sábado, 18 de junho de 2011

Temas para Reflexão:

Peça Ensaística Terceira:

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1883-1895)
            Prosseguindo (avisada e pedagogicamente), o nosso Estudo Ensaístico, temos (então), que:
(A)      O Capitalismo Mundial (entendido como) a possibilidade de frutificar o seu capital pelo investimento ou colocação económica, se porta (por conseguinte), muito bem. As Sociedades (elas), para retomar a separação do social e do económico, com a qual (vivemos, desde mais de um século), vão (antes, sobremaneira mal). Os dados (neste ponto), são muito conhecidos, com ênfase, para o desemprego (designadamente):
a.     A curva francesa do desemprego se assume do seguinte modo: 3% da população activa em 1973; 6,5% em 1998 e cerca de 12% (presentemente). Em Fevereiro 1998, contava-se (um pouco mais) de 3 (três) milhões de desempregados (no sentido) da categoria 1 da ANPE, a qual está longe fazer a conta, de todos os (que andam à procura de emprego), conhecidos na ANPE e não englobam (tão pouco), os desempregados dispensados da procura de emprego, pelo facto da sua idade, os que se encontram, na situação de pré-reforma, os que beneficiam de uma formação ou de um contrato do tipo CES ou assimilado. Donde, o número das pessoas “privadas de emprego”deve (por conseguinte), ser estimado a 5 (cinco), milhões, em 1995 contra 2,45 em 1981 (CERC-Association, 1997 a).
b.    Todavia (infelizmente), a situação média da Europa é quase nada melhor.
c.     Os Estados Unidos da América do norte (por seu turno) conhecem uma taxa de desemprego mais fraca, enquanto, entretanto, os assalariados (em França) conservaram o seu poder de compra. Este (em contrapartida) conheceu (ali), uma forte degradação. De facto, enquanto o PIB norte-americano por habitante cresceu de 36% entre 1973 e meio-95, o salário horário do trabalho não quadro, que constitui a maioria dos empregos, baixou de 14%. No fim do século passado, nos Estados Unidos, o salário real dos não quadros voltara ao que era cinquenta anos antes, enquanto o PIB terá mais que duplicado, no decurso de idêntico período (THUROW, 1997).
d.    Outrossim, se assiste ao nível de toda zona OCDE a um alinhamento (por baixo) das remunerações. Nos países, como a França, em que os políticos procuram manter o poder de compra do salário mínimo, as cifras do desemprego aumentaram (regularmente), a degradação das condições de vida, atingindo (prioritariamente), os desempregados e o número (sem interrupção), crescente dos trabalhadores (a tempo parcial: 15,6 dos ocupados, em 1955, contra 12,7% em 1992 e 9,2% em 1982). Entre estes últimos 40% queriam trabalhar mais). O emprego dos que possuem um trabalho é (outrossim), muito mais contingente e incerto. O número de “empregos atípicos” duplicou entre 1985 e1995.
(B)      Outro ponto, que vale a pena analisar e estudar, se prende com o número dos casais (que vivem) abaixo do limiar da pobreza, que recuou (de 10,4% dos lares em 1984 a 9,9% em 1994), enquanto a estrutura da população afecta evoluiu sobremaneira. De anotar (outrossim), que a pobreza atinge (cada vez menos e menos), pessoas idosas e (cada vez mais e mais), pessoas da idade activa.
(C)      Na verdade, a evolução da população coberta pelos mínimos sociais é um reflexo das modificações dos contornos da pobreza. De facto, esta população passou de 3 milhões de pessoas (2,3 milhões de lares), no fim de 1970 a perto de seis (6) milhões (fim de 1995, seja 3,3 milhões de lares).
a.     Com efeito, o número médio de pessoas por lar beneficiado passou (progressivamente), de 1,3 a 1,8, tendo aumentado a parcela de casais e famílias. Os mínimos (com destino) aos desempregados (Abono de solidariedade específica) e o RMI (Rendimento Mínimo de Inserção), explicam a maior parte deste aumento, enquanto o número dos beneficiários do mínimo velhice era dividido por 2 entre 1984 e 1994, com a chegada à reforma de classes de idade (que cotizaram) toda a sua vida activa.
b.    Eis porque, se afigura, pertinente (sublinhar), contudo, que o esforço consentido não acompanhou o aumento do número de beneficiários: 1% do PIB lhes é consagrado (em 1995), como em 1982 (enquanto, de 1970 à 1982, se passara de 0,3% à 1%). Em percentagem das despesas de protecção social, a parcela consagrada aos mínimos, é mesmo inferior em 1995 à de 1982.
c.      De anotar, que o conjunto desta evolução (empobrecimento da população de idade activa, crescimento regular do número dos desempregados e da precariedade do trabalho, estagnação dos rendimentos do trabalho), enquanto (assim mesmo): os rendimentos da renda (que apenas dizem respeito), à uma pequena fracção da população, se incrementava (traduzindo), na acentuação das desigualdades, no domínio da distribuição, em França, à partir da Segunda metade dos anos oitenta do século XX passado, movimento (iniciado, contudo), antes desta data, nos outros países.
d.    Já agora (e, antes de mais), de sublinhar, que estas mudanças da situação económica dos lares se acompanharam de uma série de dificuldades (particularmente) concentradas em alguns arrabaldes (guetozização, criação de facto de zonas de não direito em benefício de actividades mafiosas, desenvolvimento da violência de crianças (sempre mais jovens), dificuldade de integração das populações oriundas da imigração) e de fenómenos marcantes (visto que, particularmente visíveis), no âmbito da vida quotidiana dos habitantes das grandes cidades (como, por exemplo, o aumento da mendicidade e dos “sem domicílio fixo” (frequentemente jovens) e, para um número (não insignificante de entre eles), dotados de um nível de qualificação, que lhes deveria dar acesso ao emprego. Esta irrupção da miséria no espaço público desempenha um papel relevante na nova representação ordinária da Sociedade francesa. Estas situações extremas (conquanto), atingindo apenas (directamente, ainda), um número (relativamente) reduzido de pessoas, acentuam o sentimento de insegurança de todos quantos se sentem sob ameaça da perda do emprego, quer para (eles próprios), quer para um dos próximos (cônjuge ou filhos, em particular), isto é (afinal), por uma ampla fracção da população activa.
e.     Finalmente, a família, durante estes mesmos anos de deterioração social, conhecia uma evolução da qual se está longe (ainda) ter medido os efeitos deletérios. Ela se tornou uma instituição mais instável e débil, acrescentando uma precariedade suplementar ao do emprego e ao sentimento de insegurança. Esta evolução (por seu turno) é (sem dúvida), em parte, independente da do capitalismo, conquanto a procura de uma flexibilidade máxima nas empresas esteja em harmonia com uma desvalorização da família, enquanto factor de rigidez temporal e geográfico (de molde), que consoante esquemas ideológicos similares são mobilizados para justificar a adaptabilidade nas relações de trabalho e a mobilidade na vida afectiva.

Donde e daí, rematando (avisadamente), temos (então), que:
            --- Subsiste o facto, que as mudanças interpostas na esfera económica e na esfera da vida privada estão (suficientemente), em estado para que o mundo familiar apareça (cada vez menos), capaz de funcionar como uma rede de protecção (designadamente), para assegurar aos filhos posições equivalentes aos dos pais; sem que (por essa razão), a escola, na qual tinham sido (massivamente) transferidos a partir da década dos anos sessenta do século XX e o trabalho de reprodução (em medida de satisfazer) as esperanças das quais ela fizera o objecto.

Lisboa, 13 Junho 2011
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).