terça-feira, 24 de agosto de 2010

Peça Ensaística Trigésima Sexta, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:

Acerca da Conexão Comunismo/Utopia:
Uma Leitura oportuna, por motivos óbvios!...

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).


                                                NP:
                                                                Vivida, pensada, sonhada, tal é a história do Comunismo, cujo segredo da longevidade ideológica parece permanecer nesta super-posição do real e do imaginário, se assumindo (como um vazio enigmático), abandonado aos “caprichos” da Utopia. Transformada num verdadeiro local ou casa de arrumações do inexplicado da aventura comunista, no século XX pretérito, a expressão Utopia” aparece, todavia, até certo ponto, anacrónica, no momento do balanço das recaídas deste sistema sobre as sociedades e os Homens (a quem dizem respeito), assaz demasiado real para o confundir com o fantasma ou a ficção.

(I)
                Tendo em conta o arrazoado (acima expendido) vamos concentrar, por imperativo de ordem pedagógica, neste nosso Estudo ensaístico, na problemática, que se prende com a natureza do Elo/Vínculo existente entre as duas expressões: Comunismo e Utopia.
(a)      Assim, o primeiro sinal de referência significativo, no âmbito da conexão Comunismo/Utopia (que, ipso facto, se nos afigura relevante abordar), reside na promessa de perfeição, oriunda do corpo religioso judaico cristão para se tornar doutrina política, após a sua passagem pelo filtro da utopia. De feito, no século XVI, pela primeira vez, desde a Antiguidade, a promessa desceu a terra, transportada pelos homens, por intermédio dos escritos utópicos. Eis que, então, estas novas ferramentas do político, permitem confrontar a sociedade real com o seu invés perfeito, um universo fictício completamente depurado dos seus males históricos. Donde, ao descrever, ao mínimo pormenor, uma Sociedade feliz denominada UTOPIA, MORE conseguiu, deste modo, com êxito, à tornar verosímil e, dentro de pouco tempo, desejável, uma Organização Social, até então impensável, deixando, na peugada e esteira da História uma orientação indelével, uma visão de felicidade colectiva, uma viva Memória do Futuro.
(b)      Já o segundo sinal de referência remete para a instrumentalização das rejeições e dos desejos, método assaz típico da Utopia, apto a servir os políticos contestatários para apreender o objecto de menosprezo da sociedade real. Com efeito, por razões óbvias, ninguém pode negar a eficácia do procedimento utópico, que visa a racionalizar os comportamentos, intervindo sobre os espíritos e isto pela única sugestão de um algures fascinante, uma montagem entre o real e ficção magnificamente eficaz para estigmatizar o sistema implantado e abri-lo sobre possíveis. Importante sublinhar, que estes dois sinais de referência, a promessa e o método, assumem, eloquentemente, o porquê e o como de um CONÚBIO FUSIONADO entre o Pensamento Racional e o Imaginário.

(II)
                Transformado género da moda, desde o século XVII, o Romance utópico devia servir a uma plêiade de Pensadores, designadamente:
                --- Por um lado, políticos decididos em aproximar, sempre, cada vez mais, a Promessa da Realidade, nomeadamente o dominicano calabrês, CAMPANELLA e, por extensão, a sua interessante Obra (Cité du Soleil, 1623) e, outrossim e, ainda MORELLY, autor enigmático do Code de la nature (1755);
                --- E, por outro: Puros Filósofos, designadamente:
                                VOLTAIRE (1694-1778) e o seu Eldorado (1747) ou SADE (1740-1814) e a sua célebre L’île du roi ZAMÉ (1785).
                De salientar, que estes dois últimos se limitaram a dessacralizar os fundamentos de uma Sociedade feudal em mutação, após tê-la, colocada na situação de acusada graças aos depoimentos de hipotéticos viajantes regressados eufóricos de um País (soit disant ditoso), porém demasiado afastado da Realidade. Quiçá, daí, com certeza, a confusão entre Utopia e Fantasia filosófica!...
                No entanto, globalmente, entre o século XVI e o século XVIII, a Utopia permanece fiel à matriz de origem (UTOPIA), até a sua entrada, em sintonia, com o Grande Evento/Acontecimento, estamos a referir, obviamente à Revolução Francesa.

