terça-feira, 2 de junho de 2009

KWAME KONDÉ

INTERVENÇÃO QUADRIGÉSIMA SEGUNDA:

Não há dúvida nenhuma, et pour cause, que, efectivamente, uma ideologia do gratuito se difundiu estes derradeiros anos entre os jovens, pouco ou nada acostumados a pagar para conteúdos, de molde, que assumiram o hábito de adquirir em linha sem pagar. Todavia, o fenómeno vai muito mais longe!
De feito, a gratuidade tornou um dado do marketing. Eis porque, doravante (para o porvir), os jornais gratuitos se encontram inscritos na paisagem – apagando aos olhos de muitos leitores, pelo facto, que o fabrico da informação possui um custo/preço. E, por outro, no âmbito desta dinâmica, rádios e televisões (fora renda e ou assinaturas) fornecem conteúdos gratuitos desde há já bastante tempo.
Outrossim e, ainda, no entanto, os telefones portáteis comprados ao desbarato, identicamente a possibilidade de telefonar gratuitamente via Internet ou o livre acesso à uma infinidade de serviços, a principiar pelos conteúdos dos jornais na Internet, instalaram a ideia de gratuidade na paisagem.

De anotar, que actualmente, comerciantes hábeis instalam “gratuitamente” distribuidores de bebidas em todas as empresas, o que lhes traz bastante na venda de cafés, sodas (bebidas gaseificadas), doçarias e confeitarias. Impõe, sublinhar, porém, que em todos estes casos, não deixa de ser difícil, contudo, de se poder falar de verdadeira gratuitidade, mas sim, antes de uma subvenção para a compra, deslocação do custo de um produto num outro (cross-subsidy).

Não há dúvida nenhuma, que presentemente, o consumidor tem, na verdade, acesso, via Internet, a produtos e, sobretudo, a serviços gratuitos. De feito, a gratuitidade não cessa de se estender, sem mesmo, que os internautas possuam recurso à pirataria. Eis porque, os jornais, tais como, o New York Times ou El País, experimentaram fazer pagar uma parcela dos seus respectivos conteúdos em linha, acabaram, quase todos, por renunciar a esta ideia.
Assim, apenas títulos económicos e financeiros, cujas as assinaturas, pagas, frequentemente, pelas empresas aos seus assalariados, continuam a manter uma pequena parcela da sua oferta pagante. Donde, temos então:
---Google, Yahoo! Orange e a maior parte dos fornecedores de acesso e dos motores de pesquisa na Internet propõem sistemas de recovagem, possibilidades de stockage dos dados, planos e cartas geográficas (Google Earth) e dezenas de demais outros serviços… para nada.
---Cada vez mais e mais, os softwares e serviços informáticos (sistemas de exploração, tratamentos de textos, espátulas/paletas gráficas, softwares de retoque de fotografia, tableurs, etc.) estão disponíveis gratuitamente no mundo do open source, em que o célebre Linux é o sistema de exploração, o mais temível para a supremacia do império Microsoft.

Segundo estudiosos conceituados, no âmbito desta problemática, em análise e estudo, os custos na Internet tendem para zero, ou seja: “tudo que toca o numérico evolui para a gratuitidade”. Explicitando, adequadamente, na realidade, cada vez mais e mais, produtos e serviços serão gratuitos, porquanto com a Internet se passa da escassez à fartura/superabundância e se reduz radicalmente os custos marginais de fabrico e de distribuição. Feito que leva as empresas a oferecer gratuitamente uma enorme parcela dos seus bens e serviços e a encontrar algures (noutro lugar/noutra parte) fontes de provento/proveito.
No fundo, no fundo, numa economia do mercado, alguém acaba sempre por saldar a posse. Eis porque, primeiro que desenhar um porvir, se assemelhando a um Natal permanente, onde só haveria presentes para toda a gente – aliás, quem poderia acreditar neste milagre humano? -melhor vale, sem dúvida nenhuma, se lembrar que o lucro permanece a finalidade das empresas.

E, em jeito de ilação assertiva, na verdade, a tese, ora enunciada, nos ajuda a compreender que o universo numérico abriu uma reconfiguração profunda do mundo do marketing. Por outro, o efeito Gillette se encontra enormemente desmultiplicado, porém, afinal de contas, se afigura, sobremaneira necessário que alguém pague e, que algum outro ganhe dinheiro, evidentemente.
Enfim e, em suma: Opostamente, às canções de
Embalar, afáveis, de alguns sonhadores/irrealistas, não reconstroem, um certo sonho, deveras utópico e, outrossim, não constitui, de molde nenhum, o universo, onde cada qual dispõe de tudo, a título gracioso, quiçá, “consoante as suas reais necessidades”. Todavia, de consignar, com ênfase, que a Internet, tendo em conta o modelo de sociedade vigente, que, numa assunção, a mais estulta possível, privilegia o ter em detrimento do Ser é, de feito, um outro modo de ganhar dinheiro (fresco), muito, muito dinheiro mesmo, absolutamente.

Lisboa, 30 Maio 2009
KWAME KONDÉ
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