terça-feira, 23 de junho de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO QUADRAGÉSIMA OITAVA:


(C)

E, prosseguindo o nosso Estudo, na realidade, o desprezo afixado, tornado público, divulgado à exaustão e ostentado pelas antigas potências coloniais exprimia o seu desacordo acerca do processo de descolonização e, concomitantemente, outorgava, em África, a ilusão de uma nova etapa franqueada, no âmbito do percurso da Liberdade. Nos factos, sem nenhuma excepção, os senhores de outrora julgavam os Africanos “de incapazes”/”incompetentes”/”corruptos”.
Todavia, se asseguraram, de modo insidioso, da penhora sobre o nosso futuro. Novos mecanismos, ainda mais humilhantes e mais destruidores, vão se afirmar. O contexto difícil vai mergulhar o Continente, num marasmo económico sem precedentes. Os efeitos acumulados do endividamento, da deterioração dos termos da permuta e os deficits públicos abissais ensombram os horizontes.
(b)
A reorganização política, institucional e económica posta em marcha, na sequência do acesso à soberania internacional, será rapidamente aniquilada, esmagada pela mecânica complexa de uma Ordem Internacional dominada pela “guerra-fria”, com todo o seu cortejo de tensões e de conflitos respectivos. Novos cismas aparecem. A símile referência ideológica vai servir de leme a Estados nascentes sem marca de referência e sem rasto. Muitos entre si se confundem, no campo democrático e liberal. Outros se juntam o “campo socialista” (soit-disant).
(c)
De sublinhar, entretanto, que sob a égide destas duas vertentes, uma idealista, igualitária e autoritária, outra antes portadora da Liberdade e da Igualdade, a Ordem Internacional só fez acelerar a ocorrência das trevas da decadência.
De feito, desde, aproximadamente, duas décadas, o uso do modelo milagre principiou. O balanço do novo modelo de desenvolvimento, inspirado nos seus fundamentos conceptuais do neo-liberalismo triunfante, é contestado, por causa da transgressão de regras simples que têm por designações a igualdade das oportunidades, a competição franca e leal e a primazia do Direito.
(d)
O vazio semântico, com uma nova conceptualização centrada na redução da pobreza, não traz nada de novo. Os factos estão aí! A semântica, sem dúvida simpática, não muda nada, no fundo. O dogmatismo nas escolhas, a despeito dos fracassos recorrentes é revoltante. A passividade dos poderes políticos ante uma coorte de funcionários arrogantes das Instituições Internacionais, pirotécnicos da desordem e da confusão respectiva, afiança deste consenso planetário, em torno dos valores desumanos e do estiolamento organizado da autoridade política, mecanismo necessário para a regulação e, sobretudo, para a protecção dos cidadãos.
De anotar, no entanto, que enquanto a África, estagnada, vivendo na imundice, sob o peso da miséria, as revoluções industriais, tecnológicas e científicas dinamizam as forças de produção e oferecem à Humanidade, riquezas ilimitadas.
Eis porque, actualmente mais que outrora, chegou o tempo azado da revolta, Revolta para a construção/edificação de novas regras do jogo, para a refundação das conexões sociais e da implantação de uma Ordem Internacional menos iníqua.
(e)
DESTARTE, Autoridades e Povos hesitam ante o desconhecido, mesmo, querendo, sempre se desarreigar da irremediável declinação da Potência.
Todavia, nesta fase de incertezas e de angústias, a aposta/repto constitui em escolher uma direcção, com audácia para sair das cruéis engrenagens actuais. Donde e daí, escolher sinal/marca de referência, num labirinto de fracturas, com tripla fácies Nacional, Continental e Mundial, se afigura inevitável, obviamente.
E, explicitando pertinentemente:
--- O Primeiro repto/aposta consiste em extrair ensinamentos dos nossos fracassos após tantos anos, ousar então fazer frente a realidade, para se levantar. O malogro económico, mais aparente que os demais outros, decorre da ausência de sólidas e robustas fundações institucionais democráticas. O modelo democrático só pode ancorar, de modo credível, em sociedades modernas. Com efeito et pour cause, a modernidade, filha da revolução cultural, se edifica, num sistema educativo performante e, no âmbito de uma “alfabetização” de massa eficaz.
--- A sedimentação das ideias de Progresso, graças à difusão do Saber, cria novas mentalidades, mais esponjosas aos ideais de Justiça, de Liberdade e de Equidade. A emergência, tanta admirada dos dragões da Associação de Nações do Sudoeste Asiático (ASEAN), se encontra associada, entre outros, a bases simples, designadamente, ler, escrever, contar e empreender. A deslocação não se faz em direcção à África por causa da ignorância, da ausência de Justiça e, consequentemente, pela gravidade dos riscos.
Antes de mais, uma Elucidação oportuna:
A Associação de Nações do Sudoeste Asiático (ASEAN) é uma organização regional de Estados do Sudoeste Asiático, constituída a 8 de Agosto 1967. Os principais objectivos da ASEAN são acelerar o crescimento económico e fomentar a Paz e a estabilidade regionais. A ASEAN estabeleceu um Fórum conjunto com o Japão e um Acordo com a UNIÃO EUROPEIA (U. E.). A sua sede e o seu secretariado permanente encontram-se em Jacarta (cidade capital da Indonésia).
DESTARTE, no ano de 1992, os Países participantes decidiram transformá-lo em zona de Comércio Livre, a ser implantada gradualmente até 2008. Foi fundada originalmente, pela Tailândia, Indonésia, Malásia, Singapura e Filipinas.
Dos seus Membros de Pleno Direito:
Os actuais membros da ASEAN são (por ordem da data da adesão):
--- Tailândia (1967);
--- Malásia (1967);
--- Singapura (1967);
--- Indonésia (1967);
--- Brunei (1984);
--- Vietname (1995);
--- Mianmar (1997)
--- Laos (1997);
--- Cambodja (1999).
Membros observadores:
--- Papua Nova Guiné;
--- Timor-Leste.

Lisboa, 20 Junho 2009
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista—Cidadão -do Mundo).
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