(III)
                Mercê destes anos revolucionários, os adeptos daSanta Igualdade”entre os quais, GRACHUS BABEUF (pseudónimo do revolucionário francês, François Noël BABEUF, 1760-1797), se notabiliza, na qualidade de verdadeiro percursor, dizíamos, extraíram na UTOPIA a sua dinâmica de acção e a sua força de fascinação para engendrar projectos alternativos em que o Imaginário parece ter sido evacuado, simultaneamente que a Ficção.
                Ora a atracção exercida pelos diversos Manifestos editados na época, reside fundamentalmente na sua construção utópica identificável em catálogos de cláusulas e de normas cuja a ordenação global permite compulsar um sistema social, ainda, jamais enxergado, apresentado, sempre como o invés positivo do presente negativo.
                Eis porque, no âmbito desta dinâmica e perspectiva, os primeiros actores e pensadores comunistas tiveram êxito ao insinuar os seus passos nos dos revolucionários, transmutando a promessa numa doutrina virada para a modernidade, no entanto, irremediavelmente congelada no seu conteúdo de verdade: Sim, efectivamente, a designação do mal supremo e os seus meios de destruição.
                Enfim e, em suma: Da Utopia de MORE e dos seus derivados, estes neófitos retiveram, com efeito, o essencial. Ou seja: A desgraça dos homens reside integralmente no enriquecimento individual, fonte de cobiça e de corrupção, uma enfermidade a erradicar pela obstrução definitiva dos múltiplos canais da sua formação e da sua reprodução.

(IV)
                Se dermos ao trabalho de seguir os interessados, militantes e ideólogos comunistas, chegaríamos a conclusão acertada, que, estes anos (charneiras), teriam, obviamente permitido a Doutrina, se libertar da sua ganga quimérica para se ancorar, num robusto Evento/Acontecimento, progressivamente legitimado pelo conhecimento (após achega decisiva oriunda do Socialismo científico) e, por conseguinte, liberta da Utopia da qual ela apenas teria preservado o princípio Esperança, “le paysage du souhait”, segundo a expressão do filósofo marxista alemão, Ernst BLOCH (1885-1977).
                Demais, não há dúvida nenhuma, que é um facto óbvio, que a teorização da causa do mal e dos meios de passagem para a Cidade Ideal permitiu a reconciliação entre o conteúdo de verdade da promessa e a realidade dos factos, tendo sido, a despeito de tudo, o fundamental do esquema utópico preservado. O Comunismo, enquanto ideologia, doutrina e projecto, por seu turno, efectivamente, jamais, se desembaraçou da sua matriz fecunda. Aliás, preservou, intactas, a substância ideal e a instrumentalização estratégica da negação global e do desejo de perfeição Social.

Lisboa, 23 Agosto 2010
KWAME KONDÉ:
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

HOJE É DIA DE CITAÇÕES (II)

Em primeiro lugar, para que o leitor esteja aqui agora, foi preciso que triliões de átomos errantes tenham conseguido juntar-se, numa dança intrincada e misteriosamente coordenada, de forma a criá-lo a si. Trata-se de uma combinação tão única e especializada que nunca foi feita antes, e só vai existir desta vez.

[...] (Não deixa de ser ligeiramente impressionante pensar que, se você tentasse dissecar-se a si próprio com uma pinça, átomo a átomo, nada mais iria conseguir do que um monte de fina poeira atómica, da qual nem um grão alguma vez tivera vida, mas que, toda junta, era você.) E, no entanto, durante todo o período da sua existência, a única preocupação dessas partículas será a de responder a um único impulso incontrolável: fazer com que você seja quem é.

