seu comportamento e a se alinhar pelo “modelo de extrair benefício no estado puro” (CHESNAIS, 1994, p.222).
(5)    De anotar (outrossim), que a liquidez concentrada nas mãos dos fundos de investimento mútuos (SICAV), das companhias de Seguros e dos fundos de pensão é tal, que a sua capacidade para influenciar os mercados (no sentido dos seus interesses) é evidente. Esta evolução da esfera financeira é inseparável da evolução das empresas cotadas (que se encontram submetidas) aos mesmos imperativos de rentabilidade da parte dos mercados que (elas mesmas), constituem uma fracção (cada vez mais e mais), enorme de seus lucros (através de), transacções (puramente) financeiras.
(6)    Vale a pena (sublinhar), que as empresas multinacionais saíram (identicamente) ganhadoras destes anos de demonstração de forças do capitalismo Mundial. O abrandamento da Economia Mundial (desde logo), trinta anos (na verdade), não as afectaram e a sua fracção no PIB Mundial (ele mesmo)., por outro (em alta), não cessou de aumentar (de 17% em meados da década de sessenta do século XX), à mais de 30% em 1995 (CLAIMONT, 1997). Considera-se que (elas) controlam os dois terços (2/3) do Comércio Internacional, cuja metade (aproximadamente) é constituída por exportações intra-grupos entre casas mães e filiais ou entre filiais de um mesmo grupo.
(7)    A sua fracção, no âmbito das despesas com “Investimento e Desenvolvimento” é (certamente), ainda mais relevante. O seu desenvolvimento está assegurado, desde uma década (principalmente) pelas fusões e aquisições realizadas no Mundo inteiro, acelerando o processo de concentração e de constituição de oligo-pólos mundiais. Um dos fenómenos mais marcantes desde a década dos anos 80 do século passado, sobretudo após 1985, é (com efeito), o crescimento do “Investimento directo para o estrangeiro” (IDE), que se diferencia da permuta internacional de bens e de Serviços, pelo facto, que existe transferência de direitos patrimoniais e tomada de poder local.
(8)    Enfim, a reestruturação do capitalismo (no decurso) das duas últimas décadas, se acompanhou (identicamente), de importantes incitações para incrementar a flexibilização do trabalho. As possibilidades de contratações temporárias, utilização de mão-de-obra provisória, horários flexíveis e a redução dos custos de licenciamento, se desenvolveram (amplamente), no conjunto dos países da OCDE, corroendo (a pouco e pouco), os dispositivos de Segurança instaurados (no decurso), de um século de luta social. Paralelamente, as novas tecnologias de Comunicação (na primeira fila das quais, a Telemática), permitiram gerir comandos (em tempo real), ao nível do Planeta, outorgando os meios de uma reactivação Mundial até agora desconhecida. É um modelo completo de gestão da grande empresa, que se transformou sob esta arremetida para originar um modo renovado de dar lucros.

Continua:

Lisboa, 30 Maio 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).