[...] O lado menos bom da questão é que os átomos são inconstantes, e que o seu período de dedicação a uma causa é passageiro. Muito passageiro mesmo. Até uma longa vida humana não dura mais do que umas 650 mil horas. E quando este modesto marco é ultrapassado, ou por volta dessa altura, por razões desconhecidas os seus átomos vão dispersar em silêncio, para se tornarem noutra coisa. É o fim da história para si.

Bill Bryson, A Short History of Nearly Everything.

HOJE É DIA DE CITAÇÕES (I)

O físico Leo Szilard anunciou certa vez ao seu amigo Hans Bethe a sua intenção de começar a escrever um diário.
— Não tenho qualquer interesse em publicá-lo. Vou apenas registar os factos para informação de Deus.
— Não te parece que Deus já sabe quais são os factos? — respondeu Bethe.
— Sim — disse Szilard, e prosseguiu — Ele conhece os factos, o que Ele não conhece é esta versão dos factos.

Hans Christian von Baeyer, Taming the Atom. [Citado por Bill Bryson]

domingo, 22 de agosto de 2010

UM AUTÊNTICO IMBRÓGLIO

O Sporting perdeu há bocado, ainda na primeira parte, o seu actual melhor e único verdadeiro futebolista: João Pereira. O João sofreu um violento traumatismo cervical provocado pelo seu companheiro de equipa e guarda-redes, Rui patrício, tendo caído inanimado no relvado.

A pronta assistência médica no local e a imediata evacuação para um hospital terão evitado o agravamento de qualquer eventual lesão neurológica que esperamos e desejamos não se tenha verificado.

Mas o choque foi muito "feio".

FORÇA JOÃO! E PRONTA RECUPERAÇÃO!

“O HOMEM DE MASSAMÁ”

«Zé Ninguém, infelizmente cheguei à conclusão de que para me respeitares tenho que me afastar de ti».

Esta frase é do psiquiatra austríaco, Wilhem Reich, no seu livro Escuta Zé Ninguém.

Se Pedro Passos Coelho conhecesse um pouco da obra de Reich (já não estou a falar dos trabalhos sobre o orgasmo que o levaram ao banco dos réus e à condenação na então puritaníssima sociedade americana dos anos cinquenta), certamente não escolheria e/ou permitiria ser apresentado aos portugueses, no Pontal, por Mendes Bota, com esta frase de muito duvidosa eficácia: «Este homem vive em Massamá» (dormitório de Lisboa).

É que a última coisa que o Zé Povinho quer é ser governado pelo seu parceiro da bisca, do dominó e dos copos de três lá da tasca do bairro. O Zé só respeita quem está (ou ele julga estar) muito acima dele, Zé: de preferência em lugares inacessíveis.

É que uma coisa é ter nascido em Santa Comba ou em Boliqueime; e outra bem diferente é viver em Massamá. É uma piquena diferença que, contudo, conta muitíssimo. Pode valer uma eleição.

O povo não respeita os pelintras.
Clique aqui para ver o vídeo.

Peça Ensaística Trigésima Quinta, no âmbito de

Na Peugada de NOVOS RUMOS:


A UTOPIA
Ou a Memória do PORVIR.
E, por que não, o Sonho Eterno de uma
Outra SOCIEDADE

Donde, neste momento, quão asado e, ipso facto,
Por ser a
A HORA DE TODAS AS VERDADES
Se impõe, a todos nós, sem excepção,
ESTUDAR a
UTOPIA de THOMÁS MORE

Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).


NP:

                Quando, no início do século XVI, o político e escritor inglês, São TOMÁS MORE (1478-1535), escreveu a sua UTOPIA, aparece, pela primeira vez, a ideia de promessa de uma Sociedade Maravilhosa.
                Utopia, Cidade justa e harmoniosa, em parte alguma, existe. Todavia, ao descrevê-la, nos seus menores pormenores, como o invés do “perfeito”, MORE cria um instrumento de Sátira social, jamais igualado.
                De feito, UTOPIA (melhor dito: De optimo republicae statu deque nova insula Utopia libellus) publicada em Lovaina, em 1516 teve um impacto, de imediato e enorme. Trata-se de uma obra escrita, em latim, na sequência de uma missão diplomática de MORE em Flandres.

                E, em breve Sinopse:
                UTOPIA, não é nada mais, nada menos, que o nome de uma Ilha Imaginária em que todos os momentos da existência individual e social são governados pela Razão.
                Por seu turno, o Narrador da Obra, um viajante, de nome RAPHAEL HYTHLODAY, vai descrevendo essa Sociedade comunista, estabelecendo, concomitantemente um cotejo, com uma Europa dividida, minada pela ganância (caminhando sob o signo, de um egoísmo feroz).
                Enfim e, em suma: MORE, possui uma clara intenção crítica, (aliás, mesmo satírica), em que a Ironia e a Seriedade, se entrelaçam constantemente.

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(1)        Estudar, avisadamente a construção e o conteúdo de UTOPIA representa, por conseguinte, um real interesse, pois que visa restituir a TOMÁS MORE o seu devido, outrossim e, ainda, em conhecer a Abertura sobre possíveis e a Invenção de um suporte privilegiado, que consegue, durante séculos, a fixar a imagem de um possível EDÉN na Terra, sem deixar de lhe acordar a dúvida acerca de eventuais veleidades totalitárias, ou ainda acerca da sua hipotética responsabilidade no reforço do utilitarismo doutrinário.
(2)        De feito, o jogo utópico de MORE, enquadrado pelo real e o imaginário, designa uma Personagem, exactamente (tal e qual, quiçá “culpado”) de ter tornado verosímil uma configuração social até então impensável, deixando na esteira da História um vestígio indelével, uma visão de Felicidade colectiva, enfim uma autêntica Memória do Porvir.
(3)        Eis porque, por conseguinte, deve ser dissociada da Obra em si mesma, a volatilidade de um conteúdo, que ia responder aos afectos e aos fantasmas de uma militância, assaz radical em busca da legitimidade ideológica e organizacional.
(4)        De sublinhar, com ênfase, na verdade, com a construção utópica, MORE oferecia aos seus contemporâneos a possibilidade de escapar, de uma só vez (a um tempo) ao caos histórico e integrar uma “Cidade sabiamente organizada”, situada fora do tempo material.
(5)        Todavia, rasurar as imperfeições não significa regredir, nem regressar à uma Idade de ouro mítica ou, então, à Sociedade tradicional medieval. Sim, efectivamente, expurgada dos seus males, UTOPIA forjada à partir dos valores de uma franja Humanista (em que o literato, Sábio e Filósofo Holandês, natural de Roterdão, DESIDÉRIO ERASMO (1466-1536), era uma figura magna, aliás, uma referência moral e humanista, na época), perscrutava, para a frente, uma assunção eterna e imutável, se investindo aquém da História.

(…)

                                Sim, de facto, a feliz Ideia de se apoiar, na ficção (ou seja: Num Mundo perfeito, geograficamente inexistente), para formar o húmus de uma reflexão filosófica sobre a Organização Humana representa, efectivamente a Primeira Abertura consequente sobre a Realidade. De anotar, todavia, que o Efeito de perspectiva é, ainda intensificada quando MORE faz, de modo quão consciente, intervir a figura de escrutinador, inventando (quiçá, melhor dito, criando), o Navegador testemunha, confiando-lhe o inteligente papel de despertador (…), visto que visitou o outro Mundo, o de, em parte alguma, descoberta que lhe permite estabelecer uma fria e dura comparação com os países europeus, legitimar as suas críticas e as suas dúvidas acerca da qualidade do seu devir respectivo. Eis porque a personagem simbólica, de contador generoso que era, se torna, no livro primeiro, visionário e tribuno.

                                E, encurtando razões, de feito, o subterfúgio da argumentação comparativa, orquestrada entre o descobridor/inventor, RAPHAËL HYTHLODEE, personagem fictícia e os seus principais ouvintes/contraditores, o Autor e Pierre GILES, personagens reais, permite ao platónico THOMÁS MORE elaborar um balanço dos homens políticos, apelando para os seus votos, o caucionamento de uma certa elite junto dos Príncipes para favorecer a constituição de um Estado virtuoso, sob o seguinte Lema: “[…] Utilizai a vossa inteligência e o vosso savoir-faire em benefício da coisa Pública”.

Sucinto Perfil de THOMÁS MORE (Londres, 1478 -1535, Londres):

Este incontornável político e escritor inglês, após Estudos, que realizou junto do Arcebispo de Cantuária, o cardeal MORTON, estudou Direito, em Londres e tornou-se amigo de vários Humanistas, entre os quais, ERASMO (que escreveu o Elogio da Loucura, durante uma estadia, em sua casa).
                Traduz do Grego e do Latim diversas obras significativas e escreve, outrossim Poemas em inglês. Inicia, concomitantemente, uma Carreira política, que o conduz ao Parlamento e ao Cargo de UNDERSHERIF da Cidade de Londres.
                Toma parte em relevantes Missões Diplomáticas e, em 1521 é feito Cavaleiro. Desde então é um Servidor do Rei, Henrique VIII (de corpo e alma) e, em 1529, torna-se Chanceler de Inglaterra.
                Todavia, a vontade do Rei de declarar nulo o seu matrimónio com Catarina de Aragão e o seu ulterior casamento com Ana BOLENA (casamento que MORE não quis assistir) e a recusa em aceitar o Rei como chefe da Igreja de Inglaterra, deram origem a um Processo, que culminaria com a sua prisão, na Torre de Londres, onde escreve, um dos seus mais Belos Textos (Dialogue of Comfort against Tribulation, 1534) e a sua Condenação à morte. Considerado mártir, foi canonizado em 1935.

                THOMÁS MORE é autor de um enorme conjunto de Escritos. Pela relevância Literária que adquiriram, salientamos dois (2):
                --- O Primeiro é a História de Ricardo III (1513-14), escrita em Latim e depois em Inglês, constitui uma fonte importante de trabalhos posteriores, designadamente da lavra de W. SHAKESPEARE.
                --- O Outro é a UTOPIA (1516), outrossim escrito em Latim, após uma missão diplomática em Flandres. De referir, que o vocábulo Utopia é oriundo do Grego que, na sua essência primordial significa: “não lugar”, tendo THOMÁS MORE o recriado para designar o conforto insular imaginário, em que se pratica a comunidade dos bens descrito ficcionalmente na sua célebre Obra: DE OPTIMO REPUBLICAE STATU DEQUE NOVA INSULA UTOPICA.

Lisboa, 21 Agosto 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

SEM FÍSICO MAS SOBRETUDO SEM ALMA

SPORTING 0-2 BRONDBY

Com alma só houve e há João Pereira.
Faltam portanto mais dez João(s) Pereira(s) para fazer uma equipa.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

AI JOYCE, JOYCE!...

«Engolido o vinho irradiante lhe cruzava o céu-da-boca. Espremido nos lagares de uva da Borgonha. E o calor do sol. Parece um toque secreto contando-me recordações. Tocados seus sentidos humedecidos relembravam. Escondidos sob os fetais silvestres de Howth. Debaixo de nós a baía dormente céu. Nenhum som. O céu. A baía púrpura perto do cabo Leão. Verde por Drumleck. Verde-amarelo rumo a Sutton. Campos submarinos, linhas de um pardo desmaiado por entre a relva, cidades enterradas. Almofadada no meu paletó tinha ela sua cabeleira, fura-orelhas em sarças de urze minhas mãos sob a sua nuca, tu vais me despentear todinha. Oh maravilha! Frescamaciadas de bálsamos suas mãos me tocavam, acariciavam: seus olhos sobre mim não se me refugiam. Arrebatado sobre ela eu jazia, os lábios todos todo abertos, beijava sua boca. Ããm. Suavemente ela passava para a minha boca o torrão quente e masticado. Polpa asquerosa sua boca lhe emprenhara dulçor e agrura de saliva. Alegria: comi: alegria. Vida juvenil, seus lábios me davam num abrocho. Macios, quentes, gomigelatinosos lábios grudentos. Flores eram seus olhos, me toma, olhos querentes. Seixos rolavam. Ela jazia queda. Uma cabra. Ninguém. Alto entre rododendros do Ben Howth uma cabrita saltando certípeda, soltando passas. Encoberta entre fetos ela ria braçoenvolta. Selvagemente eu jazia sobre ela, beijava-a; olhos, seus lábios, seu pescoço reteso, pulsando, peitos de fêmea plena em sua blusa de véu de monja, mamilos cheios ponteando. Quente eu a linguei. Ela beijava-me. Eu era beijado. Tudo rendendo ela emaranhava meus cabelos. Beijada, ela beijava-me.
Eu. E eu agora.»

Peça Ensaística Trigésima Quarta, no âmbito de

Na Peugada de
NOVOS RUMOS:

Ainda acerca do “histórico” discurso de Nicolas SARKOZY, a Dakar:
Parte Quarta:


Ser culto es el único modo de ser libre
José MARTÍ (1853-1895).

Antes de mais, para Principiar, de modo firme e, assaz consequente, um Grito histórico:

KIA é uma expressão samo (do nome de uma etnia do BURKINA FASO),
Que convida à coragem, ao combate. É o autêntico
GRITO DE GUERRA,
Que o saudoso Professor JOSEPH KI-ZERBO, legou a todos os
Africanos e, por extensão óbvia, a todos os
Oprimidos do Planeta, sem excepção.
Donde, então, clamemos Todos (em uníssono):

KIA! KIA! KIA!
                                                É a HORA!

(1)         Como o recorda, aliás, (assaz bem), o jornalista e ensaísta francês, Dominique VIDAL (n-1950): “desde a eleição de Jacques CHIRAC à Presidência da República, em Maio 2002, os subúrbios foram as primeiras vítimas das reduções orçamentais implantadas em nome do sacro santo pacto de estabilidade da União europeia”. E, lucidamente, acrescenta o seguinte: “jamais os eventos de Clichy-sous-Bois não teriam tido tais repercussões se os bairros ditos sensíveis não estivessem achados na encruzilhada de três crises exacerbadas: uma crise social, uma crise pós-colonial e uma crise de representação política”.
(2)         O mesmo se pode asseverar acerca dos recentes fluxos migratórios para a Europa:
a.       Jamais jovens originários do Mali, do Senegal, dos Camarões ou da Costa do Marfim, seriam reconhecidos como um único homem as portas da Europa, em Ceuta e Melilla ou a bordo de embarcações de recurso, que, frequentemente os conduzem para a morte, se o FMI e o Banco Mundial não tivessem infligido, ao longo de vinte anos, aos (países dos quais são originários) “o remédio forte” do ajustamento estrutural, que baralhou os símbolos de referência e aniquilou vidas. Demais, por outro, de um e de outro lado de Mediterrâneo, Jovens compartilham o insucesso escolar, a ociosidade e a desocupação e o sentimento de inutilidade.
(3)         Eis porque, importa federar as lutas, sublinhando que, na verdade (e, por certo), a exploração, a injustiça e a miséria humana oferecem, presentemente um novo rosto, com a caça ao imigrante indesejável, no entanto, nada de novo existe sob o Sol. Com efeito, nas sociedades industrializadas da Europa, desde o século XVIII, as classes populares tiveram direito, em graus diversos, manter à distância: a suspeita e a estigmatização, pois que:”o pobre urbano é descrito como perigoso, desde que não consegue, não pode, ou não quer se disciplinar, enquanto assalariado. O ideal policial, de qualquer época da sociedade industrializada consiste, numa sociedade organizada e estável”, segundo exara Salvatore PALIDDA in La criminilisation des migrants” (1999).
(4)         De anotar, assertivamente, que os pobres das cidades são, mesmo assimilados às pessoas das colónias, isto é, como “perigosos inimigos da nossa civilização”, “novas etnias rebeldes”, “verdadeiros Negros Brancos” mais temíveis que os numerosos bárbaros aos quais as tropas francesas foram coagidas a se confrontar, no Ultra-mar da Algéria e de Marrocos” (Ibid.).
(5)         Eis porque, efectivamente, a verdadeira e autêntica resistência deve ser assumida, no âmbito local, regional e global, visando opor às devastações e as regressões do modelo dominante. Ela se concebe e se constrói à luz das diversas situações, entretanto, semelhantes quando se considera a natureza das conexões de força que as subentendem.
(6)         Aliás, de consignar, que a verdade acerca do custo social, económico e ecológico da globalização é doravante uma questão de Paz e de guerra, de vida ou de morte. Acreditando, nos dirigentes europeus, os 25 devem quedar solidários, como o sublinha, Franco FRATTINI, COMISSÁRIO europeu encarregado das questões de Liberdade, Segurança e Justiça: “Il faut des avions, des hélicoptéres et des bateaux, et des experts, et des moyens pour renforcer l’action de Frontex, une agence balbutiante que ne peut rien résoudre sans moyens”, palavras (de uma violência extrema), proferidas pelo senhor FRATTINI, em Setembro 2006. Sem comentários!


Todavia e, sem embargo, há, ainda, mais auxeses, exorbitâncias e desmandos a ter em conta, obviamente. Ou seja:
(A)         O naufrágio dos jovens oriundos de África, aos milhares, constitui o corolário lógico desta guerra (quão estulta e, assaz execrável), que as “elites” políticas (melhor dito, os profissionais da política) não querem ver (?), nem interpretar como tal. Estes náufragos, (como os que tomaram de assalto, os gradeamentos de Ceuta e Melilla), proceder-se-iam, de outro modo, se estas “elites” e os dirigentes europeus outorgassem aos Africanos meios (límpidos e transparentes) para discutir a situação do Continente Africano, num Mundo em franca e assunada ebulição. As Mulheres que morrem para e, por vezes, juntamente com os seus filhos, têm o direito de saber, para puderem lutar, de uma outra forma e modo, com uma pronta e segura eficácia.
(B)         Sim, efectivamente, a Imigração familiar, não incomoda e importuna, unicamente pelo facto da sua não rentabilidade económica. Ela se traduz por crenças, formas de estar e de viver que, se alardeando, provocam dissensões em relação ao que, algumas pessoas denominam: o viver juntos francês, como se este insinuasse no mármore. De feito, sem sombra de dúvida, a violência das leis francesas visa, outrossim, as culturas, na qualidade de instrumento e meio privilegiados de Resistência, reivindicação e reconstrução do seu passado, do seu presente e do futuro, acima de tudo.

Finalmente, em jeito de Remate:
                                                                                               
                                                                                Na verdade e, na realidade, o discurso de Nicolas SARKOZY, a Dakar (Senegal), que foi abertamente injurioso e ofensivo, quaisquer que tenham sido os propósitos aduladores nos quais ele o disfarçou, é apenas a expressão do seu aferrado e obstinado menosprezo para com a África. É, aliás, outrossim uma forma subtil de desarmar os Africanos e, por extensão, os oprimidos ante ao assalto que ele congemina, sub-repticiamente levar a cabo, no quadro da conquista de segmentos de mercado para os grandes investidores franceses, (vindos numerosos) a Marrocos, com ele, em Outubro 2007.

                                                Pois é! Pois, pois!
                                                                Na verdade, os factos falam e cantam por si!

Lisboa, 18 Agosto 2010
KWAME KONDÉ
(Intelectual/Internacionalista --- Cidadão do Mundo).